Escolhas são a parte mais difícil e importante na formação de um ser humano. Elas moldam nossa autonomia e dinamismo. Quando criança, sempre optei pelo caminho justo e honesto. No local onde eu jogava bola, às vezes a polícia aparecia. Lembro-me de ouvir meu pai brigando comigo para que eu não fosse jogar lá. O cheiro de droga sempre me incomodou, mas eu respeitava quem fazia suas escolhas.
Por mais incrível que pareça, sempre fui um cara decidido, embora influenciado — no bom sentido. Os "malandros", aqueles considerados más influências pela sociedade, nos aconselhavam a nunca seguir o caminho que eles escolheram. Diziam que nenhum de nós deveria usar aquele "cigarro fedido", como eu chamava. Meu tio era alcoólatra e, certa vez, me disse:
— João, eu bebo, mas se eu te ver bebendo, você vai ver!
Talvez tenha sido por isso que, mesmo aos 22 anos, nunca bebi nem fumei. Ver o que a bebida e o cigarro fizeram com as pessoas próximas a mim me influenciou fortemente a evitar esse caminho.
Na minha quebrada, a maioria dos que jogavam bola acabou morto ou preso. Ainda assim, eu adorava jogar lá. As discussões, a música alta, o clima do jogo... Era uma sensação única. O mais impressionante é que, quando eu jogava, raramente havia brigas. Até quando os "caras" não estavam, os desentendimentos eram mínimos.
Mas um dia aconteceu algo diferente. Um garoto de fora veio jogar bola lá. O chão era de concreto, e todos jogavam descalços. Eu nunca chutava com o "peito do pé", sempre usava o lado, pois assim conseguia dar efeito na bola. Durante o jogo, percebi que ele jogava na maldade.
Em um lance, a bola subiu, e, enquanto eu olhava para cima para dominá-la, ele me deu um chute na boca. Parei de jogar na hora. Senti uma raiva extrema. Meu impulso gritava: "Vai para cima dele!", mas minha razão dizia: "Não vale a pena, vai virar uma briga desnecessária." O problema de morar na quebrada é que toda ação gera uma reação. Meu primo sempre dizia:
— Quem bate, esquece. Quem apanha, não.
E, de certo ponto, ele estava certo. Mas isso não se aplicava a mim, pois eu nunca esquecia de quem me batia. Eu era guiado pela razão, não pelo impulso. O garoto pediu desculpas, e, sendo sincero ou não, eu aceitei. Apenas falei:
— Chega direito, cara.
Ele ficou quieto.
No dia seguinte, ele voltou para jogar. No segundo lance, eu o driblei e, quando fui tocar a bola, ele me deu uma cotovelada no braço. Fiquei uma semana sem jogar por causa disso. No momento, apenas olhei para ele e não disse nada.
Até que um dia ele cometeu o pior erro da vida dele: abriu a boca. Como sou conhecido no bairro, sempre descubro o que falam de mim. Perguntaram a ele:
— Você bateria no João?
Ele sorriu e respondeu:
— Bater, eu não sei... Mas pelo menos um murro eu daria.
Não demorou para essa história chegar até mim. Já irritado, pensei: "Vou pagar para ver isso."
No jogo seguinte, ele tentou pisar no meu pé, mas desviei. Depois, tentou me tirar da quadra jogando o corpo contra mim, mas fui mais rápido e joguei o corpo dele para fora. Ele ficou furioso e começou a me xingar.
— O quê?! — respondi.
E já mandei o primeiro murro com tanta força que ele sentiu. Ele ameaçou:
— Você vai ver!
Imediatamente, dei mais dois socos, enrolei a camisa nos punhos e chamei:
— Vai ver o quê? Tá achando que eu não sei o que tu falou? Cadê o murro que você ia me dar?
Ele ficou manso. Nunca mais veio com falta de respeito. Até hoje, toda vez que me vê na rua, me cumprimenta. Depois do ocorrido, eu mesmo pedi desculpas. Afinal, nunca foi do meu estilo brigar...