MULHER MARAVILHA

Minha mãe… Não que as outras mães não sejam especiais, mas ela é uma mulher que trabalhava o dia todo e, mesmo chegando à noite cansada, ainda tirava um tempo para me contar uma história antes de dormir. Lembro-me de ficar com o livro na mão, ansioso para que, quando ela chegasse, me contasse uma história. Era incrível a sensação de aventura e os dramas envolvidos nessas narrativas. Eu me sentia muito feliz. Porém, tudo acabava no momento em que eu dormia e já acordava para ir à escola.

Falando nisso, lembro-me de um dia em que estávamos indo de bicicleta juntos e um carro jogou água na gente. Ao chegarmos em casa, encharcada, minha mãe olhou no fundo dos meus olhos e disse: "João, você vai ver… Um dia sua mãe terá uma Biz!"

Eu nunca entendi a dimensão do que chamamos de "sonho ou realidade". Sempre acreditei que, para ter algo, era preciso ir atrás. Mas, vendo um olhar tão determinado quanto o dela, fiquei extremamente surpreso.

Minha mãe é deficiente visual desde que se entende por gente. Minha avó era doméstica, minha bisavó foi escravizada, e, naquela época, mesmo após o fim da escravidão, a vida ainda era muito difícil. Algumas famílias chegavam a tomar sopa de mandioca para tentar saciar a fome. Minha avó, por trabalhar com serviços domésticos, sempre dizia aos filhos: "Nenhum de vocês vai trabalhar como eu trabalho." Assim, todos tiveram a oportunidade de crescer.

Minha mãe, mesmo com as dificuldades, estudou, se especializou e chegou a fazer um mestrado. Ironia do destino, a facilidade que tenho para escrever vem justamente das influências voltadas à educação que recebi ao longo da vida. Minha professora, por exemplo, tem doutorado em Língua Portuguesa.

Como dizia Paulo Freire:

"A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas, pessoas transformam o mundo."

Isso é uma verdade. Hoje, aos 22 anos, curso Odontologia. Mas só consigo estudar graças à construção dessa mulher maravilhosa, que é minha mãe.

Minha vida sempre foi cheia de desafios, mas a maior rasteira foi quando levei um calote de 10 mil reais, o que impossibilitou temporariamente a continuidade do meu curso. Lembro-me de ter ficado sem chão. Porém, nunca fui de esperar as portas se abrirem sozinhas. Se uma oportunidade se fechava, eu buscava outra forma de seguir em frente. Na época, fiquei muito decepcionado, mas acabei dando a volta por cima.