O bullying, na minha época, era a coisa mais "natural" que existia. Era a forma mais rápida e fácil de desmoralizar e oprimir alguém. Lembro-me de sofrer muito na escola, principalmente depois de ser diagnosticado com TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Nossa, lembro bem de quando precisei começar a tomar aqueles medicamentos horríveis. Eu ficava quieto, igual a um robô. Não sentia vontade de conversar ou brincar, apenas prestava atenção, sem nenhuma preocupação com o que acontecia ao meu redor. Com o tempo, os resultados foram surpreendentes, mas meus "amigos" começaram a desconfiar de mim.
"Por que, do nada, o João parou de bagunçar? Não perturba mais ninguém?"
Aquele período foi perfeito para que me zoassem. Certa vez, um colega me perguntou:
— E então, por que você está tão comportado?
Eu abri um sorriso e respondi que estava tomando um remédio para me ajudar a me controlar. No dia seguinte, a sala inteira estava rindo de mim. Ele havia contado para todo mundo que eu usava remédio controlado.
Não precisava ser um gênio para entender a lógica dos ignorantes: na cabeça deles, um remédio para auxiliar no comportamento era algo para "controlar um louco". Toda vez que ele falava isso, a turma caía na risada. Foram dias e meses de zoação sem sentido.
Houve momentos em que eu chegava em casa muito triste. Nem comia, ficava apenas no meu quarto, me perguntando o porquê de estar sendo ridicularizado por algo que, na verdade, me ajudava. Quem tem um filho com TDAH sabe: é como se a criança tivesse duas baterias extras, e controlar isso pode ser um desafio.
Um dia, peguei esse colega sozinho e lhe dei uma baita surra. A professora ameaçou chamar nossos pais, e ele caiu no choro. Naquele momento, enquanto ele chorava, eu caía na risada. Não conseguia parar de rir.
Mesmo depois disso, o problema não havia sido resolvido. Meu professor, então, decidiu intervir. Ele repreendeu e desmoralizou todos os meus colegas, explicando algo simples, mas que ninguém ali tinha parado para pensar:
"Todo remédio é controlado!"
Ele estava certo. A partir daquele momento, a zoação parou e começaram a me tratar com mais respeito.