Recentemente, fui desligado do emprego onde trabalhava. Parecia o fim de um ciclo, mas, para minha surpresa, logo me chamaram de volta para exercer a mesma função — desta vez, sem carteira assinada e apenas recebendo por bonificação. Hoje, sigo ali, preenchendo o tempo, agarrado à esperança de que, se eu conseguir fechar um bom negócio, uma boa bonificação virá como recompensa. Mas, confesso: lidar com pessoas é um desafio maior que qualquer meta.
O ambiente em que trabalho é pesado. As pessoas, mesmo precisando de ajuda, são frias, ríspidas, arrogantes. Um exemplo? Certa vez, me aproximei de uma pessoa para oferecer suporte. Sem que eu esperasse, ela virou-se para mim num tom ameaçador e disse que eu não deveria nem chegar perto. Eu apenas sorri de canto, disse "tudo bem" e segui minha caminhada silenciosa entre as tarefas.
No fim do expediente, passei em uma lanchonete e comprei dois salgados para levar no caminho de volta pra casa. Enquanto caminhava pelas ruas já adormecidas da cidade, um homem — desses que a vida esqueceu nas calçadas e que tinha dinheiro — se aproximou, pedindo algo para comer. Sem pensar duas vezes, estendi a mão e lhe dei um dos salgados. A gratidão que vi nos olhos dele... era como se eu tivesse lhe entregado o mundo. Ele me acompanhou por alguns metros, agradecendo sem parar. Sorri e disse apenas: "Tamo junto." Engraçado como a vida ensina: mesmo com meus próprios problemas, graças a Deus, nunca faltou o pão em minha casa.
Eu, que convivo com tantas pessoas arrogantes diariamente, vi naquele momento uma pureza que já não se encontra fácil por aí.
A cena mais marcante, porém, estava por vir. Enquanto me dirigia ao centro da cidade, vi uma "cavalaria" de policiais expulsando moradores de rua. As ordens eram ríspidas, as sirenes misturavam-se ao barulho dos passos apressados. No meio daquele cenário triste, encontrei um senhor — pele marcada pelo sol, olhos fundos de fome — que me contou estar há três dias sem comer e sem um teto para descansar.
A única ajuda que ele recebeu foi minha e da minha namorada, que caminhava ao meu lado. Pense numa garota de coração gigante, capaz de dividir o pouco que tem, mesmo carregando suas próprias cicatrizes emocionais — histórias que, prometo, contarei em outro capítulo.
Naquela noite, entre arrogâncias e gestos simples de bondade, aprendi mais sobre humanidade do que qualquer livro poderia ensinar.