Desaparecer — essa é a arte que aprendi com o tempo, e nela me tornei mestre. Não deixo rastros, nem sombras. Observo em silêncio, atento a cada gesto, cada microtraição à minha paz. Ao menor sinal de ameaça à minha sanidade, à minha serenidade construída com tanto esforço, me desfaço. Dissolvo-me. Viro névoa. E sumo.
Às vezes, por dias. Outras, por anos. Às vezes, para sempre.
Algumas conexões se apagam com tal intensidade que é como se nunca tivessem existido. Memórias que antes queimavam agora são apenas fumaça. Vidas entrelaçadas que se desenredam sem dor, apenas com o silêncio. E, para ser honesto, prefiro assim. Não me apego, não me instalo. Sou vento — quando sopra forte demais, muda de direção.
Há quem se pergunte: por quê? Logo eu, que trago riso fácil, presença leve, coração gentil? Por que escolho o exílio emocional, mesmo sendo, muitas vezes, o centro da atenção? A resposta não está na superfície. Está no fundo, onde poucos têm coragem de olhar: chama-se cansaço.
Não é o cansaço do corpo, é o da alma. Cansaço de performar alegria, de fabricar luz para os outros enquanto minha própria chama vacila. Gasto demais tentando manter-me inteiro para não quebrar quem está ao redor — e nessa dança, me fragmento. Crio muros invisíveis onde deveriam haver pontes. E assim, torno-me solitário em meio à multidão, cercado de olhares que me veem, mas não me enxergam.
As pessoas gostam de mim — ou do que represento. Mas amar, compreender, mergulhar em minha essência? Raros tentam. Quase ninguém que segura meu livro nas mãos o leu por vontade própria. Foi o marketing, a curiosidade, nunca a alma.
Essa é a verdade que arde: ser presença vibrante e, ao mesmo tempo, invisível no que importa. Viver como espetáculo, mas sentir-se fora de cena.
Sou, no fim, um tédio encantado. E talvez, se você se permitir ler nas entrelinhas, se permita também ver um reflexo de si nesse espelho embaçado que é minha existência.