O sangue quente escorria pelo meu peito. Meu corpo tremia. O ar queimava dentro dos pulmões, como se cada respiração fosse um último esforço desesperado. Eu não podia mais me mover. Meus membros pesavam como chumbo. O mundo ao meu redor se desfazia em sombras turvas.
Passos ecoavam ao longe, se misturando ao gosto metálico do sangue na minha boca.
Isso é um sonho? Ou finalmente acabou?
Meu corpo foi engolido pela escuridão. A dor se dissolveu no vazio. Antes que tudo se apagasse, uma voz cortou a escuridão—fria, impiedosa, quase divertida.
『Parabéns. Você falhou.』
『Jogo encerrado.』
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Algumas pessoas nascem com tudo: uma vida segura, dinheiro, conforto. Outros... simplesmente nascem para perder. Eu sempre soube qual era o meu destino.
— Meu nome é Kairu Takeshi.
Naquele dia, eu estava pronto para começar em uma grande empresa. Achei que finalmente tinha conquistado algo importante, que meu esforço valeria a pena e que meu bolso ia sentir isso também. Mas a realidade bateu forte: mal dava pra bancar uma refeição decente.
— Eu, Kairu Takeshi, prometo trabalhar duro para a empresa!
— Parabéns, Kairu Takeshi, bem-vindo à equipe.
Naquela época, eu achava que meu chefe era um cara legal e que meus colegas de trabalho seriam gente boa. Grande ilusão. Passei a vida estudando pra chegar até ali, achando que tinha feito a escolha certa.
— Obrigado, chefe! Farei o meu melhor.
Eu realmente tinha estudado muito. Tudo pra conseguir um emprego que me permitisse seguir em frente, sem precisar me preocupar com o básico. No dia em que entrei na empresa, achei que tinha vencido na vida.
— Mas, chefe… qual vai ser minha função?
— Você vai cuidar da papelada.
Dois anos depois, com 19 anos, eu tinha conseguido um apartamento. Mas ainda não dava pra dizer que estava bem. Mal sobrava dinheiro pra comer direito. Meus colegas de trabalho não faziam questão nenhuma de socializar comigo. E, pra piorar, descobri que meu chefe só me via como um peão descartável…
— Eu prometo trabalhar duro para a empresa.
Essas palavras viraram uma corrente no meu pescoço. Eu podia sair dali? Teoricamente, sim. Mas sem dinheiro pra bancar comida e aluguel, a verdade era que eu estava preso.
— Parabéns, Kairu Takeshi, bem-vindo à equipe.
Engoli insultos. Engoli empurrões nos corredores. Fingi que não ouvia as risadas pelas minhas costas.
— Takeshi, trabalhe mais.
Era Akira. Sempre ele. Eu odiava aquele cara.
— Você é um incompetente completo, Takeshi — ele ria, se inclinando sobre minha mesa — ainda me pergunto como você conseguiu esse emprego.
Akira já tinha me batido uma vez. Na verdade, mais de uma. E eu queria muito socar a cara dele, mas sabia que não adiantaria nada. Às vezes, aparecia na empresa com marcas roxas por causa dele, e ninguém ligava. Ninguém nunca fazia nada. Porque, no fim, usar e pisar nos outros já era algo normal na sociedade.
Kairu Takeshi abriu os olhos devagar. O teto do quarto apareceu diante dele, e o peso do sonho ainda grudava em sua mente.
— De novo esse sonho… — murmurou, fechando os olhos por um instante antes de finalmente se levantar.
Sonho com isso repetidamente. Um pesadelo. Mas, ao contrário dos pesadelos comuns, esse não desaparece ao acordar.
Takeshi se levantou da cama e esfregou os olhos, ainda sentindo o peso da exaustão do trabalho.
Seu quarto era pequeno e simples. No lado esquerdo, uma cama de qualidade duvidosa, mas que pelo menos servia para dormir. Não era confortável, mas era o suficiente. No lado direito, uma mesa de madeira com uma cadeira, onde ele fazia anotações sobre o trabalho, organizando tudo como podia.
Seu expediente ia das 11h às 2h da manhã. E, dependendo do dia, ainda ficava mais tempo por conta das horas extras. O cansaço acumulado era brutal.
Ele suspirou e passou a mão na cabeça, tentando afastar o desânimo.
— Preciso me arrumar... se eu me atrasar, vai ser um inferno.
Takeshi tinha um rosto angular e bem definido, com maçãs do rosto proeminentes e um olhar intenso. Seus olhos escuros refletiam uma introspecção enigmática, como se sempre estivesse analisando algo. Seu cabelo negro, liso e levemente ondulado, caía sobre a testa de um jeito elegante, ainda que ele não se preocupasse muito com isso.
Bocejando, decidiu tomar um banho. Talvez a água fria ajudasse a acordá-lo de vez.
O banheiro ficava no canto direito do pequeno corredor do apartamento. O lugar era apertado e sem luxo algum, mas servia. A porta de madeira desgastada rangeu um pouco quando ele a abriu.
Depois do banho, vestiu seu terno escuro. Simples, mas bem alinhado. Ajustou a gravata sem muita paciência, já sabendo que, na empresa, aquilo seria só mais um motivo para zombarem dele.
Os funcionários de classe alta usavam ternos feitos com tecidos sofisticados, perfeitamente ajustados aos corpos. O dele? Barato, de segunda mão, fácil de reconhecer à primeira vista.
Respirou fundo.
— Nossa, essa é a roupa que eu mais gosto… que pena que ninguém na empresa gosta dela… — murmurou, a voz carregada de tristeza. Seu olhar caiu para o chão, e suas sobrancelhas se franziram.
Essa roupa não era apenas uma peça qualquer. Além de ser bonita, tinha um valor especial. Foi um presente do seu tio por parte de pai, a única lembrança que tinha dele. Quando soube que ele havia morrido de problemas no coração, chorou muito. Até hoje, essa dor permanecia dentro de si.
Ele se aproximou do pequeno espelho no apartamento e se observou por um instante.
— Pronto… Agora posso sair — forçou um sorriso seco, tentando se animar um pouco, mas sem sucesso.
Respirou fundo e abriu a porta do apartamento.
Enquanto caminhava para o trabalho, observava as ruas cheias de vida. Crianças brincando, adolescentes conversando animados, adultos apressados indo para seus afazeres, até mesmo alguns animais de rua pareciam estar curtindo o dia melhor do que ele.
"Como eu queria ter uma vida normal… Onde eu não precisasse me preocupar com dívidas."
Ao passar por uma mãe e seu filho, ouviu o garoto perguntar, empolgado:
— Mamãe, mamãe! A senhora vai comprar aquele brinquedo pra mim?
— Claro, filho — respondeu a mãe com um sorriso caloroso.
Aquela cena deveria ser comum, mas, para Takeshi, trouxe um aperto no peito. No mesmo instante, lembrou-se da dívida de 100.000 ienes que carregava. Tudo porque sempre prometia que conseguiria pagar, mas com um salário tão baixo, isso nunca acontecia. A dívida só crescia.
Ele suspirou, acelerando o passo.
Chegou em frente à empresa. O lugar era visualmente impressionante: cinco altares cercavam o prédio, e belíssimas flores vermelhas enfeitavam a entrada, exalando um aroma agradável. Por fora, parecia um lugar sofisticado e acolhedor. Mas a realidade lá dentro era outra.
— Cheguei… Não demorou tanto. Nem queria estar aqui, mas preciso desse trabalho pra sobreviver… — disse, coçando a cabeça, já sentindo o peso do dia antes mesmo de começar.
Nos primeiros meses na empresa, sua função era simples: lidar com documentos e contratos. Achava que, pelo menos, seria um trabalho tranquilo. Mas, aos poucos, seu chefe foi empurrando outras tarefas para ele. Primeiro, coisas pequenas. Depois, começou a fazer de tudo: limpar o chão, as flores… até o banheiro.
"Será que hoje vai ser um dia tranquilo?" pensou, enquanto seu estômago roncava baixinho.
Quase sempre era cansativo demais. Quase sempre passava fome. Quase nunca tinha paz.
Mas ele não sabia que aquele dia… seria diferente.
A fachada de vidro refletia a luz do sol com um brilho frio, quase zombando da minha miséria. Era irônico—um lugar tão luxuoso por fora escondia um inferno por dentro.
Meus pés hesitaram por um segundo antes de atravessar as portas automáticas. Elas se abriram com um chiado mecânico, como se estivessem me engolindo, sugando qualquer resquício de humanidade que eu ainda carregava. Lá dentro, o ar era abafado e pesado, preenchido pelo som incessante de teclas sendo pressionadas e pelo vazio dos olhares ao redor.
Respirei fundo e segui para meu posto de trabalho.
— O que será o trabalho de hoje? — murmurei, já esperando o pior.
Minha mesa era simples, de madeira, acompanhada por uma cadeira azul e um computador. Pelo menos tinha uma janela ao lado, que deixava a luz natural entrar e me permitia olhar para fora quando precisava escapar, nem que fosse por alguns segundos.
Sentei-me e esperei.
Não demorou muito até alguém aparecer.
— Olá, Takeshi — disse a voz conhecida, enquanto a pessoa ajustava a garrafa na mão.
— Olá — minha resposta saiu fraca, sem vontade.
Não queria responder educadamente, mas sabia que precisava. Na minha cabeça, as respostas que realmente queria dar vinham com força:
"Olá, pessoa de merda."
"Olá, espero que você vá para o inferno."
"O que foi? De novo precisa de alguém para fazer o que o filhinho de mamãe não consegue?"
Só de imaginar, já queria rir.
O dono da voz era Akira Mika, 25 anos. Um dos funcionários mais populares e bem pagos da empresa.
Com seus 2 metros de altura e físico atlético, Akira gostava de deixar claro que estava no topo. Sempre com uma postura impecável, seu rosto angular e cabelos escuros bem arrumados ajudavam a compor sua imagem de autoridade. Os olhos profundos carregavam um brilho confiante, quase arrogante.
E, para minha infelicidade, ele adorava me infernizar.
Akira sempre se vestia impecavelmente, com ternos bem ajustados de tecidos finos e cortes modernos. Preto, azul-marinho ou cinza eram suas cores de escolha, combinadas com camisas de colarinho perfeitamente alinhadas e gravatas elegantes. Tudo nele exalava profissionalismo e poder.
Mas, por trás dessa fachada refinada, havia pura crueldade.
Sem aviso, Akira agarrou a cabeça de Takeshi e a pressionou com força contra a mesa. O impacto fez sua visão tremer por um instante, e uma dor latejante se espalhou por sua testa. A madeira fria sob sua pele parecia zombar da sua fraqueza.
O choque reverberou em seu crânio, tornando sua respiração instável.
— Ai! Isso dói! — murmurou, quase em súplica.
Na mente de Akira, a humilhação era natural.
"Esse Takeshi é um fracasso mesmo. Nem sei por que ainda está aqui."
Ele sorriu, os dentes brilhando em satisfação.
— Takeshi, você precisa ser forte, não um fraco — disse, rindo da expressão derrotada do colega.
Então, retirou a mão da cabeça dele, mas apenas para saborear mais um pouco sua covardia. Ele sabia que Takeshi não reagiria. Nunca reagia. Para todos na empresa, ele era fraco demais para sequer se defender.
Takeshi franziu as sobrancelhas e cerrou os dentes, tentando conter a raiva que fervia dentro dele.
— O que você quer? — conseguiu perguntar, apesar do nó apertando sua garganta.
A resposta veio sem pressa. Akira o observava com as sobrancelhas abaixadas, seu olhar carregando um desprezo quase entediado.
"É tão fácil deixá-lo com medo. Nem precisei me esforçar."
Então, com um gesto despreocupado, jogou uma pilha de documentos sobre a mesa.
— Aqui estão mais alguns papéis para você.
Takeshi olhou para os documentos, seus olhos se arregalando. Pelo menos 200 folhas.
— Espera… você está brincando, não está? — pegou os papéis, sua mente se recusando a acreditar no que via.
Akira apenas sorriu ainda mais.
— Sabe, Takeshi, estou extremamente cansado… então faça todo o trabalho para mim.
A pilha de papéis parecia mais pesada que o normal. E, no fundo, Takeshi sabia que aquele dia ainda guardava mais surpresas para ele.
Takeshi trabalhava duro, mas nunca era o suficiente. Seu salário mal cobria suas necessidades, e, para piorar, ainda tinha que lidar com Akira.
"Espera... não. Ele é um fraco, ele merece isso."
A voz cruel dentro da mente de Akira ecoava sem piedade.
Enquanto isso, Takeshi suspirou, tentando se convencer de que o melhor era ceder.
"Melhor aceitar logo. Quem sabe ele me deixa em paz..."
Ele sempre xingava Akira em silêncio, mas nunca tinha coragem de dizer nada em voz alta. O medo o segurava como correntes invisíveis.
Endireitou a postura e suavizou a expressão.
— Tudo bem, eu farei — disse, soltando um longo suspiro.
Pegou os documentos e começou a trabalhar. A pilha era enorme. Ele sabia que levaria horas para concluir tudo.
"Eu me esforço tanto, mas parece que ninguém na empresa reconhece meu trabalho… Espero que, ao menos, consiga comprar uma refeição hoje. Trabalhar aqui é complicado. Ter que falar de maneira formal com todos… É um saco."
Essa era uma das coisas que mais o irritavam: a necessidade de sempre manter uma postura educada. Nunca podia se expressar como queria. Tudo tinha que ser calculado, polido.
Com todas as pessoas da empresa, sempre fui formal. Mas isso é tão irritante.
Do outro lado da sala, Akira observava por um instante antes de sair.
"Melhor deixar ele quieto, assim trabalha mais focado... Mas continua um lixo, como sempre."
Havia algo estranho em Akira. Seu comportamento era imprevisível. Às vezes, parecia furioso com Takeshi, e, em outros momentos, algo diferente surgia em sua mente.
Takeshi, por outro lado, sentia-se vazio. Toda a sua vida havia sido assim—sempre usado por outras pessoas. Ele não passava de um fantoche para os outros manipularem.
Seus olhos tremiam de raiva.
— Parece que nunca vou terminar esses documentos! Que droga! — exclamou, apertando as folhas entre os dedos, frustrado.
Não era a primeira vez que Takeshi sentia aquela sensação de ser usado. Seus pais, que também o haviam explorado, o deixaram com a crença de que viver sozinho poderia mudar sua vida e, finalmente, afastá-lo da exploração alheia.
"Já está ficando tarde... não sei se vou conseguir uma refeição hoje..." pensou, olhando pela janela e notando que o sol já estava baixo, fraco.
Enquanto pensava sobre sua próxima refeição, seus olhos se fixaram em um documento roxo, de tecido grosso.
"Espera, por que um documento roxo? O que será que está escrito aqui?" se questionou, curioso.
Takeshi virou o papel lentamente, mas um arrepio percorreu sua espinha ao tocá-lo. Seu suor frio escorria enquanto ele se perguntava se deveria ou não abrir aquele documento. Ele sentia uma tensão crescente, como se algo importante estivesse prestes a ser revelado.
A textura do papel era diferente. Mais pesado do que deveria ser, áspero ao toque, como se não fosse feito para ser apenas papel. Quando o abriu, a caligrafia simétrica e elegante parecia quase viva, como se emanasse uma energia misteriosa que ele não conseguia entender.
"O que é isso?" pensou, sentindo o suor escorrer por suas têmporas.
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2022/04/09
Os desejos movem as pessoas.
Riqueza, poder, autoridade.
Todos lutam por aquilo que é precioso para eles.
Mas sonhos e desejos também podem ser a ruína.
Em um mundo diferente, a sobrevivência é a única lei.
Lutar. Manipular. Trair.
E, acima de tudo…
Esconder-se será impossível.
Você acha que está preparado?
Então me diga…
Qual é o seu desejo?
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Takeshi olhou para o papel por um momento, depois soltou uma gargalhada alta e inesperada.
— Hahahahaha! — riu, sem conseguir se controlar.
"Sério, será que alguém achou que estávamos lendo poemas aqui?"
Ele pegou o documento e, com raiva, o amassou antes de jogar na lixeira. Mas, assim que o fez, uma sensação estranha o invadiu, como se tivesse cometido um erro.
Takeshi caminhou até a janela, olhando para a vista encantadora: pássaros voando, flores coloridas ao redor. Ele sentiu uma profunda inveja daquelas pessoas que pareciam viver suas vidas com facilidade.
"Mas, para ser sincero, meu desejo seria... um novo mundo, onde eu pudesse começar de novo, onde eu pudesse finalmente viver uma vida sem essas correntes."
Takeshi contemplou a vista por alguns minutos, permitindo que o silêncio o envolvesse, antes de decidir sair em busca de uma refeição. Ele caminhou em direção a um beco distante da empresa, onde a única luz vinha de uma lâmpada forte que iluminava o local com intensidade. Embora o beco estivesse isolado, ele não se sentia ameaçado, apenas imerso em um silêncio reconfortante.
Ao chegar à loja, ele abriu a porta e foi recebido por uma voz simpática, que quebrou o silêncio do ambiente.
— Olá novamente, Takeshi.
O local era simples, com diversas mesas dispostas de maneira ordenada, criando um ambiente funcional. Embora estivesse quase vazio, exceto por ele e o homem que parecia ser o proprietário, o espaço tinha um design acolhedor e agradável. As cadeiras ergonômicas complementavam o espaço, enquanto a iluminação suave contribuía para uma atmosfera tranquila.
As paredes de tom neutro davam uma sensação de calma, tornando o ambiente ideal para um momento de pausa.
Koda Iori, com seu sorriso caloroso, cumprimentou Takeshi como se fosse um cliente especial.
Takeshi sorriu de volta, sentindo seu estômago roncar de fome.
— Olá, Koda — disse, sua voz um pouco abafada pela necessidade de comer.
Koda, com seus 23 anos, era o dono daquele pequeno estabelecimento. Seu restaurante não era muito popular e contava com poucos clientes, mas a comida era excelente. Sempre que Takeshi não tinha dinheiro suficiente para pagar, Koda o ajudava com uma refeição gratuita. Koda era um homem amável e de aparência simples, com um rosto oval e expressões suaves que transmitiam uma sensação de simpatia. Seus olhos eram calorosos, seu cabelo castanho escuro estava levemente desgrenhado, e ele vestia roupas casuais, uma camisa de algodão e calças confortáveis, que refletiam sua natureza modesta.
Ele mexia a colher na panela com destreza, preparando o ramen para Takeshi.
— Hoje estou preparando um ramen — disse Koda, com um sorriso.
Takeshi observava a cena, sentindo o aroma reconfortante da comida se espalhar pelo ambiente.
Koda, sempre atento, olhou para Takeshi e, com um sorriso generoso, disse:
— Não precisa pagar nada hoje, Kairu Takeshi.
Takeshi ficou atônito com o gesto de Koda. Mais uma vez, ele receberia a refeição gratuitamente. Embora desejasse poder pagar por sua comida, a falta de recursos o impedia, e ele aceitou o presente com gratidão.
— Muito obrigado, Koda — disse Takeshi, inclinando a cabeça como forma de agradecimento.
Koda, com um sorriso caloroso, respondeu:
— Fico feliz que você vá comer; espero que aprecie minha comida.
Takeshi observava Koda com um olhar pensativo, imaginando as dificuldades que ele enfrentava.
"Deve ser difícil para ele não ter os pais por perto para ajudar. Sua aparência também mostra que ele não está se alimentando muito bem" pensou.
Quando o prato chegou, o aroma era divino. Ao experimentar a comida, Takeshi sentiu um sabor incomparável, como se fosse a primeira vez que algo tão delicioso tocava sua boca, quase como se estivesse no paraíso.
Ele começou a comer rapidamente, sentindo o sabor divino se espalhar por sua boca. A comida de Koda nunca mudava, sempre maravilhosa. O sabor era digno de cinco estrelas — ou até mais. Para Takeshi, Koda era como um pai que ele nunca teve.
A tigela fumegante de ramen parecia um milagre. O aroma rico de caldo e especiarias preenchia o pequeno espaço, trazendo uma onda de alívio que quase fez Takeshi chorar. 'Você sempre cuida de mim, Koda', pensou, mas o que conseguiu dizer foi:
— Está maravilhoso, você realmente sabe como preparar isso — ele continuou a comer, sem conseguir se conter.
Koda observou Takeshi com um sorriso discreto ao ver o quanto ele estava comendo rapidamente.
— Que bom que você gostou.
Takeshi sentiu uma onda de gratidão por Koda, pensando:
"Koda é uma pessoa muito simpática e legal. Desejo, com todo meu coração, poder retribuir um dia, mas infelizmente nem tenho dinheiro para viver."
Ele terminou a refeição e sentiu-se satisfeito, grato pela generosidade de Koda.
"Mas quem será que deixou aquele documento roxo para Akira? É melhor eu esquecer isso por enquanto" pensou, afastando a preocupação por um momento.
— Muito obrigado pela comida — disse Takeshi, deixando o prato na mesa e colocando a mão na barriga, sentindo-se cheio e satisfeito.
O homem sorriu satisfeito ao ver a gratidão de Takeshi. Após a refeição, Koda pegou o prato e o levou até o local onde limpava os utensílios.
"Takeshi se esforça tanto às vezes. Já até dormiu aqui na minha loja... mas ele é um bom garoto."
"Koda Iori é a pessoa em quem mais confio. Se o mundo estivesse à beira da destruição, ele seria a primeira pessoa em quem eu depositaria minha confiança."
Depois de terminar a refeição, Takeshi se levantou e disse que precisava voltar ao trabalho. Saiu do restaurante e seguiu para a empresa. Quando chegou, encontrou o prédio vazio, exceto por Akira, que estava sozinho.
O silêncio no ambiente fez Takeshi suar frio, suas pernas tremiam e seus olhos estavam agitados, tentando não mostrar o nervosismo.
Akira, ao ouvir os passos, virou-se lentamente.
— Só você, Takeshi — a voz de Akira era fria, quase desdenhosa.
Ele se aproximou com passos pesados, cheios de fúria, e agarrou Takeshi pela camisa com tanta força que quase a rasgou.
"Por que ele age assim? Eu não entendo... Por que isso está acontecendo comigo? Eu não fiz nada de errado agora…"
Takeshi tremia, sua camisa apertada na mão de Akira, sem que ele parecesse querer soltar.
Akira olhou para Takeshi, rindo da situação. Seus olhos brilhavam com uma satisfação cruel.
— Você é realmente muito fraco. Está até tremendo de medo diante de mim — disse ele, se divertindo com o medo de Takeshi.
"Eu desejo um mundo onde pudesse ser alguém diferente, onde eu pudesse ser eu mesmo…"
Naquele momento, Takeshi ansiava por um novo mundo, um onde ele pudesse recomeçar, onde as pessoas que lhe causavam dor não tivessem mais poder sobre ele.
Akira estava prestes a golpear Takeshi com toda a sua fúria, quando algo inesperado aconteceu. Uma janela azul surgiu diante deles com uma velocidade assustadora, interrompendo o momento.
『A simulação do novo mundo foi concluída.』
『Humanos de todos os lugares,』
『Isso não é uma brincadeira.』
Takeshi sentiu seu corpo tremer, as palavras piscando diante dele como um aviso do destino. Ele tentou respirar fundo, mas as palavras seguintes o deixaram sem ar.
『Este é agora o novo mundo.』
『Vamos fazer vocês provarem que são capazes de viver aqui.』
『Iniciando a primeira tarefa.』
O ambiente congelou. O ar parecia ser sugado para fora da sala, enquanto uma luz azul irrompia no espaço, engolindo tudo ao redor. Letras flutuavam no ar, brilhando como estrelas, mas o conteúdo delas era mais aterrador do que qualquer pesadelo que Takeshi já pudesse imaginar.
『Tarefa Principal #1 - Prove que você pode viver.』
Dificuldade: F.
Objetivo: Mate um ser humano ou mais.
Prazo: 30 minutos.
Recompensa: 500 moedas.
Falha: Morte.
Enquanto a mensagem azul desaparecia, um silêncio mortal tomou conta da sala. Akira me olhava, mas dessa vez não com desprezo, e sim com algo que eu não conseguia identificar. Seus olhos estavam fixos em mim, como se tentasse compreender o que acabara de acontecer.
Meu coração batia descompassado, e uma única ideia pulsava em minha mente: "Será que isso é real?"
Naquele momento, Kairu Takeshi experimentou um temor profundo, não apenas pela situação, mas pela sensação de que algo muito maior estava prestes a acontecer. Ele não sabia o que era, mas podia sentir que sua vida estava prestes a mudar de uma forma que nunca imaginou ser possível.
Enquanto o ambiente ao redor se tornava cada vez mais pesado, algo começou a acontecer lá fora, além da sala onde Takeshi e Akira estavam. Dez estrelas apareceram no céu, mas nem Takeshi nem Akira as viram. Elas surgiram com uma intensidade impressionante, brilhando com uma luz que parecia transcender qualquer coisa natural.
Essas estrelas não estavam ali apenas para iluminar o céu. Pareciam estar observando, atentas a algo que ocorria abaixo delas. Era como se estivessem assistindo, acompanhando cada movimento de Takeshi e Akira, sem que ambos soubessem de sua presença. Cada uma delas irradiava uma luz intensa, como se soubessem que estavam prestes a testemunhar algo de extrema importância.
O que acontecerá com Takeshi agora? O que significam as estrelas no céu? As respostas, provavelmente, surgiriam mais tarde... ou não.