Layos abriu os olhos assustado ao ouvir a voz do homem estranho. Seu coração acelerou, mas ele permaneceu agarrado ao braço de Takeshi.
Takeshi respondeu sem hesitar, sua voz carregando um tom desconfiado.
— Eu sou Kairu Takeshi, mas pode me chamar de Takeshi — ele fez um gesto discreto para Layos e acrescentou: — este aqui é o Layos.
O homem os encarou em silêncio por alguns segundos, os olhos afiados analisando cada detalhe deles. Então, soltou um suspiro pesado, passando a mão direita pela cabeça. A janela roxa ao seu lado começou a perder o brilho, tornando-se transparente até desaparecer completamente.
— Entendi — sua voz soou mais calma por um instante, mas, num piscar de olhos, seu humor mudou. Seu rosto se contorceu em uma expressão de pura irritação, e sua voz explodiu em fúria:
— Vocês não estão mentindo, né, seus vagabundos?!
Num instante, ele se lançou para frente em uma velocidade absurda. A força do movimento fez o ar ao redor estremecer, e por um momento parecia que ele realmente ia atacar. Layos prendeu a respiração, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
Mas Takeshi permaneceu imóvel. Ele sequer recuou um passo, sustentando o olhar do homem com firmeza. Seu semblante inabalável contrastava com o de Layos, que, apesar de tentar disfarçar, não conseguiu evitar um leve tremor nas mãos.
— Claro que eu não tô mentindo — seu olhar se tornou ainda mais firme antes de acrescentar com indignação:
— E, aliás, eu não sou vagabundo! Eu trabalho numa empresa!
O homem parou abruptamente, sua expressão mudou de raiva para completa confusão. Ele apertou os punhos, rangeu os dentes e exclamou:
— Que merda é uma empresa?!
Takeshi olhou para Layos e lançou um breve sorriso, um gesto sutil, mas o suficiente para acalmá-lo um pouco. Layos respirou fundo e decidiu apenas esperar para ver como a situação se desenrolaria.
— Vamos esquecer a empresa — Takeshi disse, não querendo prolongar a conversa com explicações desnecessárias sobre algo que, provavelmente, aquele lugar nem conhecia. — Tirando essa parte… o que aconteceu aqui nesse corredor?
O homem misterioso estreitou os olhos, seu olhar afiado e carregado de desconfiança. Então, num rompante, respondeu com raiva:
— EI! Sou eu que faço as perguntas aqui, seu merda!
Takeshi franziu a testa, claramente irritado. Seu punho esquerdo se fechou com força, os dedos quase cravando na própria pele. Por um instante, parecia que ele iria reagir, mas, em vez disso, soltou um suspiro fraco, tentando conter sua frustração.
— Olha, eu não quero brigar. Só quero algumas informações — sua voz saiu firme, mas controlada, deixando claro que não estava ali para perder tempo com provocações. — E também, pode ficar um pouco longe? Você está muito perto — disse Takeshi, usando a outra mão para fazer um gesto, indicando que ele se afastasse
O homem estreitou os olhos, mas deu um passo para trás, mantendo-os dentro de seu campo de visão.
Por alguns segundos, o silêncio pairou entre eles.
Ele observou os dois atentamente, como se avaliasse algo. Então, finalmente, respondeu:
— Pelo jeito, vocês são pessoas normais —
Takeshi arqueou uma sobrancelha, ainda mais interessado do que antes. Agora, ele tinha uma oportunidade real de perguntar o que queria.
— O que você quer dizer com normais? Isso significa alguma coisa? —
O homem lançou um olhar rápido para os lados antes de responder:
— Eu disse isso porque aqueles caras que usam máscaras... eles copiam o rosto das pessoas. Mas não é só o rosto. Eles copiam o corpo inteiro, as roupas, tudo. Por isso eu perguntei.
Takeshi franziu a testa, mostrando uma expressão de puro desprezo.
"Esse cara é burro ou o quê?", pensou, irritado."Se esses mascarados realmente conseguem imitar alguém, qualquer um poderia simplesmente dizer que é normal, e ele acreditaria?"
A desconfiança inicial do homem tinha sumido rápido demais, e isso incomodava Takeshi.
— Os caras mascarados… você tá falando dos caras sem rosto? — Takeshi perguntou, ligando as informações ao que Layos havia dito antes.
O homem arregalou os olhos e engoliu em seco. Sua expressão ficou ainda mais tensa.
— C-Claro que sim! — ele tremeu ao dizer o nome, como se só mencioná-los já fosse perigoso. — Sem contar que… agora tem outra tarefa.
Layos, que estava em silêncio até então, começou a olhar ao redor, inquieto.
— Como assim, outra tarefa? — Takeshi notou a agitação dele, mas preferiu focar na resposta do homem.
O estranho desviou o olhar por um instante, hesitando. Então, respirou fundo e finalmente revelou:
O homem engoliu em seco. Sua mão direita se fechou em um punho trêmulo, como se estivesse se segurando para não olhar para trás. Sua voz saiu mais baixa, quase um sussurro, como se o simples ato de falar pudesse chamá-los para perto.
— Descobriram que temos essa tarefa secundária… mas os caras sem rosto também têm uma — ele fez uma pausa, como se tentasse reunir coragem para continuar. — É-é que… a deles é… matar todo mundo da prisão.
Os olhos de Layos tremiam de medo depois de ouvir aquela informação. Ele virou-se para Takeshi, sua voz carregada de preocupação e desespero.
— Tikashi… e se a gente não conseguir sair vivo? — ele apertou as mãos, tentando conter o medo. — E se nós…
Antes que pudesse terminar, Takeshi colocou a mão em seu ombro e respondeu com firmeza:
— Vai ficar tudo bem — seu sorriso tranquilo contrastava com o clima pesado ao redor. — Eu já esperava que algo assim acontecesse… Isso explica por que o corredor está cheio de sangue e corpos. De qualquer forma, vamos conseguir terminar essa missão juntos.
O homem estranho observou a cena em silêncio. Havia algo naquele vínculo entre os dois que o incomodava — uma conexão forte, que ele próprio nunca teve com ninguém. Sentiu um vazio estranho, mas afastou o pensamento e soltou uma pergunta repentina:
— Só uma coisa… — ele inclinou a cabeça, pensativo.
— Hã? — Takeshi franziu a testa.
— Esse tal de Layos… Ele é seu filho?
O silêncio tomou conta do corredor. Takeshi ficou estático, completamente pego de surpresa pela pergunta. Filho dele? Aquilo nem sequer tinha passado por sua cabeça.
Layos, por outro lado, ficou curioso com a reação de Takeshi e simplesmente o encarou, esperando uma resposta.
O homem, vendo a hesitação, piscou algumas vezes antes de finalmente ouvir Takeshi
responder, ainda um pouco atordoado:
— Não, ele não é meu filho.
O estranho apenas deu de ombros, como se não fosse grande coisa, e comentou de forma casual:
— Ah, é que ele não desgruda de você. Achei que fosse.
Takeshi suspirou pesadamente, massageando as têmporas, sentindo o cansaço acumulando.
Layos não gostou da resposta. Seu rosto se fechou em uma expressão descontente, e ele fez um bico, claramente insatisfeito. No entanto, permaneceu calado, preferindo não discutir com Takeshi naquele momento.
Takeshi, por sua vez, percebeu a reação, mas decidiu ignorá-la por enquanto. Seu foco estava totalmente no homem à sua frente e na resposta que ele deveria dar.
— Vamos esquecer isso logo — ele mudou de assunto com firmeza. — Agora, quero saber o seu nome… e também sobre aquela mensagem roxa. Você acha que eu não vi?
Seu olhar se estreitou, encarando o homem com intensidade.
O homem riu baixo, um sorriso discreto surgindo em seu rosto.
— Meu nome é Mark — após se apresentar, seu olhar se tornou sério. — Realmente, você tem olhos bons, meu parceiro.
Layos permaneceu calado, observando a troca de olhares entre os dois.
— Ainda bem que não tenho problemas na visão — Takeshi sorriu de canto, mantendo o tom provocativo.
Os dois riram juntos, enquanto Layos, sem entender nada, apenas os encarava com estranhamento.
— Mas se você quer saber sobre a janela roxa… Bom, ela aparece bastante para mim. Nós conversamos com frequência — Mark deu de ombros, como se fosse algo trivial. — E sobre a mensagem… Foi porque eu estava lutando com algumas pessoas aqui no corredor. Por isso a frase.
Takeshi piscou algumas vezes, refletindo.
"Caramba, esse cara literalmente entrega informações de bandeja. Pensei que ele fosse me atacar quando mencionei a janela roxa. Ufa, ainda bem que não aconteceu nada."
Takeshi decidiu continuar a conversa.
— Você disse que estava lutando com pessoas aqui, mas por quê? O que aconteceu?
Mark soltou um suspiro, como se a explicação fosse óbvia.
— A tarefa é sobre sobrevivência, certo? O problema é que ninguém sabe o limite do círculo verde. E, como ainda não descobriram, algumas pessoas começaram a formar grupos para eliminar os outros participantes.
Ele estalou os dedos, seu olhar carregado de indiferença.
— Eles acreditam que, se o número de pessoas for reduzido a 30 — que é o limite permitido — a tarefa vai terminar automaticamente — Mark estalou o pescoço, relaxando. — Então, um grupo de cinco veio me matar… Mas, bom, matei esses desgraçados antes.
Takeshi absorveu a informação, mas algo parecia suspeito.
"Esse cara realmente é forte. Talvez seja melhor levá-lo para o meu lado. Assim, minhas chances de morrer diminuem… E, pelo jeito, as pessoas já estão armando estratégias."
Suspirando, ele respondeu:
— Entendi. Valeu pelas informações, Mark —
ele estava prestes a perguntar outra coisa quando, de repente, um brilho roxo surgiu diante deles.
『Olá para vocês dois. E aí, como estava o papo?』
Os três continuaram encarando a janela roxa, ainda processando sua aparição repentina.
Mark foi o primeiro a responder, sem se abalar.
— Estava bom. Você encontrou aquilo que pedi? — ele cruzou os braços, demonstrando impaciência.
『Claro! Aqui está, a adaga normal.』
Mark moveu os dedos na interface da janela e confirmou a compra.
— Certo, confirmado.
No mesmo instante, uma névoa roxa cobriu todo o seu braço, ocultando completamente sua mão. Faíscas vermelhas e amarelas começaram a saltar da névoa, mas, estranhamente, nenhuma delas queimava ou destruía nada ao redor.
Takeshi e Layos observavam a cena em silêncio, atentos a cada detalhe.
Aos poucos, a névoa foi se dissipando e as faíscas desapareceram. Quando tudo terminou, Mark segurava uma adaga em sua mão direita.
A lâmina era grande, mas proporcional para ser empunhada com firmeza. Seu cabo possuía um design refinado, com detalhes em prata e couro escuro para melhorar a aderência. No centro da lâmina, havia uma gravura de um dragão com escamas roxas, e, logo abaixo, símbolos desconhecidos estavam entalhados. Nenhum dos três sabia o que aquelas inscrições significavam.
Takeshi franziu o cenho.
— Uma adaga, hein… Isso foi bem inesperado.
Layos, ainda confuso, olhou para Mark.
— Você… comprou uma arma?
Mark sorriu de canto, girando a adaga na mão com destreza.
— Claro. Nunca se sabe quando vamos precisar de um bom corte.
Takeshi assentiu com a cabeça, observando a adaga nas mãos de Mark. Seus olhos analisavam cada detalhe da lâmina.
— Mas, sendo sincero… Isso aí não parece nem um pouco uma adaga normal — sua voz carregava uma curiosidade contida.
Mark girou a arma nos dedos e, em seguida, abaixou a mão, deixando-a ao lado do corpo.
— Realmente, não parece — ele abriu um pequeno sorriso, admirando a lâmina. — Mas é maneiro. Vai ajudar muito.
Ele então ergueu o olhar para os dois e perguntou, sem rodeios:
— E aí, vocês vão querer vir comigo?
Takeshi, que já estava interessado em trazer Mark para o grupo, assentiu de imediato. Layos olhou para Takeshi por um breve instante e, hesitante, copiou seu gesto, mesmo sem entender muito bem.
A janela roxa piscou diante deles e logo exibiu uma nova mensagem:
『Ah, quase esqueci de avisar… Isso custou todo o seu dinheiro. Hehehehehehehe.』
Mark congelou por um segundo. Sua expressão se contorceu em puro desgosto.
— Espera… O QUÊ?!
— Seu merda! Meu dinheiro! — ele gritou, apertando os punhos.
Começou a xingar a janela repetidamente, apontando para ela como se pudesse intimidá-la.
A figura roxa simplesmente brilhou em resposta, indiferente aos insultos.
No entanto, o surto de Mark foi interrompido.
Um som ecoou pelo corredor.
Vários passos, rápidos e pesados, ressoaram no silêncio, aproximando-se deles. O ruído era irregular, como se criaturas de diferentes tamanhos estivessem avançando ao mesmo tempo.
Takeshi imediatamente se virou para frente, seus sentidos em alerta.
— Ah… O que está acontecendo agora? — ele estreitou os olhos, tentando enxergar através da escuridão.
Mark ergueu sua adaga e segurou o cabo com
firmeza. Seu rosto estava sério.
— Devem ser os cachorros deles.
Layos estremeceu e suas mãos começaram a tremer involuntariamente.
— C-cachorros…? — ele repetiu, engolindo em seco.
Mark começou a caminhar lentamente para frente, analisando a situação.
— Os mascarados não são burros. Eles trouxeram seus monstros juntos — um sorriso surgiu em seus lábios. — Que bom que já vou testar essa adaga bonita aqui.
Os passos se intensificaram. O ritmo era frenético, pesado. O chão começou a vibrar levemente sob seus pés.
Algo estava vindo. Algo grande.
De repente, cinco figuras enormes surgiram à vista deles. Os monstros, com sua pele espessa e grossa, estavam se aproximando rapidamente. Suas formas lembravam um jacaré gigante, mas suas características eram ainda mais perturbadoras.
Cada um possuía cinco olhos em sua face, todos alinhados de forma inquietante, como se estivessem observando tudo ao redor simultaneamente. A pele dos monstros, de um azul claro e quase translúcido, dava uma sensação de estranheza, como se fossem criaturas de outra realidade.
Nas costas, uma fileira de espinhos finos, quase invisíveis, se estendia ao longo de sua espinha, lembrando uma armadura natural, difícil de perceber, mas certamente mortal. Suas pernas eram enormes e desproporcionais ao corpo, nove no total, largas e musculosas, como pilares que sustentavam seu tamanho colossal. Cada passo fazia o chão tremer sob seus pés.
Com uma altura impressionante de 3 metros, eles pareciam capazes de destruir tudo em seu caminho com facilidade. Mas o mais assustador de tudo eram os dois rabos de cada monstro.
Grossos e poderosos, se moviam com uma força que fazia o ar vibrar. Era impossível não perceber o poder que aquelas caudas possuíam; uma delas, capaz de destruir uma parede com um único golpe, com a corda laranja forte que ligava os rabos às suas colunas vertebrais.
Os dentes dos monstros eram longos, afiados e pareciam mais uma fileira de lâminas de uma faca afiada. Cada um daqueles dentes poderia matar um leão adulto com facilidade, com apenas uma mordida.
A visão dessas criaturas monstruosas fez o ar se tornar pesado e opressor. A tensão no ambiente era palpável. Eles estavam em um momento de vida ou morte.
Mark esboçou um sorriso confiante, seus olhos brilhando com determinação. Ele ajustou a adaga em sua mão, preparando-se para o que estava por vir, e disse, com a voz firme:
— Vamos nessa.
Ele deu um passo à frente, a postura ereta e pronta para a luta.