A escuridão ao redor de Takeshi parecia infinita, mas então, um som cortou o vazio.
— Acorde!
A voz feminina soou clara em sua mente, mas antes que ele pudesse reconhecê-la completamente, ela começou a distorcer. O tom suave se transformou em algo irregular, anormal, como se estivesse vindo de um ser que não deveria existir.
Takeshi sentiu um choque percorrer seu corpo.
— Hã!
Ele se ergueu num impulso, respirando com dificuldade, o coração disparado. Sua visão ainda estava um pouco turva, mas logo percebeu que estava deitado sobre um chão de madeira marrom. O cheiro de fumaça suave indicava que havia uma fogueira por perto.
— Você está bem, Tikashi?
A voz de Layos soou próxima. Quando seus olhos focaram melhor, ele viu Layos sentado perto de uma fogueira, junto de Mark. Ambos pareciam aliviados por vê-lo acordado.
O mascarado também estava ali, mas diferente dos outros, ele estava envolto por correntes, claramente impossibilitado de escapar.
Takeshi respirou fundo, tentando recuperar a compostura. Ainda sentia o gosto amargo na boca e um peso no estômago, mas pelo menos agora estava acordado.
Takeshi olhou ao redor, tentando reconhecer o lugar onde estava. O chão era completamente de madeira, áspero sob suas mãos, indicando que havia passado algum tempo deitado ali. No centro do ambiente, uma fogueira ardia com chamas baixas, lançando sombras tremulantes nas paredes ao redor.
As paredes tinham tons de vermelho e roxo, criando uma atmosfera estranha e um pouco opressiva. De um lado, um corredor se estendia para frente, levando a uma escadaria que subia para um andar superior. Do outro lado, uma escada descia para um nível inferior, mergulhado na escuridão.
O ambiente estava pouco iluminado, com sombras preenchendo os cantos e detalhes se perdendo na penumbra.
Algumas manchas marrons de sujeira espalhavam-se pelo chão e pelas paredes, dando um ar abandonado ao local.
Ainda assim, havia um cheiro peculiar no ar — não exatamente agradável, mas também não insuportável, como se uma mistura de madeira envelhecida e algo levemente doce impregnasse o ambiente.
Takeshi suspirou, ainda sentindo o corpo pesado. Ele olhou para Layos e respondeu com uma voz cansada:
— Eu tô bem. Fica tranquilo — levou a mão esquerda à cabeça, tentando afastar a tontura.
Mark, que estava próximo, se agachou no chão, cruzando as pernas antes de perguntar:
— Não parece muito bem. Eu e Layos encontramos você caído no chão. O que aconteceu?
Takeshi hesitou por um momento antes de responder, desviando o olhar:
— Eu só estava cansado. Aquela luta me desgastou demais, então acabei dormindo no chão.
Era óbvio que ele estava mentindo. Seu tom de voz era forçado, e a forma como evitava contato visual só tornava tudo mais suspeito.
Ele não queria preocupar os dois, ainda mais sem entender direito o que havia acontecido consigo mesmo.
Além disso, aquela voz… a mulher que falava com ele… Takeshi ainda não sabia quem ou o que ela era. E até descobrir, precisava ter cuidado.
— Mudando de assunto... Onde está minha espada? — perguntou Takeshi, voltando a se concentrar.
Mark apontou para o canto esquerdo da sala e respondeu:
— Está ali. Você deixou ela cair também.
Takeshi seguiu o olhar de Mark e viu sua espada encostada na parede, intacta.
— Que bom que vocês pegaram. Fico feliz com isso — ele esboçou um leve sorriso, aliviado.
O mascarado, que até então estava quieto, se mexeu e falou com um tom hesitante:
— Vocês... vão me dar algo para comer? Estou com fome.
Havia um certo receio em sua voz. Ele já não via mais Takeshi como alguém comum, mas sim como alguém muito mais forte do que ele.
Todos olharam para o mascarado, que recuou levemente, sentindo o peso dos olhares sobre ele. Seu medo era evidente.
No entanto, Layos apenas sorriu e quebrou o silêncio:
— Vamos dar comida para ele, né, gente?
Takeshi desviou o olhar para Layos, piscando algumas vezes antes de perguntar:
— Layos, você sabe quem ele é?
Layos manteve o sorriso e respondeu sem hesitar:
— Não. Mas eu sei que você vai fazer alguma coisa sobre isso.
Takeshi ficou surpreso com a resposta. Ele não esperava essa confiança tão despreocupada. Ainda assim, refletiu consigo mesmo:
"Melhor não revelar nada por enquanto. Se ele souber que reconhecemos ele como um dos mascarados, pode entrar em pânico. Vamos lidar com isso de outra forma."
Takeshi afastou esses pensamentos e decidiu se concentrar na conversa.
— Espera um pouco… Você não tem uma janela para conseguir comida? — perguntou, olhando diretamente para o mascarado.
O mascarado ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder com um tom levemente frustrado:
— Até tenho… Mas ela quase nunca aparece, e quando aparece, é só para me xingar.
Todos ficaram surpresos com essa resposta. Antes que pudessem dizer algo, a janela roxa de Mark brilhou ao lado dele, emitindo uma mensagem:
『Caramba, essa é nova.』
Mark riu ao ver a mensagem, enquanto Takeshi permaneceu em silêncio. Layos, por outro lado, franziu a testa, claramente confuso.
A janela roxa continuou enviando mensagens:
『E agora? O que vocês vão fazer com ele?』
Takeshi soltou um suspiro e respondeu sem rodeios:
— Eu não vou gastar nada com ele. Se vocês quiserem comprar algo, fiquem à vontade, mas eu tô fora.
Layos e Mark permaneceram em silêncio, mas estava claro que nenhum dos dois queria gastar dinheiro com o mascarado.
Foi então que a janela laranja de Layos brilhou e enviou uma mensagem:
『Eh, eh, eh… Vocês podem fazer uma transferência de dinheiro. Assim, podem gastar o dinheiro tranquilo.』
Takeshi lançou um olhar afiado para o mascarado e, com um sorriso malicioso, disse:
— Nossa, que ótimo! Então, por que não transfere todo o seu dinheiro pra gente? — ele fez um gesto incentivando.
O mascarado ficou pálido, sem saber o que fazer. Seu olhar nervoso ia de Takeshi para os outros, claramente aterrorizado.
Mark, segurando o riso, não aguentou e soltou uma gargalhada alta:
— Hahahahaha! Cara, você tá deixando ele desesperado! Dá um descanso pro coitado!
— Tá, tá, tá. Mas essa foi boa, né? — Takeshi olhou para Mark com um sorriso divertido.
— Claro! — Mark respondeu, rindo.
Os dois riram juntos, enquanto Layos se aproximava do mascarado.
— Eu compro para você. O que vai querer? — perguntou de forma casual.
O mascarado arregalou os olhos, surpreso com a gentileza inesperada. Ele hesitou por um momento antes de gaguejar:
— Eu… eu só quero uma água… e uma máscara nova de madeira.
Ele ficou em silêncio logo depois, como se temesse ter pedido demais.
— Você pode transferir um pouco do seu dinheiro, por favor? — Layos pediu com naturalidade.
O mascarado ficou surpreso com a atitude e, após um breve silêncio, respondeu:
— Claro… e também pode me chamar de Igris. Qual é o seu nome? — Ele parecia nervoso por se abrir um pouco.
Layos, por outro lado, apenas sorriu de forma tranquila.
— Que legal. Eu me chamo Layos — enquanto falava, ele já mexia na janela laranja, analisando os itens disponíveis.
Ele então olhou para Igris e continuou:
— Vamos fazer a transferência.
— Está bem… — Igris assentiu, ainda um pouco hesitante.
Foi quando a janela laranja brilhou e começou a explicar:
『Bem… vocês só precisam estar no mesmo lugar, abrir o painel de transferência e selecionar a outra pessoa. Depois, basta escolher o valor desejado.』
Layos navegou pelo painel até encontrar a opção de transferência.
『Layos valor: 0 ???????』
Ele demorou um pouco para entender o funcionamento, mas, após alguns segundos, conseguiu selecionar Igris como destinatário.
『Layos valor: 0 0: valor Igris』
— Pronto, agora você pode colocar o valor —
Layos disse, olhando para Igris.
Igris hesitou. Ele não sabia se Layos era realmente confiável, mas decidiu seguir em frente.
『Layos valor: 0 2000: valor Igris』
Layos arregalou os olhos, surpreso.
— Você tem bastante dinheiro! — ele comentou, impressionado.
Enquanto isso, mais afastados, Takeshi e Mark estavam conversando animadamente, alheios à situação.
Takeshi olhou para Mark enquanto pegava sua espada e perguntou:
— Oh, mas me fala, aquela escada para baixo… ela leva aonde?
Mark cruzou os braços e respondeu:
— Ela dá em um corredor. Foi por lá que eu carreguei você até chegarmos aqui.
Takeshi então apontou para a escada que levava para cima e perguntou:
— E essa? Para onde vai?
Layos fez uma expressão de dúvida e respondeu:
— Eu e Mark não subimos. Ficamos aqui nos recuperando.
Takeshi estava prestes a falar algo quando Layos se aproximou e disse animado:
— Pronto, estamos preparados agora.
Foi então que Takeshi viu Igris novamente, agora usando uma nova máscara de madeira. A máscara tinha pequenos buracos para os olhos e um design simples, mas funcional. Além disso, ele não estava mais com as correntes.
Takeshi imediatamente se colocou em posição, segurando firme a espada.
— Layos! Você soltou ele? — sua voz carregava um tom de alerta.
Layos levantou as mãos em um gesto apaziguador e respondeu com calma:
— Relaxa, relaxa… Ele é alguém legal.
Takeshi estava prestes a avançar, mas, por algum motivo, decidiu confiar em Layos dessa vez. Mark também considerou agir, mas optou por ficar em silêncio, apenas observando.
Igris deu um passo hesitante à frente, sua voz carregada de medo.
— E-Eu não vou fazer nada de ruim. Eu prometo.
Mark abriu um largo sorriso e disse, em um tom descontraído:
— Relaxa. Se você fizer alguma coisa… a gente só te mata — ele deu uma risada casual, como se fosse uma brincadeira.
Igris engoliu em seco e, um pouco nervoso, tentou se apresentar direito:
— Vocês podem me chamar de Igris.
Mark assentiu.
— Beleza. Meu nome é Mark.
Takeshi permaneceu calado por alguns instantes, seu olhar impassível. Quando finalmente falou, sua voz soou fria e direta:
— Kairu Takeshi. Mas me chama só de Takeshi.
Igris parecia surpreso e, sem pensar muito, soltou:
— Você tem dois nomes? Isso é estranho.
Takeshi soltou um suspiro cansado e, sem paciência, respondeu:
— Eu sei. Enfim, vamos esquecer isso. Quando vai começar a segunda tarefa, hein?
Nesse momento, uma janela azul brilhante apareceu ao lado de Takeshi, e uma voz mecânica soou, respondendo com um tom impessoal:
『Agora. Demorou um pouco porque ainda estavam decidindo as coisas. Então, vamos lá.』
Todos ao redor de Takeshi ficaram em silêncio, alguns nervosos, outros apreensivos. As janelas começaram a aparecer diante de cada um deles, até mesmo na de Igris, que se mostrava perplexo com a situação.
A voz da janela anunciou:
『Tarefa Principal #2 - Castelo Azul』
Dificuldade: D+
Objetivo: Matar o coração congelado. Destruir os cinco guardas. Destruir as três torres de proteção.
Prazo: 1 mês.
Recompensa: 3000 moedas.
Falha: Você será teleportado para um lugar onde estará sozinho, cercado por vários seres.
Obs: Forme grupos, pois vocês serão teleportados juntos. Marquem as pessoas do grupo.
O clima na sala ficou tenso. Todos trocavam olhares, com a ansiedade crescendo no ar.
Takeshi coçou a cabeça e, com um sorriso irônico, disse:
— Eh, pelo menos vamos estar todos juntos nessa.
Os outros olharam uns para os outros e, ao ouvir isso, se sentiram um pouco mais aliviados. Takeshi continuou, com tom mais sério:
— Layos, Mark, acho que é melhor a gente comprar roupas novas. Essas aqui são uma merda.
Eles concordaram com a sugestão, mas logo surgiram com uma dúvida:
— Mas, como vamos pegar roupas novas?
Takeshi deu de ombros e respondeu sem hesitar:
— É só comprar na loja.
Todos se lembraram de que realmente podiam fazer isso. Takeshi então se virou para a janela azul e fez uma pergunta:
— Olha, tem roupas normais com alguns benefícios?
A janela azul brilhou levemente e respondeu:
『Sim. Eu fico impressionado com o quanto você sabe.』
Takeshi sorriu de leve e respondeu:
— O único problema é que vamos ter que nos trocar na frente uns dos outros — ele fez uma careta, claramente desconfortável.
A janela azul brilhou ainda mais e respondeu:
『Não se preocupe com isso. Você pode escolher, e uma névoa vai ajudar a cobrir todos, então fiquem tranquilos.』
Todos sentiram um alívio ao perceberem que poderiam se trocar sem se preocupar com a situação. Takeshi, agora mais animado, disse:
— Então vamos, gente.
Cada um se afastou para uma parte do lugar, e o único que parecia relutante em comprar roupas novas era Igris. Após um tempo, névoas roxas começaram a surgir ao redor deles, envolvendo-os até que, finalmente, desapareceram.
Mark foi o primeiro a se revelar. Ele estava com uma camisa preta de manga curta, com detalhes em vermelho nas bordas, e calças azuis escuras com faixas vermelhas nas laterais. A combinação era simples, mas estilosa, com um toque de energia vibrante.
Layos apareceu logo depois, vestindo uma roupa mais elegante. Sua camisa era de um tom dourado suave, com listras amarelas finas que se alternavam em direções opostas, formando padrões geométricos. No centro da camisa.
Por fim, Takeshi surgiu com um kimono completamente preto, com o tecido suave refletindo uma luz discreta. O kimono tinha bordados sutis nas mangas, e seu cachecol verde estava elegantemente enrolado ao redor do pescoço, contrastando com a escuridão da roupa, dando-lhe um ar de mistério e sofisticação.
Mark foi o primeiro a falar, com um sorriso no rosto:
— Aí sim! Estou maneiro agora — ele olhou para Takeshi e Layos, elogiando: — vocês também estão bonitos, cara.
Layos retribuiu o sorriso e respondeu:
— Você também está. O pior é que nunca usei esse tipo de roupa antes.
Takeshi ficou em silêncio por um momento antes de falar, com um tom mais casual:
— Realmente, nunca usei algo assim também. O meu foi barato de comprar, umas 40 moedas. E de vocês?
Mark, ainda segurando sua adaga, respondeu rapidamente:
— 30 moedas.
Layos ajeitou um pouco sua roupa e disse:
— 60 moedas.
Takeshi então olhou para a janela azul, com uma expressão séria, e disse:
— Eu vou escolher todos que estão comigo até o Igris.
Igris, surpreso e ainda em choque com a proposta, respondeu rapidamente:
— Espera, você tem certeza? Eu... eu literalmente quase fiz coisas horríveis.
Takeshi, com um sorriso tranquilo, respondeu:
— Fica tranquilo — ele olhou para Igris com mais suavidade — agora, você também precisa de um grupo para terminar a tarefa.
Mark, com um sorriso um pouco satisfeito, respondeu:
— É, mesmo eu querendo te dar um soco, vou ficar de boa. Agora vamos, né?
Takeshi se aproximou da janela azul, observando a marcação aparecer em seu braço. Ele esperou pacientemente enquanto todos ao redor de sua equipe recebiam os símbolos prateados, que começaram a brilhar suavemente. Pequenos símbolos verticais de verde se formaram, selando o grupo para a tarefa.
Quando todos estavam prontos, Takeshi deu um passo à frente e disse:
— Agora vamos.
De repente, uma aura azul intensa envolveu todos eles. A luz brilhou forte, iluminando o ambiente ao redor enquanto a energia os envolvia completamente.
Antes que pudessem reagir, a luz se intensificou e, em um piscar de olhos, desapareceram do local. O lugar que estavam desapareceu e restaram apenas pequenas luzes flutuantes, sumindo no ar, deixando uma sensação de incerteza.
A tensão no ar era palpável.
O que os aguardava? Onde seriam transportados? A resposta viria em breve.