Capítulo 16: Segunda tarefa

Por um momento, tudo ficou em completa escuridão. A visão deles foi tomada por um vazio absoluto, e o silêncio parecia esmagador. Então, um som seco e alto, click, ecoou pelo ambiente, como se algo tivesse sido acionado.

Lentamente, seus olhos começaram a se abrir. Assim que o fizeram, um frio intenso os envolveu. 

O ar gélido penetrava suas roupas, e suas pernas tocavam algo macio, porém congelante. Quando olharam para baixo, perceberam: era neve. O chão branco se estendia a perder de vista, e pequenos flocos dançavam no ar, sendo levados pelo vento cortante.

O ambiente era vasto e completamente plano. Não havia árvores, construções ou qualquer sinal de civilização, apenas um imenso campo de neve se estendendo até onde seus olhos podiam alcançar. No entanto, quando ergueram o olhar, foram tomados por uma visão deslumbrante.

No céu, uma enorme aurora boreal se desenhava, cobrindo o horizonte com suas cores vibrantes. Tons de azul, verde e roxo se misturavam, ondulando suavemente como um véu celestial. 

Era uma beleza avassaladora, algo que poucos poderiam presenciar em uma vida inteira. O vento soprava com força, fazendo suas roupas e cabelos se agitarem intensamente, enquanto o frio penetrava ainda mais fundo em seus corpos.

Todos permaneceram imóveis, absorvendo a grandiosidade daquele momento. Foi então que, ao desviar o olhar da aurora boreal, avistaram algo colossal à frente.

Um castelo.

A estrutura se erguia imponente no meio daquele deserto gelado, destacando-se contra a paisagem branca. 

Sua altura era impressionante, chegando a aproximadamente dez andares. O exterior brilhava com um azul profundo e intenso, semelhante ao brilho do diamante e da safira. Ao redor de suas muralhas, pequenos cristais de gelo se acumulavam, refletindo a luz da aurora como estrelas presas no solo.

No entanto, o mais intrigante não era apenas sua grandiosidade, mas a barreira que o envolvia.

Uma barreira translúcida cercava todo o castelo, quase invisível a olho nu. Era difícil distingui-la no ambiente, mas quando o vento soprava contra ela, pequenas ondulações sutis se formavam, revelando sua presença.

Três camadas dessa barreira protegiam a fortaleza, e, por mais que parecesse frágil, havia algo nela que transmitia a sensação de que atravessá-la não seria nada fácil.

Enquanto observavam o imponente castelo, seus olhares foram atraídos para algo mais distante, espalhado pelo vasto campo de neve.

Ao longe, erguiam-se várias torres gigantescas, posicionadas em diferentes pontos da paisagem. 

Elas estavam muito distantes, tanto do castelo quanto de onde eles estavam, mas sua presença era impossível de ignorar. Cada uma delas possuía entre 30 e 33 metros de altura, elevando-se como colossos sombrios no meio do campo branco.

A aparência dessas torres era estranha, quase antinatural. Lembravam árvores gigantescas, mas sem folhas, apenas troncos maciços que se estendiam para o céu. 

No entanto, o mais perturbador era a aura que as envolvia. Uma energia densa e ameaçadora circulava ao seu redor, como se estivesse viva, pulsando e devorando tudo ao seu alcance. Não havia dúvida: qualquer um que tentasse se aproximar seria consumido por aquela força invisível.

A coloração dessas torres também era peculiar. Um vermelho intenso e vibrante revestia suas estruturas, como se estivessem manchadas por algo desconhecido. 

Mas o que chamava ainda mais atenção era o fluxo constante de energia branca que saía delas. Essa energia se projetava em direção ao castelo, como feixes luminosos atravessando o céu nevado. Era como se estivessem alimentando a barreira ao redor da fortaleza, fortalecendo-a a cada segundo.

E então, algo ainda mais inquietante aconteceu.

No céu, surgiram várias pequenas estrelas, cintilando no alto como observadoras silenciosas. Elas pareciam diferentes das estrelas comuns da noite. Não estavam ali apenas para iluminar, mas sim para testemunhar.

Cada uma delas parecia ter olhos invisíveis, atentos a tudo o que estava acontecendo. O brilho delas oscilava, como se reagissem aos acontecimentos abaixo.

O que exatamente estava prestes a acontecer?

Eles não tinham respostas. Apenas o frio cortante, o vento incessante e aquela sensação sufocante de que algo muito maior estava em jogo.

Por um breve momento, a imaculada neve branca sob seus pés adquiriu um tom avermelhado, como se estivesse sendo manchada por algo profundo e desconhecido. O contraste com o frio cortante do ambiente fez a cena parecer ainda mais perturbadora.

Então, sem aviso, raízes começaram a emergir lentamente das torres espalhadas pelo campo. 

Elas se estendiam como serpentes famintas, avançando pelo chão congelado. Algumas se enroscavam ao redor das próprias torres, enquanto outras se infiltravam sob a neve, criando padrões irregulares e ameaçadores.

Foi nesse instante que o céu brilhou com intensidade, e uma nova mensagem do sistema surgiu diante de todos. O brilho da interface azulada refletia-se na neve tingida de vermelho, lançando um clarão gélido no ambiente.

『Condição da tarefa: Limite do status 10. Se usarem uma habilidade muito forte, a punição será mais severa.』

As palavras flutuavam no ar, como um decreto incontestável. Antes que pudessem processar completamente o que aquilo significava, o sistema brilhou novamente, sincronizando-se com o céu, e continuou:

『Atualizações: Cada ponto de status agora custa 300 moedas. Além disso, dentro das áreas de missão, é possível encontrar uma tarefa secreta.』

Pouco a pouco, o brilho celeste começou a se dissipar, devolvendo ao ambiente sua tonalidade gélida e silenciosa. No entanto, a janela azul ainda permanecia visível, trazendo mais uma revelação:

『Vocês estão no continente Zhark. Este é Kiko, o local conhecido como As Almas Perdidas do Vale.』

A mensagem pairava no ar, pulsando levemente antes de desaparecer.

O silêncio que se seguiu era esmagador. O frio continuava intenso, o vento soprava forte, mas agora havia algo diferente no ar. Como se aquele lugar estivesse esperando... esperando para testar cada um deles.

Takeshi observou o grupo por um instante antes de responder com seriedade:

— É… parece que, a partir de agora, as tarefas futuras terão mais regras. 

Layos deu alguns passos à frente, cruzando os braços, e acrescentou:

— Isso também aconteceu porque alguém usou uma habilidade muito forte em uma tarefa secundária. 

Mark franziu as sobrancelhas, claramente confuso, e questionou:

— Como diabos você sabe disso? 

Layos respirou fundo antes de explicar:

— Minha janela me mostrou que, durante uma tarefa secundária, alguém usou uma habilidade que conseguiu… rasgar o corpo de uma pessoa inteira. 

Ele estremeceu só de dizer isso.

O mascarado, por outro lado, não demonstrou nenhuma surpresa. Sua voz soou fria e calculista quando comentou:

— Isso já era esperado. Essas pessoas têm sorte de possuir poderes tão fortes. 

Takeshi desviou o olhar para o castelo à sua frente, refletindo. Após alguns segundos, perguntou:

— Então… existem níveis de poder? Porque, sinceramente, estou começando a ter muitas dúvidas sobre isso. 

O mascarado assentiu e, com um gesto firme, apontou para o próprio rosto antes de começar a explicar:

— Sim, existem. O primeiro nível é o físico, onde os poderes afetam apenas a carne e o corpo de maneira tangível. 

Ele então apontou para a própria cabeça, os olhos sérios.

— O segundo nível é o mental, onde os poderes afetam a mente. São habilidades que não podemos ver, mas que podem apagar memórias, paralisar ações do corpo… ou até matar.

Takeshi arregalou os olhos, surpreso.

— Caramba, como você sabe de tudo isso? 

O mascarado esfregou a mão esquerda, um pouco envergonhado, antes de responder com simplicidade:

— Eu apenas estudei isso em livros, só isso. 

Takeshi começou a caminhar, e os outros o acompanharam. Enquanto avançavam pela neve, ele lançou outra pergunta:

— Mas como você já sabia disso? Quer dizer, antes dessas janelas aparecerem, isso já existia? 

Layos bufou e respondeu com naturalidade:

— Claro que sim, Takeshi. Como você não sabia disso? Você por acaso. 

Antes que ele pudesse terminar a frase, Takeshi se apressou em interrompê-lo:

— Não é que eu nunca tenha ouvido falar disso… só estou tentando entender melhor. 

Ele fez uma expressão de quem tentava disfarçar a própria ignorância, arrancando um olhar divertido dos outros.

Takeshi ergueu o olhar para o céu, observando as estrelas misteriosas. Depois de um momento de silêncio, perguntou:

— Falando nisso… o que são aquelas estrelas? 

Todos seguiram seu olhar, fixando-se no céu. Nenhum deles sabia responder, mas um calafrio percorreu o grupo. Afinal, qualquer coisa vinda do sistema dificilmente seria pacífica.

Sem respostas, balançaram a cabeça, negando qualquer conhecimento sobre aquilo. Então, eles se aproximaram das raízes que começaram a surgir no chão. Mark, curioso, puxou sua adaga e encostou na estrutura estranha.

— Parece que isso aqui não faz nada… — murmurou.

As raízes pulsavam, alternando entre um vermelho intenso e um azul prateado, como se estivessem vivas.

Igris ergueu a mão direita, um olhar cauteloso em seu rosto.

— Melhor você não mexer nisso. Essa coisa pode ser perigosa. 

Uma esfera negra começou a se formar em sua palma, girando lentamente.

— Eu vou testar uma coisa. 

Takeshi sentiu um suor frio escorrer por sua nuca. Ele não confiava completamente em Igris, mas decidiu deixá-lo agir.

A esfera em sua mão começou a mudar de cor, tornando-se branca antes que ele a lançasse para o alto. Assim que tocou o ar, tomou a forma de um olho, semelhante ao que Mark havia destruído antes.

— Eu vou fazer esse olho voar para nos ajudar a não nos perdermos e encontrar algo por aqui. 

O olho começou a flutuar e a observar os arredores. 

Mark observou aquilo com curiosidade e perguntou:

— Você não consegue invocar aquele outro olho seu? 

Igris balançou a cabeça, sua expressão se tornando mais séria.

— Não. Por algum motivo, eu não consigo… e não sei o porquê. É como se ele não fosse mais uma parte minha. Isso nunca aconteceu antes. É como se alguém o tivesse roubado de mim. Mas ele era apenas uma habilidade minha… isso é estranho. 

Mark e Layos trocaram olhares incertos, sem saber o que dizer. Mas Takeshi… Takeshi era o único que permaneceu sério. Algo naquela situação parecia fazer sentido para ele. Ele suspirou, sentindo o frio se intensificar ao seu redor.

Então, sem mudar sua expressão, disse calmamente:

— Vou ficar aqui parado por um minuto. Vocês podem seguir na frente. Eu alcanço vocês depois. 

Os outros hesitaram, mas acabaram seguindo em frente. Takeshi ficou parado ali, esperando até que as vozes do grupo sumissem ao longe. Quando teve certeza de que estava sozinho, ergueu os olhos para o céu e falou em tom firme:

— Agora, me diga o que você fez… voz na minha mente. 

Seu olhar era afiado, e o ar ao seu redor ficou pesado no instante em que tocou nesse assunto. O silêncio dominou o ambiente por um longo tempo, até que uma voz ecoou em sua mente:

— Nada. Você apenas usou a sua habilidade. 

 

Takeshi cerrou os punhos, sua expressão se tornando mais rígida.

— O que você é? E como a minha habilidade está ligada a você, voz esquecida? 

O vento soprou forte ao seu redor, mas a única resposta que obteve foi o silêncio absoluto.

Enquanto isso, Mark, Layos e Igris estavam parados em um canto, observando o ambiente. Mark girava sua adaga entre os dedos, o olhar perdido, até que quebrou o silêncio:

— Quanto tempo será que ele vai demorar?

Layos cruzou os braços e respondeu sem muita preocupação:

— Acho que não muito… mas é o Tikashi. Ele deve estar pensando em alguma coisa antes de agir. 

O mascarado permanecia em silêncio, fazendo alguns sinais para seu olho flutuante, que continuava explorando os arredores. Mark lançou um olhar para Layos e, dessa vez, falou com mais seriedade:

— Na verdade… eu tenho umas dúvidas sobre ele. 

Layos arqueou a sobrancelha.

— Hã? 

— Quero dizer… como ele consegue usar uma espada daquele jeito sem nunca ter treinado? — Mark rodou a adaga nos dedos, pensativo — e não é só isso. Naquela luta contra aqueles monstros, ele quase não sofreu dano. Sem falar que ele estava muito calmo… era como se já soubesse de tudo. 

Igris, que até então estava concentrado em seu próprio feitiço, desviou o olhar para os dois e entrou na conversa.

— Também acho estranho — sua voz carregava um tom de incerteza — quando lutamos, ele conseguiu desviar dos meus ataques. Mas pela velocidade dele… ele deveria ter morrido. 

O mascarado hesitou por um instante, como se estivesse escolhendo bem suas palavras antes de continuar:

— Algo nele não faz sentido. 

O grupo caiu em um breve silêncio. O vento gelado soprava forte, fazendo suas roupas e cabelos balançarem.

Afinal… o que exatamente Takeshi sabia?

Eles ficaram ali, em silêncio, até que o som de passos na neve quebrou a quietude do ambiente. Os passos se aproximavam lentamente, ecoando no vasto campo gelado.

Mark instintivamente segurou sua adaga, preparando-se para qualquer ameaça. Layos permaneceu atento, enquanto Igris apenas observava com cautela.

Aos poucos, silhuetas começaram a surgir no meio da névoa branca. Eram duas pessoas. Suas figuras se tornavam mais nítidas conforme avançavam, revelando detalhes que chamaram a atenção do grupo.

— Espera… são meninas? — Mark murmurou, franzindo a testa.

A primeira garota tinha longos cabelos azul-claros, que pareciam refletir o brilho da neve ao seu redor. Seus olhos eram brancos e luminosos, exalando um ar misterioso e hipnotizante. Ela usava um traje elegante, adaptado para o frio extremo, com um tecido espesso que a protegia do clima implacável, mas sem comprometer sua mobilidade.

A segunda garota tinha cabelos curtos e negros, com fios levemente bagunçados pelo vento. Seus olhos castanhos eram profundos e expressivos, transmitindo uma calma enigmática. Assim como a outra, vestia roupas reforçadas para o frio, mas havia algo em sua postura que demonstrava uma firmeza impressionante.

As duas continuaram a se aproximar, seus passos firmes na neve. A garota de cabelos azuis olhou para o grupo com uma expressão superior, o olhar frio como o ambiente ao redor.

— Ei! Vocês são o quê? — sua voz carregava um tom de arrogância, como se a presença deles não fosse nada além de uma curiosidade passageira para ela.

Mark franziu a testa, sua paciência se esgotando rapidamente. Em um movimento rápido, ele ergueu sua adaga e encostou a lâmina no pescoço dela.

— A gente nem conhece vocês. E quem faz as perguntas aqui somos nós — seus olhos demonstravam desconfiança e irritação.

A garota, no entanto, permaneceu inexpressiva. Não demonstrou medo, surpresa ou sequer uma reação defensiva. Apenas o observou com um olhar sereno, quase entediado.

— Você quer lutar aqui? — ela perguntou, como se não se importasse nem um pouco com a lâmina contra sua pele.

Layos, percebendo que a tensão estava prestes a explodir, interveio rapidamente:

— Espera, Mark! Não faça isso! — sua voz carregava urgência, tentando impedir que a situação fugisse do controle.

O vento forte assobiava entre eles, enquanto a garota de cabelos pretos permanecia em silêncio, observando tudo atentamente. 

Algo naquela situação não parecia certo…

Então, antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, o chão sob seus pés tremeu levemente.

No exato momento em que o silêncio pairava sobre o grupo, uma nova mensagem do sistema surgiu, iluminando o céu com uma cor enigmática: negra, com uma faixa branca cintilante atravessando-a. A mensagem brilhou, revelando uma advertência que fez o ar ao redor deles parecer mais denso, como se algo iminente estivesse prestes a acontecer.

『Um ser de nível alto está no mesmo lugar que você.』

As palavras ecoaram nas mentes de todos, e a tensão no ar se intensificou. A garota de cabelo azul, que até então mantinha uma postura desafiadora, agora parecia mais atenta, seus olhos refletindo uma sombra de algo mais. 

Mark, ainda com a adaga na mão, trocou olhares rápidos com Layos e Igris, sentindo uma presença estranha ao redor.

Algo se movia nas sombras. Algo que ainda não podiam ver.