A neve, antes pura e branca, começou a mudar lentamente de cor — tingindo-se de um vermelho escuro e profundo, como se estivesse sendo banhada por sangue. E aquilo não era passageiro... era permanente. O chão agora refletia a atmosfera sombria que se instaurava.
O céu, agitado, parecia entrar em colapso. As nuvens giravam em espirais lentas e ameaçadoras, como se estivessem se curvando diante de algo maior. O dia foi engolido pela noite num piscar de olhos. O sol, que ainda iluminava com dificuldade entre os flocos de neve, simplesmente desapareceu — e em seu lugar surgiu a lua...
Mas não era a lua que conheciam.
Takeshi levantou os olhos, confuso e alarmado. O frio em sua espinha não vinha da neve — vinha de cima.
— Espera… o que é aquilo? — murmurou, a voz embargada.
As duas mulheres ao seu lado também olharam, silenciosas. O mundo parecia prender a respiração.
No alto do céu, uma lua falsa flutuava. Vermelha como sangue, do mesmo tamanho da verdadeira, mas grotesca. Buracos cobriam sua superfície irregular, e espinhos negros gigantes se projetavam dela, formando a imagem de uma estrela distorcida. No centro... um olho.
Um único e colossal olho, tremendo, vivo — movendo-se em espasmos desconexos. Observando. Sentindo. Buscando.
O ar ficou denso, quase insuportável. O simples surgimento daquela criatura celeste era como sufocar de dentro pra fora.
Foi então que o sistema brilhou mais uma vez, mas desta vez sua voz não parecia neutra — havia algo de urgente nela:
『Fase Dois: Elimine o coração antes que o monstro controlador mate todos. Nome do inimigo: Senhor Mellidon.』
Ao ouvir aquele nome, um choque atravessou os corpos de Takeshi e das duas mulheres. Literalmente.
Era como se a palavra "Mellidon" carregasse uma maldição. A dor foi instantânea. Os músculos de Takeshi travaram, seus nervos estremeceram, e as meninas também cambalearam, sentindo o impacto percorrer suas veias como veneno.
Mesmo assim, com a respiração ofegante, Takeshi forçou o corpo e ergueu o rosto mais uma vez. Sua visão ainda turva encontrou o castelo à frente.
Agora, o castelo estava completamente tomado por uma massa viva, um tumor de carne pulsante que crescia como se estivesse vivo. O "câncer" que tomava a estrutura alcançava quase dez metros de altura. Criaturas e pessoas de todos os lados corriam em direção à última torre, buscando entrada, fuga ou apenas respostas — mas o desespero era visível.
Takeshi deu o primeiro passo. Depois outro. E então começou a correr.
Mas não foi longe.
— Sua burrice não tem limites — disse uma voz fria atrás dele.
A mulher de cabelos roxos surgiu de repente, segurando com força o ombro dele. Em seguida, girou o corpo com precisão e aplicou um chute direto na perna esquerda de Takeshi.
Ele foi arremessado ao chão, rolando sobre a neve avermelhada, sentindo a dor explodir no joelho.
Enquanto girava, com o corpo latejando e a neve queimando contra a pele ferida, seus pensamentos se embaralhavam:
"Não posso perder mais uma vida... preciso ajudar Layos e Mark antes que algo aconteça... Mas como? E agora? O que eu faço?"
Cada pensamento era uma faca em sua mente. Cada dúvida, uma dor.
E a lua — aquela lua deformada e viva — ainda os observava do céu, como se tudo aquilo fosse apenas o início.
A mulher de cabelos roxos se aproximou lentamente. O som dos passos afundando na neve agora avermelhada ecoava de forma ameaçadora. Ela ergueu o dedo indicador até o próprio olho, sem pressa, e comentou com desdém:
— Hm… pensei que você fosse forte.
Em seguida, tocou no próprio olho com naturalidade, como se quisesse provocar Takeshi — e de fato, ela não demonstrou dor alguma, nem desconforto.
Takeshi, com o rosto sujo de sangue e neve, tentou se erguer, cambaleando. Mas não teve tempo para respirar. Atrás da mulher, já estava a outra figura ameaçadora: a de cabelos azul escuro, parada como uma sombra viva. Seus olhos fuzilavam Takeshi com um olhar assassino, como se ela não estivesse ali para conversar, mas para finalizar.
Ele tentou manter a calma, disfarçando o medo no olhar. Forçou um sorriso nervoso, mas a única coisa que saiu de sua boca foi:
— Entendi… já escutei muito isso.
A tensão era sufocante.
…..
Em outro ponto, muito longe dali, Mark e Layos encaravam a grotesca lua falsa no céu. Não eram os únicos — praticamente todos ao redor haviam parado, hipnotizados e tomados pelo medo daquilo que flutuava acima de suas cabeças.
— Parece que precisamos ir rápido — disse Mark, quebrando o silêncio, o rosto endurecido.
Layos, com os punhos trêmulos, respondeu:
— Verdade… mas… ele pegou aquilo da árvore?
— Sim — Mark ainda mantinha os olhos fixos na lua — só não faço ideia do que ele quer com aquilo.
O som de passos suaves sobre a neve fez os dois virarem.
O homem de cabelos azul-esverdeado surgiu calmamente ao lado deles. Ele não estava mais montado no cavalo. Em seus braços, carregava algo que pulsava — um pequeno coração verde, vivo, como se tivesse acabado de ser arrancado.
Mark girou a adaga entre os dedos, encarando-o com firmeza.
— E aí… era só isso que você queria da árvore?
O homem caminhou sem pressa, abraçando o coração com uma delicadeza quase paterna. Seus olhos, no entanto, estavam estranhos… mais profundos do que antes. Havia algo neles — não só satisfação, mas um brilho sombrio, como se ele tivesse conseguido muito mais do que aquilo que segurava.
— Sim — respondeu, quase num sussurro. — Agora… vamos nos preparar para entrar no castelo.
Durante esse tempo, o grupo se dedicou a ajudar os feridos que haviam sobrevivido à batalha anterior. Distribuíram alimentos para que todos recuperassem as forças, e organizaram uma breve pausa antes de prosseguir.
A neve vermelha ao redor já não parecia tão fria, mas continuava estranhamente viva sob os pés de todos.
Foi nesse momento que Luna e Tsukiko finalmente despertaram da ilusão em que haviam sido presas. Layos, Mark e Igris foram os primeiros a encontrá-las e garantir que estivessem bem.
Mas algo estava diferente.
Tsukiko mantinha um semblante sério, o olhar perdido, como se ainda estivesse presa em parte da ilusão. Seus olhos pareciam distantes, opacos, e havia um silêncio desconfortável ao seu redor.
Já Luna, por outro lado, estava visivelmente irritada — bufava, cruzava os braços e lançava olhares cortantes a todos ali. Mas esse era seu jeito natural, e ninguém teve coragem de comentar.
Igris até tentou se aproximar de Tsukiko, numa tentativa de entender o que ela havia visto ou sentido lá dentro. Mas não conseguiu arrancar uma única palavra. Apenas um olhar vazio e uma cabeça que se virou lentamente para o outro lado.
Ao final daquele tempo de preparação, o grupo se ergueu da neve tingida de vermelho. Ainda cansados, mas decididos, caminharam juntos na direção do castelo.
À distância, a imensa construção estava protegida por apenas uma última barreira. A segunda torre — aquela com formato de árvore e coberta de folhas flamejantes — havia caído para frente, evitando atingir qualquer aliado.
Ela ainda queimava lentamente, as chamas dançando em silêncio, indicando que outro grupo poderoso havia conseguido vencê-la.
Restava agora a terceira e última torre.
Era semelhante às outras em estrutura, mas exalava uma energia diferente. A aura que antes alimentava a barreira do castelo agora parecia se recolher… como se estivesse sendo redirecionada para dentro. Como se algo lá dentro estivesse absorvendo tudo para se fortalecer.
Layos observava com atenção. E então, como se pressentisse o perigo, seu sistema apareceu em um brilho repentino diante dele:
『Layos, você precisa tomar cuidado agora. O castelo não é uma brincadeira.』
Ele respirou fundo. Já tinha essa sensação desde o início, mas ouvi-la do sistema só deixava tudo mais real. Engoliu seco e respondeu, sem mudar o tom de voz:
— Eu sei… infelizmente. Mas não temos escolha. — fez uma breve pausa e arqueou a sobrancelha, com uma pitada de ironia. — Você apareceu só pra dizer isso?
O sistema de Layos continuou brilhando levemente no ar, até que, com um tom quase tímido, respondeu:
『S-Sim… é que somos assim mesmo. Mas podemos conversar normalmente, né?』
Layos apenas assentiu com a cabeça, sem dizer uma palavra. Estava mais interessado no que viria a seguir. Mark, que observava de longe a cena, não perdeu tempo e reclamou:
— Ei, sistema laranja, por que você não conversa com o meu também? Vocês somem do nada e nunca falam nada direito.
Por um momento, o silêncio pairou, como se as janelas tivessem vergonha. Mas logo depois, a janela de Mark piscou e se abriu com entusiasmo.
『E aí! Vocês conseguiram passar, parabéns. Qual é o próximo passo agora?』
Mark franziu a testa e respondeu com um tom desconfiado:
— Vamos para o castelo. Essa tarefa ainda tá confusa pra mim… Cadê os tais guardas que vocês mencionaram?
As janelas de sistema permaneceram caladas por alguns instantes, como se estivessem se entreolhando em silêncio. Então, a janela roxa — pertencente à garota de cabelos da mesma cor — surgiu com sua resposta:
『Eles estão à frente do castelo. Quando a última barreira cair… se preparem. Porque eles não são o tipo de inimigo que se derruba fácil.』
A atmosfera se mantinha séria e tensa. Tudo parecia caminhar dentro do esperado — até que sons confusos de palavras rápidas e distorcidas começaram a se espalhar pelo ar.
Todos olharam ao redor, buscando a origem, até que perceberam: vinha de Igris.
Ele caminhava em silêncio, mas seu rosto estava pálido. O medo era evidente. Foi então que a janela dele surgiu, vibrando intensamente — uma mistura estranha de vermelho escuro, laranja e azul. Assim que apareceu, uma voz aguda e extremamente irritante disparou:
『Você é um inútil mesmo! Perdeu metade do seu poder que veio do seu modificador! Patético! Otário!』
A voz parecia de uma menina mimada em fúria, tão estridente que fez alguns ali taparem os ouvidos. Igris não respondeu. Apenas baixou os olhos e seguiu em frente, visivelmente envergonhado por aquele vexame público.
A janela de Mark, tentando quebrar o clima, piscou e mostrou um pequeno emoji: um rostinho com os olhos semicerrados e a boca fechada em desaprovação. Logo depois, ela comentou em voz baixa, mas audível o suficiente:
『Essa aí é chata mesmo. Ainda bem que não sou ele.』
Durante a caminhada, Luna se aproximou de Mark com um sorrisinho provocador no rosto.
— Então… foi aquilo que te tirou da ilusão, né? Parece que ela não quis alguém feio — disse, soltando uma risadinha debochada.
Mark lançou um olhar irritado para ela e retrucou:
— Quer perder um dente aqui mesmo? Eu não tenho problema nenhum em bater em você — respondeu, girando a adaga na mão como forma de ameaça.
Luna sorriu de canto, mas logo assumiu uma expressão séria e respondeu:
— Então vem. Tenta a sorte — estalando os braços, pronta para o desafio.
Antes que qualquer coisa piorasse, Layos entrou no meio dos dois rapidamente.
— Já chega vocês dois! Vocês conseguem passar um minuto sem brigar?
O silêncio tomou conta por um momento. Os dois olharam para frente, fingindo que nada tinha acontecido.
Layos aproveitou e perguntou:
— Aliás, onde está a Tsokika?
Luna respondeu, com um leve tom de desinteresse:
— Você nem consegue falar o nome dela direito… Mas, bem… ela ficou lá atrás. Não quis vir pra frente com a gente.
Layos seguia em silêncio, até ouvir a voz do sistema de Mark soando com um tom curioso:
『Estranho, não é, Layos? Eles nem tentam entender o motivo de tanta briga…』
Layos soltou um leve suspiro e apenas assentiu com a cabeça, como se já estivesse cansado daquilo.
Após longas horas de caminhada em meio à neve vermelha, o grupo finalmente conseguiu avistar o castelo com mais clareza. Eles não estavam exatamente perto… mas também não tão longe.
O castelo, agora completamente envolto por uma massa de carne viva, pulsava como se o próprio coração tivesse se fundido à sua estrutura. Cada batida emitia um brilho doentio, como se anunciasse a chegada de algo terrível.
Foi então que o homem de cabelos azul-esverdeados se posicionou na frente do grupo. Ele ergueu o pequeno coração verde que carregava — e, sem aviso, a última barreira mágica ao redor do castelo se quebrou. Não houve explosão, nem resistência. Apenas... desapareceu.
Todos ficaram em choque, sem entender como aquilo havia sido possível sem destruir a terceira torre.
Logo em seguida, as portas gigantescas do castelo se abriram com um ranger profundo e ameaçador. Do interior, envolta pela sombra, surgiu a silhueta do primeiro guardião.
Era uma figura imensa, com mais de três metros de altura.
E, ao que tudo indicava… a verdadeira luta estava apenas começando.