Assim que o ser atravessou os portões do castelo, eles se fecharam atrás dele com um estrondo abafado, como se selassem o destino de todos ali. No mesmo instante, uma aura púrpura e densa tomou conta de toda a estrutura.
A névoa roxa parecia viva, serpenteando pelas torres como tentáculos de energia. Pequenos olhos — dezenas deles — começaram a se abrir ao redor do castelo, observando o grupo com uma atenção antinatural. Eram olhos sem pupilas, apenas esferas pulsantes de energia que acompanhavam cada movimento.
O ser avançou com passos pesados e silenciosos, como se o próprio chão temesse sua presença. Quando saiu completamente das sombras da entrada, sua aparência foi revelada — ou, ao menos, parte dela.
Usava um capacete colossal, de guerreiro antigo, que cobria toda a cabeça. Nenhum traço de rosto era visível. Em vez disso, uma fumaça negra densa saía pelas frestas, girando lentamente como se o interior fosse vazio... ou vivo demais para ser visto.
O capacete era decorado com listras brancas e azuladas que emitiam um brilho fraco, mas constante. Seu material não era reconhecível — era mais resistente do que qualquer coisa já forjada por mãos humanas.
Uma capa negra gigantesca arrastava-se atrás dele, movendo-se com o vento como se tivesse vontade própria. A armadura, imponente, era formada por placas azuladas com toques de amarelo queimado.
Cada peça parecia ter sido moldada não apenas para proteção, mas para inspirar medo — curvas angulares, marcas de batalhas passadas, e símbolos arcanos gravados em baixo relevo. O ser permanecia ereto, escaneando silenciosamente cada um dos presentes, como se calculasse qual deles morreria primeiro.
Na mão direita, empunhava uma espada de lâmina longa, branca como os ossos de um gigante. Diferente de sua aparência frágil e simples, a arma exalava uma energia veloz e letal.
Não era feita para esmagar — era feita para cortar antes que o inimigo pudesse pensar em reagir. A leveza nos movimentos da lâmina denunciava sua natureza: agilidade extrema, golpes fatais.
O silêncio ao redor foi total. Nenhuma palavra, nenhum som, apenas a presença esmagadora daquela entidade.
E então, como se percebesse que já havia sido suficientemente observado… ele deu o primeiro passo à frente.
Assim que o ser pisou no chão, uma onda de energia percorreu o ar, fazendo o chão vibrar levemente sob os pés de todos. De repente, os sistemas de cada um ali se ativaram ao mesmo tempo, com uma única mensagem:
『O primeiro guarda despertou. Caminho Nível 11. Cavaleiro Zhin Tohm agora está pronto.』
O clima mudou no mesmo instante. Alguns engoliram seco, tomados por ansiedade e tensão. Outros apertaram as armas com mais força, tentando esconder o medo. Mas entre todos, apenas um estava visivelmente apavorado.
O homem de cabelos azul-esverdeado recuou levemente, seus olhos arregalados. Ele segurava o pequeno coração verde nas mãos e, por dentro, seus pensamentos se tornaram um redemoinho desordenado.
"Como...? Como isso é possível? Ele está no Caminho Nível 10... isso vai ser complicado. Muito complicado. Ainda bem que eu tenho meu próprio caminho para evoluir... só preciso usar os corpos agora."
Com a respiração acelerada, ele apertou o coração verde, tentando se conectar com as flores vermelhas que havia preparado anteriormente. Mas algo estava errado.
De repente, seu olhar se perdeu no vazio.
"Espera... não. Não, não, não! Por que... por que eu não estou sentindo nada?!"
Ele fechou os olhos com força, tentando sentir qualquer resquício da conexão que havia criado. Mas não havia nada. Nenhuma resposta. Nenhum eco. Um silêncio absoluto.
"Alguém... alguém mexeu neles. Aquelas flores... foram tiradas. Aqueles dois fizeram alguma coisa errada. Isso não era pra acontecer agora."
Um arrepio percorreu sua espinha. Seu plano havia começado a desmoronar — bem diante do inimigo mais forte que já enfrentaram.
E o cavaleiro Zhin Tohm, imóvel e silencioso, ainda não havia sequer levantado a espada.
O homem de cabelos azul-esverdeado permaneceu parado, encarando o chão por alguns segundos. Seus olhos então se voltaram para o guerreiro à frente — o cavaleiro. Ele soltou um suspiro longo e contido, seus pensamentos ecoando como um sussurro frustrado.
"Parece que realmente... não deu certo. Merda."
Mas antes que pudesse planejar seu próximo passo, todos ali ouviram o som seco e abafado de passos se aproximando, afundando na neve vermelha. Um a um, vultos começaram a surgir entre os flocos espessos — aliados, reforços. Outros sobreviventes que haviam enfrentado provações e agora se uniam naquele momento decisivo.
A presença deles fortaleceu o ânimo do grupo. Os olhares se ergueram. O medo deu lugar à firmeza. Aquilo ainda era perigoso, mas agora... eles não estavam mais sozinhos.
Mesmo assim, o cavaleiro Zhin Tohm não parecia incomodado. Ele começou a andar, passos pesados e lentos, com sua espada arrastando levemente na neve. A aura roxa ao redor do castelo parecia pulsar com cada movimento seu.
Então, algo estranho aconteceu.
Pequenas esferas amarelas começaram a surgir ao longo da sua capa negra, flutuando como lanternas de energia viva. A temperatura caiu. A neve ficou mais espessa, mais pesada, como se o próprio ambiente respondesse à presença do guardião.
E então... ele sumiu.
Nenhum som. Nenhuma energia detectada. Apenas o vazio.
Quando perceberam, era tarde demais.
No instante seguinte, todos ouviram um grito seco. O corpo de um dos reforços — um jovem guerreiro que mal havia se posicionado — tombou de joelhos com uma expressão de choque. Uma única espada atravessava seu peito, fincada com precisão cirúrgica.
O cavaleiro Zhin Tohm reapareceu atrás dele, imóvel. A neve ao redor já se tingia de vermelho.
Sem dizer uma palavra, o guardião girou levemente o rosto em direção ao grupo.
Como se dissesse: Agora é a vez de vocês.
Todos avançaram ao mesmo tempo.
Gritos de guerra ecoaram entre a neve pesada. Espadas foram erguidas, habilidades ativadas, feixes de energia cortando o ar. Ninguém poupou força — era tudo ou nada. Cada um sabia que estavam diante de um oponente que não deixaria margem para erros.
Mas Tsukiko permaneceu parada.
Ela observava em silêncio, os olhos semicerrados. Seu corpo tremia levemente, não de medo, mas de algo mais profundo, mais contido. Enquanto todos corriam para o confronto, ela não deu um passo.
O cavaleiro Zhin Tohm respondeu ao avanço com um único movimento.
Ele girou a espada com uma velocidade absurda — tão veloz que o ar se rompeu ao redor da lâmina. O impacto da pressão cortante lançou três combatentes longe, como bonecos sem peso, e dois deles caíram já inconscientes, sangue jorrando pelo peito.
Outros não tiveram a mesma sorte.
Alguns foram atingidos diretamente pela lâmina. Corpos despedaçados caíram na neve, que agora era tingida por novas manchas vermelhas vivas. O som era um misto de carne sendo cortada e armaduras se quebrando.
Ainda assim, os restantes não pararam.
Layos, com as mãos envoltas em uma energia amarela, apareceu atrás do guardião e desferiu um golpe direto na base da armadura — sem sucesso. O impacto só o fez deslizar para trás, como se tivesse acertado uma muralha viva.
Mark tentou cortar as pernas do inimigo com sua adaga, visando velocidade, mas o cavaleiro apenas ergueu a perna e o chutou com uma força que o lançou três metros no ar, aterrissando com um baque surdo.
A capa negra do guardião balançava suavemente, como se o próprio vento o respeitasse.
Bolas amarelas continuavam a surgir e girar lentamente ao redor de seu corpo, criando uma espécie de campo gravitacional distorcido. A cada passo que ele dava, o chão congelava. A neve não caía sobre ele — ela evitava seu corpo como se estivesse viva.
Mesmo diante do caos, ele ainda não havia falado uma única palavra.
Era como lutar contra um deus silencioso.
No fundo, Tsukiko continuava parada. Seus olhos estavam fixos em cada movimento, em cada padrão, como se estivesse memorizando... esperando.
O cavaleiro Zhin Tohm girou sua espada com uma força brutal. O vento ao redor ficou denso, quase sólido. A pressão era tamanha que muitos ao redor caíram no chão, como se a gravidade tivesse aumentado subitamente. Outros foram arremessados a dois metros de distância, como folhas no meio de um furacão.
Layos sentiu o impacto direto no peito. Cambaleou para trás, cuspiu sangue pela boca e correu mancando até onde Mark estava caído, de bruços na neve, com a respiração fraca e os olhos semicerrados.
— A gente não consegue… — disse Layos, ofegante, estendendo a mão e puxando Mark para se levantar. — Vamos sair daqui agora!
Ele ergueu o companheiro com esforço, tentando se manter de pé enquanto o frio parecia cortar até os ossos.
Mas o cavaleiro viu.
Sem hesitar, girou novamente sua espada em um arco violento, mirando os dois. A lâmina vinha como um vendaval fatal, pronta para cortar tudo em seu caminho. Mas então — clang!
Uma corrente roxa surgiu do nada, se entrelaçando no ar diante deles. A energia vibrava como um escudo de força viva. A espada do guardião bateu com tudo, fazendo o chão tremer.
A corrente resistiu por um breve segundo.
Depois, rachaduras surgiram nela, como vidro prestes a se partir… e então ela se quebrou em dezenas de pedaços, desmanchando no ar como poeira brilhante.
Layos e Mark caíram para trás com o choque da explosão mágica, mas estavam vivos.
A neblina se espalhou novamente, e a figura de quem invocou a corrente começou a surgir por entre os flocos de neve.
Igris saiu de dentro da fumaça, ofegante, com o corpo coberto por resquícios da explosão. Sua respiração era pesada, e os passos, trêmulos. Mesmo assim, correu até onde Layos e Mark estavam.
— Foi por pouco… — disse, tentando sorrir apesar da dor. — Ainda bem que consegui proteger vocês.
Layos olhou rapidamente para ele e, de imediato, notou algo alarmante: a mão direita de Igris estava completamente vermelha, coberta por rachaduras brilhantes que pulsavam como se estivessem prestes a se partir.
Era como se sua pele estivesse fragmentando de dentro para fora.
— Sua mão, Igris… — disse Layos, arregalando os olhos. — Você está no limite. Sua habilidade… ela tem desvantagem.
Igris cerrou os dentes, mas manteve-se firme.
— Fica tranquilo — respondeu com esforço. — Eu ainda aguento mais um pouco… Mas agora, se prepara. Ele não vai esperar.
Enquanto isso, Mark, que estava confuso e atordoado, levou a mão à cabeça. Sua mente ainda girava, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Mas ao ver os dois à sua frente resistindo mesmo naquela condição, algo dentro dele despertou.
Ele respirou fundo, se forçou a se equilibrar e, com dificuldade, ficou de pé.
Seus olhos já não estavam mais perdidos.
Eles estavam focados.
Prontos para a próxima investida.
Mark inspirou fundo, tentando manter a calma. Seus dedos tremiam, mas ele os fechou com força ao redor da adaga. Um leve brilho percorreu a lâmina, refletindo sua determinação.
— Vamos nessa — murmurou para si mesmo.
Layos, ao lado dele, segurou a espada com firmeza. Seus olhos estavam fixos na figura colossal à frente, e embora seu corpo doesse, sua mente estava clara. Ele sabia que um único vacilo seria o fim.
— A gente não pode recuar agora — disse, com a voz baixa, mas firme.
Igris, mesmo com a mão rachada e pulsando em vermelho, ergueu o braço e, com esforço visível, forjou uma nova corrente. A energia roxa que a envolvia estava instável, tremendo como se estivesse à beira do colapso, mas ainda assim firme.
— Essa vai ser a última por enquanto... então aproveitem bem — avisou, com um meio sorriso forçado.
O cavaleiro, com sua imponente armadura e passos pesados, preparava-se para avançar novamente. Seus olhos — se é que estavam ali sob o capacete — pareciam pesar sobre os três como uma sentença.
No entanto, antes que ele pudesse dar o próximo passo, gritos ecoaram pela neve.
— AGORA! — alguém berrou.
Várias figuras emergiram pela lateral, atacando o cavaleiro ao mesmo tempo, em um esforço coletivo para impedi-lo de se mover. Lâminas, correntes, estilhaços de energia e feixes cortaram o ar. Cada um daqueles combatentes sabia que aquela podia ser sua última chance — então não seguraram nada.
O ar foi tomado por ruídos de impacto, estalos de energia, respingos de sangue e gritos abafados.
A capa negra do cavaleiro tremulava no ar, enquanto ele girava levemente o corpo, desviando de alguns ataques com precisão sobre-humana, e absorvendo outros com sua armadura.
Ainda assim, foi forçado a recuar dois passos.
Layos observava tudo, atento.
— Ele não esperava que tanta gente fosse se juntar de uma vez... é nossa chance.
Mark assentiu.
— Vamos abrir caminho no meio do caos.
Igris se posicionou atrás deles, ainda criando pequenas âncoras de energia com sua corrente.
— Façam valer a pena… Não sei por quanto tempo vou conseguir segurar.
A neve vermelha se intensificava ao redor, e a aura roxa do castelo parecia reagir à batalha, vibrando como se estivesse viva.
Mesmo cercado, o cavaleiro ainda não parecia pressionado.
Na verdade… ele parecia estar se divertindo.