Capítulo 29: Coração verde (1)

O Cavaleiro saltou. Foi um salto monstruoso, quebrando o ar com um estrondo surdo. Todos ao redor ergueram os olhos, atônitos, enquanto a figura negra se erguia como uma sombra sobre o campo.

E então, ainda no ar, ele cerrou o punho.

Com brutalidade sobre-humana, o cavaleiro desferiu um soco em direção ao chão — um golpe que nunca o tocou fisicamente, mas cuja força explodiu o ar ao redor como uma bomba de pressão.

O impacto foi devastador.

O solo tremeu. Poeira e fragmentos subiram aos céus. Todos foram arremessados para os lados como bonecos. Os mais feridos caíram com gritos de dor, ossos se partindo com estalos horríveis.

Igris, percebendo o que viria, dissolveu rapidamente suas correntes, recuando com um salto antes de ser atingido pela onda de choque. Layos e Mark se cruzaram com os braços à frente, sendo arrastados por alguns metros, mas ainda em pé.

O campo foi tomado por poeira e caos. Gritos de dor, gemidos e ofegos preenchiam o ar pesado. Mas, em meio à cortina de cinza, passos calmos ecoaram. Passos firmes. Determinação.

O homem de cabelos azul esverdeado surgiu entre a fumaça, caminhando tranquilamente até o Cavaleiro, que agora pousava silenciosamente no solo, ainda emanando poder.

— Sabe lutar com espada… e com os punhos. Interessante — disse o homem, olhando fixamente para a figura diante de si.

Em sua mão direita, o coração verde pulsava intensamente. Na esquerda, floresceu uma pequena flor de coloração laranja, irradiando uma energia viva e instável. Ele pensou, sentindo a tensão crescer:

"Todos aqui já passaram dos limites humanos... mas esse cara… esse não dá pra enfrentar corpo a corpo. Mesmo com o coração da árvore, ainda não é o suficiente. Fascinante... Um Caminho nível 10... Transcendência 10."

De repente, o ar explodiu ao redor dele.

Num piscar de olhos, a lâmina do Cavaleiro estava a milímetros de sua garganta. A velocidade era inumana.

Mas antes que o golpe fosse final—

— Acha mesmo que eu deixaria mais alguém morrer aqui? 

A voz veio carregada de exaustão… e raiva.

Uma esfera de ar condensado colidiu com o cavaleiro, empurrando-o com força para longe. Ele recuou com os pés escorregando na neve tingida de vermelho.

Todos se viraram.

Ali estava Luna.

Sua testa sangrava, o rosto sujo de neve e poeira. As roupas estavam cobertas de sangue, os olhos quase apagados pelo cansaço. Mas ela ainda estava ali. Firme.

Mark correu até ela, aliviado.

— Você… você está viva!

Ela sorriu fraco, com sarcasmo em meio ao cansaço.

— Não esperava que um feioso desses ainda estivesse de pé...

Mark soltou um riso leve, e então girou a adaga na mão. Seus olhos encontraram os do cavaleiro à frente.

— Isso não quer dizer que sou fraco. Vamos ver se você consegue me acompanhar.

Luna assentiu com a cabeça, pronta para apoiá-lo.

Num piscar de olhos, Mark avançou. Sua velocidade era absurda, como um borrão entre a poeira.

O Cavaleiro, experiente, reagiu rápido e girou a lâmina horizontalmente. Um corte limpo rasgou a barriga de Mark — sangue jorrou.

Mas algo estava errado.

Mark... sorriu?

— Tarde demais — murmurou.

O corpo ferido explodiu em névoa diante dos olhos do inimigo.

E atrás dele—

A verdadeira adaga rasgou a capa do Cavaleiro, dissipando as pequenas esferas amarelas que estavam ali. O cavaleiro soltou um som gutural e, furioso, preparou um chute devastador para trás. Mas antes do impacto—

Fuuuuuuuush!

Um vendaval o atingiu, empurrando-o com violência e impedindo o ataque. Ele perdeu o equilíbrio, sendo forçado a cravar os pés na terra para não ser arremessado.

Luna havia usado sua habilidade novamente. Mas agora, algo mais vibrava no ar.

Atrás dela, uma aura vermelha crescia como uma chama. Tsukiko, antes imóvel, havia finalmente ativado sua habilidade de fortalecimento — e a havia lançado sobre Luna. O brilho da aura fez até o cavaleiro dar um pequeno passo para trás, curioso.

O Cavaleiro, diante de tudo o que acontecia, sorriu. Era um sorriso genuíno… estranho, até. Como se ele estivesse feliz por estar lutando, por finalmente ser desafiado. Ninguém ali percebeu esse detalhe — exceto Layos, que engoliu em seco ao notar o brilho incomum nos olhos do inimigo.

Mesmo assim, não hesitou. Ele avançou, correndo ao lado de Mark e Luna. Igris, mesmo com o braço tremendo e inchado pelas rachaduras, se juntou a eles. Seus olhos mostravam dor… mas também firmeza.

O cavaleiro, vendo os três se unirem, agarrou sua espada com mais força. A lâmina tremeu, vibrando com energia. E então — ele se moveu.

Boom!

A explosão de velocidade foi tão intensa que a neve sob seus pés explodiu para o alto, como uma onda branca entre eles.

Mark mal teve tempo de reagir — sua adaga colidiu com a espada num clarão de faíscas e som metálico.

TCHAAAANG!

A pressão do impacto o empurrou para trás, os pés escorregando na neve manchada de sangue. Ainda assim, Mark segurou firme, os olhos em chamas, mirando o Cavaleiro com fúria. Mas o cavaleiro... ele ria. Seus olhos brilhavam de excitação.

Layos não perdeu tempo.

Ele correu em ziguezague, desaparecendo e reaparecendo como um raio. Seus punhos começaram a brilhar com um tom amarelo incandescente.

BOOOOM!

O soco atingiu em cheio o capacete do Cavaleiro, que trincou com um som seco. O impacto o empurrou alguns metros para trás, deixando um rastro no solo gelado.

Mas então — crack!

Raios brancos começaram a percorrer o corpo de Layos, revelando que a tarefa estava limitando ele. Sua expressão de raiva se contorceu em dor. Ele arfou, cambaleando, e os punhos pararam de brilhar.

— Droga… não consigo manter por muito tempo…

Enquanto isso, Igris estendeu a mão ferida, rangendo os dentes.

Uma esfera de energia marrom surgiu diante dele, tremendo de instabilidade. Dela, um pequeno olho flutuante emergiu, vibrando com energia. A pupila do olho brilhou, girando como se analisasse tudo ao redor.

— Vê tudo. Não deixa ele escapar — murmurou Igris, ofegante.

O olho disparou no ar, se posicionando acima do campo como um drone mágico, absorvendo cada movimento com precisão.

No campo de batalha, os quatro agora estavam posicionados, lado a lado.

O cavaleiro, com a espada no ombro, olhou para eles…

O guerreiro cravou os pés no chão com força, fazendo a neve ao redor se partir em linhas finas de rachaduras. Sua espada, agora firmemente presa nas mãos, parecia mais pesada… mais densa… como se tivesse ganhado peso com o puro poder bruto que ele canalizava.

Seus músculos se expandiram, veias saltando, e os raios brancos começaram a percorrer seu corpo como serpentes elétricas. Mesmo com a dor visível — a dor da restrição que limitava seus poderes — ele continuava avançando.

A cada passo, o ar ao redor tremia.

A cada respiração, a neve se agitava.

E, ainda assim, ele caminhava.

Um silêncio cortante caiu sobre o campo. Todos podiam sentir: aquele não era apenas um inimigo… era uma força da natureza.

Então — em um único piscar de olhos, o guerreiro desapareceu.

— AGH!

Ele reapareceu agarrando o pescoço de Layos, levantando-o com uma força monstruosa. O corpo de Layos foi erguido do chão como se não pesasse nada. Seus olhos se arregalaram. Sua respiração ficou fraca, ofegante, quase inaudível.

— Layos!! — gritaram os outros, em uníssono.

A raiva tomou conta de todos.

Mark, sem pensar, avançou com velocidade extrema, impulsionado pelo ódio.

— SOLTA ELE!!!

Ele mirou um golpe direto com a adaga, mirando o flanco do inimigo. Mas a espada do guerreiro — que estava em sua outra mão — interceptou com facilidade.

CLANG!

O som ecoou como um trovão metálico.

O guerreiro não desviou o olhar. Apertou ainda mais o pescoço de Layos.

— Realmente... fascinante. — disse, com um tom calmo e cruel.

Mas então…

SCHAAA!

Uma planta emergiu do peito do guerreiro — nascida diretamente de seu coração pulsante.

Seu olhar se arregalou por um instante.

"O quê…?"

De repente, ele foi empurrado violentamente para o lado por uma onda de vento poderosa — era Luna, usando sua habilidade mais uma vez, com a testa ainda ensanguentada.

Em seguida, vinhas espessas brotaram do chão, serpenteando e se enrolando nas pernas do inimigo, tentando imobilizá-lo.

O guerreiro caiu de joelhos com o impacto e olhou para o chão, onde a energia da natureza fervia.

Ele levantou os olhos, e então o viu…

O homem de cabelos azul-esverdeado caminhava em sua direção, com um sorriso tranquilo e confiante no rosto.

"Você…"murmurou mentalmente o guerreiro.

O homem apenas continuou andando, abrindo lentamente uma flor laranja na palma da mão.

— Finalmente… o plano abriu.

Seu olhar brilhava com satisfação. O campo de batalha havia mudado. A maré começava a virar.

Alguns soldados que estavam caídos começaram a se mover, tossindo e tentando se levantar em meio aos destroços.

O campo de batalha, que antes parecia silenciado pela destruição, agora voltava a pulsar com vida — ainda havia muitos ali de pé.

Mas, infelizmente, alguns não tiveram a mesma sorte. Os corpos imóveis espalhados no chão contavam a história da brutalidade daquele confronto.

O cavaleiro, com sua presença imponente, voltou o olhar para o homem de cabelos azul-esverdeado.

Desta vez, porém, o semblante do homem havia mudado.

Sério. Determinado. Frio.

A pequena flor laranja em sua mão começou a brilhar, sendo lentamente levada até o coração verde que pulsava em sua outra mão.

No momento em que a flor tocou o coração, uma aura intensa e viva começou a subir ao redor de seu corpo, como se a própria natureza estivesse respondendo à sua chamada.

O ar ficou denso. A pressão aumentou. 

O homem então abriu um sorriso calmo e, com a voz firme e carregada de satisfação, proferiu palavras que ecoaram como um decreto divino:

— Florescerá, minha linda flor.

Ele lançou a flor com força para o alto. No instante seguinte, começou a girar em espirais de energia natural, e pétalas flamejantes desceram como se o campo estivesse prestes a testemunhar algo.

O cavaleiro tremeu por um breve momento.

Não por medo da morte. Mas por reconhecer o que aquilo significava.

"Não é possível… alguém com esse nível de habilidade… nesta camada" pensou ele, em choque.

A flor explodiu no ar como uma estrela em ascensão. Do centro do chão, raízes colossais começaram a se formar.

A batalha estava prestes a caí para os dois lados.

......

— Merda... — murmurou Takeshi, cuspindo sangue pela boca.

Sua respiração estava pesada. A dor corroía cada parte do corpo. Suas roupas, encharcadas de sangue, colavam à pele como um lembrete cruel da surra que levou.

Estava amarrado no chão, sem forças para se levantar. Ao erguer os olhos, viu as duas garotas à sua frente — seus olhares eram frios, afiados como lâminas.

— Vão só ficar olhando enquanto eu apodreço aqui? — rosnou, tentando conter o ódio na voz.

A de cabelos roxos deu um passo à frente e apontou diretamente para ele.

— Vamos fazer o seguinte: você responde... ou morre aqui mesmo — sua voz era gélida, sem qualquer traço de piedade.

Takeshi engoliu em seco.

A luta... havia sido humilhante. A garota de cabelos roxos havia dominado completamente o confronto, batendo nele com força, estratégia e frieza. Ela era incrivelmente habilidosa — seus status eram claramente muito superiores aos dele.

Na verdade, todos ali pareciam ter capacidades muito além das de Takeshi. Ele era o único que não tinha nada a mostrar.

Tentando manter a compostura, ele se virou um pouco no chão, encarando as duas, e perguntou:

— E depois que eu responder tudo... o que acontece?

A garota de cabelos azul-escuro se aproximou em silêncio. Com calma, encostou o dedo indicador na testa dele. Seu toque era sutil, mas carregado de autoridade.

— Você não precisa saber nada sobre a minha mestra — respondeu com frieza.

Takeshi ficou imóvel.

Sentiu o toque leve sobre sua pele... e, de repente, algo diferente. Um calor estranho surgiu em sua barriga. Seus olhos se fixaram na garota. Suas feições... a postura... os olhos intensos. Suas bochechas começaram a corar antes que percebesse.

Ele desviou o olhar, sem saber muito bem o que estava sentindo, e resmungou baixinho:

— B-bem... tá né…

Talvez... aquele sentimento fosse a pior coisa que poderia surgir naquele momento.

Takeshi, mesmo ferido, mesmo humilhado, sentia o coração bater mais rápido ao encarar aquela garota de cabelos azul-escuro.

Mas... isso não era bom. Não ali. Não naquele lugar. Porque todos ao redor queriam apenas uma coisa: matá-lo.

Esse calor que nascia dentro dele era uma distração perigosa. Uma fraqueza.

E naquele mundo... fraquezas custam caro.

Takeshi mordeu os lábios, tentando conter o sangue e as emoções.

"Maldição... o que está acontecendo comigo?"

Mas antes que pudesse organizar seus pensamentos, um estrondo ecoou ao longe.

O chão tremeu levemente. As duas garotas se entreolharam, sérias.

— Chegou... — disse a de cabelos roxos.

Takeshi, mesmo fraco, arregalou os olhos.

— Quem...?

A de cabelos azul-escuro olhou, e então murmurou com frieza:

— Aquele que vai decidir se você continua respirando... ou não.