Takeshi permanecia imóvel, com o olhar perdido e a expressão indecifrável. Por dentro, no entanto, a raiva borbulhava. Ele não demonstrava empatia, mas a irritação era evidente — irritação não por Ethan em si, e sim pelos próprios planos agora ameaçados. Ethan era uma peça útil, um recurso valioso que ele pretendia explorar no futuro. E agora... morto? Era simplesmente inaceitável.
“Espere… se ele está assim... e Anika?”
A dúvida ecoou em sua mente como um sussurro incômodo. Ele não tinha laços fortes com Anika, mas mesmo assim não desejava sua morte.
Agora, o ambiente ao seu redor estava completamente vazio. O silêncio pesava no ar, e as perguntas surgiam em sua mente como facas afiadas:
“Quem me colocou aqui? Onde estão os outros? Por que estou com essas agendas?”
Cada uma dessas perguntas parecia envenenada, e apenas tentar formular uma resposta fazia seu peito apertar em dor e angústia.
— Sistema… — murmurou em voz baixa, tentando contato. Nada. Nenhuma resposta. — Ei… sistema — repetiu, desta vez com mais firmeza.
Mas novamente, o silêncio absoluto.
“Droga... o que será que aconteceu? Por que ele não responde?”
Foi nesse instante que uma névoa escura começou a surgir, invadindo sua visão como uma sombra viva. Takeshi não se assustou — pelo contrário, suspirou fundo.
“Agora que vai começar o espetáculo… espero que seja algo útil.”
Ele já entendia como aquilo funcionava. Desde que devorou aquela entidade e fortaleceu seu mental, conseguia acessar memórias ocultas. E agora, ele sentia que mergulharia nas memórias da Árvore Dourada.
A névoa se agitou diante de seus olhos… e então sua visão clareou. O peso no corpo desapareceu. A dor de cabeça cessou. Tudo parecia mais leve, como se o tempo ao seu redor tivesse parado.
Ao olhar para o canto esquerdo, viu um homem. Sua aparência era marcante: cabelos dourados longos como seda, pele clara como marfim, e vestes típicas do Clã do Buda, adornadas em dourado com traços vermelhos nos ombros e no centro do peito. A aura daquele homem era serena, mas sua voz estava carregada de desespero:
— Precisamos daquela arma no depósito do andar inferior… não sabemos se vamos resistir de novo...
Takeshi se manteve atento. O tom do homem revelava que algo terrível havia acontecido — ou estava prestes a acontecer.
Outra voz surgiu, grossa, autoritária, mas envolta na névoa espessa, escondendo sua origem.
— Não! Aquilo será usado apenas em último caso. Por enquanto, cuide dos documentos e do castelo junto de Ethan, Leilani e Zhin.
Essa ordem veio acompanhada de raiva, como se o tempo estivesse se esgotando.
Nesse momento, Takeshi avistou um objeto flutuando diante dele: uma pequena esfera com inscrições detalhadas. Havia desenhos de três dragões de cabeças entrelaçadas. E, embora nunca tivesse visto aquilo antes, o nome surgiu em sua mente como se sempre soubesse:
“Grito do Abismo das Sete Criaturas Marítimas.”
Era estranho. Takeshi não precisava assistir à memória completa. As informações simplesmente se formavam em sua mente como se já tivesse vivido aquilo — mas do ponto de vista daquele homem de vestes sagradas, que ele agora sabia se chamar Brantos.
— Aquela arma não será liberada. E é perigoso demais tentar descer até o portão nesse estado — continuou a voz desconhecida.
Takeshi revirou os olhos, já impaciente.
“Vamos, termina logo isso… para de enrolar com esse drama. Será que dá pra pular esse diálogo?”
Ele estava entediado, mas ao mesmo tempo sabia: havia algo crucial por trás daquelas palavras. E, mais cedo ou mais tarde, ele precisaria juntar todas as peças.
Depois que a névoa envolveu o homem, sua forma se desfez como se nunca tivesse existido. No instante seguinte, algo começou a tomar forma no centro do ambiente: uma estrutura gigantesca, lentamente surgindo do meio da neblina densa.
Era uma porta colossal, com cerca de três metros de altura. Sua superfície era feita de pedra antiga e desgastada pelo tempo, com rachaduras finas que percorriam toda a extensão. Apesar de seu aspecto velho, em cada uma das pontas da porta brilhavam pequenas pedras, cintilando como estrelas em um céu noturno. As pedrinhas tinham um brilho que lembrava o espaço sideral, como se um fragmento do cosmos tivesse sido encaixado ali.
Uma aura densa e silenciosa pairava no ar. A presença que emanava daquela porta era tão misteriosa, tão inexplicável, que Takeshi sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele engoliu em seco, incapaz de desviar o olhar da estrutura enigmática.
Nada fazia sentido.
“Agora tudo está começando a parecer ainda mais bizarro...”, pensou, sentindo o peso da atmosfera se tornar quase sufocante.
Uma silhueta solitária se destacava diante da imensa porta de pedra. O homem, com cerca de 1,60m de altura, permanecia imóvel por um instante, observando atentamente os contornos cobertos por névoa espessa que se acumulava como um véu de segredos antigos.
— Talvez demore um pouco para a próxima lua infernal... — murmurou com voz baixa, quase como se conversasse consigo mesmo. — Não vai levar muito até que a barreira desapareça. Quando isso acontecer… finalmente verei o que há além deste lugar frio.
Takeshi estreitou os olhos, tentando atravessar o nevoeiro com o olhar. A dor súbita que irradiou de seu olho o fez recuar, obrigando-o a fechar as pálpebras com força. Seu peito arfou discretamente com o desconforto.
Sem hesitar, o homem levou ambas as mãos ao centro da porta. Seus dedos pressionaram as frestas com firmeza, e ele empurrou com determinação.
A porta se abriu em silêncio absoluto — sem ranger, sem resistência — como se aguardasse aquele momento há muito tempo. No entanto, não revelou um caminho, mas sim um espaço sem forma: um vazio escuro, profundo, que parecia engolir a luz ao seu redor.
No instante em que a escuridão se revelou, uma onda de choque percorreu o corpo de Takeshi. Ele cambaleou levemente, levando a mão esquerda ao peito ao sentir uma pressão sufocante contra o coração.
“De novo… ”sussurrou entre os dentes cerrados. Seu olhar se endureceu.“O que aquela maldita árvore dourada esconde de tão valioso?... Vamos... eu vou aguentar.”
A névoa oscilava ao redor dele como se reagisse aos seus pensamentos. O ar ali era pesado, e a sensação de que algo espreitava naquele vazio crescia a cada segundo.
Takeshi tossiu repetidas vezes, cada golpe seco em sua garganta sendo seguido por uma dor aguda na região do abdômen, como se algo dentro dele estivesse surtando ou se debatendo descontroladamente. A dor irradiava, intensa e incômoda, tornando difícil até mesmo respirar direito.
O som ao seu redor parecia ter sido arrancado do mundo — como se o ambiente tivesse mergulhado em um silêncio absoluto. Ele notou a silhueta de um homem entrando no local, mas não conseguia ouvir nada além de um sussurro distorcido, abafado e distante.
Sua visão começou a se turvar, envolta por uma névoa espessa e densa que engolia cada detalhe ao seu redor. Foi então que…
— O quê…?!
Um calafrio percorreu sua espinha. Takeshi sentiu uma mão pousar sobre seu ombro esquerdo com um peso tão esmagador que suas costas quase cederam sob a pressão. A força era brutal, como se aquela presença estivesse tentando dobrá-lo fisicamente.
Com esforço, virou a cabeça lentamente, sentindo o coração acelerar de forma desgovernada. Um medo visceral tomou conta dele — um medo que não tinha explicação lógica, apenas instintiva.
Diante dele, estava uma criatura envolta em um manto negro colossal, que ocultava completamente seu rosto. Nenhum traço era visível, apenas a escuridão sob o capuz. A mão da criatura, cinzenta e sem vida, parecia antiga, com unhas longas, encurvadas e ressecadas como garras fossilizadas.
“Ferrou…” pensou Takeshi, completamente tomado pelo choque. “Esse cara parece ter saído direto de um pesadelo… ou de um daqueles filmes de terror.”
A criatura então se aproximou ainda mais e passou a sussurrar palavras incompreensíveis bem próximo ao seu ouvido. Não fazia sentido, mas aquilo não importava. O som invadia sua mente como uma corrente de confusão, medo e pavor. Cada sussurro fazia o ar ao redor parecer mais pesado.
Num surto de instinto e sobrevivência, Takeshi recuou com um movimento rápido, tirando com força a mão da criatura de seu ombro. Em seguida, disparou para frente, se abaixando com a cabeça rente ao solo.
Zassssh!
Um corte brutal atravessou o ar onde sua cabeça estivera um segundo antes. O som do rasgo no espaço ecoou como um trovão abafado. Ele havia escapado por pouco.
Respirando com dificuldade, Takeshi compreendeu uma coisa com clareza: aquilo não era um oponente comum.
Uma foice girou no ar, silenciosa como a brisa, mas com uma presença quase sobrenatural. Não parecia guiada por força física, e sim por pura intenção letal. Em um piscar de olhos, ela desapareceu novamente no vazio, como se nunca tivesse estado ali.
“Merda, merda... corre! Vamos, pernas, se mexam!” pensou Takeshi, desesperado, com os olhos arregalados.
Ele correu o mais rápido que podia. O peito ainda doía, uma fisgada incômoda que parecia vir de dentro da alma. No entanto, algo o deixou confuso: mesmo correndo a toda velocidade, não sentia o cansaço comum, nem o suor escorrendo pela testa. Era como se o corpo estivesse funcionando sob uma lógica diferente da realidade.
Seus olhos vasculharam ao redor. O cenário havia mudado. Estava novamente naquele lugar vazio, escuro e silencioso — o mesmo de quando morreu pela primeira vez.
“Cadê as memórias...? Quem é esse cara afinal?” pensou, sentindo a tensão escalar como uma corda prestes a arrebentar.
De repente, um som cortante, como metal sendo arrastado com violência, ecoou pelo espaço.
Instintivamente, Takeshi se lançou para frente, mergulhando com tudo no chão negro. Rolou algumas vezes, sentindo a aspereza gélida contra os braços.
No instante seguinte, o som de um corte rasgou o ar atrás dele — seco, brutal e silencioso. Um único movimento, tão rápido que ele sequer conseguiu ver.
Mas havia escapado. Por pouco.
Takeshi se levantou rapidamente do chão, o corpo ainda tenso pela incerteza. Girou em direção à criatura com um olhar alerta, tentando manter a calma.
— Olha, eu não sei exatamente o que você é… mas eu não fiz nada de errado. Podemos resolver isso de forma pacífica, certo? — disse ele, com um sorriso nervoso, a voz quase engolindo o próprio receio.
Seus pensamentos corriam.
"Parece um ceifador… Se for mesmo, talvez tenha vindo atrás de mim por eu conseguir voltar da morte. Mas por quê agora? Espera..."
Takeshi deduziu que aquela criatura estava vindo atrás dele por um motivo específico: sua habilidade de retornar da morte. Era como se ela fosse atraída por esse tipo de anomalia.
O manto da criatura começou a ganhar uma tonalidade branca, e, atrás dela, uma aurora suave e pulsante surgiu, distorcendo o ar ao redor. A foice que carregava girava em alta velocidade, emitindo um som cortante que chamava a atenção de Takeshi.
Flores brancas começaram a brotar ao redor da figura, flutuando suavemente no ar, como se anunciassem algo sagrado ou inevitável.
Imediatamente, Takeshi avançou para o lado, desviando por instinto.
“Aquilo... não parece a morte…” pensou, ofegante, observando a silhueta. “Qual é a dessa criatura?”