Chocolate mágico?!
— Tá bom, então deixa eu entender... — João coçou a cabeça, franzindo a testa. — Você tá me dizendo que esse chocolate horrível que eu comi era mágico?!
Elen sorriu travessa.
— Isso mesmo!
— Não faz essa cara de pilantra! Sua idiota!
— Nossa! Me chamou de idiota! — Ela fez beicinho, cruzando os braços. — Sabia que você foi o primeiro?!
— Sério?
— Sim!
João suspirou fundo. Isso tudo só podia ser um sonho muito doido.
— Tá, então me explica uma coisa... De onde você veio?
— Hm… boa pergunta!
— Tá, desembucha logo!
Elen se espreguiçou como se não tivesse pressa.
— Vou explicar direitinho… Basicamente, eu vim de um lugar chamado Reino Celestial.
— Hm…
— Lá tem vários seres celestiais, desde anjos a deuses superiores. Mas a maioria é bem chata, então...
— Mas o quê?
Ela sorriu de novo.
— Se você quiser, posso te ajudar com as meninas e quebrar o feitiço!
João arregalou os olhos.
— Ah! Mas de jeito nenhum! O que os meus colegas vão pensar se me virem com você?!
— Relaxa! Posso me materializar ou ficar no modo fantasma.
João bufou.
— Tanto faz…
Depois de muito falatório, ele decidiu ignorá-la e foi dormir.
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A caminho da escola
No dia seguinte, João acordou espreguiçando-se na cama.
— Aaarg… Nossa, dormi muito! Vou chegar atrasado!
— Relaxa! Ainda faltam uma hora e meia.
A voz de Elen ecoou pelo quarto. João olhou para o lado e deu um pulo ao vê-la sentada na escrivaninha, comendo um pacote de biscoitos.
— Sai do meu quarto, sua maluca!
— Nossa, como é estressado logo de manhã!
— Filho, tá tudo bem aí? — A voz da mãe veio do corredor.
— Tá sim, mãe! Já já desço!
— Então corre! Daqui a pouco você tem que ir!
João bufou.
— Tá bom…
Pouco depois, ele saiu de casa e começou a caminhar para a escola. E, claro, Elen foi atrás.
— Ótimo! Você vai ficar me seguindo o dia todo?
— Sim!
— Aff! Que absurdo!
— Nossa, você é muito dramático!
— Cala a boca!
Eles chegaram na escola, e a primeira coisa que João viu fez seu estômago revirar.
Bia estava parada na porta, olhando para ele com um rosto vermelho e ansioso.
— João… Podemos conversar?
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A verdade sobre nós dois
Eles foram para um lugar mais reservado no pátio. Bia abaixou a cabeça, nervosa.
— João… Me desculpa por ter te dado trabalho ontem…
— Pode parar! — Ele ergueu a mão.
— Hã?!
João suspirou e passou a mão pelo cabelo.
— Bia… você é muito bonita, atenciosa e muito fofa.
Os olhos dela brilharam.
— O quê?! Quer dizer que…
— Calma! Não é isso! — Ele ergueu as mãos rapidamente. — Meus sentimentos por você são de amizade, não de forma amorosa.
Bia ficou em silêncio, mordendo o lábio.
— Mas… e o nosso bebê?
João engasgou.
— O quê?!
— O bebê, João! Ontem você disse que eu tava grávida, lembra?!
Ele bateu a mão na testa.
— Ah, meu Deus…
Bia apertou as mãos, aflita.
— Precisamos ter certeza!
João suspirou.
— Certo… Vamos até a farmácia.
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O resultado chocante
Na farmácia, João comprou o teste de gravidez enquanto Bia suava frio.
Pouco depois, o resultado saiu.
— Negativo?! — Bia arregalou os olhos. — Mas… mas eu jurava…
João cruzou os braços.
— Viu só?
Bia ficou pensativa.
— Já sei! Acho que posso engravidar na próxima vez…
Elen apareceu do nada e riu.
— Ah! Na próxima vez! Ou seja, já aconteceu antes, né? Hehe…
Bia ficou vermelha.
— A-Ah, não enche!
— Deixa eu brincar um pouco!
— João, tá falando com quem?
Ele congelou.
— Nada, nada! Vamos logo!
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A verdade sobre Bia
Eles foram para a casa de Bia e, ao chegar, João arregalou os olhos.
— Caramba… Você é rica?!
— Ah, não se preocupe com isso! Meus pais nunca estão em casa, então tá tranquilo.
Assim que entraram no pátio da mansão, uma fila de seguranças, mordomos e empregadas os receberam.
— Patroa! Que bom que voltou bem!
Mas então, os olhos deles pousaram em João.
— E quem é o garoto?
— Só um amigo.
Os seguranças lançaram olhares suspeitos.
João sentiu um calafrio. Os olhares deles claramente diziam: Se você fizer alguma coisa errada, nós não teremos misericórdia.
Ao entrarem, João olhou ao redor, surpreso.
— Nossa… isso aqui é enorme!
Bia sorriu sem graça.
— Sabe… Mesmo morando aqui, ainda me sinto sozinha.
— Como assim?
Ela abaixou a cabeça.
— Minha mãe faleceu, e meu pai trabalha o tempo todo. Eu nunca tive amigos de verdade… Mas então você apareceu.
— Eu?!
— Sim! Você sempre foi carinhoso comigo… Durante todos esses meses!
João piscou.
— Meses?
Ele olhou para Elen, que sorriu nervosa.
— Depois eu explico direitinho!
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O pai de Bia
O telefone de Bia tocou.
— Oi, filha.
— Oi, pai! Tudo bem?
— Sim. Você tá sozinha?
— Não…
— Hm. Quem tá aí? Uma amiga?
— Não… Um amigo.
Houve silêncio.
— Me passa pra ele.
Bia entregou o telefone para João.
— Oi?
— Garoto! O que você tá fazendo na minha casa com a minha filha?!
João sorriu travesso.
— Simples! Ela tá grávida de mim e você vai ser avô!
O silêncio do outro lado foi mortal.
— …O quê?
— E se quer saber, ela tá mais feliz comigo do que com você, seu velho!
— SEU MOLEQUE! EU TÔ INDO AÍ AGORA!
Bia arrancou o telefone da mão dele, pálida.
— João… o que você fez?!
— Relaxa!
— João… Meu pai trabalha com segurança militar.
João congelou.
— Ah…
— Você acabou de provocar um monstro!
— …Tô lascado.
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Batalha na mansão
Uma hora depois, o portão da mansão foi arrombado.
— CADÊ O GAROTO QUE PEGOU A MINHA FILHA?!
João respirou fundo e deu um passo à frente.
— Tô aqui.
O pai de Bia o encarou, olhos faiscando de ódio.
— Guardas! ESPANQUEM ELE!
João sorriu.
— Ih, rapaz…
Ele entrou em posição de luta.
Em segundos, os guardas avançaram—e João respondeu com golpes rápidos de capoeira e karatê, derrubando um por um.
Bia olhou boquiaberta.
Elen gargalhou.
— Esse cara é uma máquina de luta!
O pai de Bia estalou os dedos.
— Você e eu! Mano a mano!
João respirou fundo.
— Se eu ganhar, você passa mais tempo com sua filha.
O homem arregalou os olhos.
— O quê?!
A verdade sobre Bia
João ergueu o calendário na frente do pai de Bia.
— Olha isso aqui!
O homem pegou e leu em voz alta:
— "Melhor dia de todos: almoço com o papai."
Ele piscou, confuso.
— Mas… Isso é do ano passado.
João cruzou os braços.
— Pois é. Tá vendo? Sua filha nunca quis só riqueza. Ela só quer um lar feliz, onde se sinta acolhida e amada.
O silêncio tomou conta da sala. O pai de Bia olhou para ela, que desviou o olhar, mordendo o lábio.
— Entendi, garoto...
Ele respirou fundo e cerrou os punhos.
— Agora, só tem um detalhe... Você vai assumir a criança, né?
João tropeçou nos próprios pés.
— O QUÊ?!
— Ora, você engravidou minha filha! Agora tem que ser homem pra assumir!
Bia entrou no meio da conversa, desesperada.
— P-Pai! Eu não tô grávida!
— Hã?!
— O João inventou essa história só pra te dar um motivo pra me ver!
O homem ficou boquiaberto.
— …O quê?
Bia abaixou a cabeça.
— Eu só queria passar mais tempo com você...
Um longo silêncio se instalou. Pela primeira vez, o pai dela pareceu realmente perceber a filha que tinha diante dele.
Ele olhou para João. Pela primeira vez, não como um interesseiro, mas com respeito.
— Garoto… Você tem coragem.
— Não, eu só não gosto de ver gente chorando.
Ele riu, cruzando os braços.
— E ainda fala bonito!
João soltou um suspiro de alívio. Mas antes de ir embora, viu algo estranho.
Por um breve momento, Bia… se quebrou.
Não literalmente, mas foi como se seu corpo rachasse em milhares de pedaços invisíveis, apenas para se reconstituir no instante seguinte.
João piscou.
— …Que diabos foi isso?
Ninguém mais pareceu notar. Então ele apenas se despediu e foi embora.
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O segredo do feitiço
Em casa, João se jogou na cama, ainda tentando entender o que tinha visto.
Elen, como sempre, apareceu do nada.
— E aí, campeão? Sobreviveu?
— Elen...
— O quê?
Ele se sentou e a encarou.
— O que era aquilo?
— Aquilo o quê?
— A Bia! Por um segundo, ela… sei lá, se quebrou toda e depois voltou ao normal!
Os olhos de Elen brilharam de interesse.
— Ooooh! Então foi isso!
— Isso o quê?!
Ela riu.
— Simples! O feitiço da Bia finalmente se quebrou! Ela tá livre dos efeitos do chocolate!
João arregalou os olhos.
— Sério?!
— Sim! Agora ela pode seguir a vida dela sem estar presa ao encanto!
João suspirou, aliviado.
— Ufa... Menos uma, então.
Elen fez um bico.
— Bom… Mais ou menos.
Ele sentiu um arrepio.
— Como assim "mais ou menos"?
Ela sorriu travessa.
— Tem um pequeno detalhe...
— Fala logo.
— O feitiço foi embora, mas os sentimentos dela por você… continuaram.
João congelou.
— O quê?!
— Pois é! Você resolveu o problema dela de forma muito heroica! Isso fez o feitiço quebrar, mas também fortaleceu os sentimentos reais dela! Agora… ela tá perdidamente apaixonada por você!
João enterrou o rosto nas mãos.
— …Eu tô lascado.
Elen deu tapinhas no ombro dele.
— Num desanima não! Dessa vez, pode ser que os sentimentos sumam com o tempo!
— "Pode ser"? Isso não me ajuda em nada!
Ele bufou e se levantou.
— Seja como for, eu vou dormir. Então... sai do meu quarto.
— Nossa, grosso!
— FORA.
Ela deu um sorrisinho e desapareceu.
João suspirou.
— Isso ainda vai me matar...
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O começo de um novo problema
No dia seguinte, enquanto caminhava para a escola, João notou uma figura familiar parada na entrada.
Mariana.
Ela estava com os braços cruzados, a cabeça baixa e o rosto vermelho.
João franziu a testa.
— Mariana? Você tá bem?
Ela levantou os olhos marejados e mordeu o lábio.
— João... Ele voltou.
João sentiu um arrepio na espinha.
— …Quem voltou?
Mariana tremeu.
— Meu ex-namorado.
Fim do capítulo.