O retorno de um problema
João arregalou os olhos.
— Como assim ele voltou?!
Mariana enxugou as lágrimas com as costas da mão.
— Sim! Pelo visto, o Jack voltou pro Brasil e... e...
— E o quê?!
Ela hesitou antes de responder:
— Ele quer voltar a namorar comigo… à força.
João cerrou os punhos.
— Certo! Chama a polícia! Esse cara já era um problema antes!
Mariana abaixou a cabeça.
— Eu não sei mais o que fazer…
João suspirou e segurou o ombro dela com firmeza.
— Vem pra minha casa. Você precisa descansar.
— Tá bom… Só não tenta nada, hein.
— O QUÊ?! Por que eu faria isso?!
De repente, uma voz maliciosa ecoou.
— Hehe, tô vendo que vai dar bom!
João se virou bruscamente.
— Ah, sua mocreia! Cala a boca!
Mariana franziu a testa.
— João, tá falando com quem?
Ele engoliu seco.
— N-Nada não! Vamos logo!
— Tá...
Eles começaram a caminhar, mas o silêncio entre os dois ficou meio constrangedor. Para quebrá-lo, João resolveu puxar assunto.
— Mariana...
— Oi?
— Você sabia que é muito forte?
Ela piscou.
— Forte?! Como assim?
João deu de ombros.
— Simples. Você sempre foi forte. Agora só precisa descansar. Eu cuido de você.
— Jo… João...
Mariana corou, surpresa. Antes que ela pudesse reagir, João a abraçou.
Ela congelou por um instante, mas, hesitante, retribuiu o abraço.
Foi um momento breve, mas intenso.
Percebendo o que tinha feito, João se afastou rapidamente e pigarreou.
— E-Ehm… Vamos andando.
Mariana não disse nada, apenas seguiu ao lado dele.
Durante o caminho, conversaram sobre coisas aleatórias, até que finalmente chegaram.
— É aqui.
Mariana olhou para a casa e sorriu.
— Bonita e simples. Gostei.
— Sério mesmo?!
— Sim.
Antes que João respondesse, a porta da casa se abriu.
— Filho! Que bom que—
A mãe dele parou ao ver Mariana.
— Oi!
Ela arregalou os olhos.
— Filho… Quem é ela?!
— Ah, mãe… Essa é a Mariana. Uma velha amiga.
A mulher cruzou os braços, desconfiada.
— Aham, sei… Só não faz besteira, viu?
João ficou vermelho.
— Mãe!!
— Podem entrar!
Mariana riu baixinho e seguiu João para dentro da casa.
No quarto, ele suspirou.
— Desculpa pela minha mãe. Ela não tá acostumada a me ver com garotas.
— Sei…
Ela se sentou na cama e ergueu uma sobrancelha.
— Então… O que vai fazer comigo?
João piscou, confuso.
— Como assim?!
— Ué, não vai tentar nada?
— CLARO QUE NÃO!
Do nada, Elen caiu na gargalhada.
— HAHAHAHA! Você é muito lerdo mesmo!
João sentiu um arrepio.
— Não me diga que...
Elen riu ainda mais.
— Se ela quer te dar uns pegas? Sim! É isso mesmo!
Mariana cruzou os braços.
— Entendeu o quê?
— Ahn?! N-Nada, não!
Ela o encarou desconfiada.
— Sei…
De repente, ela ficou séria.
— Me responde uma coisa.
— O quê?
— Por que você vive conversando sozinho, mesmo quando não tem ninguém por perto?
Elen arregalou os olhos e acenou freneticamente.
— NÃO CONTA NADA!
João pigarreou e mudou de assunto.
— Mariana! Temos que bolar um plano pra afastar o Jack de você!
Ela hesitou.
— Concordo… Mas como?
— Eu tive uma ideia… Mas não é das melhores.
— Fala logo.
— Seguinte… Primeiro, vamos ver se ele te chama pra um encontro.
— Sério?! Eu tenho que sair com ele?!
— Sim.
— Tá… E depois?
João sorriu.
— Depois, você vai dar o máximo de brecha possível. Quando ele cair na isca…
— E eu faço o quê?!
— Absolutamente nada! Só reluta quando eu der o sinal. Conhecendo ele, ele vai tentar alguma coisa ruim. Mas não se preocupa… Eu estarei lá.
Mariana ficou em silêncio por alguns segundos.
— Tá meio arriscado, mas... posso tentar.
— Ótimo. Se quiser, pode dormir aqui hoje. Já tá tarde.
Ela assentiu.
— Ok… Onde eu durmo?
— Pode ficar no meu quarto. Eu durmo na sala.
— Tá bom.
— FILHO! E GAROTA ESTRANHA! Vem jantar!
João bufou.
— Já estamos indo, mãe!
Eles jantaram juntos, e depois João foi dormir na sala. Mariana se deitou na cama dele… mas, no meio da noite, sentiu-se solitária.
Hesitou por um instante, mas, no final, pegou um cobertor e foi até a sala.
João dormia profundamente no sofá.
Sorrindo de leve, Mariana se deitou ao lado dele.
— Boa noite, João…
E então, adormeceu.
---
Manhã seguinte
— AHRRGH!
Mariana acordou assustada.
— Que gritaria é essa?!
João estava de pé, olhando para ela com os olhos arregalados.
— O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?!
Mariana bocejou.
— Ah… Eu me senti solitária e decidi dormir com você.
Ele massageou as têmporas.
— Ai, meu Deus… Tá bom, vamos nos arrumar logo.
Antes que pudessem se levantar, a mãe de João saiu do quarto.
Ela parou na porta.
Piscou.
E então, viu a cena:
João só de bermuda.
Mariana só de top e calcinha.
O olhar da mãe dele ficou sombrio.
— ...
— …
— …Filho.
— M-Mãe, espera, não é o que parece!
— QUE PALHAÇADA É ESSA?!
Ela ergueu a mão, prestes a dar um cascudo no filho, mas Mariana interveio.
— N-Nós não fizemos nada, juro!
A mulher os encarou por um momento.
— Humpf! Tá bom… Mas fiquem espertos!
Após um café da manhã um tanto tenso, João e Mariana seguiram para a escola.
No caminho, um carro passou ao lado deles.
Dentro dele, Bia.
Ela olhou pela janela e viu João e Mariana juntos.
Por um instante, seus olhos brilharam com algo indefinido.
Mas ela não disse nada.
Apenas acelerou e seguiu para a escola.
Sem perceberem nada, João virou-se para Mariana.
— Ah, e sobre o plano… Não conta pra ninguém.
— Pode deixar.
Eles se separaram e foram para suas salas.
---
Fim da tarde
João estava procurando Mariana quando algo chamou sua atenção.
Um carro vermelho.
E dentro dele… Mariana.
Sendo levada.
O coração de João disparou.
— NÃO!
Ele cerrou os punhos e olhou para Elen.
— Localiza esse carro. Agora!
Elen fechou os olhos e se concentrou.
— Achei!
João não pensou duas vezes.
Ele correu o mais rápido que pôde.
O local?
Um galpão abandonado.
João parou na frente do portão enferrujado.
Seus olhos brilharam com determinação.
— É agora ou nunca.
Ele olhou para Elen.
— Não teremos outra chance!
Fim do capítulo 3.