O silêncio da noite pesava sobre nós como um manto sufocante.
A fogueira entre mim e Sylvaine crepitava, lançando sombras trêmulas sobre seu rosto.
Ela estava inquieta. Seu olhar evitava o meu, os dedos brincando com o punhal em seu colo.
Eu continuo afiando minha lâmina, sem pressa.
Finalmente, ela respirou fundo e cortejou o silêncio:
— Eu sei que você me odeia.
Não responda.
— Eu te traí, Alistair. Eu sei disso.
Continuei colado na lâmina.
— Mas não foi por maldade — sua voz era baixa, mas carregava algo… algo que parecia estranho. — Foi pelo dinheiro.
Isso me fez parar.
Levantei os olhos lentamente para encará-la.
— Pelo dinheiro? — repeti, a frieza evidente no tom.
Ela engoliu em segundo.
— Eu não sou como você — disse, olhando para a fogueira. — Não tenho poder. Não tenho nada. A única coisa que eu sempre tive foi minha vontade de vingança. Quando me ofereceram aquela quantidade… eu… — sua voz falhou, mas ela logo recuperou a firmeza. — Eu hesitei, mas não final, aceitei.
Deixei minha lâmina de lado e a encarei.
— Foi esse dinheiro que valeu a minha vida?
Ela abriu os lábios, mas não desviou o olhar.
— Eu errei.
O silêncio se prolongou. O fogo crepitava entre nós, iluminando sua expressão sombria.
— Você errou — repetiu, mais para mim mesmo do que para ela.
Fiquei de pé, me afastando um pouco.
— Mas eu salvei você, Sylvaine — disse, olhando para a escuridão da floresta. — Eu poderia ter te deixado para morrer, mas não fiz isso.
Ela também se declarou, hesitante.
— Eu sei — disse. — E é por isso que estou em dívida com você.
Olhei para ela por cima do ombro.
— Divida?
Ela concorda.
— Você me ajudou a matar Roderick. Você me salvou, mesmo depois de eu ter te traído. Eu… eu não posso simplesmente seguir minha vida como se nada tivesse acontecido.
Abaixei a cabeça, pensando.
Por um lado, eu queria afastá-la.
Ela me traiu. Me entreguei como se eu fosse um mero peão em seu jogo.
Mas por outro lado…
Ela também foi a única pessoa que esteve ao meu lado desde o começo dessa jornada.
Eu suspirei.
— Faça o que quiser — murmurei.
Ela piscou, surpresa.
— Isso quer dizer que…?
— Isso quer dizer que não confio mais em você — esclareci. — Mas… você pode ficar. Por enquanto.
Sylvaine respirou fundo e assentiu.
— Isso já é mais do que eu esperava.
Eu me sentei novamente e voltei a afiar minha lâmina.
Ela se sentou também, e pela primeira vez em muito tempo… o silêncio entre nós não era tão pesado.
Pesadelo.
A noite avançava. O sono veio como um golpe súbito.
E então, a escuridão se fechou ao meu redor.
Eu estava de volta ao passado.
Eu e meu irmão.
Éramos apenas dois garotos.
Ele sorri para mim.
Mas aquele sorriso era uma mentira.
E então, o frio aço perfurou minhas costas.
Olhai para baixo. O sangue escolta do meu peito.
Meu irmão ainda sorria.
"Foi mal, Alistair…"
E então, ele me empurrou.
A dor me engoliu.
Eu caí.
E caiu.
E então, acordei.
Meus olhos se abriram de súbito. Meu peito subia e descia rapidamente.
Algo estava errado.
Minha mão estava segurando algo.
Olhei para frente e vi Sylvaine — meu punho envolve seu pescoço.
Ela arregalava os olhos, surpresa e sem ar.
Soltei-a imediatamente.
Ela caiu para trás, tossindo e levando as mãos à garganta.
— O… o que foi isso?! — Disse, ofegante.
Passei a mão no rosto, sentindo o suor frio escorrendo.
— Eu… eu não sei — murmurei.
Ela me olhou com desconfiança.
Respirei fundo e encarei minhas próprias mãos.
— Eu sonhei com meu irmão — admiti.
Ela ainda massageava a garganta, mas sua expressão suavizou um pouco.
— O que aconteceu?
Olhei para o fogo quase apagado.
— Ele me traiu.
O silêncio caiu novamente.
Mas dessa vez… era um silêncio de compreensão.
Na manhã seguinte, nos preparamos para partir.
O peso da noite anterior ainda estava sobre mim, mas eu não deixaria que aquilo me abalasse.
Minha vingança não foi completa.
Havia outros nomes na minha lista.
E o próximo deles cairia em breve.