Capítulo 18 – Recomeço

O silêncio da noite pesava sobre nós como um manto sufocante.

A fogueira entre mim e Sylvaine crepitava, lançando sombras trêmulas sobre seu rosto.

Ela estava inquieta. Seu olhar evitava o meu, os dedos brincando com o punhal em seu colo.

Eu continuo afiando minha lâmina, sem pressa.

Finalmente, ela respirou fundo e cortejou o silêncio:

— Eu sei que você me odeia.

Não responda.

— Eu te traí, Alistair. Eu sei disso.

Continuei colado na lâmina.

— Mas não foi por maldade — sua voz era baixa, mas carregava algo… algo que parecia estranho. — Foi pelo dinheiro.

Isso me fez parar.

Levantei os olhos lentamente para encará-la.

— Pelo dinheiro? — repeti, a frieza evidente no tom.

Ela engoliu em segundo.

— Eu não sou como você — disse, olhando para a fogueira. — Não tenho poder. Não tenho nada. A única coisa que eu sempre tive foi minha vontade de vingança. Quando me ofereceram aquela quantidade… eu… — sua voz falhou, mas ela logo recuperou a firmeza. — Eu hesitei, mas não final, aceitei.

Deixei minha lâmina de lado e a encarei.

— Foi esse dinheiro que valeu a minha vida?

Ela abriu os lábios, mas não desviou o olhar.

— Eu errei.

O silêncio se prolongou. O fogo crepitava entre nós, iluminando sua expressão sombria.

— Você errou — repetiu, mais para mim mesmo do que para ela.

Fiquei de pé, me afastando um pouco.

— Mas eu salvei você, Sylvaine — disse, olhando para a escuridão da floresta. — Eu poderia ter te deixado para morrer, mas não fiz isso.

Ela também se declarou, hesitante.

— Eu sei — disse. — E é por isso que estou em dívida com você.

Olhei para ela por cima do ombro.

— Divida?

Ela concorda.

— Você me ajudou a matar Roderick. Você me salvou, mesmo depois de eu ter te traído. Eu… eu não posso simplesmente seguir minha vida como se nada tivesse acontecido.

Abaixei a cabeça, pensando.

Por um lado, eu queria afastá-la.

Ela me traiu. Me entreguei como se eu fosse um mero peão em seu jogo.

Mas por outro lado…

Ela também foi a única pessoa que esteve ao meu lado desde o começo dessa jornada.

Eu suspirei.

— Faça o que quiser — murmurei.

Ela piscou, surpresa.

— Isso quer dizer que…?

— Isso quer dizer que não confio mais em você — esclareci. — Mas… você pode ficar. Por enquanto.

Sylvaine respirou fundo e assentiu.

— Isso já é mais do que eu esperava.

Eu me sentei novamente e voltei a afiar minha lâmina.

Ela se sentou também, e pela primeira vez em muito tempo… o silêncio entre nós não era tão pesado.

Pesadelo.

A noite avançava. O sono veio como um golpe súbito.

E então, a escuridão se fechou ao meu redor.

Eu estava de volta ao passado.

Eu e meu irmão.

Éramos apenas dois garotos.

Ele sorri para mim.

Mas aquele sorriso era uma mentira.

E então, o frio aço perfurou minhas costas.

Olhai para baixo. O sangue escolta do meu peito.

Meu irmão ainda sorria.

"Foi mal, Alistair…"

E então, ele me empurrou.

A dor me engoliu.

Eu caí.

E caiu.

E então, acordei.

Meus olhos se abriram de súbito. Meu peito subia e descia rapidamente.

Algo estava errado.

Minha mão estava segurando algo.

Olhei para frente e vi Sylvaine — meu punho envolve seu pescoço.

Ela arregalava os olhos, surpresa e sem ar.

Soltei-a imediatamente.

Ela caiu para trás, tossindo e levando as mãos à garganta.

— O… o que foi isso?! — Disse, ofegante.

Passei a mão no rosto, sentindo o suor frio escorrendo.

— Eu… eu não sei — murmurei.

Ela me olhou com desconfiança.

Respirei fundo e encarei minhas próprias mãos.

— Eu sonhei com meu irmão — admiti.

Ela ainda massageava a garganta, mas sua expressão suavizou um pouco.

— O que aconteceu?

Olhei para o fogo quase apagado.

— Ele me traiu.

O silêncio caiu novamente.

Mas dessa vez… era um silêncio de compreensão.

Na manhã seguinte, nos preparamos para partir.

O peso da noite anterior ainda estava sobre mim, mas eu não deixaria que aquilo me abalasse.

Minha vingança não foi completa.

Havia outros nomes na minha lista.

E o próximo deles cairia em breve.