O Açougueiro

Lorenzo estava cercado. Criaturas grotescas de carne o rodeavam por todos os lados, seus olhos vazios refletindo apenas um desejo: devorá-lo. Ele não conseguia se mover, o olhar perdido no vazio, distante, encarando o nada.

— E-estou sozinho... Como? Como isso aconteceu? — murmurou para si mesmo, a mente girando em desespero.

Trinta minutos antes

Klara carregava Lorenzo pela perna como se fosse um simples fardo, arrastando-o sem o menor esforço. O grupo seguia em alerta até que, de repente, um som seco e sinistro ecoou pelo ambiente.

— Se preparem — avisou Klara, sua expressão séria.

— Para o quê? — perguntaram em uníssono Cael, Juan e o próprio Lorenzo, ainda sem entender a gravidade da situação.

Então, o chão sob seus pés simplesmente desabou.

Sem tempo para reagir, foram engolidos por uma boca gigantesca, cravejada de dentes afiados como navalhas. Uma língua grotesca os arrastou para dentro, e a garganta monstruosa se fechou atrás deles. A escuridão era sufocante.

Quando finalmente pararam de cair, cada um percebeu que estava sozinho, isolado dentro de um ambiente claustrofóbico, cujas paredes eram feitas de carne pulsante e ossos deformados.

Presente

Lorenzo corria. Criaturas o perseguiam implacavelmente, e antes que pudesse reagir, uma delas se lançou contra ele, cravando os dentes em sua carne. Ele gritou, mas logo percebeu algo estranho.

— Isso... isso não dói tanto quanto achei que doeria... — pensou, franzindo a testa. O ataque não era mais forte do que a mordida de um cachorro vira-lata.

Respirando fundo, Lorenzo ergueu as mãos e conjurou suas pistolas espirituais. Dois revólveres Desert Eagle, completamente brancos, materializaram-se em seus dedos. Sem hesitar, puxou o gatilho. O disparo de energia explodiu a criatura em pedaços.

— Enquanto não encontrarmos o corpo principal, essas coisas não vão parar de aparecer... — murmurou, apertando os lábios.

Avançou pelo corredor pulsante, disparando sem errar um único tiro. Sua mira era perfeita, quase sobre-humana. E de fato, era. Abençoado com o dom dos "Olhos do Caçador", Lorenzo via a trajetória de seus disparos antes mesmo de apertar o gatilho. Era um poder raro dentro de seu clã, passado apenas para aqueles que provavam ser dignos.

Enquanto isso...

Cael estava cercado, mas diferente de Lorenzo, ele não fugia. Punhos cerrados, socava as criaturas sem parar, o rosto contorcido em fúria.

— VOCÊS NÃO SE CANSAM DE MORRER, NÃO?! — rugiu, esmagando um dos monstros contra a parede.

Ele podia sentir a energia do núcleo emanar. Então partiu em disparada na direção do núcleo da criatura. No entanto, quase foi atingido por um projétil veloz, que atravessou cinco fileiras de carne e osso.

De dentro de um dos buracos causados pelo impacto, Klara surgiu, segurando seu tridente.

— Presta atenção. — Sua voz era fria, indiferente.

— Foi você quem atirou sem olhar! — protestou Cael, irritado.

— O local é feito de carga negativa e você emana carga negativa. Como eu ia saber que estava aí? — respondeu ela, dando de ombros.

— VOCÊ PODERIA TER ME MATADO!

— Para de ser marica. — Klara sequer piscou.

Sem paciência para a discussão, apontou o tridente para a fonte de energia e concentrou seu poder. Uma esfera de água, do tamanho dela mesma, surgiu na ponta da arma. Em seguida, foi comprimida até o tamanho de uma bola de futebol antes de ser lançada com força avassaladora.

O disparo atravessou tudo em seu caminho. Do outro lado, um grito de dor ressoou.

Cael e Klara correram em direção ao som e encontraram uma sala vazia. No centro, Juan se levantava, o rosto contorcido em dor.

— MALDITA! TU ME ACERTOU! — gritou, indignado.

— Você é imortal, tá reclamando do quê? — rebateu Klara, sem paciência.

— AINDA DÓI!!!

Uma terceira voz interrompeu a discussão.

— Podem parar com a gritaria? — disse uma presença sinistra na sala.

Juan suspirou, apontando para a figura colossal que surgia diante deles.

— Bom, eu achei o núcleo... Mas tem um pequeno problema.

Diante deles, uma criatura grotesca emergiu. Um amontoado de ossos e carne, com um imenso cutelo no lugar de uma das mãos. Vários braços idênticos cresceram de seu corpo conforme avançava contra o grupo.

O monstro atacou, e por um instante pareceu que havia acertado seu golpe. Mas, quando a poeira baixou, uma parede de sal se erguia entre ele e suas presas.

— O que você descobriu? — perguntou Klara, sem tirar os olhos da criatura.

— Ele se chama "O Açougueiro" e criou esse espaço para devorar corpos sem ser perturbado. Ah, e outra coisa... Os golpes dele pararam minha regeneração por alguns segundos. Então, cuidado. — explicou Juan, rangendo os dentes.

— Além disso? — insistiu Klara.

— Ele não é muito forte... O problema é que cada vez que o atacamos, ele cresce e multiplica os membros. Quando cheguei aqui, ele só tinha quatro braços...

Klara virou-se para Cael.

— Sua vez. Só tenta não se machucar muito. As curandeiras daqui cobram caro demais.

Cael sorriu.

— Pode deixar. Rengoku no Ken...

A lâmina negra da Nodachi se materializou em suas mãos. Sem hesitar, ele avançou.

O Açougueiro se preparava para revidar, mas Klara surgiu no alto, disparando uma enxurrada de projéteis de água comprimida. A criatura tentou se regenerar, mas percebeu, horrorizada, que seu corpo não respondia como antes.

Cael pousou sobre sua carcaça e encarou seus olhos apavorados.

— Minha espada corta almas. Eu te explicaria minha Bênção, mas nem eu sei como ela funciona. Então... eu apenas cortei três dos teus pontos de chakra. Você não é forte o suficiente para resistir a isso.

O Açougueiro gritou em desespero.

— NÃO! EU DEVERIA SER IMORTAL!

Cael girou a lâmina, impiedoso.

— Deveria... Boa sorte na próxima vida.

Com um último golpe, a criatura se desfez em cinzas.

Juan cruzou os braços, balançando a cabeça.

— Eu sabia que ele era fraco... Mas não esperava que Cael resolvesse isso tão rápido.

Klara sorriu de canto.

— Pelo menos, dessa vez, não precisei fazer tudo sozinha.

— Espera... Onde está o Lorenzo? — perguntou Cael.

O mundo ao redor se dissolveu, revelando o açougue real. No chão, Lorenzo estava encolhido, lágrimas escorrendo de seus olhos vazios.

— O que aconteceu? — perguntou Juan.

Lorenzo soluçou.

— Eles me cercaram... Quando eu matava um, apareciam dois... E depois quatro...

Klara suspirou e curou seus ferimentos. Em seguida, desferiu um soco seco no rosto dele.

— Aprende a ser homem, mariquinha!

Enquanto Cael e Juan tentavam segurá-la, em um lugar distante, uma figura observava com um sorriso, Aziel era seu nome.

— Cheguei a tempo...

Continua...