No dia seguinte, João Ricardo entrou na escola já sentindo o peso do destino nas costas.
Hoje era o dia do "beijo coletivo" que ele mesmo marcou.
Ou melhor, o dia em que ele teria que fugir novamente.
— "O que eu faço agora...?"
Tati flutuava ao lado, segurando um caderninho.
— "Bem, você pode fugir do país, mudar de identidade, ou..."
Ela virou a página.
— "Aceitar seu destino e distribuir beijos como um político em época de eleição."
João fechou os olhos, respirando fundo.
— "Por que isso tá acontecendo comigo?"
— "Ah, sei lá, talvez porque você deixou um monte de garotas comerem um bolo mágico?"
Ele ignorou o comentário e seguiu pelo corredor.
As meninas já estavam reunidas.
Amanda veio primeiro, com um sorrisinho no rosto.
— "Então, João... tá pronto?"
Ele gelou.
Antes que pudesse responder, Melissa apareceu do nada e passou o braço pelo ombro dele.
— "Calma aí, calma aí! Eu sou a namorada dele, então EU deveria ser a única a beijá-lo de novo, certo?"
As outras meninas estreitaram os olhos.
— "Mas o João prometeu um beijo pra todas!"
— "Exato! Justiça para todas!"
Melissa apertou os olhos e sorriu de canto.
— "Ok, então. Mas antes..."
De repente, ela puxou João pela gola da camisa e jogou ele no chão da quadra.
Ele ficou tonto.
— "O que foi isso?!"
Melissa estalou os dedos.
— "Simples. Se vocês querem um beijo dele, têm que derrotá-lo antes."
Tati arregalou os olhos.
— "EITA! O evento virou um torneio?"
Amanda cruzou os braços.
— "Hmph. Eu topo."
As outras meninas começaram a murmurar.
— "Ele tem que provar que merece ser beijado!"
— "Isso mesmo! Um duelo pelo beijo!"
— "Regra oficial: quem derrubar ele primeiro, ganha o direito!"
João se levantou, atordoado.
— "Vocês ficaram malucas?!"
Melissa riu.
— "Qual é, João? Você não é um mestre em artes marciais?"
Tati flutuou até ele, empolgada.
— "Agora eu QUERO ver isso!"
João passou a mão no rosto.
— "Meu Deus..."
Mas ele sabia que não tinha escapatória.
Se ia ter que lutar...
Então que pelo menos saísse vivo.
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O Torneio do Beijo
A quadra virou um ringue improvisado.
A escola inteira começou a assistir.
Tati até pegou uma câmera de onde ninguém sabe.
— "Bem-vindos ao primeiro torneio 'João Ricardo vs. Horda Apaixonada'!"
As meninas se posicionaram, prontos para atacar.
Melissa observava tudo com um sorriso divertido.
— "Vai ser engraçado ver ele fugindo."
Bia, que assistia nervosa, murmurou para si mesma.
— "Eu só queria que tudo voltasse ao normal..."
Amanda foi a primeira a avançar.
João desviou no último segundo, mas quase tropeçou.
As outras vieram em sequência.
Chutes, tentativas de agarrão, até mesmo puxões de camisa.
João fugia como um rato cercado por gatos.
— "ALGUÉM ME TIRA DAQUI!"
Mas aí, uma das meninas pulou nas costas dele.
E outra tentou agarrar o braço.
— "PEGA ELE!"
João só conseguiu pensar em uma coisa.
Se jogou no chão e rolou para se soltar.
As meninas caíram umas sobre as outras.
Ele levantou rápido, respirando fundo.
— "Pelo amor de Deus, eu só queria uma vida tranquila!"
Melissa riu.
— "Parece que isso não tá nos seus planos."
A multidão vibrava.
— "João ainda tá vivo!"
— "Ele tá fugindo bem!"
— "Mas quanto tempo ele vai aguentar?"
Então, de repente...
O sinal da escola tocou.
O diretor apareceu na porta.
— "O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI?!"
Silêncio mortal.
As meninas pararam.
João estava ofegante, parecendo que tinha corrido uma maratona.
Tati riu baixinho.
— "E foi assim que o torneio acabou."
O diretor cruzou os braços.
— "TODOS para a sala. AGORA."
Os estudantes começaram a dispersar.
João caiu sentado, aliviado.
Melissa se abaixou ao lado dele.
— "Você se saiu bem, campeão."
Ele a olhou, ainda tentando recuperar o fôlego.
— "Você é... insuportável."
Ela sorriu.
— "Eu sei."
Bia, que observava de longe, sentiu um aperto no peito.
E percebeu algo.
Ela não queria perder João para Melissa.
O problema?
O feitiço ainda estava ali.
E enquanto ele existisse...
Tudo podia piorar ainda mais.
Depois do torneio do beijo, João Ricardo só queria sumir.
Ele passou o resto do dia evitando olhares, especialmente os de Bia e Melissa.
O pior? As meninas que participaram do torneio não desistiram.
No intervalo, ouviu conversas suspeitas.
— "Ele é ágil, mas cansa rápido."
— "Se atacarmos todas ao mesmo tempo, ele não escapa!"
— "Plano 'Operação Beijo' em andamento."
Ele teve que fugir até do banheiro.
— "EU NÃO TENHO PAZ NEM PRA FAZER XIXI?!"
No final do dia, conseguiu ir para casa sem ser atacado.
Mas o que ele não sabia...
Era que o perigo ainda não tinha acabado.
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De Noite, na Casa de João
João se jogou na cama, exausto.
Tati flutuava, segurando um diário.
— "Resumo do dia: você quase foi beijado à força, correu feito um condenado e agora é alvo de uma operação secreta."
Ele suspirou.
— "Eu só queria uma vida normal."
Tati riu.
— "Não com esse feitiço ativo, querido."
Ele fechou os olhos.
— "Pelo menos aqui eu tô seguro..."
CRACK.
Ele congelou.
Tati piscou.
— "Você ouviu isso?"
TAP. TAP. TAP.
Alguém estava no telhado.
João sentiu um arrepio na espinha.
— "Talvez seja um gato..."
BAM!
A janela abriu de repente.
Ele pulou da cama.
E então, alguém entrou no quarto.
Bia.
Ela estava de pijama, com uma mochila nas costas.
João piscou.
— "BIA?! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?!"
Tati arregalou os olhos.
— "Eita, invasão romântica?"
Bia se aproximou, nervosa.
— "João... me deixa dormir aqui essa noite!"
Ele engasgou.
— "O QUÊ?!"
— "Por favor! Eu... eu não quero ficar sozinha hoje."
Ele olhou para Tati.
A cupido deu de ombros.
— "Eu só tô assistindo."
João passou a mão no rosto.
— "Bia... isso é loucura!"
Ela abaixou a cabeça.
— "Meu pai viajou de novo... A casa tá tão vazia..."
A voz dela saiu baixinha.
João sentiu um peso no peito.
Ele sabia como era se sentir sozinho.
Respirou fundo.
— "Tá bom... Mas só essa noite, e nada de ideias malucas!"
Bia sorriu timidamente.
— "Obrigada..."
Ela tirou a mochila e pulou na cama dele.
João arregalou os olhos.
— "Pera, por que você tá na minha cama?!"
— "Ué, onde mais eu ia dormir?"
Tati se segurou para não rir.
João suspirou, pegou um cobertor e foi para o chão.
— "Boa noite."
Bia ficou olhando ele por um tempo.
Depois sorriu e fechou os olhos.
Tati flutuou até ele.
— "João, João... você tá vivendo um romance de anime e nem percebe."
Ele se virou para a parede.
— "Cala a boca, Tati."
Mas, no fundo...
Ele sabia que algo estava mudando.
João Ricardo acordou sentindo um peso estranho no peito.
Algo macio, quente e... respirando?
Abriu os olhos.
E quase teve um infarto.
Bia estava abraçada nele.
NA CAMA.
NO PEITO DELE.
DORMINDO COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO.
Ele ficou paralisado.
— "MEU DEUS DO CÉU."
Tentou se mexer, mas ela apertou o abraço.
— "Hmmm... João..."
Ele congelou.
Tati flutuava ao lado, segurando um celular invisível.
— "Que cena de romance perfeita! Deixa eu só registrar mentalmente—"
— "TATI, FAZ ALGUMA COISA!"
— "E perder esse momento? Nem ferrando."
Ele tentou se soltar, mas Bia suspirou e se aconchegou ainda mais.
— "João... não me deixa sozinha..."
João sentiu o coração disparar.
A voz dela era tão... frágil.
Ele respirou fundo.
Droga.
Se ele empurrasse ela, podia magoá-la.
Mas se ficasse ali...
Estava lascado.
E foi aí que alguém bateu na porta.
— "João? Tá acordado?"
A VOZ DA MÃE DELE.
Ele empalideceu.
— "FERROU!"
Tati caiu na gargalhada.
— "Isso vai ser incrível."
Bia abriu os olhos devagar.
— "Hmmm...? Que barulho é esse?"
João gelou.
— "Bia, levanta! Minha mãe tá vindo!"
Mas antes que Bia entendesse o que estava acontecendo...
A porta se abriu.
E a mãe de João parou na entrada.
Olhando para o filho.
Deitado na cama.
Com uma menina abraçada nele de pijama.
Silêncio mortal.
— "..."
João suava frio.
— "M-mãe... não é o que parece."
A mãe cruzou os braços.
— "Ah, não? Então me explica, porque parece MUITO com uma coisa."
Bia finalmente se tocou da situação e pulou da cama, vermelha.
— "Eu posso explicar! E-eu só precisei dormir aqui porque—"
Antes que pudesse terminar, a mãe deu um sorrisinho perigoso.
— "Entendi. Então vocês dois..."
João arregalou os olhos.
— "MÃE, NÃO É ISSO!"
Mas era tarde demais.
A mãe piscou para ele.
— "Vou preparar um café especial pra vocês. Ah, e João..."
Ela se virou na porta.
— "Se eu ouvir um 'parabéns, você vai ser vovó' antes da hora, você MORRE."
Ela fechou a porta.
João caiu sentado no chão, derrotado.
Tati chorava de tanto rir.
Bia cobriu o rosto.
— "Eu quero desaparecer..."
João suspirou.
— "Bia... nunca mais me coloca numa situação dessas."
Ela assentiu.
— "Desculpa..."
Mas, no fundo...
Ela não conseguia parar de sorrir.
E João, mesmo sem querer...
Também não.
Café da Manhã Explosivo
Depois da humilhação matinal, João Ricardo e Bia desceram para tomar café.
Mas algo parecia estranho.
A mãe dele estava sorridente demais.
— "Então, dormiram bem?"
João sentiu um arrepio.
— "Mãe, pelo amor de Deus, para com isso."
Bia, ainda vermelha, mexia no pão sem coragem de encarar ninguém.
Tati flutuava ao lado, comendo um biscoito.
— "O clima aqui tá uma delícia. Eu devia trazer um balde de pipoca."
A mãe de João serviu café e se sentou na frente dos dois.
— "Filho... você tem algo a me contar?"
— "NÃO!"
Ela sorriu de canto.
— "Hmmmm..."
Bia se encolheu na cadeira.
— "Dona Marisa, não é nada disso, eu só—"
Mas antes que ela explicasse, alguém bateu na porta.
João estranhou.
— "A essa hora?"
Foi abrir.
E quase desmaiou.
Melissa.
Com os braços cruzados e um sorrisinho provocante.
— "Bom dia, amor. Dormiu bem?"
João gelou.
— "QUE QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?!"
Melissa entrou sem cerimônia.
— "Ué, eu sou sua namorada, né? Eu devia vir te ver de manhã."
Bia olhou, chocada.
A mãe de João arregalou os olhos.
— "NAMORADA?!"
Tati engasgou com o biscoito.
João queria sumir.
— "MELISSA, NÃO FALA BESTEIRA!"
Ela se inclinou para ele.
— "Por que tá tão nervoso? Dormiu bem... ou cansado depois da noite agitada?"
Bia quase derrubou a xícara.
A mãe dele olhou para João como se fosse matá-lo.
Tati bateu na mesa.
— "MEU DEUS, ESSE É O MELHOR DIA DA MINHA VIDA!"
João passou a mão no rosto.
— "Melissa, vai embora antes que eu tenha um infarto."
Ela riu.
— "Tá bom, tá bom. Mas...
Ela se aproximou do ouvido dele.
— "...ainda não esqueci do beijo que você me prometeu."
E saiu da casa como se nada tivesse acontecido.
Silêncio.
A mãe de João olhou para o filho.
Depois para Bia.
Depois para a porta onde Melissa saiu.
E então respirou fundo.
— "Filho..."
Ele suava frio.
— "Sim...?"
Ela apertou os olhos.
— "VOCÊ TÁ FAZENDO O QUÊ COM ESSAS MENINAS?!"
E foi assim que João Ricardo começou o dia levando um sermão inesquecível.