Capítulo 4 Beijo ou golpe

No dia seguinte, João Ricardo entrou na escola já sentindo o peso do destino nas costas.

Hoje era o dia do "beijo coletivo" que ele mesmo marcou.

Ou melhor, o dia em que ele teria que fugir novamente.

— "O que eu faço agora...?"

Tati flutuava ao lado, segurando um caderninho.

— "Bem, você pode fugir do país, mudar de identidade, ou..."

Ela virou a página.

— "Aceitar seu destino e distribuir beijos como um político em época de eleição."

João fechou os olhos, respirando fundo.

— "Por que isso tá acontecendo comigo?"

— "Ah, sei lá, talvez porque você deixou um monte de garotas comerem um bolo mágico?"

Ele ignorou o comentário e seguiu pelo corredor.

As meninas já estavam reunidas.

Amanda veio primeiro, com um sorrisinho no rosto.

— "Então, João... tá pronto?"

Ele gelou.

Antes que pudesse responder, Melissa apareceu do nada e passou o braço pelo ombro dele.

— "Calma aí, calma aí! Eu sou a namorada dele, então EU deveria ser a única a beijá-lo de novo, certo?"

As outras meninas estreitaram os olhos.

— "Mas o João prometeu um beijo pra todas!"

— "Exato! Justiça para todas!"

Melissa apertou os olhos e sorriu de canto.

— "Ok, então. Mas antes..."

De repente, ela puxou João pela gola da camisa e jogou ele no chão da quadra.

Ele ficou tonto.

— "O que foi isso?!"

Melissa estalou os dedos.

— "Simples. Se vocês querem um beijo dele, têm que derrotá-lo antes."

Tati arregalou os olhos.

— "EITA! O evento virou um torneio?"

Amanda cruzou os braços.

— "Hmph. Eu topo."

As outras meninas começaram a murmurar.

— "Ele tem que provar que merece ser beijado!"

— "Isso mesmo! Um duelo pelo beijo!"

— "Regra oficial: quem derrubar ele primeiro, ganha o direito!"

João se levantou, atordoado.

— "Vocês ficaram malucas?!"

Melissa riu.

— "Qual é, João? Você não é um mestre em artes marciais?"

Tati flutuou até ele, empolgada.

— "Agora eu QUERO ver isso!"

João passou a mão no rosto.

— "Meu Deus..."

Mas ele sabia que não tinha escapatória.

Se ia ter que lutar...

Então que pelo menos saísse vivo.

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O Torneio do Beijo

A quadra virou um ringue improvisado.

A escola inteira começou a assistir.

Tati até pegou uma câmera de onde ninguém sabe.

— "Bem-vindos ao primeiro torneio 'João Ricardo vs. Horda Apaixonada'!"

As meninas se posicionaram, prontos para atacar.

Melissa observava tudo com um sorriso divertido.

— "Vai ser engraçado ver ele fugindo."

Bia, que assistia nervosa, murmurou para si mesma.

— "Eu só queria que tudo voltasse ao normal..."

Amanda foi a primeira a avançar.

João desviou no último segundo, mas quase tropeçou.

As outras vieram em sequência.

Chutes, tentativas de agarrão, até mesmo puxões de camisa.

João fugia como um rato cercado por gatos.

— "ALGUÉM ME TIRA DAQUI!"

Mas aí, uma das meninas pulou nas costas dele.

E outra tentou agarrar o braço.

— "PEGA ELE!"

João só conseguiu pensar em uma coisa.

Se jogou no chão e rolou para se soltar.

As meninas caíram umas sobre as outras.

Ele levantou rápido, respirando fundo.

— "Pelo amor de Deus, eu só queria uma vida tranquila!"

Melissa riu.

— "Parece que isso não tá nos seus planos."

A multidão vibrava.

— "João ainda tá vivo!"

— "Ele tá fugindo bem!"

— "Mas quanto tempo ele vai aguentar?"

Então, de repente...

O sinal da escola tocou.

O diretor apareceu na porta.

— "O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI?!"

Silêncio mortal.

As meninas pararam.

João estava ofegante, parecendo que tinha corrido uma maratona.

Tati riu baixinho.

— "E foi assim que o torneio acabou."

O diretor cruzou os braços.

— "TODOS para a sala. AGORA."

Os estudantes começaram a dispersar.

João caiu sentado, aliviado.

Melissa se abaixou ao lado dele.

— "Você se saiu bem, campeão."

Ele a olhou, ainda tentando recuperar o fôlego.

— "Você é... insuportável."

Ela sorriu.

— "Eu sei."

Bia, que observava de longe, sentiu um aperto no peito.

E percebeu algo.

Ela não queria perder João para Melissa.

O problema?

O feitiço ainda estava ali.

E enquanto ele existisse...

Tudo podia piorar ainda mais.

Depois do torneio do beijo, João Ricardo só queria sumir.

Ele passou o resto do dia evitando olhares, especialmente os de Bia e Melissa.

O pior? As meninas que participaram do torneio não desistiram.

No intervalo, ouviu conversas suspeitas.

— "Ele é ágil, mas cansa rápido."

— "Se atacarmos todas ao mesmo tempo, ele não escapa!"

— "Plano 'Operação Beijo' em andamento."

Ele teve que fugir até do banheiro.

— "EU NÃO TENHO PAZ NEM PRA FAZER XIXI?!"

No final do dia, conseguiu ir para casa sem ser atacado.

Mas o que ele não sabia...

Era que o perigo ainda não tinha acabado.

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De Noite, na Casa de João

João se jogou na cama, exausto.

Tati flutuava, segurando um diário.

— "Resumo do dia: você quase foi beijado à força, correu feito um condenado e agora é alvo de uma operação secreta."

Ele suspirou.

— "Eu só queria uma vida normal."

Tati riu.

— "Não com esse feitiço ativo, querido."

Ele fechou os olhos.

— "Pelo menos aqui eu tô seguro..."

CRACK.

Ele congelou.

Tati piscou.

— "Você ouviu isso?"

TAP. TAP. TAP.

Alguém estava no telhado.

João sentiu um arrepio na espinha.

— "Talvez seja um gato..."

BAM!

A janela abriu de repente.

Ele pulou da cama.

E então, alguém entrou no quarto.

Bia.

Ela estava de pijama, com uma mochila nas costas.

João piscou.

— "BIA?! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?!"

Tati arregalou os olhos.

— "Eita, invasão romântica?"

Bia se aproximou, nervosa.

— "João... me deixa dormir aqui essa noite!"

Ele engasgou.

— "O QUÊ?!"

— "Por favor! Eu... eu não quero ficar sozinha hoje."

Ele olhou para Tati.

A cupido deu de ombros.

— "Eu só tô assistindo."

João passou a mão no rosto.

— "Bia... isso é loucura!"

Ela abaixou a cabeça.

— "Meu pai viajou de novo... A casa tá tão vazia..."

A voz dela saiu baixinha.

João sentiu um peso no peito.

Ele sabia como era se sentir sozinho.

Respirou fundo.

— "Tá bom... Mas só essa noite, e nada de ideias malucas!"

Bia sorriu timidamente.

— "Obrigada..."

Ela tirou a mochila e pulou na cama dele.

João arregalou os olhos.

— "Pera, por que você tá na minha cama?!"

— "Ué, onde mais eu ia dormir?"

Tati se segurou para não rir.

João suspirou, pegou um cobertor e foi para o chão.

— "Boa noite."

Bia ficou olhando ele por um tempo.

Depois sorriu e fechou os olhos.

Tati flutuou até ele.

— "João, João... você tá vivendo um romance de anime e nem percebe."

Ele se virou para a parede.

— "Cala a boca, Tati."

Mas, no fundo...

Ele sabia que algo estava mudando.

João Ricardo acordou sentindo um peso estranho no peito.

Algo macio, quente e... respirando?

Abriu os olhos.

E quase teve um infarto.

Bia estava abraçada nele.

NA CAMA.

NO PEITO DELE.

DORMINDO COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO.

Ele ficou paralisado.

— "MEU DEUS DO CÉU."

Tentou se mexer, mas ela apertou o abraço.

— "Hmmm... João..."

Ele congelou.

Tati flutuava ao lado, segurando um celular invisível.

— "Que cena de romance perfeita! Deixa eu só registrar mentalmente—"

— "TATI, FAZ ALGUMA COISA!"

— "E perder esse momento? Nem ferrando."

Ele tentou se soltar, mas Bia suspirou e se aconchegou ainda mais.

— "João... não me deixa sozinha..."

João sentiu o coração disparar.

A voz dela era tão... frágil.

Ele respirou fundo.

Droga.

Se ele empurrasse ela, podia magoá-la.

Mas se ficasse ali...

Estava lascado.

E foi aí que alguém bateu na porta.

— "João? Tá acordado?"

A VOZ DA MÃE DELE.

Ele empalideceu.

— "FERROU!"

Tati caiu na gargalhada.

— "Isso vai ser incrível."

Bia abriu os olhos devagar.

— "Hmmm...? Que barulho é esse?"

João gelou.

— "Bia, levanta! Minha mãe tá vindo!"

Mas antes que Bia entendesse o que estava acontecendo...

A porta se abriu.

E a mãe de João parou na entrada.

Olhando para o filho.

Deitado na cama.

Com uma menina abraçada nele de pijama.

Silêncio mortal.

— "..."

João suava frio.

— "M-mãe... não é o que parece."

A mãe cruzou os braços.

— "Ah, não? Então me explica, porque parece MUITO com uma coisa."

Bia finalmente se tocou da situação e pulou da cama, vermelha.

— "Eu posso explicar! E-eu só precisei dormir aqui porque—"

Antes que pudesse terminar, a mãe deu um sorrisinho perigoso.

— "Entendi. Então vocês dois..."

João arregalou os olhos.

— "MÃE, NÃO É ISSO!"

Mas era tarde demais.

A mãe piscou para ele.

— "Vou preparar um café especial pra vocês. Ah, e João..."

Ela se virou na porta.

— "Se eu ouvir um 'parabéns, você vai ser vovó' antes da hora, você MORRE."

Ela fechou a porta.

João caiu sentado no chão, derrotado.

Tati chorava de tanto rir.

Bia cobriu o rosto.

— "Eu quero desaparecer..."

João suspirou.

— "Bia... nunca mais me coloca numa situação dessas."

Ela assentiu.

— "Desculpa..."

Mas, no fundo...

Ela não conseguia parar de sorrir.

E João, mesmo sem querer...

Também não.

Café da Manhã Explosivo

Depois da humilhação matinal, João Ricardo e Bia desceram para tomar café.

Mas algo parecia estranho.

A mãe dele estava sorridente demais.

— "Então, dormiram bem?"

João sentiu um arrepio.

— "Mãe, pelo amor de Deus, para com isso."

Bia, ainda vermelha, mexia no pão sem coragem de encarar ninguém.

Tati flutuava ao lado, comendo um biscoito.

— "O clima aqui tá uma delícia. Eu devia trazer um balde de pipoca."

A mãe de João serviu café e se sentou na frente dos dois.

— "Filho... você tem algo a me contar?"

— "NÃO!"

Ela sorriu de canto.

— "Hmmmm..."

Bia se encolheu na cadeira.

— "Dona Marisa, não é nada disso, eu só—"

Mas antes que ela explicasse, alguém bateu na porta.

João estranhou.

— "A essa hora?"

Foi abrir.

E quase desmaiou.

Melissa.

Com os braços cruzados e um sorrisinho provocante.

— "Bom dia, amor. Dormiu bem?"

João gelou.

— "QUE QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?!"

Melissa entrou sem cerimônia.

— "Ué, eu sou sua namorada, né? Eu devia vir te ver de manhã."

Bia olhou, chocada.

A mãe de João arregalou os olhos.

— "NAMORADA?!"

Tati engasgou com o biscoito.

João queria sumir.

— "MELISSA, NÃO FALA BESTEIRA!"

Ela se inclinou para ele.

— "Por que tá tão nervoso? Dormiu bem... ou cansado depois da noite agitada?"

Bia quase derrubou a xícara.

A mãe dele olhou para João como se fosse matá-lo.

Tati bateu na mesa.

— "MEU DEUS, ESSE É O MELHOR DIA DA MINHA VIDA!"

João passou a mão no rosto.

— "Melissa, vai embora antes que eu tenha um infarto."

Ela riu.

— "Tá bom, tá bom. Mas...

Ela se aproximou do ouvido dele.

— "...ainda não esqueci do beijo que você me prometeu."

E saiu da casa como se nada tivesse acontecido.

Silêncio.

A mãe de João olhou para o filho.

Depois para Bia.

Depois para a porta onde Melissa saiu.

E então respirou fundo.

— "Filho..."

Ele suava frio.

— "Sim...?"

Ela apertou os olhos.

— "VOCÊ TÁ FAZENDO O QUÊ COM ESSAS MENINAS?!"

E foi assim que João Ricardo começou o dia levando um sermão inesquecível.