O sol ainda estava baixo no horizonte quando Thiago acordou, o som do vento quebrando o silêncio pesado da cidade destruída. Mais um dia. Mais uma busca por comida. Ele se levantou lentamente, sentindo a dureza do chão de terra fria sob suas costas. O céu estava nublado, como sempre. Não havia mais cores vibrantes, só cinza. Tudo ao seu redor parecia ter sido engolido pela vegetação selvagem que tomava conta das cidades abandonadas.
Com um suspiro, Thiago pegou sua mochila, conferiu suas ferramentas improvisadas e partiu em direção aos mercados próximos. As ruas estavam vazias. O que antes era um movimento incessante de carros, pessoas e barulho agora era apenas um cenário de ruínas, com prédios quebrados e lojas transformadas em florestas. O mato havia invadido os mercados, onde estantes caídas e prateleiras vazias ainda restavam como testemunhos de uma vida que já não existia.
Ele vasculhou cada canto. Nada. A comida era escassa. O que antes era simples agora era uma raridade. Ele não encontrou nada além de algumas latas vazias e caixas destruídas. O estômago roncava, mas Thiago já se acostumara com a fome. Ela era apenas parte da rotina agora.
Cansado, ele começou a caminhar de volta para seu esconderijo, uma pequena cabana que construíra perto de um córrego. No caminho, algo no chão chamou sua atenção. Era um celular. Coberto de poeira e arranhado, mas ainda intacto. Thiago se agachou, pegou o aparelho e o olhou por um momento. Tentou ligá-lo, mas estava sem sinal. Ainda assim, decidiu vasculhar os arquivos. Fotos antigas, alguns vídeos... e uma lista de contatos. Ele parou ao ver um nome familiar, "Mãe". Era o contato de alguém que, provavelmente, não estaria mais por ali.
Sem mais palavras, Thiago guardou o celular no bolso e subiu até o topo de um prédio abandonado. Ele costumava visitar aquele lugar de vez em quando. O topo oferecia uma visão panorâmica da cidade destruída e era um local onde ele se sentia mais perto de tudo o que havia perdido. Lá, o vento era mais forte. Ele se sentou no beiral, olhando para a vasta paisagem destruída que se estendia diante de seus olhos. O entardecer chegou silencioso, e a cidade, que antes era cheia de vida, agora era apenas um campo de ruínas, com a vegetação tomando conta de tudo.
Enquanto o céu escurecia, ele pegou o celular de novo e vasculhou as mensagens. Encontrou a última mensagem de áudio, de uma mulher. Ele clicou e ouviu:
"Oi, meu filho. Hoje eu chego um pouco mais tarde... Eu tenho uma notícia que você vai gostar, viu? Quero chegar com a janta pronta, tá? (risos) Tchau, a mãe te ama."
O som da voz da mulher, tão simples e cheia de vida, parecia se misturar com o vento suave que batia em seu rosto. Thiago fechou os olhos por um momento, ouvindo aquelas palavras novamente. Ele olhou ao redor, para a cidade devastada e para as árvores que agora cobriam os prédios. O mundo que ela descrevia parecia tão distante, como uma vida de outro tempo.
Ele permaneceu ali, imerso na paisagem e nos pensamentos. Quando o céu começou a escurecer, ele guardou o celular e desceu do topo do prédio. Caminhou lentamente de volta para o seu esconderijo, onde seu pastor alemão o aguardava, sempre presente. Eles se deitaram juntos no chão de terra, o cão encostado em sua perna, compartilhando a solidão da noite.
Thiago pegou seu diário e escreveu as palavras que não conseguia tirar da cabeça:
"Ah... que saudade daquilo tudo. Pessoas, festas, felicidade... A solidão aqui é absoluta."
Ele fechou o diário e se deitou, tentando dormir, mas a mente ainda estava em outro lugar, vagando entre lembranças e a cruel realidade em que se encontrava.
O silêncio da ruína os envolvia, e Thiago sabia que, por mais que tentasse, jamais conseguiria escapar de sua solidão.