a forasteira

Anya Suphakan sempre foi uma garota tímida e desastrada. Preferia manter-se invisível, longe de qualquer confusão ou atenção desnecessária. Apesar de sua natureza discreta, era brilhante. Vinda da Tailândia aos seis anos de idade, cresceu sob a influência da cultura coreana, mas nunca deixou suas raízes para trás. Na escola, destacou-se rapidamente, conquistando o primeiro lugar em todas as matérias. Seu desempenho excepcional não passou despercebido, chamando a atenção da reitora da Academia Seonhwa, que fazia questão de reunir apenas as melhores alunas na instituição.

A oferta de uma bolsa de estudos foi recebida como uma oportunidade única por seus pais. Donos de um restaurante modesto no centro da cidade, moravam no andar de cima do estabelecimento e trabalhavam duro para manter uma vida estável. Embora estivessem satisfeitos com a vida que construíram desde que deixaram a Tailândia, sabiam que a academia oferecia um futuro grandioso para Anya. Ela era filha única e o orgulho da família. Seus pais, sempre amorosos, incentivavam-na a sair da fortaleza do seu quarto, onde passava grande parte do tempo imersa em livros e em seu talento secreto: o desenho. Anya possuía uma beleza angelical, com traços tailandeses delicados, olhos brilhantes e singelos, que refletiam a pureza do seu coração. Aos 19 anos, com 1,67m de altura, preferia vestir-se de maneira simples e confortável.

Agora, diante da imponente Academia Seonhwa para garotas, ela sentia um frio na barriga.

O Primeiro Dia 

O prédio da academia era gigantesco, lembrando um campus universitário. Cada espaço exalava elegância e exclusividade, e Anya percebeu imediatamente a diferença em relação às escolas comuns. Ao despedir-se dos pais, viu o brilho nos olhos da mãe, que derramava lágrimas de orgulho. Todos na cidade sabiam que Seonhwa era a melhor academia do país, e ela era uma exceção entre tantas alunas de famílias poderosas. Como a reitora lhe dissera, forasteiros não eram bem-vindos ali. Mas Anya não era qualquer forasteira. Ela estava ali porque sua mente brilhante a colocara naquele lugar. Mesmo determinada, sentia-se deslocada.

Os calouros haviam sido encaminhados ao auditório, mas por morar longe e não conhecer bem o campus, ela acabou se atrasando. Seus pais não puderam entrar com ela, então teve que encontrar o caminho sozinha. Quando finalmente chegou, empurrou a porta com um pouco mais de força do que gostaria, e um som alto ecoou pelo auditório.

O coração de Anya parou por um segundo. Ela sentiu os olhares cortantes sobre si, alguns de reprovação, outros de pura arrogância. O local era imenso, com assentos organizados em fileiras impecáveis. No palco, uma garota estava em pé, conduzindo a apresentação. E então, seus olhares se cruzaram.

O olhar de Lee Riyeon 

A representante da escola, Lee Riyeon, fixou os olhos em Anya com curiosidade evidente. Era uma jovem de presença marcante, vestida impecavelmente no uniforme da academia, com uma fita presa ao cabelo, um detalhe sutil que acrescentava ainda mais elegância à sua imagem. Seu olhar era intenso, penetrante, como se pudesse ler Anya com um único vislumbre. Entretanto, ao contrário das outras alunas, Riyeon não demonstrava desdém pela caloura atrasada. Ela a observava. Anya sentiu-se exposta, como se a garota no palco pudesse ver através de sua alma. Mesmo à distância, conseguiu notar a beleza estonteante da jovem. 

No entanto, Riyeon não se abalou com a chegada espalhafatosa da novata. Continuou a apresentação com a mesma confiança inabalável, falando com voz firme e clara, guiando as alunas por um tour visual da academia através do telão. Anya respirou fundo e se escondeu em uma fileira vazia, onde poucas meninas estavam sentadas. Ali, ela passou despercebida. Mas, por mais que tentasse se camuflar, o olhar de Riyeon permaneceu sobre ela por mais tempo do que deveria. Talvez fosse apenas curiosidade. Ou talvez... algo mais. Anya sabia que sua estadia na academia Seonhwa seria um grande desafio. Ela era diferente de todas ali, e agora, mais do que nunca, se perguntava:

Será que estava realmente à altura desse lugar?