eu te amo

Quando Anya recebeu a notícia, a primeira pessoa que descobriu foi Riyeon. Ela estava saindo do banheiro quando encontrou uma namorada eufórica no corredor, contando com entusiasmo o que tinha acontecido. Riyeon, por sua vez, sentiu-se satisfeita ao ver seu plano dar certo. Foi a maneira que encontrou para ajudar sem que Anya desconfiasse. Sem hesitar, retire Anya para um abraço apertado, apoiando o queixo no topo da cabeça dela. Anya apenas fechou os olhos e aceitou aquele gesto reconfortante, sentindo que, finalmente, as coisas voltariam ao eixo.

Os valores depositados em sua conta, criados pela academia, supririam todas as dívidas de seus pais e ainda sobrariam o suficiente para investir em materiais e livros que ela precisaria. Aquilo parecia uma vitória, e ela só sabia agradecer.

Uma semana depois

A biblioteca ficou em silêncio, apenas o som das páginas viradas e dos lápis arriscando o papel preenchiam o ambiente. Anya estava especializada em sua redação quando Daehyn entrou de maneira despreocupada, como se carregasse uma vitória pessoal estampada no rosto.

A relação entre eles era um fracasso absoluto, especialmente desde que Anya descobriu os sentimentos de Daehyn por Riyeon — e pior, que ela havia sido a responsável por divulgar as fotos comprometedoras. Ninguém além das três sabia desse fato. Riyeon se recusou a dar mais palco para as manipulações de Daehyn, mas Anya sabia que ela ainda não tinha desistido de provocar.

Daehyn retirou uma cadeira e sentou-se ao lado de Anya, sem pedir permissão, apenas observando-a em silêncio. Anya tentou ignorá-la, mantendo o foco no que fazia, mas a presença insistente da outra garota era como um espinho cravado em sua pele.

— Meus parabéns. — Daehyn finalmente cortejou o silêncio. Sua voz tinha um tom refinado, quase zombeteiro.

Anya extravasou os olhos, analisando seu rosto impassível.

— Pelo quê? — perguntou, mantendo-se neutro.

— Soube que você entrou para o programa da academia. — Daehyn inclinou-se progressivamente para frente, um sorriso invejado brincando em seus lábios.

— Obrigada. — Anya respondeu secamente, voltando os olhos para sua redação. Mas Daehyn não parecia interessado em encerrar o assunto.

— Algo interessante sobre esse programa... — começou ela, brincando com a ponta de uma caneta entre os dedos. — É que ele é oferecido apenas para o aluno número um da academia. Veja só, eu passei anos sendo vice-líder no ranking e nunca fui contemplado. Mas você foi. Não acha isso... curioso?

Anya sentindo um incômodo surgindo no peito. Seus olhos se ergueram, fixando-se no rosto de Daehyn.

— Basta dizer logo o que você quer dizer, Daehyn. Eu não tenho paciência para seus joguinhos.

Daehyn abriu um sorriso falso, como se tivesse se ofendido.

— Joguinhos? Que ideia, Anya. Só estou fazendo uma constatação. — Ela inclinou a cabeça para o lado, como se estudasse a ocorrência da outra garota. — Veja bem... Riyeon sempre foi a única a receber esse benefício. Mas, por coincidência, ela teve uma reunião privada com a reitora alguns dias atrás. E, logo depois, você foi aceito no mesmo programa. Isso não te faz... questionar nada?

Anya ficou em silêncio. Seu coração deu um leve tropeço no peito.

— Eu não sei o que você está insinuando. — respondeu, sua voz mais tensa do que gostaria.

Daehyn riu baixinho, um brilho de satisfação passando pelos seus olhos.

— Eu? Insinuando algo? De jeito nenhum. Só estou impressionado com o tamanho da influência que Lee Riyeon tem nesta escola. Parece que ela pode conseguir tudo o que quiser... — Ela se falou lentamente, deixando suas palavras ecoarem no ar. — Inclusivo, garantir privilégios para quem bem entende.

Anya coloca imóvel, seus dedos apertando a caneta com mais força do que o necessário. A figura de Daehyn desapareceu pela porta da biblioteca, mas o estrago já estava feito.

Um grão de dúvida para plantada.

Anya passou grande parte do dia perdida em pensamentos, as palavras de Daehyn ecoando em sua mente. Sua inteligência afiada começou a conectar as peças do quebra-cabeça: desde o momento em que contou a Riyeon sobre os problemas financeiros de sua família, até o conforto que ela recebeu e, dias depois, a notícia de que tudo havia se resolvido. Era óbvio. Riyeon estava por trás disso.

Naquele instante, Anya recebeu uma confirmação de algo que já suspeitava há tempos: ela amava Riyeon. Nenhuma das duas havia dito a palavra mágica antes. Na cultura coreana, o "eu te amo" carregava um peso profundo, um significado maior do que meras palavras. Representava o encontro de duas almas destinadas a uma à outra. E quando Anya decidiu dizer isso, seria com plena certeza.

E agora ela tinha essa certeza.

O amor que sentia por Riyeon era tão intenso que, às vezes, chegava a fazer. Mas Anya não sabia que Riyeon sentia o mesmo. De qualquer forma, não esconda mais seus sentimentos nas profundezas do coração.

Na volta para casa, as duas caminhavam de mãos dadas pela rua do restaurante, como sempre fizeram quando Riyeon tinha uma folga das aulas extras. Riyeon adorava passar um tempo no restaurante, seja para saborear a comida incrível, seja para estar perto da namorada. Porém, dessa vez, Anya parou abruptamente e virou-se para Riyeon, os olhos brilhando com determinação.

Riyeon franziu o cenho, intrigada.

— Foi você, não foi? — Anya perguntou sem rodeios.

— O que foi eu? — Riyeon questionou, confusa.

— Você falou com a reitora. Foi por sua causa que entrei no programa. — A voz de Anya era firme, mas não havia raiva nela. Só tenho certeza.

Riyeon suspirou. O segredo foi vazado mais rápido do que esperava.

— Quem você disse isso? — Disse, cautelosa.

— Apenas me responda. Foi você? — Anya insistiu.

Riyeon respirou fundo e assentiu, já apresentando um discurso de desculpas. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Anya a envolveu pela cintura, abraçando-a com força.

Riyeon ficou imóvel, surpresa com a ocorrência. Não esperava aquilo.

— Eu te amo. — A confissão saiu suave, mas a transmissão de emoção.

O coração de Riyeon parou por um segundo. As palavras ressoaram dentro dela, aquecendo-a de um jeito exorbitante.

— Você... eu, amor? — sua voz saiu baixa, quase uma sugestão.

Anya abriu o abraço.

— Amo. Com todo o meu coração. Obrigada por cuidar de mim.

Ela ainda não tinha coragem de encarar Riyeon, mas a outra não permitiu que continuasse assim. Com delicadeza, segurou seu queixo e suavidade seu rosto, olhando-a profundamente.

— Eu também te amo — Riyeon confessou, sua voz cheia de certeza. — Com todo o meu coração. Você é minha vida, Anya.

Com um sorriso terno, Riyeon encostou sua testa na namorada, roçando seus narizes em um gesto carinhoso. Anya pediu desculpas, e sua covinha apareceu na vergonha, tornando o momento ainda mais doce. Nada mais importante. Apenas o amor que finalmente teve coragem de admitir uma para a outra.