O dia havia sido um turbilhão para Riyeon. Desde o momento em que acordou, sua mente esteve imersa em números, teorias, artigos médicos e revisões incessantes. Seu pai queria que ela entrasse para o clube de medicina do programa que ele gerenciava, o que significava uma carga de estudo ainda mais pesada do que já tinha. Somado a isso, as provas acadêmicas estavam se aproximando, e sua rotina se tornara um ciclo interminável de anotações e leituras.
Anya percebeu o cansaço estampado no rosto da namorada assim que o sinal da última aula soou. Normalmente, Riyeon sempre fazia algum comentário sarcástico sobre o dia ou sugeria algo para distraí-las, mas agora, apenas suspirou fundo, esfregando a testa com os dedos.
— Você está bem? — Anya perguntou suavemente enquanto saíam juntas da sala.
— Só cansada — Riyeon respondeu, sua voz mais baixa que o normal.
Anya franziu os lábios. Riyeon quase nunca reclamava de nada, então, para ela admitir que estava exausta, significava que a situação era pior do que aparentava.
Mesmo assim, seguiu ao lado dela até a sala de estudos extras. Ficaram lá por horas. Riyeon lia e relia os mesmos tópicos, resolvia questões complexas, fazia anotações detalhadas, enquanto Anya apenas a observava, tentando ajudá-la no que podia.
Quando finalmente saíram da academia, Anya percebeu que Riyeon estava ainda mais introspectiva. Ela raramente se deixava afetar pelo estresse, mas aquela era uma daquelas noites em que a exaustão transbordava.
Então, Anya tomou uma decisão: iria dormir com ela.
— Quer que eu fique com você hoje? — perguntou quando chegaram na casa de Riyeon.
Riyeon ergueu o olhar, surpresa, mas logo sorriu de leve.
— Eu gostaria disso.
Assim que entraram no quarto, Riyeon soltou um longo suspiro, jogando a mochila na poltrona.
— Eu preciso de um banho para relaxar — murmurou, já caminhando para o banheiro.
Anya assentiu, observando-a desaparecer atrás da porta. Ficou ali sentada na cama por um tempo, mordendo o lábio em pensamento. Sentia que Riyeon estava carregando muito peso nos ombros. Ela sempre foi forte, sempre se impôs diante dos desafios, mas Anya sabia que, às vezes, até os mais fortes precisavam de um descanso, de um momento para respirar.
E foi aí que tomou sua decisão.
Riyeon estava de costas para a porta do box, com os olhos fechados enquanto a água quente caía sobre seu corpo. Seu rosto estava sereno, mas seus ombros ainda carregavam uma tensão visível.
Anya entrou no chuveiro em silêncio, a água morna escorrendo pelo seu corpo, e sem hesitar, envolveu Riyeon em um abraço apertado por trás.
Riyeon sobressaltou-se no mesmo instante, o coração disparando, mas ao reconhecer o toque e o cheiro familiar, relaxou nos braços de Anya.
— Você me assustou — murmurou, sua voz rouca pelo cansaço.
Anya riu baixinho, apoiando o rosto na curva do pescoço dela.
— Eu percebi o dia que você teve — disse suavemente. — Quis te dar um pouco de conforto.
Riyeon suspirou, inclinando-se levemente contra o abraço.
— Foi um dia difícil — admitiu, sem rodeios. — Estou cansada mentalmente. Meu pai está pressionando para que eu faça o exame logo.
Anya apertou o abraço, sentindo o coração apertar ao ouvir a confissão.
— Você quer mesmo isso?
Riyeon ficou em silêncio, deixando a água escorrer pelo rosto.
— Quero — respondeu por fim. — Mas não sei se quero por mim ou por ele. Eu deveria tentar ingressar apenas no ano que vem, mas ele insiste que seja ainda esse ano. Não faço ideia do porquê.
Anya fechou os olhos, segurando-a com mais força.
— Você não precisa decidir tudo agora — murmurou contra sua pele. — Só não se esqueça de que você tem escolha.
Riyeon virou-se devagar, seus olhos escuros encontrando os de Anya. Havia algo ali... uma ternura que aquecia seu peito mais do que qualquer banho quente poderia fazer.
Ela sorriu de leve, tocando o rosto de Anya com carinho.
— Obrigada por estar aqui.
Anya sorriu de volta.
— Sempre estarei.
Elas tomaram banho juntas, sem pressa, apenas aproveitando a presença uma da outra. Anya lavou os cabelos de Riyeon com delicadeza, massageando seu couro cabeludo até sentir a tensão desaparecer. Riyeon retribuiu o gesto, no calor reconfortante daquele momento.
Quando finalmente saíram, vestiram roupas confortáveis e se aconchegaram na cama. Riyeon deitou-se de lado, e Anya imediatamente se aninhou contra seu peito, passando os braços ao redor de sua cintura.
— Eu gosto de dormir agarrada em você... É tão confortável — murmurou, já sentindo o sono chegar.
Riyeon riu baixinho, acariciando os cabelos dela.
— E eu adoro explorar essa gostosura durante a noite — provocou, um sorriso brincando em seus lábios.
Anya ergueu o rosto, corada, dando um leve tapa no braço dela.
— Idiota.
Riyeon riu de verdade dessa vez, beijando o topo da cabeça de Anya antes de puxá-la ainda mais para perto. Riyeon sempre arrumava um jeito de tirar "casquinhas" de Anya, com suas mãos ágeis e travessas.
— Boa noite, meu amor — sussurrou.
Anya sorriu contra seu peito.
— Boa noite, namorada.
E assim, no calor dos braços uma da outra, Riyeon finalmente encontrou a paz que tanto precisava.
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O sol filtrava-se pelas cortinas do quarto de Riyeon, tingindo o ambiente com um brilho suave e dourado. O silêncio da manhã era quebrado apenas pela respiração ritmada de Anya, que dormia profundamente, completamente grudada ao corpo de Riyeon, como se ela fosse um travesseiro.
Riyeon abriu os olhos, sentindo o calor aconchegante da garota ao seu lado. Um pequeno sorriso brincou em seus lábios ao perceber que Anya estava praticamente jogada sobre ela, o rosto enterrado em seu ombro, os braços e pernas emaranhados nos seus como se recusasse a soltá-la até no sono.
Ela suspirou baixinho, sentindo-se mais leve do que nos últimos dias. Depois do estresse acumulado, acordar com Anya daquela forma parecia o melhor remédio para qualquer preocupação.
Com delicadeza, Riyeon começou a traçar beijos suaves pelo rosto da jovem, começando pela testa, depois a ponta do nariz, as bochechas e, por fim, roçando seus lábios nos de Anya.
— Acorda, baby — murmurou baixinho, a voz rouca pela manhã.
Anya apenas resmungou algo inaudível, se aconchegando ainda mais. Riyeon sorriu, divertida, e insistiu:
— Anya… acorda.
Aos poucos, os olhos da garota se abriram, ainda pesados pelo sono, mas um sorriso fofo surgiu em seus lábios ao ver Riyeon tão perto.
— Bom dia… — Anya murmurou, a voz preguiçosa.
— Bom dia — Riyeon respondeu, acariciando seu rosto com o polegar.
Anya piscou algumas vezes, notando o semblante relaxado da namorada. Riyeon parecia revigorada, completamente diferente da noite anterior.
— Você parece bem — Anya comentou, a voz ainda arrastada pelo sono.
Riyeon sorriu.
— Porque dormi com a minha fonte de energia.
Anya riu baixinho, escondendo o rosto no pescoço dela.
— Você é tão boba.
— E você, grudenta — Riyeon provocou, cutucando a lateral do corpo dela.
Anya apenas resmungou, mas não se afastou.
Depois de alguns minutos de preguiça matinal, finalmente se levantaram para se arrumar para a escola. Enquanto Anya ajeitava seus cabelos no espelho, Riyeon terminava de abotoar a camisa do uniforme. De vez em quando, ela roubava olhares para a namorada, sentindo-se absurdamente sortuda por tê-la ali.
Quando desceram para tomar café, encontraram Raina já sentada à mesa, tomando café tranquilamente. Ela ergueu os olhos ao ver as duas e arqueou uma sobrancelha.
— Ora, ora, vejam só quem resolveu aparecer.
Riyeon bufou, mas sentou-se ao lado dela sem cerimônia.
— Você chegou tarde ontem. Nem percebi.
Raina tomou mais um gole de café antes de responder.
— Claro que não percebeu. Você devia estar ocupada demais com certas atividades extracurriculares.
Anya engasgou levemente com o suco que bebia, enquanto Riyeon lhe lançou um olhar mortal.
— Raina.
— O quê? — Raina deu um sorriso travesso. — Eu só presumo, já que você parecia revigorada quando desceu.
Anya cobriu o rosto com as mãos, sem jeito.
— Por que você é assim? — Riyeon resmungou.
— Ah, me divirto com pouca coisa — Raina respondeu casualmente. Então, virou-se para Anya, avaliando-a com um olhar brincalhão. — Espero que tenha dormido bem, Anya.
Anya, ainda um pouco corada, assentiu.
— Sim, obrigada.
Raina sorriu, satisfeita, e Riyeon revirou os olhos.
— Não dá para ter paz com você por perto.
— Eu sou sua irmã, não é meu trabalho te dar paz.
Anya riu baixinho, achando graça da dinâmica entre elas. Raina parecia conhecê-la bem o suficiente para tratá-la como uma amiga de longa data, e isso fazia Anya se sentir ainda mais confortável ali.
Elas terminaram o café da manhã entre provocações e risadas, e quando finalmente saíram para a escola, Riyeon apertou de leve a mão de Anya, um gesto silencioso de carinho.
— Pronta para mais um dia?
Anya sorriu, entrelaçando os dedos nos dela.
— Contanto que esteja comigo, estou pronta para qualquer coisa.
Riyeon sorriu, sentindo o coração aquecido.
Definitivamente, aquele dia começava da melhor maneira possível.