girls love

Era sexta-feira à noite quando Anya, com um brilho travesso nos olhos, puxou Riyeon pelo pulso e a fez sentar no sofá do seu quarto. Com um sorriso empolgado, entregou o controle remoto para ela.

— Hoje vamos começar uma maratona. Quero te mostrar uma série que significa muito para mim — disse Anya, ajeitando-se ao lado da namorada.

Riyeon arqueou uma sobrancelha, mas aceitou. Afinal, qualquer tempo ao lado de Anya era precioso. Ela merecia um descanso depois da semana intensa de provas que tiveram. Ela olhou para a tela e leu o título: "Unable to Forget ".

— É tailandesa? — perguntou, inclinando a cabeça.

— Sim. E é sobre duas garotas que se apaixonam — Anya explicou, mordendo o lábio de leve, um pouco nervosa com a reação de Riyeon.

— Hm... interessante — Riyeon murmurou, dando play no primeiro episódio.

No início, Riyeon assistia de forma analítica, observando as dinâmicas das personagens e tentando entender a história. Ela acompanhava a legenda coreana, o idioma tailandês parecia mais difícil de compreender. Anya conseguia entender das duas formas, já que era a sua língua nativa. Conforme os episódios avançavam, ela começou a se envolver completamente. Os pequenos gestos, os olhares intensos, a química inegável entre as protagonistas... tudo parecia ressoar dentro dela de uma maneira inesperada.

Em certo momento, Anya percebeu que Riyeon estava inclinada para frente, os olhos fixos na tela, completamente absorta.

— Você está gostando? — Anya perguntou, sorrindo ao ver a seriedade no rosto da namorada.

— Sim, mas... por que essa série me faz sentir tanta coisa? — Riyeon franziu as sobrancelhas, quase frustrada.

Anya riu, encostando a cabeça no ombro dela.

— Porque você se identifica. Eu me senti assim quando assisti pela primeira vez.

Riyeon não respondeu, apenas entrelaçou seus dedos nos de Anya, apertando de leve. O silêncio que se seguiu não era incômodo. Mas sim, confortável.

Em determinado momento do episódio, Penelope, a personagem misteriosa e determinada, confessava sua admiração por Josie, e Riyeon se pegou mordendo o lábio.

Ela se identificava com Penelope.

Nunca antes havia se sentido atraída por uma mulher. Anya era a primeira. Aquilo deveria ser estranho, certo? Mas não era. Pelo contrário, parecia natural, como se sempre tivesse sido assim, e ela apenas não tivesse percebido antes.

Foi então que sua voz cortou o silêncio:

— Eu nunca tinha me sentido atraída por uma mulher antes.

Anya, que estava focada no episódio, desviou o olhar para ela, piscando algumas vezes.

— Hum?

— Eu nunca tinha gostado de uma garota antes de você. — Riyeon repetiu, virando-se de lado para encará-la. — Assim como a Penelope.

Anya ficou em silêncio, processando as palavras dela.

— E isso te incomoda?

Riyeon refletiu por alguns segundos.

— Não. — Respondeu sincera. — Eu só... nunca tinha pensado nisso. Sempre achei que gostava de garotos, mas nunca me interessei por ninguém até você aparecer.

Anya sorriu.

— Acho que cada um tem o seu tempo para entender as coisas.

Riyeon observou a expressão dela, percebendo uma pontada de nostalgia.

— Você sempre soube que gostava de meninas?

Anya ponderou antes de responder, ajeitando-se melhor.

— Desde pequena, eu percebia que era diferente. As minhas amigas falavam sobre os meninos da escola, diziam quais achavam bonitos, e eu fingia concordar para não parecer estranha. Mas... eu nunca sentia nada. — Sua voz saiu baixa, quase como um segredo. — E isso me fez pensar que havia algo de errado comigo.

Riyeon franziu a testa, sentindo um aperto no peito ao ouvir aquilo.

— Você achava que tinha algo errado?

— Sim. — Anya abaixou o olhar, brincando com a borda do cobertor. — No começo, tentei ignorar. Mas depois que assisti Unable to Forget, algo em mim clicou. Pela primeira vez, vi uma história onde duas mulheres se amavam de forma pura e bonita. Eu chorei tanto naquela noite... Mas foram lágrimas boas, de alívio.

Riyeon continuou ouvindo atentamente.

— Foi aí que você começou a se aceitar?

— Sim. Passei a entender que não havia nada de errado comigo. E, depois disso, comecei a buscar mais histórias assim, porque elas me ajudavam a me sentir menos sozinha.

Ela suspirou, apoiando a cabeça no ombro de Riyeon.

— Era por isso que eu passava tanto tempo no meu quarto. Eu lia, desenhava e me refugiava nessas histórias, porque me faziam bem. Elas me ajudaram a viver sem culpa, apenas aceitando quem eu sou.

Riyeon sentiu o coração apertar. Anya carregava tanto dentro de si, e mesmo assim continuava sendo essa pessoa cheia de luz.

— Obrigada por me contar isso. — Disse, deslizando os dedos pelos cabelos dela.

Anya sorriu pequeno.

— Eu confio em você.

O episódio continuava passando, e em uma das cenas, Josie apareceu brincando com seu cachorrinho, Levis. Riyeon sorriu sem perceber.

— Eu sempre quis ter um cachorro.

Anya registrou essa informação mentalmente, embora nada tenha dito no momento.

A noite continuou tranquila, cheia de conversas profundas e trocas sinceras. Quem diria que uma série as levaria a tantas confissões?

Mas Riyeon estava feliz, sentia que se entendia um pouco mais.

E tudo graças a Anya.

O final de semana se desenrolou com elas mergulhando cada vez mais na história. Riyeon insistiu para que vissem tudo sem pausas longas. Com pipoca, cobertas e a tela iluminando o quarto, as horas passaram sem que percebessem.

Na noite de domingo, depois do último episódio, Riyeon suspirou profundamente e se virou para Anya.

— Eu acho que entendo melhor agora — disse, seu olhar suave. — Sobre nós, sobre o que sinto por você... Não é só algo que acontece. É algo que eu escolho sentir todos os dias.

Anya sentiu o coração derreter e apertou mais a mão dela.

— E eu escolho você. Sempre — Anya respondeu, sua voz quase um sussurro.

Riyeon não precisou dizer mais nada. Ela apenas puxou Anya para um beijo suave e demorado, sentindo seu peito aquecer com um amor que agora compreendia ainda melhor. E no fundo, soube que aquela série sempre teria um lugar especial na história delas.