A manhã transcorria normalmente na sala de aula, com a professora guiando a turma em mais um dia de aprendizado, quando uma presença inesperada fez com que todos se endireitassem em suas cadeiras. A porta foi aberta, e a reitora da instituição entrou com passos calmos e postura impecável. O sussurro sutil dos alunos percorria a sala, todos surpresos com a visita.
A professora, também pegada de surpresa, rapidamente se levantou para recebê-la com um sorriso respeitoso.
— É uma honra tê-la aqui, senhora Kim. — Ela cumprimentou.
A reitora retribuiu com um aceno cortês e um sorriso contido.
— Bom dia a todos. Resolvi fazer uma visita cordial para conhecer melhor nossa turma e ver como estão se saindo. — Sua voz era firme. — Sei que temos alunos incrivelmente talentosos aqui, e é sempre um prazer ver o progresso de cada um. As notas do semestre serão disponibilizadas em breve.
Os alunos se entreolharam, empolgados por tamanha atenção, enquanto a reitora dava uma breve palavra de incentivo. Em seguida, ela começou a caminhar pela sala, observando atentamente cada grupo, analisando o comportamento e a interação dos estudantes.
Quando seus olhos pousaram sobre Anya, seu olhar se suavizou. Havia algo diferente na expressão da reitora — uma nostalgia profunda, um lamento contido que apenas poucos conseguiriam notar. Anya estava sentada ao lado de Riyeon, como de costume, e manteve-se respeitosamente quieta sob o olhar da reitora.
Riyeon, no entanto, percebeu o tempo prolongado que a reitora demorou observando Anya. Era como se ela enxergasse algo a mais, algo que apenas seus olhos pudessem ver. A expressão forte e altiva que sempre carregava agora parecia tingida por uma melancolia sutil.
Depois de alguns instantes, a reitora descansou a mão suavemente sobre o ombro de Anya.
— Você tem se saído muito bem, Anya. É um prazer ver alunos como você trazendo harmonia e progresso para nossa instituição. Continue assim. — Seu tom era gentil, quase afetuoso.
Anya sorriu, levemente surpresa pela interação, mas respondeu de forma educada:
— Obrigada, senhora, Kim. Farei o meu melhor.
A reitora também dirigiu um breve cumprimento a Riyeon antes de seguir seu caminho. As alunas ao redor observavam a cena com curiosidade. Nunca haviam visto a reitora dar tanta atenção a um aluno, exceto por Riyeon, que sempre recebeu elogios e atenção devido ao seu desempenho acadêmico. Agora, parecia que Anya também estava nessa lista.
Quando a reitora deixou a sala, a professora comentou:
— Que visita inesperada... e que raro ver a reitora se dirigir a um aluno de forma tão direta. Parece que ela realmente aprecia sua presença, Anya.
A sala concordou, trocando murmúrios entre si.
Assim que a aula retomou seu ritmo, Riyeon inclinou-se discretamente para Anya.
— Você percebeu o jeito que ela te olhava? — sussurrou.
Anya piscou, surpresa.
— Não... o que quer dizer?
Riyeon franziu os lábios, pensativa. Era evidente que aquele olhar carregava algo mais profundo, mas Anya parecia alheia a isso. Por ora, Riyeon decidiu deixar de lado. Mas aquela curiosidade ficou martelando em sua mente.
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Mais tarde, ao chegar em casa, Riyeon foi recebida por uma cena incomum: sua mãe estava em casa, de folga, e brincava com YA, o pequeno cachorrinho que Anya lhe dera. Todos na casa haviam se apegado ao animal, e Riyeon não podia negar que aquele presente foi um dos melhores que já recebera.
— Você parece animada hoje. — Riyeon comentou ao se sentar ao lado da mãe no sofá.
Sua mãe sorriu.
— Estou tentando aproveitar mais o tempo livre quando posso. E você? Como foi seu dia?
Riyeon hesitou, estranhando a pergunta, mas decidiu compartilhar sua observação.
— A reitora visitou nossa turma hoje. E, por algum motivo, ela parecia muito interessada na Anya. Olhou para ela de um jeito... estranho. Como se estivesse vendo outra pessoa.
Sua mãe, que antes fazia carinho em YA, parou por um momento e ergueu o olhar para a filha. Havia algo indecifrado em sua expressão.
— Isso faz sentido... — murmurou.
Riyeon franziu a testa.
— O que quer dizer?
Suspirando, sua mãe ajeitou-se no sofá, como se ponderasse suas palavras antes de continuar.
— Eu conheci a filha da reitora. Ela faleceu aos 16 anos. Era um caso mantido em sigilo pelo hospital, mas eu fui uma das médicas que a atenderam... e quando vi Anya no hospital aquele dia, quando ela foi te visitar, percebi a semelhança. — Sua voz ficou mais suave. — Anya lembra muito a filha dela.
Riyeon ficou em silêncio, absorvendo aquela informação. Agora, tudo fazia sentido. Aquele olhar nostálgico, o tempo que a reitora demorou observando Anya, a forma como parecia conter a emoção sempre que a via...
— Então é por isso que ela olha para Anya daquele jeito... — Riyeon murmurou.
Sua mãe assentiu.
— Para ela, é como se um pedaço de sua filha ainda estivesse presente.
Riyeon se recostou no sofá, sentindo um aperto no coração. Anya não fazia ideia do peso de sua própria existência para a reitora. E, de alguma forma, Riyeon sabia que aquela história ainda teria desdobramentos que nem imaginava.
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O dia na academia transcorria como qualquer outro. Anya e Riyeon caminhavam lado a lado rumo à saída quando um olhar fixo e carregado de emoção as fez parar. O marido da reitora, um homem de aparência serena e traços tailandeses marcantes, fitava Anya com olhos marejados. Por um instante, ele parecia ver outra pessoa em seu lugar, uma lembrança viva que ressurgia do passado.
Anya sentiu o peso daquele olhar e permaneceu imóvel, sem entender o motivo da reação intensa do homem. A reitora, que caminhava um pouco atrás, tocou de leve o ombro do marido, tentando trazê-lo de volta à realidade.
— Querido… — ela murmurou, sua voz carregada de ternura e compreensão.
Ele piscou algumas vezes, respirando fundo para conter as lágrimas que insistiam em escorrer. Após um segundo de hesitação, voltou-se para Anya.
— Me desculpe… Eu… Posso lhe dar um abraço? — sua voz tremia levemente, refletindo a intensidade do momento.
Anya olhou para a reitora, buscando orientação. A mulher apenas assentiu suavemente, dando-lhe permissão silenciosa. Sem hesitar mais, Anya deu um passo à frente, permitindo que ele a envolvesse em um abraço apertado.
Ela sentiu o tremor em seu corpo, a respiração entrecortada por lágrimas silenciosas.
Riyeon assistia a cena, completamente envolvida pela emoção do momento. Ela já sabia da história da filha falecida da reitora e, agora, tudo fazia sentido. Anya, mesmo sem entender no início, demonstrava sua incrível capacidade de empatia, permitindo que aquele homem encontrasse um breve consolo na dor que nunca o abandonara.
O marido da reitora afastou-se devagar, enxugando os olhos.
— Me desculpe… Eu nunca superei a perda dela. Você… me lembra tanto minha filha. — Ele sorriu, um sorriso carregado de tristeza e ternura.
A reitora, que observava a cena, também continha as lágrimas. Ela respirou fundo antes de dizer:
— Anya, será que você poderia passar na minha sala amanhã de manhã? Acho que lhe devo uma explicação.
Anya assentiu de imediato, sem precisar de mais detalhes. Sentia que havia algo maior por trás daquilo, algo que precisava ser dito.
Quando a reitora e seu marido se afastaram, Riyeon olhou para Anya com ainda mais admiração. A garota que amava havia acabado de proporcionar um pequeno momento de paz a um homem devastado pela saudade. Incapaz de conter seus sentimentos, Riyeon segurou a mão de Anya com firmeza e declarou, sem hesitação:
— Eu te amo cada dia mais, Anya. Profundamente.
Anya sorriu, apertando sua mão de volta.
No dia seguinte, como prometido, Anya foi até a sala da reitora. A mulher a recebeu com um olhar gentil, mas carregado de nostalgia.
— Eu sei que tudo isso deve ter parecido estranho para você ontem. Mas há algo que preciso lhe contar. — A reitora respirou fundo antes de continuar. — Eu tinha uma filha… Ela faleceu aos dezesseis anos. E desde a primeira vez que te vi, percebi o quanto vocês se parecem. Não apenas fisicamente, mas também na aura doce e gentil que transmite. Meu marido… ele nunca conseguiu superar a perda dela. Eu mesma, por anos, me vi tentando seguir em frente sem olhar para trás. Mas quando você apareceu, foi como se um pedacinho dela estivesse de volta ao mundo.
Anya ficou em silêncio, absorvendo cada palavra. Seu coração se encheu de empatia pela dor daquela mulher e de seu marido. Finalmente, sorriu suavemente.
— Eu sei que não posso substituir a filha de vocês, mas… Se em algum momento isso ajudar a amenizar a saudade, por favor, venham ao restaurante sempre que quiserem. Será um prazer receber vocês.
A reitora sorriu comovida, uma lágrima solitária escorrendo por sua bochecha.
— Obrigada, Anya. Você não sabe o quanto isso significa para nós.
E, naquele momento, um laço silencioso e especial foi formado entre elas, unindo passado e presente de uma maneira inesperada, mas profundamente significativa.