Ato 13 - Confiança

Evelyn olhava para o desastre diante dela, os olhos semicerrados, a paciência já no limite. O guarda-roupa estava lá, tombado de um jeito que desafiava qualquer lógica.

Ela não fazia ideia de como aquilo tinha acontecido. Não havia sinais de desgaste, nada que indicasse um colapso iminente. Apenas... quebrou.

Ela passou a mão pelo rosto, respirando fundo.

— Ah, que ótimo. Como se meu dia já não tivesse começado uma merda.

Foi então que ouviu passos atrás dela. Quando se virou, encontrou Oliver escorado na porta, os braços cruzados, aquele olhar sempre tranquilo.

— Se quiser, pode usar o meu. — Ele apontou com a cabeça para o próprio quarto. — Eu não tenho tantas roupas assim, tem espaço sobrando.

Evelyn piscou.

— Hã?

— O meu guarda-roupa. Pode colocar suas coisas lá.

Ela estreitou os olhos, desconfiada.

— Você não tem muitas roupas?

Oliver deu de ombros.

— O suficiente. Mas nada que ocupe muito espaço.

Evelyn cruzou os braços, encarando o móvel caído como se aquilo fosse algum tipo de traição pessoal.

— Eu não sei como isso aconteceu… Ele simplesmente desabou.

Oliver olhou para a cena, avaliando.

— Talvez seja um aviso do destino.

— Aviso do destino?

Ele deu um pequeno sorriso.

— Sim. Do tipo: "Você devia dividir o guarda-roupa com seu querido namorado"

Evelyn revirou os olhos.

— Você é muito convencido, sabia?

— E você tá sem lugar pra guardar suas roupas. Então…

Ela bufou, cruzando os braços. Não era como se tivesse muitas opções no momento.

— Certo. Mas só até eu consertar o meu.

— Claro.

Ele disse isso com um tom tão casual que ela suspeitou que ele soubesse que esse "só até consertar" provavelmente duraria mais do que ela imaginava.

Oliver se afastou da porta e começou a caminhar para o próprio quarto.

— Quer ajuda pra levar as roupas?

Evelyn pegou uma almofada e jogou na direção dele, mas Oliver desviou com facilidade.

— Não preciso da sua ajuda, obrigada.

Ele apenas riu e sumiu no corredor.

Evelyn suspirou, olhando para a bagunça à sua frente.

Ótimo. Agora ela teria que dividir o guarda-roupa com ele.

Definitivamente, o dia já tinha começado uma merda.

Com um suspiro longo, Evelyn começou a recolher suas roupas. Ela ainda estava irritada, mas não era como se tivesse outra escolha no momento.

Pegou uma mala qualquer, jogou algumas peças lá dentro de qualquer jeito e foi em direção ao quarto de Oliver.

Quando chegou, encontrou-o sentado na cama, mexendo no celular como se nada de anormal estivesse acontecendo.

O guarda-roupa dele estava aberto, e de fato, havia espaço de sobra.

Ele levantou o olhar para ela.

— Nossa, tão rápido assim? Achei que fosse passar pelo menos meia hora reclamando antes de aceitar.

Evelyn soltou a mala no chão.

— Eu ainda estou reclamando. Só que agora tô reclamando enquanto resolvo o problema.

Oliver sorriu de canto, mas não disse nada. Apenas apontou para o espaço vazio no guarda-roupa.

— Se quiser organizar do seu jeito, fique à vontade.

Ela revirou os olhos, mas foi até lá e começou a ajeitar suas roupas. Parte dela ainda achava aquilo estranho.

Não era só pelo fato de dividir espaço com ele, mas pelo jeito despreocupado com que ele lidava com a situação. Como se não fosse nada demais.

— Você realmente não liga pra isso, né? — ela perguntou, sem olhá-lo.

— Ligar pra quê?

— Sei lá… Ter uma mulher dividindo o guarda-roupa com você.

Oliver riu baixo.

— Evelyn, a gente já divide o apartamento, você já invade meu espaço toda hora. Isso aqui é só formalizar o que já acontece.

Ela bufou.

— Você faz parecer que eu sou uma invasora de território.

— Não foi isso que eu disse.

— Mas foi isso que deu a entender.

Oliver apenas riu de novo.

Evelyn continuou organizando suas roupas, mas de repente parou, percebendo algo.

— Espera… Isso significa que agora eu posso pegar suas roupas emprestadas sem culpa?

Oliver, que estava prestes a beber um gole d'água, travou no meio do movimento.

— …Hã?

Ela sorriu maliciosa.

— Ah, nada não.

Ele estreitou os olhos.

— Evelyn…

— Esqueci de te avisar, mas algumas camisetas suas são bem confortáveis.

Oliver suspirou e voltou a beber sua água.

— Faz o que quiser.

Evelyn apenas sorriu, satisfeita, e voltou a organizar suas coisas.

Talvez o dia não tivesse começado tão ruim assim.

Depois de terminar de organizar suas roupas no guarda-roupa de Oliver, Evelyn deu um passo para trás, analisando o resultado.

Não ficou perfeito, mas pelo menos agora ela tinha um lugar para guardar suas coisas até arranjar outro móvel.

Ela se virou para Oliver, que continuava deitado na cama, relaxado demais para alguém que acabou de ter seu espaço invadido.

— Valeu, viu? — ela murmurou, cruzando os braços.

— De nada — ele respondeu sem tirar os olhos do celular. — Mas agora eu tô curioso… Você vai mesmo começar a usar minhas roupas?

Evelyn deu de ombros.

— Não sei. Quem sabe um dia eu não apareça por aí com uma de suas camisetas?

Oliver arqueou uma sobrancelha, mas não comentou nada.

Foi nesse momento que o celular de Evelyn vibrou. Pegando o aparelho, ela viu uma mensagem do grupo de amigos:

Crystal: Bora sair hoje

Antes que pudesse responder, outra mensagem apareceu.

Thomas: Se não forem, já aviso que vou infernizar vocês até irem.

Evelyn revirou os olhos.

— Quer sair hoje? — perguntou para Oliver.

Ele soltou um suspiro pesado.

— Depende… Vai ser um programa tranquilo ou vou ter que segurar alguém bêbado de novo?

— Nunca se sabe — Evelyn respondeu, divertida.

Oliver passou a mão pelo rosto e ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, bufou.

— Tá. Mas se eu ver alguém vomitando perto de mim, eu vou embora.

Evelyn sorriu.

— Combinado.

Ela pegou o celular e respondeu ao grupo, confirmando que eles iriam.

O dia pode até ter começado uma merda, mas talvez tivesse salvação.

Algumas horas se passaram, e Evelyn estava quase pronta. Como seu guarda-roupa tinha virado um amontoado de madeira quebrada, ela acabou pegando uma das roupas de Oliver, uma blusa de gola alta preta que ficava um pouco larga nela, mas era confortável.

Ela se olhou no espelho por um instante, ajeitando o tecido nos braços.

A peça tinha um leve cheiro dele, o que a fez hesitar por um momento antes de balançar a cabeça e sair do quarto.

No sofá, Oliver estava sentado com as pernas esticadas, mexendo no celular.

Quando ouviu os passos dela, levantou o olhar por um instante… e parou.

— O que foi? — Evelyn perguntou, franzindo a testa.

Ele piscou algumas vezes, então deu de ombros.

— Nada. Só não sabia que você ficava bem com gola alta.

Ela cruzou os braços.

— Tá insinuando que eu não fico bem com outras roupas?

Oliver sorriu de leve.

— Eu falei isso?

Evelyn revirou os olhos, mas escondeu um pequeno sorriso antes de pegar a bolsa.

— Vamos logo antes que Thomas comece a encher o saco.

Oliver suspirou e se levantou.

— É, melhor ir antes que ele decida invadir o apartamento.

Os dois saíram juntos, prontos para encontrar o resto do grupo. Enquanto caminhavam, Evelyn percebeu que Oliver ainda olhava para a blusa de vez em quando, mas não comentou nada.

Ela também não.

Mas, por algum motivo, a ideia de estar usando uma roupa dele a deixava um pouco mais confortável naquela noite.

A caminhada seguiu tranquila até o restaurante, com Evelyn mexendo no celular enquanto Oliver andava ao lado, mãos nos bolsos.

O vento frio da noite passava por eles, mas ela estava confortável na blusa de gola alta preta que pegara emprestada dele. O tecido era quente, e, por mais que não admitisse, o cheiro dele ainda estava ali, o que a fazia esfregar os dedos na manga de tempos em tempos, distraída.

Quando chegaram, Thomas já os esperava do lado de fora, braços cruzados e olhar impaciente.

— Finalmente! Vocês vivem demorando, por acaso?

— A gente anda no nosso tempo — Oliver retrucou, sem se incomodar.

Mas Thomas logo estreitou os olhos e apontou diretamente para Evelyn.

— E por que você tá vestindo uma blusa do Oliver?

Evelyn parou no lugar, sentindo o rosto esquentar. Ela não tinha pensado nisso. Nem sequer tinha considerado que alguém notaria tão rápido.

Sua mente ficou em branco por alguns segundos.

Thomas percebeu o silêncio dela e franziu a testa, mas antes que pudesse falar mais alguma coisa, Oliver respondeu por ela, casualmente:

— O guarda-roupa dela quebrou. Ela tá usando umas roupas minhas por enquanto.

Thomas analisou os dois, como se estivesse ligando pontos invisíveis, mas no fim apenas suspirou e virou-se para a porta do restaurante.

— Tá, tanto faz. Vamos entrar logo antes que o Richard coma tudo.

Evelyn soltou um suspiro discreto, sentindo o próprio coração desacelerar. Ela lançou um olhar de canto para Oliver, que apenas abriu um pequeno sorriso, como se já esperasse por aquilo.

Eles entraram e se juntaram ao resto do grupo. O jantar seguiu com conversas animadas, piadas e, claro, algumas provocações de Thomas, que Evelyn fez questão de ignorar.

Mas, no fundo, algo incomodava.

Ela puxou a manga da blusa um pouco mais para cobrir as mãos, sentindo o cheiro dele ali, ainda presente.

E, por algum motivo, não queria devolvê-la tão cedo.

A noite seguiu tranquila, com a mesa cheia de pratos, risadas ocasionais e o som abafado do restaurante ao fundo. Evelyn participava das conversas, mas sua atenção estava dividida.

De vez em quando, seu olhar escapava para Oliver, que comia tranquilamente, alheio ao fato de que ela ainda sentia o cheiro dele na gola da blusa.

Thomas não voltou a tocar no assunto, mas Evelyn percebeu que, vez ou outra, ele lançava olhares rápidos para ela, como se ainda estivesse juntando as peças.

Ela fingiu que não percebeu.

Quando finalmente terminaram de comer, Richard foi o primeiro a se espreguiçar e se levantar.

— Eu pagaria essa conta, mas, infelizmente, não sou milionário. Então, Oliver, faça as honras.

— Eu também não sou — Oliver retrucou, seco.

— É sim. Escritores ricos são coisa rara, mas você é um deles.

Oliver revirou os olhos e pegou a carteira.

— Vocês deviam começar a me reembolsar um dia.

— O que é um pouco de dinheiro pra você? — Thomas provocou, sorrindo.

Evelyn observou Oliver pagar a conta sem muito protesto. Ele era assim, sempre levando as provocações na brincadeira, mas no fundo, ela sabia que ele não ligava de pagar.

Quando saíram do restaurante, o vento frio os atingiu de novo. Evelyn puxou a gola da blusa inconscientemente, sentindo o tecido quente contra a pele.

— Então — Richard esticou os braços. — Vamos fazer algo ou cada um vai pro seu canto?

— Eu vou pra casa — Oliver respondeu sem hesitar.

— Fraco.

— Cansado.

Evelyn olhou para Oliver de canto, percebendo que ele realmente parecia mais relaxado do que de costume, mas ainda assim um pouco exausto.

— Eu também vou — ela disse.

Thomas levantou uma sobrancelha, surpreso.

— Você? Recusando uma saída? Tá doente?

— Só tô cansada — ela retrucou.

Thomas olhou de Evelyn para Oliver, depois para a blusa que ela vestia, e sorriu de um jeito que a fez querer socá-lo.

— Sei.

— Cala a boca.

Oliver apenas riu de leve, dando de ombros.

Eles se despediram dos outros e seguiram juntos para casa, o caminho silencioso, mas confortável.

Quando finalmente chegaram ao apartamento, Evelyn foi direto para o quarto, mas, antes de entrar, hesitou.

Ela olhou para a blusa que usava e depois para o quarto de Oliver.

Mordeu o lábio, ponderando.

No fim, decidiu que não precisava devolver tão rápido.

Ela podia ficar com ela mais um pouco.

Afinal, seu guarda-roupa ainda estava quebrado.

Ou pelo menos era essa a desculpa que daria.

Na manhã seguinte, Evelyn acordou mais tarde do que o normal.

O quarto ainda estava escuro, com as cortinas fechadas, e por um momento, ela só ficou ali, encarando o teto.

A blusa de Oliver ainda estava nela.

Ela não sabia explicar por que não quis tirá-la. Talvez fosse pelo conforto, talvez pelo cheiro sutil que ainda permanecia no tecido.

Ou talvez… ela só estivesse gostando da ideia de ter algo dele com ela.

Suspirando, se espreguiçou e finalmente se levantou. Ao sair do quarto, encontrou Oliver já acordado, sentado no sofá com uma xícara de café na mão, o celular na outra.

Ele a olhou de canto por um segundo antes de voltar a mexer no celular.

— Dormiu bem? — perguntou, casualmente.

— Uhum.

Ela se jogou no sofá ao lado dele, puxando uma almofada para o colo.

— Tá fazendo o quê?

— Conferindo uns e-mails. — Ele tomou um gole do café, sem desviar o olhar da tela. — Parece que querem que eu participe de um evento.

— Evento?

— Sim. Entrevista com escritores. Parece que querem me ver em público.

Evelyn ergueu uma sobrancelha.

— E vai aceitar?

— Não decidi ainda.

Ela inclinou a cabeça, observando o perfil dele. Oliver era do tipo que gostava de ficar no próprio canto, longe dos holofotes.

O fato de sequer considerar o evento já era algo grande.

— Bem, pode ser uma boa. Te faria bem sair um pouco.

Ele deu um sorriso torto.

— Eu saio.

— Comigo, o que não conta.

— Conta sim.

Ela revirou os olhos, mas sorriu.

Ficaram em silêncio por um tempo, apenas aproveitando a companhia um do outro.

O apartamento estava tranquilo, sem qualquer barulho além do som distante da cidade lá fora.

Até que Oliver quebrou o silêncio:

— Ainda tá usando minha blusa.

Evelyn congelou.

Ela podia fingir que não ouviu. Podia simplesmente mudar de assunto.

Mas, ao olhar para o rosto dele, percebeu que ele já sabia a resposta.

Mordeu o lábio, desviando o olhar.

— Meu guarda-roupa ainda tá quebrado.

— Aham.

O tom cético dele a fez semicerrar os olhos.

— O que foi?

— Nada. Só acho engraçado.

— Engraçado o quê?

Ele sorriu, tomando outro gole do café.

— Nada, nada.

Evelyn bufou, cruzando os braços.

— Você é irritante.

— Você já disse isso antes.

— E vou continuar dizendo.

Ele riu.

Evelyn suspirou, mas, no fundo, estava sorrindo também.

A noite havia chegado, e Evelyn continuava jogada no sofá, mexendo no celular, enquanto Oliver terminava de lavar a louça.

O barulho da água enchendo a pia preenchia o ambiente, mas sua mente estava em outro lugar.

Ela ainda estava usando aquela blusa de gola alta preta.

Não era como se não tivesse outras roupas. Podia simplesmente pegar alguma coisa do armário improvisado que fez com uma cadeira, mas... não queria.

De repente, a voz de Oliver a tirou de seus pensamentos.

— Quer que eu arrume o guarda-roupa amanhã?

Ela piscou, demorando um segundo para processar.

— Hã?

Ele olhou por cima do ombro, enxugando uma faca.

— O guarda-roupa. Eu arrumo amanhã, se quiser.

Evelyn abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse filtrar, as palavras saíram sozinhas:

— Não precisa.

Oliver arqueou uma sobrancelha.

— Não precisa?

Ela fechou a boca e desviou o olhar, percebendo tarde demais o que havia dito. Mas não dava para voltar atrás agora.

— É. Tá de boa assim.

Oliver largou o pano sobre a pia e se escorou no balcão, cruzando os braços.

— Então quer dizer que vai continuar usando minhas roupas?

O calor subiu instantaneamente pelo rosto de Evelyn.

— Eu não disse isso.

— Mas também não negou.

Ela apertou os lábios.

Oliver não parecia estar provocando de propósito. Pelo contrário, ele falava de um jeito casual, como se realmente não se importasse.

Mas, para ela, aquilo significava algo.

— Você fala cada coisa… — murmurou, voltando a olhar para o celular, mas sem realmente enxergar a tela.

Oliver riu baixinho.

— Só estou sendo sincero.

Evelyn apertou o celular com mais força.

Por que ele sempre fazia isso com ela?

O silêncio se estendeu entre os dois. Evelyn fingia estar concentrada no celular, mas não estava lendo absolutamente nada.

Sua mente estava ocupada demais tentando entender o próprio comportamento.

Ela realmente tinha dito aquilo?

Oliver pegou uma garrafa de água na geladeira, deu um gole e se aproximou do sofá, sentando-se ao lado dela com a mesma naturalidade de sempre.

— Então, quer me explicar por que não quer que eu arrume o guarda-roupa?

Ela sentiu o olhar dele sobre si, mas não levantou os olhos.

— Eu já falei, tá de boa assim.

— Isso não é resposta.

Evelyn travou.

Ele sabia. Ele sempre sabia.

Oliver a encarava de canto, como se já tivesse juntado todas as peças do quebra-cabeça.

Evelyn mordeu o lábio inferior. Não sabia como explicar. Nem sabia se queria explicar.

— Você é irritante — foi a única coisa que conseguiu dizer.

Oliver riu, encostando-se no encosto do sofá.

— Você já disse isso antes.

— E vou continuar dizendo.

— Isso significa que pretende continuar usando minhas roupas?

Evelyn finalmente ergueu os olhos para encará-lo, pronta para responder, mas, quando viu o sorriso malicioso no canto dos lábios dele, percebeu tarde demais que caiu na armadilha.

Ele fez de propósito.

— Você…!

— Eu o quê?

Ela bufou e jogou uma almofada nele, que Oliver pegou no ar com facilidade.

— Para de falar essas coisas!

— Você que tá interpretando de um jeito errado.

— Tá nada, você sabe muito bem o que tá fazendo!

Ele sorriu, desviando o olhar como se não soubesse de nada.

Evelyn cruzou os braços, tentando ignorar o calor no rosto.

Talvez… só talvez… não arrumar o guarda-roupa não fosse a pior coisa do mundo.

O silêncio se instalou por um momento. Evelyn cruzou as pernas, olhando para o outro lado, enquanto Oliver apenas continuava ali, relaxado, com aquele maldito sorriso de canto.

Ele sabia que tinha ganhado essa.

Mas não durou muito.

O celular dela vibrou, quebrando o momento. Evelyn pegou o aparelho e viu uma mensagem de Thomas.

Thomas: "Ei, estamos saindo pra comer, vocês vêm?"

Ela suspirou, olhando para Oliver.

— Thomas chamou a gente pra comer.

— A gente? — Oliver ergueu uma sobrancelha.

— Sim, porque eu não vou sozinha.

Ele sorriu de leve.

— Você que manda.

Evelyn se levantou primeiro, indo até o espelho para ajeitar o cabelo. Foi então que percebeu algo.

A blusa de gola alta preta.

A roupa dele.

Ela piscou algumas vezes, sentindo o rosto esquentar. Será que Thomas ia perceber?

— Algo errado? — Oliver perguntou, já pegando a carteira.

Evelyn balançou a cabeça rapidamente.

— N-Nada não. Vamos logo antes que eles fiquem enchendo o saco.

Oliver não questionou, mas o brilho no olhar dele mostrava que ele já tinha entendido.

Ele sempre entendia.

Os dois saíram juntos, e Evelyn tentava manter a expressão neutra, mas, por dentro, estava torcendo para que ninguém fizesse perguntas sobre a roupa.

Ela só queria uma vez na vida ter paz.

Mas, claro, era pedir demais.

Oliver girou o pulso, sentindo a moto vibrar suavemente sob seus dedos. A atualização tinha deixado o veículo ainda mais responsivo, e ele queria testar isso direito.

— Você não vai no automático? — Evelyn perguntou, subindo na garupa e segurando firme na jaqueta dele.

— Não hoje. Quero sentir o motor.

Ele girou a chave—ou melhor, deu o comando de voz, e o painel holográfico piscou à sua frente. A moto rugiu e disparou pela rua.

Evelyn segurou ainda mais forte, seu rosto quase colado nas costas dele. O vento batia contra sua pele, e por um momento ela fechou os olhos, apenas sentindo a velocidade e o calor que vinha de Oliver.

O trânsito não estava tão ruim, e Oliver fez algumas curvas suaves, demonstrando que dominava a máquina sem esforço. Ele não parecia sequer pensar nos movimentos, como se já tivesse o controle total desde o primeiro segundo.

— Você se diverte demais com isso, né? — Evelyn comentou, ainda apoiada nele.

— Se eu tivesse outra vida, acho que seria piloto.

— Você já dirige como um.

Ele sorriu de leve, acelerando um pouco mais só para provocá-la. Evelyn bufou, mas não disse nada. No fundo, ela gostava daquela sensação—da liberdade que vinha com estar ali, apenas os dois, sem ninguém para interromper.

O restaurante não estava longe, então, em poucos minutos, Oliver desacelerou e parou em frente ao local.

Evelyn desceu primeiro, ajeitando o cabelo bagunçado pelo vento. Oliver fez o mesmo, tirando o capacete e passando a mão pelos fios.

Thomas já estava lá, esperando na entrada com os braços cruzados. Ele lançou um olhar para os dois antes de abrir um pequeno sorriso.

— Finalmente chegaram. Pensei que tinham se perdido no caminho.

— O piloto aqui quis testar a moto atualizada. — Evelyn disse, cruzando os braços.

— Ah, então era isso. — Thomas olhou para Oliver. — Dirigiu direitinho ou quase deixou a Evelyn cair?

— Ela tá viva, não tá?

Thomas riu.

— Justo.

Os três entraram no restaurante, prontos para a próxima rodada de provocações.

Eles entraram no restaurante, sendo recebidos pelo aroma de comida recém-feita e pelo burburinho das conversas ao redor. Escolheram uma mesa perto da janela, onde podiam observar o movimento da cidade.

Evelyn pegou o cardápio e começou a analisá-lo com seriedade, enquanto Thomas apenas se recostou na cadeira, já decidido sobre o que pedir. Oliver, por sua vez, estava mais interessado na conversa do que na comida.

— Então, qual foi o problema do guarda-roupa? — Thomas perguntou, casualmente.

Evelyn quase engasgou com a água que estava bebendo.

— Q-quê?

— Você falou que ele quebrou. Como aconteceu?

Ela hesitou. A verdade era que não fazia ideia. Simplesmente aconteceu. Mas agora, sob o olhar atento de Thomas e o olhar divertido de Oliver, ela se sentia estranhamente culpada.

— Eu... não sei. Simplesmente quebrou.

— Hm. — Thomas estreitou os olhos. — E aí você resolveu usar o guarda-roupa do Oliver?

Evelyn sentiu o rosto esquentar.

— E-ele que ofereceu!

— Aham. — Thomas apoiou o queixo na mão, fingindo estar pensativo. — E é por isso que você tá usando a roupa dele agora, novamente?

Evelyn congelou.

Puta merda.

Ela tinha se esquecido disso.

Seu cérebro trabalhou a mil, tentando bolar uma desculpa, mas nada parecia convincente.

Oliver, por outro lado, estava se divertindo horrores.

— Bom, eu tenho roupas confortáveis. Nada mais justo que ela aproveite.

— Claro. — Thomas sorriu. — E você, Oliver, tá confortável com isso?

— Por que eu não estaria? Ela não é minha namorada?

Thomas o encarou por alguns segundos antes de dar de ombros.

— Nada não. Só estou percebendo umas coisas.

Evelyn sabia exatamente o que ele estava insinuando e queria enterrar a cara no prato.

Oliver, no entanto, só pegou o cardápio e continuou como se nada tivesse acontecido.

— Então, vocês já decidiram o que vão comer? Vou pedir o de sempre.

A comida havia chegado, mas...

O restaurante mergulhou em tensão no instante em que o ladrão sacou a arma e apontou para o caixa.

Funcionários congelaram no lugar, clientes tentaram se encolher em silêncio, e Thomas apenas observou a cena, ponderando se deveria agir.

Mas antes que ele pudesse tomar uma decisão, Evelyn agarrou o braço de Oliver, seu aperto firme o suficiente para indicar uma mensagem silenciosa: Não se mete nisso.

Oliver soltou um longo suspiro.

Com uma calma quase irritante, ele colocou seu salgado sobre a mesa, limpou os dedos no guardanapo e, sem qualquer hesitação, se levantou.

Foi rápido.

Tão rápido que Evelyn mal conseguiu processar o que aconteceu.

Num piscar de olhos, Oliver disparou em direção ao ladrão, seus movimentos tão velozes que pareciam irreais.

O bandido nem teve tempo de erguer a arma novamente antes que Oliver o agarrasse pelo pescoço e o erguesse no ar como se fosse um boneco de pano.

O silêncio no restaurante foi absoluto.

Thomas arregalou os olhos, sua boca se abrindo um pouco em choque.

Evelyn, por sua vez, ficou completamente estática. Seu cérebro tentava encontrar uma explicação lógica para o que havia acabado de acontecer, mas tudo que conseguiu foi um pensamento: Ele é rápido demais.

O ladrão tentou resistir, suas mãos se movendo para tentar se livrar do aperto de Oliver, mas seus braços logo ficaram fracos. Sua arma caiu no chão com um ruído seco.

— Ah... ah... — O bandido tentou falar, mas o aperto de Oliver não lhe dava essa opção.

Oliver o encarou com frieza.

— Sabe, eu só queria comer em paz.

Os funcionários estavam paralisados. Os clientes murmuravam entre si, alguns ainda em choque, outros pegando os celulares para gravar.

Thomas finalmente piscou,

O restaurante ainda estava em silêncio, a tensão pendurada no ar como uma tempestade prestes a desabar.

O ladrão permanecia encolhido no chão, respirando com dificuldade, sem ousar sequer se mover.

Evelyn, ainda processando tudo, abaixou a mão do rosto e voltou seu olhar para Oliver.

Ele continuava comendo como se nada tivesse acontecido.

Thomas ainda parecia incrédulo, seus olhos indo do assaltante no chão para Oliver, depois para Evelyn, depois de volta para Oliver.

— Você tá me dizendo que... isso é normal pra você? — Thomas perguntou, gesticulando para a cena inteira.

Oliver deu de ombros.

— Não é como se fosse difícil.

Thomas riu de novo, mas dessa vez parecia um pouco nervoso.

— "Não é como se fosse difícil"? Você basicamente teleportou até o cara! Ele nem teve tempo de reagir!

Oliver apenas mastigou mais um pedaço do salgado, impassível.

Evelyn apertou os olhos, ainda absorvendo tudo. Por que ele é assim?

O barulho de sirenes cortou o ar do lado de fora, e logo a polícia entrou no restaurante.

O atendente apontou rapidamente para o ladrão caído no chão.

— Foi ele! Tentou assaltar o caixa! Mas esse cara aqui — Ele gesticulou para Oliver, a voz ainda meio trêmula. — Salvou todo mundo!

Os policiais olharam para Oliver. Ele retribuiu o olhar, ainda mastigando.

— Eu posso ir agora? — perguntou sem cerimônia.

Os oficiais trocaram olhares confusos, antes de simplesmente algemar o ladrão e começarem a escoltá-lo para fora.

— Só precisa deixar um depoimento mais tarde. — Um deles disse.

— Claro. — Oliver respondeu, mas não parecia muito interessado.

Quando os policiais saíram, o restaurante começou a voltar à vida. Ouvia-se cochichos, algumas pessoas olhavam para Oliver de maneira diferente agora.

Evelyn finalmente encontrou sua voz.

— Você pode me explicar o que foi isso?

Oliver piscou para ela, limpando os dedos com um guardanapo.

— Eu tava com fome, aí resolvi acabar com a interrupção.

Ela estreitou os olhos.

— Oliver...

— Evelyn.

— Isso não é normal!

— Eu nunca disse que era.

Ela respirou fundo, se controlando. Não adiantava pressioná-lo agora. Ela já sabia que Oliver guardava muitos segredos, e esse episódio só reforçava essa ideia.

Thomas, por outro lado, ainda estava se recuperando.

— Cara, eu juro... Você tem que me contar como fez isso um dia.

Oliver apenas sorriu, pegou seu salgado novamente e voltou a comer, como se nada tivesse acontecido.

Evelyn suspirou, cruzando os braços.

Ela sabia que não conseguiria arrancar respostas dele agora. Mas isso não significava que desistiria.