Ato 28 - Um Dia Normal, ou Quase

No dia seguinte, Ayla e Evelyn acordaram como se nada tivesse acontecido.

Acordaram sem qualquer memória de Oliver, continuaram a manhã como sempre, sem nada de estranho ou diferente.

O som normal do apartamento, o cheiro do café, nada parecia fora do lugar.

Quando o relógio bateu meio-dia, Cynthia apareceu sem avisar, batendo na porta com um sorriso animado.

— E aí, vamos sair pra comer? — Perguntou, já ansiosa.

Gerarld estava no apartamento e notou o silêncio incomum, a ausência do som característico do teclado de Oliver.

Ele achou que Oliver tinha saído, mas não disse nada. Então, todos foram para o restaurante.

Sentaram-se e pediram suas refeições. Conversaram sobre as coisas de sempre, até que Gerarld, com um olhar curioso, perguntou:

— Onde o Oliver foi, aliás?

Evelyn franziu a testa.

— Oliver? Quem é Oliver?

Ayla, com o mesmo olhar confuso, completou:

— Nunca conheci nenhum Oliver.

Cynthia deu uma risada nervosa, achando que era brincadeira.

— Para com isso, não faz graça. — Disse, rindo.

Gerarld, achando a situação estranha, pegou o celular e começou a vasculhar suas fotos, procurando qualquer imagem de Oliver.

Mas algo não fazia sentido.

Ele não encontrou nenhuma foto.

Ficou em silêncio, mostrando para Cynthia, que não entendia nada.

— O que... Não tem nenhuma foto dele.— Disse Gerarld, com uma expressão desconcertante.

Cynthia ficou ainda mais confusa.

— Vocês estão falando sério?

Evelyn e Ayla estavam sem reação, começando a acreditar que estavam sendo enganadas.

O silêncio na mesa foi quebrado quando Cynthia olhou fixamente para as duas, a risada nervosa saindo de sua boca sem conseguir esconder o desconforto.

— Vocês estão brincando, né? — Disse, tentando soar como se aquilo fosse apenas uma piada sem graça.

Mas a expressão nas caras de Evelyn e Ayla não tinha nada de brincadeira. Elas estavam incrivelmente sérias, e isso deixava tudo ainda mais perturbador.

Gerarld, quieto até aquele momento, observava tudo com um olhar de confusão crescente.

Ele tentava entender o que estava acontecendo, mas não conseguia encaixar as peças.

— Eu não... Eu não lembro de um Oliver. — Evelyn finalmente disse, a voz trêmula. — Quem é ele?

Ayla, de braços cruzados e com o olhar distante, apenas negou com a cabeça.

— Nunca conheci nenhum Oliver. — Ela disse, e o frio na sua voz era palpável.

Era como se as duas não tivessem a menor ideia de quem ele era, como se aquele nome fosse apenas um eco distante.

Cynthia, ainda sem saber como reagir, pegou seu celular e começou a procurar por Oliver.

Ela sabia quem ele era, claro, mas algo estava muito errado. Procurou por fotos, por qualquer evidência da existência dele, mas não havia nada.

Nada sobre seus desenhos, livros ou até mesmo sobre seu trabalho como bombeiro.

E o pior, ao buscar no banco de dados de emergência, ela encontrou apenas um arquivo sobre o "Coruja Negra", mas sem nenhum dado sobre Oliver. A ficha estava em branco.

Cynthia soltou um suspiro frustrado e olhou de novo para as duas, tentando entender se aquilo era alguma piada de mau gosto.

— Eu... Eu não tô entendendo. Onde está o Oliver? — Cynthia perguntou, a preocupação evidente em sua voz.

Gerarld, que até então estava quieto, se aproximou da mesa e tentou puxar a conversa de volta à lógica.

— Ele estava aqui... ontem. — Ele disse com a voz cheia de incerteza. — Eu vi ele! Ele estava aqui, no apartamento.

Evelyn olhou para ele, ainda confusa.

— Eu não sei o que você está dizendo. — Ela balançou a cabeça. — Não lembro de ninguém chamado Oliver.

Ayla repetiu o mesmo.

— Nunca ouvi falar dele. — Disse, com um tom que misturava incompreensão e inquietação.

O desconforto na mesa só aumentava, mas ninguém sabia o que estava acontecendo.

O que diabos havia acontecido com Oliver? Onde ele estava?

Cynthia não conseguia processar aquilo.

Ela olhou mais uma vez para o celular, como se aquilo fosse algum erro técnico, mas não havia mais explicação.

O nome de Oliver Nash simplesmente não existia mais. Nada relacionado a ele aparecia nas buscas.

Ela olhou para Gerarld, que estava cada vez mais tenso, e então olhou para Evelyn e Ayla, que ainda estavam incrivelmente calmas, mas com um olhar distante.

Era como se nenhuma das duas tivesse a menor lembrança de Oliver.

— Isso não faz sentido. — Disse Cynthia, visivelmente nervosa. Ela apertou o celular nas mãos, tentando se acalmar. — Como é possível não lembrarem de Oliver? Ele... ele é importante para vocês.

Gerarld finalmente falou, sua voz grave quebrando o silêncio.

— Eu... Eu vi ele aqui ontem. — Ele parecia incerto, olhando para as meninas, tentando encontrar alguma pista no olhar delas, mas só via mais confusão. — Ele estava no apartamento. Tava sentado naquele sofá. Não pode ser... não pode ser que ele simplesmente... desapareceu.

Evelyn olhou para Gerarld com os olhos fracos de quem tentava entender o que ele dizia, mas sua mente estava em outro lugar, como se ela estivesse tentando acessar algo muito distante e falhando.

— Eu não sei... não sei mesmo quem é esse Oliver. — Ela disse, a voz se arrastando. — Você está falando de um amigo?

Ayla, que até então estava quieta, olhou para Cynthia e Gerarld, seus olhos revelando um vazio.

Ela não parecia nem um pouco irritada ou preocupada, como se estivesse aceitando o absurdo que acontecia.

Ela deu um passo para frente e falou com um tom sério, sem mais brincadeiras.

— Oliver quem? — A voz dela não tremia, mas a frieza na frase deixava claro que nada fazia sentido para ela. — Não tem nenhum Oliver na minha vida. Nunca teve.

— Isso... isso não está certo. — Cynthia murmurou para si mesma. — Não pode ser que não exista um Oliver... Que diabos está acontecendo?

Gerarld apertou os punhos sobre a mesa.

O desconforto estava transbordando, e agora ele sentia como se estivesse preso em um pesadelo.

Ele se levantou de repente, os olhos fixos na mesa enquanto as palavras saíam de sua boca, como se ele não pudesse mais se segurar.

— Ele era... era o namorado de Evelyn. Ele cuidava de Ayla, era... era importante para ambas. Como podem não se lembrar dele? Ele era o líder do esquadrão especial, ele...

Evelyn finalmente olhou para Gerarld, com os olhos vagos, como se aquilo fosse uma informação nova e repentina.

Não havia reconhecimento. Apenas mais confusão.

Ela balançou a cabeça lentamente, tentando entender o que estava acontecendo, mas não conseguiu.

— Eu não lembro dele. — Ela disse com suavidade, como se aquilo fosse uma revelação pessoal.

Ayla levantou a mão, interrompendo o silêncio crescente.

Seus olhos estavam fixos em algum ponto no nada, como se estivesse tentando acessar uma memória bloqueada.

— Será que... será que a gente... — Ela parou, como se uma ideia passasse por sua mente e ela a rejeitasse imediatamente. — Será que ele nunca existiu?

Gerarld olhou para ela, os olhos arregalados. Nunca existiu?

— Não, não pode ser isso. Ele estava aqui, ele estava vivo, eu vi! — Ele parecia prestes a explodir. — E vocês duas não sabem quem ele é?

Cynthia observava tudo com um olhar desconcertado.

A ideia de que alguém como Oliver simplesmente não existia mais parecia algo impossível.

Mas as evidências estavam lá, e as respostas não vinham.

Ela olhou mais uma vez para as meninas, esperando alguma reação que trouxesse sentido, mas tudo o que ela recebeu foi um silêncio estranho.

O ambiente no restaurante ficou pesado.

A comida, que antes parecia saborosa, agora parecia sem gosto.

O mundo ao redor parecia ter parado por um momento, e ninguém sabia o que fazer a seguir.

O silêncio ficou insuportável. Cada respiração parecia ecoar, cada olhar trocado era carregado de uma dúvida crescente.

Cynthia sentiu um nó na garganta. A incredulidade tomava conta dela, e ela não conseguia deixar de procurar por uma explicação lógica, mas nada fazia sentido.

O olhar vazio de Ayla e Evelyn parecia um reflexo de um sonho que não tinha fim, e, por mais que ela tentasse, não conseguia encontrar o Oliver, não importava o quanto buscasse.

Gerarld, ainda de pé, passou as mãos pelo cabelo, claramente frustrado.

— Eu... Eu preciso de respostas. — Ele finalmente disse, a voz quase falhando. — Vocês não sabem quem ele é, mas eu sei que vi, eu sei que ele estava aqui! Como é possível que ele tenha sumido? Como?

Evelyn mexeu os dedos sobre a mesa, como se fosse uma distração para o que estava acontecendo, mas suas mãos estavam tremendo.

— Eu realmente não entendo, Gerarld. — Ela falou, sua voz cada vez mais fraca. — Quem é esse cara? De onde ele veio?

Ayla olhou para ela, uma expressão de confusão misturada com algo mais profundo, como se ela estivesse tentando puxar uma memória à força, mas ela também falhava.

— Talvez seja melhor a gente ir para casa. — Ayla disse de forma inesperadamente calma, mas suas palavras estavam desconectadas da realidade. — Eu não sei quem ele é, mas... não acho que faz diferença agora.

Cynthia não conseguiu conter a indignação que crescia dentro dela. Não fazia sentido, nenhum deles parecia ter lembranças da mesma pessoa, mas... ele tinha sido real, ele havia sido parte da vida delas, ela sabia disso.

Ela teve um impulso de pegar o celular e fazer uma última busca, algo, qualquer coisa que provasse que Oliver ainda existia.

Mas antes que ela pudesse fazer isso, uma sensação estranha a invadiu.

Uma pressão no peito, como se alguém estivesse observando de perto, uma sensação de não estar sozinha.

Ela olhou para o corredor do restaurante, as portas estavam abertas, e o som da rua se misturava com a atmosfera densa de dentro. Mas não havia ninguém ali.

O que está acontecendo? — Ela pensou, mas nem a resposta mais lógica conseguia aliviar a inquietação crescente.

Gerarld se sentou novamente, os ombros pesados, como se estivesse desistindo de entender tudo isso. Ele apertou os olhos, tentando se lembrar de algo, qualquer coisa, mas tudo parecia embaçado.

Como se uma camada de neblina tivesse apagado tudo o que ele sabia.

— A gente não pode simplesmente ignorar isso. — Ele murmurou. — Eu vou encontrar uma explicação.

Mas os olhares de Evelyn e Ayla indicavam o oposto. Elas estavam distantes, perdidas em um lugar que ele não conseguia alcançar.

Não estavam mais em sintonia com a realidade. Para elas, Oliver nunca existira. E isso parecia um veneno na mente dele.

O tempo parecia dobrar e se esticar ao mesmo tempo. As horas no relógio não faziam sentido, as palavras na mesa estavam desconexas, como se estivessem se distorcendo à medida que eram ditas.

O som do garçom passando com os pratos parecia abafado, como se o restaurante estivesse em outra dimensão, longe do que eles conheciam.

Cynthia finalmente olhou para Ayla e Evelyn, suas expressões ainda imutáveis, e sentiu um arrepio percorrendo sua espinha.

— Por que vocês não se lembram dele? O que aconteceu? — A dúvida agora era um grito interno.

Ayla apenas olhou para ela, seus olhos sem emoção, e, por um instante, Cynthia jurou ver um vislumbre de algo mais nas profundezas deles. Algo sombrio. Algo que não queria ser encontrado.

— Eu... eu não sei. — Ayla respondeu, a voz calma, mas com uma estranha firmeza. — Eu nunca soube. Não há nada para lembrar.

Evelyn olhou para o fundo de seu copo, mexendo o líquido, sem olhar diretamente para ninguém.

— Eu sinto... que estou esquecendo de algo muito grande. Algo que deveria ser importante. — Ela disse, sem saber exatamente a quem estava falando, sua voz trêmula, como se estivesse falando consigo mesma.

A tensão aumentava a cada palavra, mas o mais perturbador de tudo era que, mesmo com toda a confusão, o vazio parecia estar se expandindo, tomando conta de tudo ao redor deles. Não havia mais Oliver.

Não havia mais explicações.

Cynthia olhou uma última vez para a mesa e para as meninas, sentindo que algo estava prestes a mudar.

Algo que eles não estavam prontos para entender.

Ela apertou o celular mais uma vez, como se isso fosse alguma chave para um segredo maior, mas, no fundo, ela sabia: esse segredo era maior do que ela jamais poderia imaginar.

Cynthia estava imersa no caos de seus próprios pensamentos, tentando processar tudo o que acontecia.

O silêncio no restaurante parecia insuportável, como se o mundo ao redor tivesse parado, e tudo o que restava era a sensação de um mistério crescente.

Foi então que algo a fez levantar os olhos, distraída. Uma figura passou por eles, de maneira rápida, mas suficiente para chamar a atenção.

O homem, com seus cabelos brancos de olhos rosa carmesim intensos, vestia um sobretudo escuro que parecia ter sido feito sob medida para ele.

O corte era impecável, quase sobrenatural, e o tecido parecia ter um brilho peculiar, como se não fosse do mundo deles.

Cynthia sentiu um arrepio tomar conta de seu corpo.

Ela não precisava olhar mais de perto para saber quem era.

Ela conhecia aquele sobretudo.

— Não pode ser... — murmura, seus olhos fixos na figura que se afastava.

O tempo pareceu desacelerar à medida que ela observava o homem se afastar, andando com uma postura impecável, como se fosse um predador em um território familiar.

Cynthia não sabia como, mas sabia que aquele homem era alguém importante.

Seu coração bateu mais forte, e ela instintivamente olhou para Gerarld, esperando alguma reação dele.

Mas ele parecia não notar nada, e nem Ayla ou Evelyn pareciam ter visto a figura, como se o homem fosse invisível para eles. Eles estavam completamente alheios.

Cynthia deu um passo à frente, o impulso crescendo dentro dela.

— Espere! — Ela gritou, a voz ecoando pelo restaurante.

A figura, sem se virar, continuou andando, como se soubesse que ela a estava chamando, mas sem o menor sinal de querer interagir.

Cynthia não hesitou.

Ela se levantou abruptamente, passando pela mesa, e foi atrás da figura.

Quando chegou à porta, o homem finalmente se virou para ela.

Seus olhos brilharam como fogo, como se estivesse sendo observada de uma forma que ela não podia entender.

Ele a olhou com uma calma inquietante, e a voz dele, baixa e calculista, chegou aos ouvidos de Cynthia como uma ameaça disfarçada de casualidade.

— Você me reconheceu. — Disse ele, com um sorriso sutil, mas perigoso.

Cynthia ficou paralisada por um segundo, a mente tentando organizar as peças do quebra-cabeça.

— Ele... ele está aqui. — Ela pensou, mas as palavras não saíam.

Ele a observava com a mesma intensidade, e, com um movimento quase imperceptível, virou-se de volta, retomando seu caminho como se nada tivesse acontecido.

Cynthia, ainda em choque, ficou sem palavras por um momento, antes de finalmente murmurar:

— ESPERA!

Mas o homem não respondeu.

Gerarld se virou e viu aquela figura, e rapidamente se levantou.

— OLIVER!

Cynthia ficou imóvel, olhando para o seus olhos.

Ela olhou de volta para Gerarld e as meninas, mas elas ainda estavam perdidas, sem saber o que se passava.

Gerarld — EU... EU RECONHECERIA ESSE OLHAR EM QUALQUER MUNDO! É VOCÊ NÉ? OLIVER!

Cynthia não sabia o que fazer. Seu corpo estava tenso, como se algo muito grande estivesse prestes a acontecer.

— EVELYN! AYLA, VENHAM AQUI!

Confusas com toda a gritaria, elas se levantaram e foram ver o que estava acontecendo.

— Que foi em? Não pode simplesmente deixar esse homem em paz? — Disse Evelyn com um olhar cansado.

— O que tem demais nele — Ayla murmurou.

— OLIVER! É VOCÊ, CERTO?! — Gerarld gritou, com muita fé que aquele homem era Oliver.

— Desculpe, mas não conheço nenhum Oliver... — Se virando para ir a uma mesa.

O homem andando parecia um borrão, Cynthia desacredita, ficou de joelhos no chão.

— Eu... Eu tenho certeza... É o Oliver...

Até que então, um brilho surgiu na mente de Ayla, um borrão, onde ela tinha visto um borrão?

— Ei! Espera — Ayla disse, com uma voz calma.

— O que foi? — Perguntou o homem, ainda de costas.

Lágrimas escorreram dos olhos da menina, e ela nem sabia o motivo, mas então, uma palavra surgiu em sua mente, a única coisa que conseguia falar foi...