No dia seguinte, Kawe e Seike estavam sentados juntos, tentando entender melhor os poderes recém-descobertos de Kawe.
— Então... Você consegue ver algo estranho em alguém da turma? — perguntou Seike, curioso.
Kawe observou os colegas ao redor e, após alguns segundos, fixou o olhar em uma aluna sentada perto da janela.
— Sim. Naquela garota ali — disse, apontando discretamente para ela.
Seike arregalou os olhos.
— Ela?
A menina percebeu o olhar dos dois e viu Kawe apontando diretamente para ela. No mesmo instante, Kawe e Seike desviaram o olhar, tentando disfarçar.
— Droga, ela viu a gente — murmurou Kawe.
— O que diabos você tem na cabeça pra ficar apontando pros outros desse jeito?! — sussurrou Seike, nervoso.
Quando a garota parou de encará-los, os dois voltaram à conversa.
— Mas então, o que exatamente você vê nela? — perguntou Seike.
Kawe hesitou antes de responder.
— É como se... houvesse uma corrente ao redor dela.
Seike ficou pensativo por alguns instantes. Então, como se tivesse tido uma epifania, bateu as mãos.
— Espera... Pode ter algo a ver com alguma coisa que a está prendendo!
— Hm... faz sentido. Afinal, correntes costumam simbolizar restrição, não é?
— Isso mesmo! Mas precisamos confirmar se é isso mesmo — disse Seike, animado.
— Sim, mas para isso, vamos precisar nos aproximar dela.
Seike suspirou.
— Bom... eu costumava ser amigo dela, então ela me conhece. Mas... não vai ser tão fácil assim.
Kawe arqueou a sobrancelha.
— Por quê?
— Eu meio que me afastei dela há um tempo... E acho que ela ficou brava comigo.
Kawe cruzou os braços e sorriu de canto.
— Bom, seja lá o que você fez, essa é a oportunidade perfeita para se aproximar de novo.
— Você tem razão... mas ainda não sei como fazer isso.
Kawe deu um tapinha no ombro dele.
— Fácil. Eu deixo vocês dois a sós, e pronto. Vocês conversam e resolvem as coisas.
Seike suspirou mais uma vez.
— Não sei se vai ser tão simples assim...
— Bom, só nos resta tentar.
O sinal tocou, anunciando o intervalo. Enquanto os dois comiam juntos, um grupo de alunos se aproximou.
— E aí, Seike-kun! Tá comendo mato de novo? Hahaha! — zombou um dos garotos.
— E ainda arrumou um novo amigo! — acrescentou outro. — Você não quer comer mato junto com o Seike-kun, novato? Hahaha!
Seike abaixou a cabeça, sem reagir. Kawe, por outro lado, fechou os punhos, furioso. Seu olhar ficou frio, mas ele respirou fundo e se conteve. Não valia a pena.
O grupo de alunos saiu, rindo da cara dos dois.
Foi então que Misaka, uma garota de cabelos curtos e olhar feroz, se aproximou deles, claramente furiosa.
— Ei! Qual o problema de vocês?! — esbravejou. — Eles zombaram de vocês na frente de todo mundo! Por quê? Por quê?! Até quando você vai aguentar isso, Seike?!
Seike continuou em silêncio, evitando olhar para ela.
Misaka então virou-se para Kawe, os olhos brilhando de indignação.
— E você?! Você parece ser forte, não é? E é amigo dele, certo? Então por que não fez nada?!
Os dois continuaram calados.
Frustrada, Misaka cerrou os punhos, lágrimas se formando em seus olhos.
— Vocês dois são um bando de idiotas...
Ela se virou e saiu, batendo os pés contra o chão.
Seike e Kawe terminaram de comer em silêncio. Assim que o intervalo acabou, os dois foram para um canto mais isolado do pátio, longe de todos.
Então, começaram a rir.
— Hahaha! Sério que você aguenta esses caras todo dia?! — Kawe perguntou entre risadas.
— Sim, todo dia é a mesma coisa! — Seike respondeu, rindo também.
— Esses caras são uns palhaços, mano! Hahaha!
A risada cessou, e o clima ficou tenso.
Kawe então se levantou e olhou sério para Seike.
— Você está preparado para isso?
Seike respirou fundo e assentiu.
— Sim. Já passou da hora de eu resolver esse assunto.
Kawe sorriu.
— Ótimo. Eu vou falar com ela e dizer que você quer conversar depois da aula.
— Espero que ela aceite...
— Qual é o nome dela mesmo?
— Katsuragi Hina.
— Certo. Deixa comigo.
Kawe saiu à procura de Hina e a encontrou sozinha, lendo um livro no pátio. Ele se aproximou e sentou ao lado dela.
— Você é Katsuragi Hina, certo? Prazer em conhecê-la.
Hina ergueu o olhar e fechou o livro.
— Prazer. Você é o aluno novo... Kawe, certo?
— Isso mesmo.
— Então, o que quer conversar comigo?
Kawe coçou a nuca.
— Na verdade... não sou eu quem quer conversar com você. É o Seike.
O semblante de Hina mudou. Ela franziu a testa, visivelmente surpresa.
— Seike...? Achei que ele me odiasse.
— Não diga isso. Ele só quer consertar as coisas com você.
Hina ficou em silêncio por um momento, depois suspirou.
— Depois de tanto tempo longe... agora ele quer resolver as coisas? Tem algo a mais por trás disso, não tem?
Kawe deu de ombros.
— Olha, eu não sei por que ele se afastou de você, mas sei que agora ele quer consertar tudo. Você poderia dar uma chance, não poderia?
Ela fechou os olhos, pensativa, e depois abriu um pequeno sorriso.
— Você tem razão. Quero ouvir o que ele tem a dizer.
— Ótimo! Então depois da aula vocês conversam, certo?
— Combinado.
Kawe sorriu satisfeito.
O sinal tocou, e os dois voltaram para a sala. O encontro entre Seike e Hina estava marcado. Agora, restava saber o que aconteceria quando os dois finalmente conversassem.