Uma conversa pendente

Ao fim da aula, Seike e Hina se encontraram na saída da escola.

— Então… o que você queria conversar comigo? — perguntou Hina, cruzando os braços.

Seike hesitou por um momento antes de responder:

— Quero resolver as coisas. Mas… vamos para um lugar mais calmo.

Hina assentiu, e os dois começaram a caminhar juntos.

Porém, sem que percebessem, Misaka os observava de longe. Seus olhos se estreitaram ao vê-los saindo juntos e, impulsionada pela curiosidade — ou talvez por algo mais profundo —, decidiu segui-los. Mas ela não era a única.

O grupo de alunos que costumava fazer bullying com Seike também notou a cena.

— Onde será que os pombinhos vão? — provocou um deles com um sorriso malicioso.

— Aposto que vão para algum canto isolado pra namorar — zombou uma garota do grupo.

— Então que tal darmos uma ajudinha ao nosso querido Seike-kun? — sugeriu o líder do grupo, um garoto de olhar debochado.

Os outros riram e concordaram, seguindo o casal sem serem notados.

Seike levou Hina até um pequeno parquinho. O lugar estava vazio, silencioso, apenas o rangido dos balanços sendo movidos pelo vento quebrava a tranquilidade. Eles se sentaram em um banco.

Seike olhou ao redor com um sorriso nostálgico.

— Você se lembra de quando vínhamos brincar aqui?

Hina olhou para ele, surpresa com a pergunta, mas logo sorriu.

— Claro que lembro. Criamos muitas memórias boas aqui.

— Sim… eu, você e a Misaka adorávamos vir para cá.

— Éramos inseparáveis… até você decidir se afastar de nós — disse Hina, sua expressão suavizando um pouco.

Seike abaixou a cabeça, parecendo hesitante.

Enquanto isso, escondida a uma certa distância, Misaka observava a cena atentamente.

— Então ele realmente veio falar com ela… — murmurou, cruzando os braços.

Antes que pudesse se aprofundar mais em seus pensamentos, uma voz surgiu repentinamente atrás dela.

— Buuuuuh!

— AHHH! — Misaka quase deu um pulo, mas antes que pudesse gritar, uma mão tapou sua boca.

Seus olhos se arregalaram, mas quando se virou, viu que era Kawe. Ele a soltou e sorriu.

— Você quase entrega nossa posição — disse ele, sem demonstrar arrependimento algum.

Misaka cruzou os braços e o fuzilou com o olhar.

— EU?! Você me dá um susto e a culpa é minha?!

— Exatamente.

— Como é que é?!

Antes que pudessem continuar discutindo, ouviram um barulho próximo. Ambos se viraram rapidamente e viram que o grupo de valentões também estava ali, espionando Seike e Hina.

Kawe estreitou os olhos.

— O que esses caras estão fazendo aqui?

— Provavelmente querem aprontar alguma coisa — respondeu Misaka, observando-os atentamente.

— Então temos que impedir.

— Nós? Como exatamente?

Kawe deu um pequeno sorriso, cheio de confiança.

— Só tem um jeito. Não vai ser divertido, mas eu vou resolver isso.

Misaka arregalou os olhos.

— Espera… você?! Kawe, eles são vários! Você não tem chance sozinho!

— Tsc, claro que tenho. Só preciso segurá-los tempo suficiente para que Seike termine a conversa com a Hina.

— Você tem um plano?

Kawe fechou os olhos por um momento e respirou fundo antes de abrir um sorriso travesso.

— Tenho. Mas você só precisa ficar quietinha e observar, entendeu?

— Mas você vai ficar bem, não vai? — perguntou Misaka, um pouco preocupada.

Ele piscou para ela.

— Relaxe. Não vou fazer nada que coloque minha vida em risco.

Misaka suspirou, resignada.

— Tá bom… mas se precisar de ajuda, eu entro.

— Veremos.

Kawe então se dirigiu ao grupo de valentões com passos firmes e confiantes.

— Ei, bando de bisbilhoteiros. Vocês não têm modos?

Os garotos se viraram para encará-lo. O líder do grupo, Misoto, riu com desdém.

— Olha só quem apareceu… o amiguinho do Seike-kun. O que foi? Veio apanhar no lugar dele?

Kawe deu uma risada baixa, sem demonstrar medo.

— Fala sério. Vocês não têm chance contra mim.

Os valentões riram, mas um deles, irritado, se adiantou.

— Vamos acabar com esse metido de merda, Misoto.

Kawe ergueu uma sobrancelha.

— Ah, então seu nome é Misoto?

Misoto cerrou os dentes.

— Eu não te dei permissão para falar o MEU nome, seu verme.

— Nossa, Misoto, como você é agressivo. Que tal me seguirem? Tenho um lugar perfeito pra vocês…

Misoto estreitou os olhos.

— Espera… você quer que a gente te siga?

— Isso mesmo. Ou vocês estão com medo?

A provocação funcionou.

— Hah! Vamos ver se você continua falando depois que te espancarmos até esquecer quem é!

Kawe então os levou para um local afastado, sorrindo com confiança.

Misaka, ainda escondida, mordeu o lábio.

— Ele pode estar confiante… mas ainda estou preocupada.

E, enquanto isso, no parquinho…

Seike respirou fundo antes de falar.

— Você está certa em ficar brava comigo. Eu te abandonei sem dizer nada e, por minha culpa, você e Misaka também se afastaram.

Hina apertou as mãos no colo.

— Sim… quando você nos deixou, achei que o problema fosse eu. Isso me fez me afastar da Misaka.

Seike fechou os olhos por um momento, claramente se culpando.

— Você deve ter sofrido muito… eu me odeio por isso. Mas entenda, eu tive que fazer isso.

— Por quê? Você não faz ideia de como me senti! Toda vez que eu te via, você estava sozinho, parecia tão triste… mas eu nunca tive coragem de falar com você. Eu queria… mas nunca fui tão forte quanto a Misaka para tentar reatar a amizade…

As palavras saíram trêmulas, e lágrimas escorreram pelo rosto de Hina.

— Por isso, quando soube que queria falar comigo, fiquei tão feliz… Mas ainda preciso saber… por quê? Se não souber a verdade, vou me culpar para sempre.

Seike ficou em silêncio por alguns segundos… então fechou os punhos e olhou nos olhos dela.

— Vou te contar.

Hina prendeu a respiração.

— A verdade é que eu me afastei… porque não queria machucar vocês.

— O quê…?

— Você sempre gostou de mim, não é? E a verdade é que… eu também gosto de você.

Os olhos de Hina se arregalaram.

— Mas o problema… é que a Misaka também gosta de mim.

Silêncio.

— Quando percebi isso, entrei em pânico. Achei que, se me afastasse, vocês duas me esqueceriam… Mas eu só acabei machucando vocês ainda mais.

Hina abaixou a cabeça, então, de repente, sorriu.

— Você é um completo idiota.

Seike piscou, surpreso.

— Hã?

— Eu e Misaka prometemos que aceitaríamos qualquer escolha sua. O que me machucou não foi sua escolha… foi você ter fugido.

Seike não conseguiu responder.

Hina enxugou as lágrimas e sorriu para ele.

— Mas sabe… estou feliz que você gosta de mim.

Seike sentiu o coração acelerar.

— Então… você me perdoa?

Hina sorriu.

— Sim.

E assim, finalmente, as coisas entre os dois foram resolvidas.

Mas… e Kawe? O que terá acontecido com ele?