Acordei cedo. Era nosso terceiro dia de viagem na floresta. Apesar de ser de manhã, a densa copa das árvores mantinha o ambiente escuro. Como sempre, Diana acordou antes de todos e já estava preparando um chá. Juntei minhas mãos e soprei nelas para aquecê-las. Após o evento de ontem, nada mais aconteceu durante a noite. Os animais se acalmaram, o que foi um alívio.
Os demais começaram a acordar e se preparar para iniciar a jornada. Pouco depois, Talia acordou gritando desesperada, e Marco rapidamente tentou acalmá-la. Quando ela finalmente se acalmou, olhou para sua perna e não conseguia acreditar. Acho que ela sentia a mesma coisa que eu havia sentido, como se os instintos insistissem que o ferimento estava ali, mas não havia nada, nem dor. Era realmente uma sensação estranha.
Marco explicou a ela o ocorrido do dia anterior, e seus olhos se arregalaram enquanto ouvia. Depois, ela veio até mim e me agradeceu muito, assim como a Clarice. Marco insistiu para que Talia voltasse com ele, mas ela não queria; estava decidida a ir até o final. Lucas desistiu e não quis mais continuar, e Edrian permitiu que ele voltasse com um dos cavalos.
Após nos prepararmos, seguimos adiante. Diferente dos outros dias, o grupo estava visivelmente apreensivo, temendo o aparecimento de outro monstro. Algumas horas depois, já próximo ao meio-dia, eu permanecia atento, observando os arredores com cautela, até que Talia se aproximou de mim.
— Saito, quero agradecer novamente por salvar minha vida.
— Já disse que não precisa. Só eliminei um monstro que tava no meu caminho.
— Mesmo assim, obrigada. Você deve ser muito habilidoso pra ter derrotado aquele monstro. Eu, mesmo treinando minha vida toda, não consegui fazer nada. — Ela baixou o olhar com um sorriso melancólico.
— Por que você quer tanto ir até o final?
— Meu pai era um cavaleiro incrível, sempre disposto a ajudar os outros. Eu adorava ouvir suas histórias, foi assim que decidi seguir o mesmo caminho que ele. Infelizmente, ele morreu em uma missão antes que eu pudesse o acompanhar.
— Aí você decidiu vir nessa missão arriscada só pra ajudar os outros?
— Sim. Assim como Edrian e Diana, não posso deixar aquelas pessoas morrerem de fome. Tenho certeza que meu pai faria o mesmo.
Hm… Será mesmo que essas pessoas estão dispostas a ajudar, e não apenas pelo dinheiro?
Logo depois, Edrian se aproximou com um olhar sério.
— Saito, você acha que ainda vamos encontrar mais dessas criaturas?
— É difícil dizer, eles agem mais à noite.
— Então é melhor acamparmos em locais mais seguros, com árvores ao redor, e melhorar a vigilância.
— Sim.
— Tomara que seja apenas aquele mesmo.
Se fosse apenas aquele monstro, tudo bem. Mas se formos atacados por outro novamente à noite, isso pode ser perigoso. Alguém pode acabar morrendo. Meu olhar se volta para Clarice, que estava na carroça. Ainda me sentia relutante quanto à ideia de ela ter que vir comigo, como se um pressentimento estranho tentasse me alertar sobre algo. Mas se eu pedisse para ela voltar, ela insistirá em continuar. Talvez tenha sido um erro contar tudo a ela ontem.
O problema maior será se formos atacados à luz do dia e eles estiverem em bando. Se isso acontecer, só pode ser…
No instante seguinte, o cavalo e o burro começaram a se agitar violentamente. Elias tentou conter o cavalo, mas foi derrubado, e o animal fugiu em disparada. Clarice quase caiu da carroça, mas Otto, com a ajuda dos outros, conseguiu segurar o burro.
Meu coração disparou, e a ansiedade começou a me consumir enquanto meus olhos varriam os arredores em busca de qualquer sinal de perigo. Só podia ser outro monstro. Ao olhar para o alto do morro, ele surgiu, exibindo suas presas afiadas. E não estava sozinho. Outros surgiram ao seu lado. Aquilo era ruim. Muito ruim.
— Todos, se preparem para lutar! — ordenou Edrian, sua voz tremula.
Todos sacaram suas espadas, tremendo de medo. Não havia alternativa: se eu lutasse, não conseguiria proteger os outros. Só havia uma escolha. Joguei minha mochila no chão e disparei na direção deles.
— Saito, o que tá fazendo? — perguntou Talia.
Apenas ignorei e segui em frente, determinado, com os olhos fixos nos monstros. Quando me aproximei, parei um pouco à frente deles com os braços abertos.
— O que foi, suas coisas feias? Tão procurando comida? Então venham pegar!
Os monstros rugiram e investiram contra mim. Sem hesitar, corri para longe do grupo, atraindo-os para uma direção segura. Se conseguisse afastá-los, os outros não correriam perigo.
Corri com toda a velocidade que tinha entre as árvores, desviando habilmente das raízes. No entanto, as criaturas eram ainda mais rápidas. Ao virar o rosto por um instante, percebi que eram cinco. Continuei até alcançar um ponto afastado de todos. Era agora ou nunca.
Quando o primeiro se aproximou, lancei meus fios em uma árvore à frente, prendendo-os em um galho alto. Aproveitando o impulso da corrida, puxei meu corpo para cima, girei no ar e desci com força, desferindo um soco poderoso com o braço esquerdo na cabeça da criatura mais próxima. O impacto foi devastador, esmagando seu crânio contra o chão.
O segundo monstro saltou em minha direção, mas com um movimento ágil, saltei por cima dele, desviando e lançando meus fios ao redor de seu corpo. Antes mesmo que ele atingisse o solo, puxei os fios com força, reduzindo-o a pedaços. Minha respiração estava acelerada pela corrida, mas eu precisava me concentrar. Inspirei profundamente, ajustei minha postura e me preparei para o próximo inimigo.
Outros dois avançaram com ferocidade. O primeiro saltou em minha direção, exibindo suas presas. Instintivamente, ergui meu braço esquerdo para me defender. O impacto foi tão forte que suas presas se partiram. O segundo, que vinha logo atrás, tentou desferir um golpe com as garras, mas usei a primeira criatura contra ele, arremessando-a com força. Ambos colidiram contra uma árvore.
Aproveitei e corri com tudo e, com um chute poderoso da minha perna esquerda, esmaguei a cabeça de um deles contra o tronco, despedaçando-o. O outro conseguiu se esquivar para o lado.
Faltavam dois. Um estava à minha frente e o outro atrás. Estreitei os olhos, focando no da frente, e disparei em sua direção. Ele também avançou. No instante em que estava prestes a me atingir, desviei para o lado e lancei meus fios sobre ele. Em seguida, puxei-o com força em minha direção e desferi um soco poderoso com meu braço esquerdo em sua barriga, destruindo seus órgãos. Suas pernas vacilaram, e ele caiu no chão, jorrando sangue pela boca.
Ele se contorceu, tentando se erguer, mas sem sucesso. Sem hesitar, pisei em sua cabeça, esmagando seu crânio. Calmamente, levantei o olhar para o último sobrevivente. Ele continuava parado, talvez me avaliando, talvez dominado pelo medo. Meus lábios se curvaram em um leve sorriso.
— O que foi? Está com medo?
Ao ouvir minhas palavras, ele avançou. Permaneci imóvel, sorrindo. No instante em que saltou com a boca aberta em minha direção, não movi um músculo, pois já havia preparado tudo. Assim que sua boca se aproximou, um corte surgiu de repente. A criatura foi partida ao meio, seus pedaços passaram por mim, espalhando sangue pelo meu corpo. Eu havia colocado um fio à minha frente.
Olhei ao redor, certificando-me de que não havia mais inimigos. Tudo indicava que eram apenas eles. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando acalmar os batimentos acelerados do meu coração. Escapei ileso desta vez, mas batalhas reais não se comparam ao treinamento que fazia com Haldan. O melhor agora era retornar e verificar se os outros estavam bem. Com essa decisão, comecei a caminhar.
Um pouco mais à frente, ao passar por uma grande árvore, ouvi o tilintar de uma moeda sendo jogada. Ao virar o olhar, avistei um homem sentado em um tronco, com o que parecia ser uma espada ao seu lado. Ele jogava a moeda para cima e a pegava no ar, repetindo o gesto distraidamente.
— Eu não tava errado. Você é incrível, acabou com meus bebês com facilidade.
— Quem é você?
— Que tal jogarmos um jogo?
— Jogo?
— Vou jogar essa moeda, se der cara eu deixo você e seus amigos partirem. Mas se der coroa teremos que brincar.
Ele a lançou para o alto enquanto girava rapidamente. Assim que desceu diante de seu rosto, pegou-a no ar com a mão direita e a colocou sobre a esquerda. Em sequência, um sorriso maníaco se formou em seus lábios. Foi então que percebi algo em sua mão, a mesma que jogava a moeda, um anel com uma pedra vermelha reluzente.
Merda, eu sabia! É um deles… um Corrompido.