A noite estava morna. O tipo de silêncio que caía sobre a cidade parecia segurar o fôlego do mundo inteiro.
Folhas dançavam preguiçosamente pela calçada, empurradas por uma brisa leve. O céu era um misto de azul escuro e cinza — a madrugada se aproximava devagar, como se não quisesse interromper o momento.
Debaixo da luz amarelada do poste, Thomas estava de pé. Imóvel.
A sombra projetada ao lado da porta tremia com o vento, assim como ele por dentro.
Usava uma jaqueta jeans gasta sobre uma camiseta preta simples. A calça de sarja escura e as botas marrons não eram apenas uma escolha — eram armaduras. Preparação para o que vinha a seguir.
Ao lado, sua mochila cinza descansava no chão. Pesada. Não só de roupas e objetos.
Pesada de dúvidas. De despedidas.
Ele sempre foi firme, decidido, direto. Mas naquela noite... ele se sentia em pedaços.
Virou-se levemente para trás.
A casa parecia mais viva do que nunca. Iluminada por uma luz suave que escapava da sala, ela parecia abraçá-lo mesmo à distância.
Sua mãe estava ali, sentada no sofá com um robe azul-marinho por cima do pijama. A xícara nas mãos trêmulas. Os olhos castanhos, fixos nele, não piscavam. Como se piscar fosse perder um segundo precioso demais.
Na mesa, o pai fingia ler uns papéis. Os óculos escorregavam pelo nariz. As mãos mexiam, nervosas. De vez em quando, ele olhava para Thomas. Sempre disfarçando.
Mas Thomas sabia. Eles sabiam.
Aquele momento... não era qualquer despedida.
— Vai dar tudo certo, filho. — A voz da mãe quebrou o silêncio como uma canção triste e doce.
Ela se levantou devagar, caminhando até ele com passos descalços sobre o piso de madeira. Os olhos úmidos, mas ainda cheios de orgulho.
— Você sempre teve sua razão. Mas, se precisar voltar... nós estaremos aqui. Sempre.
Thomas tentou sorrir. O sorriso não veio completo.
Ele sabia o que ela queria dizer. Mas também sabia que aquela viagem podia mudar tudo.
Não era uma pausa. Era uma travessia.
— Eu sei, mãe... Mas eu preciso fazer isso. — A voz dele saiu baixa, arranhada pela emoção presa na garganta.
Ela encostou a mão no ombro dele.
— Cuide de si mesmo.
— Eu vou... — ele sussurrou.
— E nunca esqueça: você sempre terá um lar aqui.
Ele assentiu. Quase chorou.
Jogou a mochila no ombro. Olhou para a casa uma última vez.
O cheiro de café. O ranger do assoalho. O calor da presença deles.
Gravou tudo na memória.
Virou-se para a porta.
Estava pronto.
Ou achava que estava.
— Não importa o que aconteça… você sempre estará em nosso coração. — disse a mãe, quase num sussurro.
Thomas fechou os olhos.
Respirou fundo.
E deu o primeiro passo.