Alec estava jogado na cama de bruços, os pés descalços balançando despreocupadamente no ar, enquanto seus olhos vagavam pelo teto do quarto.
O ventilador girava preguiçoso acima de sua cabeça, espalhando um vento morno que não ajudava muito com o calor do fim da tarde.
A mochila preta, ainda vazia, repousava largada no canto, encostada numa pilha de livros e uma camisa esquecida — símbolo silencioso da mudança que ele ainda evitava encarar.
Apesar da empolgação natural diante de qualquer novidade, havia um silêncio estranho naquele cômodo.
Uma pausa.
O momento exato antes do salto.
Alec sempre foi movido pelo impulso de explorar, de seguir em frente, de não parar.
Mas naquela tarde… algo estava diferente.
— Mais uma aventura — pensou, forçando um sorriso pequeno.
Mas o olhar parou em uma foto na parede: seus pais abraçados, ele e os irmãos ainda crianças, sujos de sorvete, sorrindo como se nada mais importasse.
Era uma imagem simples. Mas carregava um peso inesperado.
Liberdade sempre foi seu combustível.
Mas, pela primeira vez… ela vinha acompanhada de saudade.
A campainha tocou no andar de baixo.
Alec levantou no reflexo, quase como se fugisse dos próprios pensamentos.
Desceu correndo as escadas e abriu a porta.
Sem surpresa: era sua mãe.
Cabelo preso num coque solto, blusa de tricô azul-marinho, calça jeans confortável.
Os olhos castanhos vinham com aquela expressão que misturava afeto e sabedoria.
Ela sabia. Sempre sabia.
— Alec, você já começou a arrumar suas coisas? — perguntou, com um sorriso de canto.
Ele coçou a nuca, com a risadinha de sempre.
— Claro! Tô... planejando tudo. Organização é tudo, né?
Subiram juntos. Ela analisou o quarto em silêncio: cama desfeita, fones largados, tênis no chão.
Tudo ali dizia exatamente o que ele não conseguia admitir: ele estava enrolando.
Ela se sentou à beira da cama, observando o filho.
— Você vai sentir saudade, sabia? — murmurou, como se estivesse lendo sua mente.
Alec riu. Leve demais. Falso demais.
— Eu sou um cara do mundo, mãe. Nascido pra isso.
Ergueu as sobrancelhas, tentando soar confiante.
Mas a voz falhou. Por um segundo. Um suficiente.
Ela se levantou, aproximou-se, pousou a mão em seu ombro.
Um gesto simples.
Mas foi o suficiente pra desmontar a muralha invisível que ele erguia.
— Não importa onde você vá, Alec. Eu sempre vou estar aqui.
E você sempre vai ter um lugar pra voltar. Entendeu?
Ele não respondeu de imediato. Só assentiu.
O coração batendo mais forte do que gostaria.
— Eu sei, mãe. Obrigado...
Fez um meio sorriso e respirou fundo.
— Agora deixa eu começar antes que você descubra que nem separei as meias.
Ela riu, beijou sua testa com carinho, e antes de sair, disse:
— Vai com tudo, meu filho.
E lembra: o mundo é grande, mas nosso amor te acompanha em cada esquina.
Alec ficou em silêncio.
Quando a porta se fechou, olhou pra mochila jogada no canto.
Algo dentro dele tinha mudado.
Foi até lá, pegou uma pilha de roupas e começou a dobrar.
Com mais cuidado do que de costume.
A bagunça ainda estava ali.
O quarto era o mesmo.
Mas Alec não era mais o mesmo.
A aventura estava só começando.