Prólogo – O Último Passo

Liam estava parado no centro do quarto, cercado por uma bagunça de roupas, livros e memórias espalhadas pelo chão. Tinha deixado para arrumar tudo na última hora — como sempre. Os dedos passavam distraidamente pelas páginas do livro que estava lendo dias antes, mas sua mente... já estava em outro lugar.

No amanhã.

No que estava prestes a acontecer.

Desde pequeno, Liam sempre tivera uma mente inquieta — cheia de ideias malucas, soluções inesperadas e uma curiosidade insaciável. Ele nunca se acomodava, nunca aceitava o óbvio. A ideia de partir, de deixar tudo para trás, não o assustava. Na verdade, era isso que o movia. Ele queria mais. Ver o mundo. Viver algo que fosse além do comum.

A porta se abriu devagar, e sua mãe entrou com aquele sorriso gentil que misturava amor e preocupação.

— Liam, ainda não arrumou as malas? — perguntou, a voz calma, mas com aquele olhar que dizia "eu sei que você está enrolando."

Ele sorriu, meio culpado, meio debochado.

— Eu estava só... terminando o livro, mãe. Tá tudo sob controle. — respondeu, tentando parecer tranquilo, mesmo sabendo que ela não acreditaria.

Ela se sentou na beira da cama, o olhar mais suave agora.

— Você sabe que pode falar comigo, né? Sobre o que está sentindo.

Liam ficou em silêncio por alguns segundos. Era bom em esconder emoções, em fazer piada de tudo. Mas com a mãe... sempre foi diferente. Ela via além.

— Só um pouco ansioso, eu acho. Mas estou bem. Eu sei o que estou fazendo. — disse, tentando manter a confiança na voz.

Ela se inclinou e colocou a mão no ombro dele, um toque simples, mas cheio de significado.

— Você vai se sair bem, meu filho. Só... não tente carregar tudo sozinho, tá? Não precisa ser perfeito o tempo todo. Você pode pedir ajuda.

As palavras tocaram fundo. Liam sempre sentira que precisava ter todas as respostas, como se não houvesse espaço para falhas. Mas naquele instante, ele entendeu: ele não precisava ser invencível.

— Eu sei, mãe. Eu vou fazer o meu melhor.

Ela sorriu, se levantando com calma.

— Isso é tudo que alguém pode fazer. Vai com tudo. E lembra... a gente vai estar aqui, esperando por você.

Ela o abraçou forte, e pela primeira vez naquele dia, o medo deu lugar à certeza.

Ele olhou uma última vez para o quarto, para o lugar onde tantas versões de si mesmo existiram, e pegou a mochila. Começou a arrumar tudo sem mais adiar.

Porque agora, ele estava pronto.

O mundo o esperava.

E Liam estava prestes a dar seu último passo — o primeiro de muitos.