Parecia que levaria cerca de uma hora para sair do porto e chegar à ilha.
Por ser um local remoto, ele imaginou que fosse um lugar intocado e desabitado, já que havia apenas uma filial ali. No entanto, a ilha era surpreendentemente grande, a ponto de ele precisar pegar um ônibus do cais e percorrer um longo caminho ao longo da praia.
O sol acabara de se pôr, tornando a floresta ainda mais escura e com uma densidade estranhamente sufocante.
— Se aparecerem animais selvagens ou cobras venenosas por aqui, não seria nada surpreendente.
Jeong Taeui murmurou, e seu tio assentiu calmamente.
— Há muitas cobras venenosas, então, à noite, preste bastante atenção onde pisa. — Fez uma pausa e acrescentou, sem pressa: — Mas não se preocupe. Nenhuma delas é venenosa o suficiente para matar alguém imediatamente. Se o socorro for rápido, não dá tempo de morrer.
Jeong Taeui o encarou, sem palavras. Changin, tranquilo, voltou a garantir que não havia motivo para preocupação.
Definitivamente, ele tinha vindo para o lugar errado. Mesmo que fosse por apenas seis meses, era tempo mais do que suficiente para morrer de forma absurda. De qualquer forma, esperaria até o próximo fim de semana, daria um jeito de ir até a Ilha de Hong Kong e fugiria.
Mas Changin não tardou a cortar seus planos.
— Ah, é verdade. Daqui a pouco mais de um mês, ninguém poderá sair. O treinamento conjunto com a filial europeia começa em quinze dias. Antes disso, teremos o período de treinamento especial, então sair da ilha será proibido. E durante o treinamento geral, também não será permitido. Ou seja… um mês vai passar num piscar de olhos. Espero que, nesse meio-tempo, você se acostume.
Antes mesmo de se perguntar como diabos seu tio conseguia ler sua mente com tanta precisão, Jeong Taeui teve um súbito desejo de estrangulá-lo.
Ele lançou um olhar ressentido para o pescoço do tio. Mas, de repente, sentiu um olhar sobre si e desviou os olhos para o retrovisor. Lá, encontrou o motorista o observando. O homem estreitou os olhos para ele, e pareceu esboçar um sorriso fugaz.
Era o mesmo que o buscara no aeroporto. Teria sido ele quem dirigiu desde lá até o porto, depois conduziu lentamente o barco até a ilha? Jeong Taeui não se lembrava de tê-lo visto a bordo…
Esse cara também tinha aquele cheiro característico. O cheiro de um soldado. Por mais que insistissem que não eram militares, ele ainda exalava a essência de alguém que viveu uma vida cheia de provações. Talvez, ao chegarem à ilha, todos ali tivessem o mesmo cheiro.
Jeong Taeui suspirou e recostou a cabeça, abandonando a vontade de esganar seu tio.
— Me trazer justo na época do treinamento conjunto com aquele maldito e sanguinário setor europeu… No fundo, você realmente me odeia.
— Claro que não.
Changin riu, mas Taeui o encarou com desconfiança e sem muita convicção.
Ele logo se acostumaria com esse tipo de treinamento. Nos últimos anos, viveu dessa forma todos os dias. Até quatro meses atrás, ainda era um oficial militar. Ficou curioso para saber como treinavam ali.
Por mais exaustivo que fosse, desde que não morresse, logo se habituaria. Cada experiência exigia um tempo de adaptação, até que a dor se tornava rotina… e, inevitavelmente, chegava um momento em que até o mais insignificante dos vermes se contorcia, perdia o controle e explodia. Então, a questão era uma escolha puramente pessoal.
Jeong Taeui soltou um suspiro irritado e bagunçou o próprio cabelo.
Nunca se arrependeu de nada que fez. Independentemente do que fosse, sempre carregou consigo a certeza de que jamais deveria fazer algo que lhe causasse arrependimento.
Por isso, não se arrependia de ter espancado aquele desgraçado no exército até deixá-lo à beira da morte. Antes disso, aguentara por longos cinco anos e meio. Considerava que já estava de bom tamanho. Na verdade, o incidente foi o resultado de uma série de circunstâncias complexas.
Ainda assim, mesmo sabendo que sua dispensa significava um buraco negro no futuro, não se arrependia de ter deixado o exército.
Mas pensar naquele período e no que sentiu na época ainda lhe embrulhava o estômago.
Aquele sujeito nunca havia aceitado ficar para trás. Mas, quando viu que alguém o superava, sua expressão ficou simplesmente abominável. E foi assim que os dois acabaram lado a lado no hospital militar, logo antes da dispensa.
O motivo? Além da competição, a orientação sexual de Jeong Taeui serviu como o pretexto perfeito.
Tsk. Tsk.
Espreguiçou-se no banco. O dia inteiro foi uma maratona sem fim: primeiro, um avião; depois, um carro; em seguida, um barco… do céu à terra firme, e da terra ao mar outra vez. Seu corpo estava um caco.
Não importava onde fosse treinar, primeiro precisava alongar e aquecer os músculos.
O carro freou de repente.
Sob o céu escuro, com a floresta densa ao redor, Jeong Taeui se perguntou se já havia estado em um lugar tão fechado pela vegetação.
— Chegamos.
O motorista desceu do carro. O tio apenas fez um comentário breve, e Jeong Taeui abriu a porta imediatamente. Assim que pisou para fora, avistou um prédio logo à frente.
— Pff… Se estou tão cansado assim, é porque já estou velho. Pois é, passei dos quarenta, já não dá mais para dizer que sou jovem.
O tio murmurou para si mesmo atrás dele. Mas Taeui ignorou e continuou observando atentamente o edifício à sua frente.
— Tio.
— Hm?
— A filial da Ásia… é só isso?
— Sim, um único prédio. Parece um pouco simples, não é?
— E aqueles prédios espaçosos do folheto?
— Ah, aquilo? É a sede nos Estados Unidos. As instalações da filial asiática são as menos modernas, mas, ao mesmo tempo, é o melhor lugar para treinar resistência física. Eu não te contei?
— Nem um pouco… Seu mentiroso.
— Ninguém liga para aquele folheto mesmo.
Ele sorriu e deu de ombros. Quem se inscrevia em uma filial escolhia pelo nome, não pelo guia ilustrado. Mas, no caso de Jeong Taeui, ele sequer teve a chance de escolher.
O prédio diante dele não passava de uma construção decadente, parecendo um colégio rural de um andar que estava prestes a ser demolido e reconstruído. Havia rachaduras por todos os lados, tinta descascando, ferrugem…
De qualquer ângulo que olhasse, parecia um edifício decrépito prestes a desmoronar ou algum órgão público abandonado há décadas.
Espera… Se esse era o único prédio…
— Quantas pessoas tem aqui…?
— Um governador, dois vice-ministros, seis instrutores, noventa e seis membros, cinco na equipe de logística. Um total de cento e dez pessoas.
Changin contou nos dedos enquanto falava.
— Certo…
— Está surpreso?
— Como podem enfiar cento e dez pessoas num lugar desses?
— Entra logo. Até num carro compacto cabem várias pessoas.
— Não, espera… e a área de treinamento? O refeitório? Os dormitórios…?
Jeong Taeui apontou para o prédio com uma expressão perplexa, mas o motorista já havia passado pelas bagagens do tio e entrado. Quando abriu a porta, as dobradiças enferrujadas rangeram de forma sinistra. Um som que poderia facilmente despertar um fantasma…
O tio notou sua expressão e sorriu, mas respondeu com seriedade:
— O subsolo. Há sete andares subterrâneos. São cerca de dois mil pyeong[1], então cabem cem pessoas sem problema, apesar de não ser tão grande.
Jeong Taeui o encarou novamente, desconfiado. Dois mil pyeong e sete andares? Para apenas cem pessoas?
— Mas… numa ilha pequena assim, como conseguiram cavar um subsolo de sete andares e tão espaçoso…?
— Por isso escolhemos essa ilha. Acha que simplesmente apontamos para um mapa e decidimos que aqui seria a filial asiática?
Changin sorriu, satisfeito.
Jeong Taeui lançou um olhar suspeito para as costas do tio antes de se aproximar da porta aberta, ajustar a mochila no ombro e segui-lo.
Changin reduziu o ritmo dos passos para que ele o alcançasse. De repente, virou-se e deu um tapinha na cabeça de Taeui. Este, sem entender, recuou um passo e o encarou confuso.
— Não morra.
— …O quê?
— Aqui, as leis lá de fora não têm vez. É um lugar onde os fracos não podem reclamar, mesmo que sofram injustiças. E, em certas circunstâncias, mesmo que algumas pessoas morram, tudo será abafado sem maiores problemas.
Changin fez uma pausa. Jeong Taeui ficou em silêncio, apenas o observando.
No final, soltou uma risada sem força.
— Tio, você é cruel… Isso era algo que deveria ter me contado antes. O que eu faço se me jogam de repente na toca do tigre?
— Mesmo que eu dissesse antes, o resultado seria o mesmo.
Ele riu também. Jeong Taeui suspirou e deu de ombros.
— Em resumo, só me resta confiar no meu instinto e tentar sobreviver, como você disse, certo? Mas… se lembrar de alguma coisa, venha pelo menos recolher os cadáveres e juntar os ossos.
— Haha, bem, mesmo assim, aqui não é completamente sem lei.
— Então temos que tomar cuidado ou não?
— Onde quer que esteja, é melhor prevenir do que remediar.
Ele sorriu e se virou para ir embora. Desta vez, não parou nem olhou para trás para ver Taeui caminhar até o prédio. Jeong Taeui balançou a cabeça. Em momentos como esse, sentia inveja do irmão, que não era tão "sortudo" quanto ele.
Apesar de tudo ficar no subsolo — escritórios, salas de reunião, auditório, laboratório, sala de descanso e refeitório —, seu tio não o levou para dentro do prédio, e sim para uma porta velha no fim de um corredor de madeira deserto.
Porém, no meio do caminho, um jovem saiu pela porta bem ao lado de Jeong Taeui. Seu tio parou imediatamente.
— Tou!
O jovem atravessou a porta aberta e andou lentamente. Assim que avistou seu tio, virou-se de uma vez.
— Instrutor.
Ao reconhecê-lo, endireitou a postura e fez uma leve reverência.
— Está ocupado?
— Não, só ia sair para fumar.
Jeong Taeui assentiu. Talvez agora entendesse a diferença entre o exército e este lugar. Suspirou ao ver o inglês tomar conta da conversa — a língua comum usada na filial. Embora falasse fluentemente, não gostava muito de usar.
Então, de repente, o dedo indicador do tio apontou para ele.
— Leve esse garoto para um pequeno tour. Acompanhe-o até o quarto que a Kiyomi usava e apresente-o aos membros lá embaixo.
— Ah… sim.
O jovem coçou a orelha como se estivesse um pouco incomodado, mas não a ponto de recusar. Apenas assentiu.
Depois de dar a instrução, seu tio sequer olhou para Jeong Taeui, apenas acenou levemente com a mão e abriu a porta velha, desaparecendo lá dentro. Agora, só restavam ele e o jovem no corredor.
O rapaz o observou dos pés à cabeça antes de voltar pela mesma porta de onde tinha saído. Curvou os dedos, sinalizando para que Taeui o seguisse.
Jeong Taeui também o analisou da cabeça aos pés e caminhou atrás dele. O jovem sorriu imediatamente.
A porta de madeira pela qual ele saíra era, na verdade, um elevador. Parecia um daqueles elevadores velhos de uma escola abandonada prestes a desmoronar. Mas, ao vê-lo abrir e fechar suavemente, sem nenhum ruído, Taeui ficou ligeiramente surpreso.
Ao entrar, percebeu que seu funcionamento não deixava nada a desejar.
— Então foi nisso que despejaram todo o orçamento? Para fazer parecer o mais velho possível...?
Murmurou para si mesmo enquanto analisava o interior, depois voltou os olhos para o jovem, que o observava atentamente.
Ele tinha feições chinesas, mas, pela pele clara e a estrutura corporal pequena, provavelmente não era han[2] puro. Devia ter ascendência de alguma minoria étnica.
O jovem encarou Jeong Taeui com curiosidade e deu leves batidas no próprio peito com o indicador.
— Tou. Tou Jing.
— …Jeong Taeui. Pode me chamar de Taeui.
— Taeil[3]...? Ok.
A pronúncia saiu um pouco errada, mas Jeong Taeui achou que seria inútil corrigir, então ficou quieto.
— Você foi transferido de outra filial? Ou é novato?
— Sou novo aqui. Pelo jeito, transferências entre filiais são comuns.
— Não são tão frequentes, mas também não são raras. Os novatos costumam ser designados diretamente pelos superiores. O que veio fazer aqui? Não era de uma empresa ou algo assim?
— Estou desempregado.
Jeong Taeui respondeu com seriedade, mas Tou caiu na risada, como se achasse que era brincadeira.
— Bom, pelo menos não veio da filial europeia. Isso já é algo positivo. Bem-vindo.
Tou estendeu a mão. Jeong Taeui apertou e sacudiu levemente.
— Parece que a relação com a filial europeia é bem ruim.
Ele já ouvira algo do tio, mas, pelo visto, a relação entre as duas filiais era ainda pior do que imaginava. Provavelmente, era tão hostil quanto a rixa entre seu antigo pelotão e o do desgraçado do Kim no exército.
— Bem ruim, né? Pois é, você vai descobrir no próximo mês. Vamos ter um treinamento conjunto com a filial europeia, então aqueles bastardos vão aparecer por aqui. Vou te dizer, se encontrar um cara particularmente insuportável, pode simplesmente enterrar um ou dois deles em segredo. Todas as nossas equipes vão encobrir.
Isso não parecia uma piada.
Pelo visto, a relação era ainda pior do que a rixa entre seu pelotão e o de Kim Jeong Pil.
— Obrigado pelo aviso.
— Que isso. Temos que nos ajudar.
Tou sorriu satisfeito e saiu do elevador assim que ele parou. Jeong Taeui o seguiu imediatamente.
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NOTAS
[1] Um pyeong equivale a aproximadamente 3,3 metros quadrados. Ou seja, o subsolo tinha algo em torno de 6.600 metros quadrados.
[2] Han (em chinês simplificado: 汉, pinyin: hàn) é o maior grupo étnico da China (e de todo o mundo), representando quase 92% da população chinesa, ou seja, mais de 1,24 bilhão de pessoas, cerca de 18% da população mundial.
[3] O nome "Taeil" é pronunciado "Tae-i", enquanto "Taeui" soa como "Tae-oui", sendo "oui" igual ao "sim" em francês.