O Lado de Fora

Enfim do lado de fora pude sentir o sol em minha pele, já faz um bom tempo mesmo.

Até mesmo cheguei á cogitar na possibilidade de derreter por conta do calor ou de sua própria luz por ser um elemento natural do qual á corrosão abomina, foi o que pude assimilar com as vagas informações de Syphus.

Mesmo assim assim como era lá dentro eu continuei andando sem rumo, seguindo uma estrada natural feita de terra e pedras.

Fora aquele portão não há muitos resquícios de vida humana por aqui, salvo o grupo que pude ver anteriormente, afinal estamos no meio de uma floresta.

Como havia imaginado, eu estava em algum tipo de montanha porém só a parte da entrada era evidente.

No caso seu único caminho de acesso seria para baixo em diante até os níveis subterrâneos dessa masmorra.

Como havia me afastado dela por estar caminhando já á perdi de vista porém se subir em alguma árvore ela pode ser vista de bem longe.

Eu já não podia fazer mais nada naquele lugar ,de alguma forma a porta foi selada magicamente eu suponho, claro que eu não tentei abri-la novamente, não havia necessidades para retornar para lá por enquanto...

Sabe, pelo calor que estou sentindo por conta da luz do sol, posso presumir que já seriam mais ou menos por volta do meio-dia, já que ele está acima da minha cabeça e quase no centro do céu, eu não sei ler ás horas pelas sombras, muito menos pela posição solar, mas isso é bem evidente por conta da temperatura.

Como havia descansado até recentemente mesmo após uma onda de lutas não haveria problema em continuar andando para...sabe-se lá onde eu irei.

Um dos meus kouhais acabou soltando um ditado peculiar do qual ele acabou vendo na internet, ele falou aquilo em um momento de tensão por não saber o que fazer nas horas difíceis e qual decisão tomar, como uma pessoa cega em meio á um tiroteio, não sei se falei corretamente porém estou em uma situação adversa e similar.

Como estou no meio de uma floresta densa eu não sei o que me aguarda, diferente da caverna eu não tenho nenhum pressentimento hostil muito menos uma presença ameaçadora isso por um lado é bom, mas ainda assim pode ser ruim, talvez a minha percepção em ambientes mais abertos e calmos seja bem fraca, nesse caso a ameaça pode estar á espreita sem eu nem ao menos saber por isso sigo em alerta.

E eu não tenho mais como me esconder já que a minha [Camuflagem] só é mais efetiva em ambientes escuros, sim eu acabei testando enquanto seguia por aqui.

No entanto durante o dia eu apenas me adapto á cor ambiente, diferente do que é durante á noite ou no escuro, da qual além disso a minha presença é oculta, aqui fora isso seria equivalente á uma coisa que um camaleão faria, ou algum animal adaptado á determinado ambiente por conta de sua aparência.

Ao que tudo indica algumas das minhas habilidades são afetadas dependendo da condição e do ambiente em que eu estou, como foi o caso da [Camuflagem]

O mesmo acabou acontecendo com a minha [Visão Ultravioleta] , ela só é efetiva durante á noite ou em ambientes escuros, a usei durante o dia e tudo o que pude ver foi um clarão enorme como se estivesse cega, nem preciso dizer que de primeiro impacto meu olho doeu drasticamente, mas acabei me recuperando bem rápido por conta da minha cura.

Por falar em cura, ou mais precisamente na minha [Cura Adaptável] sua cor acabou mudando durante o dia, mas isso foi afetada apenas de maneira estética, ela ainda está efetiva como antes porém apresenta uma tonalidade roxa porém mais próxima ao violeta, não sei bem se isso foi uma reduzida em alguma coisa mas seu potencial ainda está evidente, embora estivesse mais atrativa e bonita de se ver.

Acredito que eu tenha adquirido um daltonismo temporário por estar em um ambiente escuro, claro que não pude fazer o mesmo com as minhas [Chamas sombrias] ou nem mesmo utilizar á [Corrosão Abissal], afinal não quero causar nenhum dano á floresta.

Minhas escamas também mudaram sua cor, para uma tonalidade menos escura, um tom um pouco mais acinzentado, assim como foi com o resto do meu corpo, ao menos meu cabelo não apresentou nenhuma mudança evidente, diferente da minha cauda que ainda permanece arrastando por aí.

Sabe, ter uma cauda não é algo que me afeta negativamente, posso estar indo longe mas é como respirar, eu não tenho controle de alguns de seus movimentos ao menos que tenha ciência de que quero mexê-la, mas ainda assim não me incomodou, quer dizer não foi como os tropeços que dei nela enquanto estive naquela caverna, mas ainda assim estou me adaptando.

O restante das minhas habilidades ainda estão de acordo.

[Fios de Seda] e até mesmo as [Teias Eletrizadas] não apresentaram mudanças evidentes, acredito que meu [Sopro de Vácuo] ainda permaneça o mesmo, porém não vou realizar algum teste enquanto estiver no meio da floresta.

Como minhas escamas estão fortificadas por conta da minha habilidade não preciso dar uma segunda conferida.

As [Garras de Navalha] e os [Espinhos Corporais] podem ser utilizadas como elementos surpresa caso eu seja atacada repentinamente, por se tratar de características corporais retrateis posso utilizá-los quando achar adequado.

Acredito que posso deixar de lado coisas desagradáveis como o [Cuspe Ácido] por várias razões.

Por mais que seja uma habilidade útil acaba tornando uma certa desvantagem para mim.

Por se tratar de...digamos, fluídos, eu não consigo controlar a quantidade á menos que eu me induza á parar de produzi-lo, por falar em produção não é como se eu estivesse passando por algo desagradável como o processo de regurgitação mas é tão ruim o quanto.

Além do mais se trata de uma habilidade corporal de certo perigo, se má utilizada pode ser bem pior que a própria corrosão, talvez eu devesse descartá-la até o momento, ou utilizá-la em situações extremas, ugh só de pensar naquele gosto já sinto um calafrio na espinha.

Ainda assim estava apenas dando mais atenção para meus poderes do que para o mais importante, a floresta.

Conforme fui saindo daquela parte mais densa me aproximei de uma bela clareira.

O cenário á minha volta era sublime, por mais que eu estivesse descalça podia sentir em meus pés a grama, como um tapete verde natural ela era bem macia, sendo adulta e morando em uma cidade em minha vida anterior eu raramente ia para viagens de campo, confesso que elas não em eram atrativas já que a falta de acesso á tecnologia e principalmente a falta de um banheiro decente me desmotivavam ao extremo, mas ainda assim eu acreditava fortemente que todos deveriam passar por uma experiência de vida dessas pelo menos uma vez.

Mas além de macia essa grama estava úmida, talvez tenha chovido recentemente ou posso estar em uma vegetação próxima á algum rio, o que tornava a sensação ainda mais agradável.

O ar também estava puro, mais uma vez notando a diferença por conta da minha vivência em uma grande cidade.

O ar natural desse lugar não incomoda meu nariz. eu não sei se graças á Syphus meu olfato está mais aguçado, mas posso sentir o cheiro das plantas ao meu redor, mais precisamente das folhas das árvores e arbustos, é evidente que a presença humana não é tão evidente, quer dizer não por essa área.

Por mais que eu ainda não tenha abaixado á minha guarda em um ambiente tão agradável como esse, isso me fez refletir um pouco.

Por conta de uma boa parte dos meus poderes ser ligado ao elemento corrosivo, talvez utilizá-los nesse lugar possa acabar causando um potencial desastre natural, quer dizer se eu não absorvê-los de imediato.

Talvez eu devesse achar um jeito ou alguma forma da corrosão ser algo momentâneo, como uma fogueira que só perduraria enquanto alguém estivesse colocando lenha.

Talvez eu possa controlá-la dessa maneira, mas isso exigiria um pouco mais de tempo e quem sabe um ambiente mais adequado.

Até lá em caso de emergência eu possa utilizar minhas outras habilidades recém adquiridas.

Em caso de defesa as [Escamas Reforçadas] ainda permanecem em minha pele, sem falar que posso até mesmo utilizar os [Espinhos Corporais] para reforçar minha retaguarda.

Em caso de uma ofensiva posso utilizar também as [Garras de Navalha] em um eventual ataque surpresa ou direto, ou encurralar meu agressor com meus [Fios de Seda] [Teias Eletrizantes] elas não iriam causar nenhum dano ao ambiente, mas acredito que irão permanecer no local por um tempo, eu não sei ao certo se eles se dissolvem naturalmente ou se permanecem enquanto ninguém os tire.

Em caso de uma fuga posso usar a minha [Camuflagem] ou para elaborar um elemento surpresa momentâneo.

E claro [Sopro de Vácuo] [Cuspe Ácido] estão fora de cogitação!

O impacto destrutivo daquela onda de vácuo em uma área curta é notável, sem falar que chamaria muita atenção em um lugar como esse, eu preciso treinar muito para conter esse ataque ou ao menos diminuir sua área de impacto.

E bem, o ácido...está fora de cogitação por esse mesmo princípio...

Gruunh

Posso ouvir algo em volta...

Não é uma presença hostil, á menos para mim, mas seu grunhido é bem característico.

Não pensei duas vezes e ativei logo á minha [Camuflagem] para não atrair nenhuma atenção.

Gruunh

Parece que estou andando em sua direção, agora que ouço esse grunhido se assemelha mais ao de um porco...não...como estamos em uma floresta acredito que se trate de um Javali.

Continuei seguindo em frente me esgueirando entre ás árvores um pouco á frente e pude vê-lo, o mais sensato seria se afastar ao máximo para evitar qualquer confusão, mas eu não subestimo mais as criaturas desse lugar depois de tudo o que eu passei naquela caverna, ele pode ter algum tipo de percepção aguçada ou coisa parecida então quero ter uma certa noção dessa vez.

Depois de passar por alguns arbustos discretamente agora eu o vejo claramente, ele parecia estar querendo bater a cabeça em alguma árvore por alguma razão, será que quer derrubar alguma fruta ou coisa parecida? 

Talvez ele queira apenas se alimentar, mas ainda assim uma fruta comum seria o suficiente para alimentar um javali desse tamanho?

Eu sabia que porcos selvagens eram grandes, mas acho que aquele já é um tanto exagerado, é melhor me afastar enquanto ainda tenho chance.

Foosh!

— Se...Se afaste de nós!

 O quê? Uma pequena bola de fogo acabou caindo no chão em sua frente, ele até mesmo chegou á se afastar por conta disso.

Ele está atacando alguém?

Pelo tom de voz se trata de alguém bem jovem, uma criança ou um adolescente talvez? Seriam outros humanos? Não sei dizer...

Gruunh Gruuh! 

Talvez esse ataque desesperado foi apenas para afastá-lo porém isso não foi efetivo, pelo contrário isso acabou causando sua fúria...

Ele está se preparando para atacar, porém ainda está relutante, á qualquer momento ele pode desferir um golpe certeiro em seja lá quem for, minha visão não é muito favorável dessa distância...

Ainda assim...

Eu deveria apenas ignorar...isso não é problema meu...

Ao menos foi o que eu pensei de imediato, acredito que se fossem ao menos adultos saberiam lidar com a situação porém se tratam de potenciais crianças e mesmo não tendo nada haver com elas isso poderia ser um problema por motivos éticos...

Se envolver ou ignorar...

Gruuuh!

— Yaah!

KICK! PLAF!

Tive que correr um pouco, mas a minha camuflagem se mostrou efetiva nesse momento.

Meu chute pode não ter sido certeiro mas ele teve um grande impacto e fez o javali voar para bem longe para o lado oposto em que me aproximei.

Graças á minha resistência fui capaz de realizar tal feito, no instante em que meu pé encostou nele pude sentir o seu peso, ele era um animal robusto.

Por mais que o chute tenha sido forte acredito que não será o suficiente para fazê-lo desmaiar.

E no pior momento acabo descobrindo algo interessante sobre á minha [Camuflagem] assim como era com a salamandra, no instante em que desfiro um golpe minha presença é revelada de imediato.

Anotei mentalmente já que precisava ter foco, para poder dar conta de um possível ataque daquele javali que se recompôs rapidamente.

Gruunh Gruuh! 

Mas o quê?

No instante em que ele se virou para mim ele correu para dentro da floresta.

Ele soltou mais um grunhido e fugiu de maneira miserável, será que eu o ameacei? Quer dizer meu Chute foi forte, mas o suficiente para causar algum medo?

É melhor eu não me questionar sobre isso, o perigo foi embora de maneira misteriosa e não quero mais problemas agora...

Quer dizer além do fato de eu ter salvo pessoas desconhecidas, é melhor eu esclarecer isso antes que algo pior aconteça...

— Bem...Não tenham medo eu não machucar vocês hu...manos? 

Espera...humanos não são verdes, muito menos vermelhos...eles são uma espécie diferente...

Como se fossem algum tipo de ogro ou orcs, mas com uma aparência bem jovial.

Eles estão sentados e assustados diante de mim, não tenho certeza da sua altura mas são bem menores do que eu imaginava, ou talvez eu seja exageradamente alta por conta da minha mudança corporal...

— Não nos machuque ó poderosa...

De alguma forma eles falam o meu idioma, ou no caso eu posso compreendê-los, o que torna a comunicação mais fácil.

E o que acabou me chamando de poderosa estava á frente do outro que estava sentado, como se quisesse o proteger de algum perigo.

Quer dizer, posso ver que ele está armado com um tipo de faca improvisada de pedra, e acredito que foi esse jovem que acabou conjurando aquela bola de fogo então ele tinha alguns recursos para se defender, mas acredito que não sejam de seres de grande porte.

Ainda assim, as coisas acabaram se tornando mais interessantes...Quem sabe seja melhor eu dar mais algum esclarecimento para não ser vista como uma potencial ameaça.

Continua...