No momento eu estava os encarando, já podia ter certeza que não se tratavam de humanos, claro não discriminando ou algo do gênero mas acho que não existem humanos de pele verde ou vermelha nesse mundo...pelo menos me baseando no conhecimento comum.
Ainda assim esse jovem parece estar desesperado, estando em guarda com sua faca improvisada em mãos, sua ponta é feita de pedra polida e talhada de maneira desregular, ainda assim por mais que ele esteja apontando isso para mim agora estou mais preocupada com ele mesmo se cortando do que me perfurando, mas ainda assim duvido que algo assim pudesse me machucar.
Ele me olha diretamente nos olhos, talvez esteja se preparando para um suposto ataque da minha parte, o que felizmente par nós dois não é o caso.
Ainda assim desviando o olhar desse, o outro me parece machucado.
Seu calcanhar estava visivelmente inchado, não parece uma simples torção, claramente está doendo, posso notar em sua expressão, mesmo intimidado ele não demonstrava força.
— Se afaste de nós! (Jovem Verde)
Pelo seu grito ele não me quer por perto, talvez ele tenha razão em me temer mas por outros motivos, em meu antigo mundo, se uma mulher da minha idade se aproximasse de um jovem como ele, só podia ser com segundas intenções, eu meio que também abominava o tipo de pessoa que fizesse tal coisa, quando um jovem me saudava ou até mesmo me elogiava eu apenas respondia ou dava alguma atenção apenas como sinal de respeito, mais do que isso acredito que poderia conseguir um passe livre para a cadeia.
Mas de qualquer forma ele me parece muito mau, e olha que eu entendo o que é sentir dor, baseado nas minhas experiências de alguns dias atrás.
— Eu já te disse, eu não vou machucá-los... (Satouma)
Talvez agir compense mais do que falar.
Conforme eu me aproximava sua bravata diminuía ao ponto de fechar seus olhos, porém ele não recuou, demonstrando certo resquício do que sobrou de sua coragem, mesmo assim é preocupante, eu sou tão intimidante assim? Achei até que a minha aparência estava ok quando me vi na masmorra.
— Com licença... (Satouma)
— Ugh... (Jovem Vermelho)
Acabei encostando na perna daquele que estava caído, não precisei nem pressionar fortemente para sentir o local machucado, não sou especialista mas isso está mais para uma fratura interna do que uma torção comum.
Shinnin~~
— Hm? ( Jovem Verde)
Não demorou muito para que fosse feito, conforme a magia de cura fazia o seu trabalho, aos poucos eu podia sentir seu calcanhar se reajustando.
— Prontinho. Bem melhor não é? (Satouma)
— S-sim! Não estou sentindo mais dor! (Jovem Vermelho)
— *Sorri* É ótimo ouvir isso. Ainda acredita que sou uma ameaça rapaz? (Satouma)
Aos poucos posso vê-lo abaixar sua guarda.
Ele guardou sua faca improvisada em uma corda bem velha em sua cintura, ela estava amarrada de uma maneira realmente rústica mas acredito que não cairá facilmente ou causará algum acidente.
— Me desculpe, não queria desrespeitá-la. ( Jovem Verde)
— Tudo bem, você só queria protegê-lo, não é errado se manter em alerta quando alguém próximo pode estar em perigo. Ainda assim me desculpe a ousadia, mas vocês não são um pouco jovens para caçar? (Satouma)
— Bem é... (Jovem Verde)
— Nos afastamos da nossa aldeia...escondidos. (Jovem Vermelho)
— Hey! (Jovem Verde)
Oh? Uma fuga ás escondidas é...
Ao menos é o que pude entender ao vê-lo tentar disfarçar.
Como esperado eles são apenas crianças, não seria sensato mandá-los para uma caçada dentro dessa floresta com criaturas grandes e perigosas como aquele javali.
— Bem, acho que seus pais ficariam preocupados com vocês tão afastados de casa, não seria melhor voltarem? (Satouma)
— Eles tem outras coisas para se preocuparem, acabamos sentindo a presença de monstros fortes então viemos para cá apenas para ajudar. (Jovem Verde)
— A presença de monstros fortes? (Satouma)
Por mais que aquele javali fosse uma criatura forte eu não o senti como uma ameaça, quer dizer eu apenas tive a sensação por conta do perigo que eles estavam passando.
Depois de tudo o que eu passei naquela caverna acho difícil um animal selvagem ser considerado uma ameaça se comparado á uma salamandra com a capacidade de cuspir ácido corrosivo.
— Entendo, vocês só ficaram preocupados e queriam ajudar de alguma forma, mas ainda assim acha que poderiam se defender apenas com essa faca? (Satouma)
— É... (Jovem Verde)
— Bem... (Jovem Vermelho)
— N..não seria problema! Eu posso fazer magia! Poderia usá-la caso estivesse em perigo. (Jovem Verde)
— É mesmo? E acha que ela pode derrubar um javali gigante? (Satouma)
— É...não! Mas posso ao menos espantá-lo. (Jovem Verde)
— Olha...eu sei que vocês estão preocupados e querem ajudar os adultos, mas estar perto seria o melhor para todos, para eles e para a segurança de vocês. (Satouma)
Por mais que seja um exemplo isolado, lidar com crianças era o mesmo que lidar com os meus kouhais em meu mundo, as vezes eu precisava ser rude e mandar á real logo de cara, mas também há horas de falar de maneira amena para que entendam a situação e o meu ponto de vista.
Acabei me abaixando e colocando a mão no ombro de ambos, para demonstrar que eu realmente não sou um tipo de ameaça.
— É melhor voltarem antes que o caminho fique perigoso, ainda está bem claro (Satouma)
— Ela tem razão, é melhor voltarmos. (Jovem Vermelho)
— Tá legal... (Jovem Verde)
Depois de uma breve conversa os convenci a me mostrarem o caminho, agora que sei que essa floresta abrigam criaturas grandes como aquela eu ficaria com a consciência um pouco pesada se soubesse que eles poderiam se meter em encrenca novamente, ainda mais que sei que estão aqui por um motivo nobre porém ingênuo da parte deles.
Por mais que fossem monstros como eu eles não apresentam certa ameaça, mesmo sendo crianças eu não posso subestimá-los, mas depois da nossa conversa percebo que eles tem um bom coração, com esse pensamento acabei tomando a direção sendo guiada por eles até sua aldeia.
[...]
Ao que parece o caminho é um tanto enigmático porém elaborado de uma maneira interessante.
Eles seguiam um tipo de trilha improvisada á dentro da floresta, mesmo sendo crianças parecem terem sido treinados há bastante tempo para seguirem esse tipo de rota, diria que é um tanto estratégico para cobrir seus rastros.
E também acabei escutando algo interessante em nossa conversa, por serem crianças acabei pegando apenas o conceito básico e usando da assimilação, particularmente aquele quem me viu como uma ameaça era um tanto esperto presumo que dos dois ele seja o mais velho.
Ele comentou o desaparecimento do suposto Deus que eles cultuavam ocorreu recentemente, bem, nessa parte eu não preciso ser um gênia para dizer que ele está falando de maneira exagerada á respeito de Syphus.
Como ele havia me dito antes de dormir, sua presença era notável por toda essa floresta, então não seria incomum ele ser cultuado por algumas raças como alguma espécie de salvador ou divindade á ser temida, nesse caso não entrei muito em detalhes.
Mas graças ao seu desaparecimento muitos monstros começaram á se mover, assim como o suposto número de aventureiros aumentou, uma casualidade acabou afetando á outra causando um tipo de efeito bola de neve para ambos os lados.
Ao que parece eles se estabeleceram recentemente nesse meio tempo já que esse caminho foi recém feito.
Ainda assim ao chegar lá bem...posso dizer que a minha recepção não foi das melhores.
Para começar os adultos acredito eu que sejam estavam em frente ao centro de sua aldeia, relutantes com a minha presença, porém quando cheguei com esses dois segurando a minha mão rapidamente se acalmaram, claro eles também explicaram á gritos que eu era um tipo de aliada poderosa.
Quando estou indo para um lugar novo, assim como era em meu mundo eu sempre deixava os anfitriões tomarem a palavra para que depois eu pudesse me pronunciar, nesse caso acabou indo longe de mais.
Dentro da sua aldeia bem...era um tanto rudimentar para não dizer desorganizado.
As casas eram...bem não eram casas, pareciam mais um tipo de tenda ou barracas improvisadas mas ainda assim funcional para sua espécie, eu não deveria estar surpresa em ver que estão morando juntos em um tipo de aldeia.
Acabei sendo guiada até um desses edifícios rudimentares, mas ainda assim sendo encarada como algum tipo de ameaça.
Mais uma vez não os culpo por pensarem assim, talvez por conta da minha aparência e até mesmo a minha vestimenta improvisada eles estejam relutantes, embora meu manto pareça visivelmente mais adequado do que os trapos que eles estavam utilizando.
Aqui dentro podia ver que o telhado era feito de palha e gravetos os mantendo, pelo estado obviamente estão apodrecidos e haviam alguns buracos nas fendas das paredes, que eram feitas de madeiras empilhadas, uma casa de madeira estilo sobrevivente.
Eu não sou de julgar moradia alheia, mas ainda assim um apartamento das piores avaliações para alugar em meu mundo seriam mais adequados e até mesmo mais seguros do que esse lugar.
— Peço desculpas por fazê-la esperar, acabamos de retornar da nossa caçada. (Líder)
Oh? Um homem alto de cor vermelha entrava no lugar.
Eu não sei ao certo mas algo me diz que ele é o líder desse lugar, presumo isso pelas suas vestimentas e pelo ornamento de ossos em seu pescoço, não são ossos humanos são de presas comuns.
— Ah não se preocupe, não esperei por muito tempo, acho que sou eu quem deveria estar me desculpando por aparecer sem ser uma convidada. (Satouma)
Acredito que deveria agir cordialmente, mesmo esperando um bom tempo aqui dentro eu não poderia causar uma má impressão, quer dizer mais do que eu já acabei causando.
Por sorte meus conhecimentos dentro da empresa podem ser utilizados por aqui, no momento terei que utilizar minha lábia para poder compreender tudo o que está acontecendo aqui.
— Sobre isso pode se considerar uma convidada de honra, soubemos pelos mais jovens o que aconteceu, você tem a minha gratidão. (Líder)
Eu estava sentada no chão e ele também havia feito o mesmo e acabou se curvando em minha frente, ele realmente parece estar bem agradecido com essa pequena boa ação.
— Não precisa exagerar foi apenas uma boa ação, não podia deixar os mais jovens em uma situação perigosa.(Satouma)
No instante em que mencionei os jovens uma fêmea de sua espécie vem para nos servir algo.
Até mesmo seus copos são rudimentares feitos de madeira oca entalhada, dentro deles obviamente apenas tinha água, em sinal de respeito por ter sido servida acabei tomando um gole.
— Claro, devo imaginar que vocês não os mandaram para uma caçada, ou eu estou errada? (Satouma)
Afinal na natureza algumas espécies selvagens mandam seus filhos passarem por situações adversas á fim de treiná-los desde cedo á como lidar no ambiente em que estão, presumi que para monstros poderia ser o mesmo conceito, mas eu também poderia estar enganada.
— Pelo contrário, eles assim como os outros mais novos querem ajudar os adultos em seus trabalhos, estabelecemos nossa aldeia nesse lugar pacato recentemente, deve estar ciente do recente aumento de atividades de monstros como nós por aí não está? (Líder)
— De maneira bem vaga. (Satouma)
— Muitos assim como os membros de vossa aldeia viviam pacificamente por conta da proteção de nosso Deus, mas com seu recente desaparecimento, outras espécies de monstros invadiram esse território, tanto os inferiores como nós quanto raças mais evoluídas estão em incursão por toda à Floresta. (Líder)
Mais uma vez ligando os pontos, o desaparecimento de Syphus realmente causou uma instabilidade no equilíbrio desse lugar.
Se for levar ao extremo essa informação parece que está em alguma espécie de cada um por si.
Em meu Mundo guerras seriam instauradas por motivos como esse, pela falta de um governo em um território isolado com certeza alguém iria querer tomar sua parte se você não ficasse atento, se tratando de monstros acredito que cada espécie tenha seu modo de agir então muitos outros que até então segundo o Líder viviam pacificamente estão começando a agir por necessidade.
— Entendo, devem estar passando por momentos difíceis, isso também explica o fato de terem me visto como uma potencial ameaça naquela hora, (Satouma)
— Hahaha, por favor gostaria de pedir para esquecer esse episódio, agora que converso com você posso entender que se trata de uma pessoa modesta, além do mais se a atacássemos tenho certeza que levaríamos a pior. (Líder)
— Talvez isso se deva pela minha aparência. (Satouma)
— Não, de fato dracônicos são uma espécie rara por aqui, mas você é um caso especial, um dracônico nunca irradiaria uma aura tão sombria, mas ainda assim é uma ousadia você ter assumido essa aparência por ser um monstro nomeado. (Líder)
— Monstro nomeado? (Satouma)
"Nomes, bençãos e batismos, são a forma mais absoluta que um monstro superior possui em relação aos inferiores, um vínculo que vai além da magia, ao criar um laço de confiança através de um nome ou conceder uma benção á alguém dependendo do seu grau grandes coisas podem acontecer para um indivíduo"
Baseado no que Syphus diz grandes coisas podem acontecer á um indivíduo, isso já foi confirmado apenas na minha mudança repentina na aparência.
Sem falar que pude adquirir parte de seus poderes e aprimorar os meus próprios no processo então realmente foram grandes coisas.
Mas ainda assim uma aura sombria...
Eu não faço ideia do que isso seja mas ainda assim pareço estar emitindo.
Por um segundo apertei totalmente minha visão e me focando por completo, assim como foi na primeira vez que acordei.
Foi então que pude observar esse miasma sombrio.
Assim como era com Syphus naquela caverna eu emanava uma presença parecida com a sua, e parece que está bem densa!
Isso explica o porque aquele javali saiu correndo e nem mesmo tive problemas em lidar com ameaças, ou no caso acabei sendo encarada como uma!
Isso é um tanto vergonhoso, parece que estou andando sem camisa em frente á todos só que sem nada por baixo, completamente exposta!
De maneira sutil acabei me concentrando e fechando meus olhos por um momento absorvendo toda aquela aura para dentro, foi estranho mas de certa forma familiar, foi como cessar minha magia de cura em meu corpo, inclusive quando fiz isso agora pouco pude sentir uma certa leveza em meu corpo.
Por conta da concentração mágica suponho e claro a constante ameaça naquela masmorra meus sentidos acabaram comprometidos.
Eu poderia até mesmo acabar na pior caso encontrasse alguma espécie de monstro mais violenta.
— Bem...peço desculpas por isso. (Satouma)
— Haha, fico feliz em ter notado sua aura, monstros como eu não seriam capazes apenas se sentiriam ameaçados como os outros ficaram. (Líder)
— Entendo, então não é atoa que você é o líder. (Satouma)
Além da sua aparência robusta pude ter certeza de seus conhecimentos, ele me pareceu assustado no começo, mas conforme foi conversando comigo e mostrando o seu ponto de vista ele demonstrou certo alívio, como esperado de um líder corajoso.
— Você me lisonjeia, mas fico aliviado que passamos em seu teste, agradeço por ter dissipado sua aura, acredito que os outros lá fora ficarão aliviados (Líder).
— É...como quiser... (Satouma)
É melhor deixá-lo achar que foi tudo um ato premeditado.
Acabei tendo noção desse lance á respeito de aura hoje e agora que o fiz talvez eu não seja encarada como uma ameaça alheia.
— Se me permite a ousadia poderia lhe perguntar o seu nome? Ou devo me dirigir á você como "Poderosa" assim como os mais jovens á chamaram? Se for o caso não seria problema nenhum não gostaria de insultá-la. (Líder)
— Por favor me poupe desse título, meu nome é Sato M...Satouma.
Ainda tenho que me habituar com o meu novo nome...
— Satouma-Sama, sinto que estarei abusando da sua boa vontade, mas poderia escutar o meu apelo? (Líder)
Falando nesse tom é como se ele fosse implorar por algo para mim outra vez e eu não quero que ele se curve diante de mim outra vez...
— Claro, não será problema, contanto que me responda algumas perguntas antes. (Satouma)
— Com certeza, farei o meu melhor para sanar suas dúvidas. (Líder)
Apenas para conhecimento básico acabei perguntando á respeito de sua espécie diretamente.
De fato se tratavam de orcs, no caso também perguntei á respeito de ogros e eles falaram que são espécies distintas mas suas aparências são facilmente confundidas mas apenas por alguns aspectos físicos.
Perguntei sobre sua aldeia se ela possuía algum nome, no caso não, então aproveitei para saber aproximadamente quantos indivíduos esse lugar possuí, segundo ele, conta com pelo menos 70 Orcs, distintos em machos, fêmeas e crianças.
Por curiosidade perguntei também se eles eram os únicos dessa floresta, eles responderam que não, sua espécie é espalhada por diversos lugares nesse território e elas não possuem um tipo de parentesco entre si mas em uma situação como essa ele explicou que haveria um tipo de ligação, como um vínculo de mutualidade.
Essa floresta é um enorme pedaço de terra chamado Langri, ela era guardada por seu Deus que desapareceu, no caso Syphus, ele não tem noção ao certo do seu tamanho mas ele destacou que se tratava de uma área enorme.
Sobre o conceito de monstros ele também não entende muito afinal há várias espécies e diferenças da qual possam determinar superioridade e inferioridade em relação de uma á outra, vários fatores poderiam determinar isso, tanto como força, quanto inteligência e outros aspectos.
— Entendo, obrigada pelo esclarecimento. (Satouma)
— Fico feliz que tenha sanado suas dúvidas. (Líder)
— Por favor, agora prossiga com o que ia dizendo. (Satouma)
— Com sua licença...(Líder)
Ele me contou uma breve história da qual acabou contextualizando mais ainda algumas dúvidas que me abstive de colocar em pauta.
Aparentemente dos territórios do Sul e Oeste, novas espécies de monstro ameaçaram o equilíbrio dessa região, sua aldeia, assim como as outras demais relacionadas á sua espécie acabaram sofrendo por conta das batalhas constantes, segundo ele seu povo pode ser forte, mas lidar com conflitos como esse constantemente apenas os enfraqueceria, foram que os menores poderiam acabar sendo afetados com essas lutas sem objetivo.
Ao que parece eles perderam ótimos guerreiros por conta das batalhas com os recém chegados, mas ainda assim ao que parece eles tinham um nomeado dentro de seu grupo, até o momento eu já entendi o conceito de nomes para monstros então uma espécie ainda mais poderosa acabou fazendo o favor de fortalecê-lo lhe concedendo essa benção porém não foi o suficiente e ele acabou morrendo em meio á tantas batalhas.
Por conta dessa perda alguns se dispersaram para lugares do qual achavam serem mais seguros e os outros os acompanharam nessa incursão, enquanto uns gostariam de se isolar para preservar uma pequena parte outros ainda optaram por se manterem unidos.
Como Líder deve ter sido difícil passar por tudo isso, perder muitos que lhe eram próximos e verem outros indo embora, o fardo que ele teve que carregar é um tanto pesado se for colocar em uma balança.
Essa foi a história que ele me contou, poderia defini-la como bem amarga.
— Compreendo... Você havia dito que restaram aproximadamente 70 orcs, dentre esses, quantos você diria que sabem lutar? (Satouma)
— Por conta desse desastre, as fêmeas e as crianças são um número bem maior dentre nosso bando, todos os homens tem um preparo, algumas fêmeas também sabem lutar porém elas servem apenas para defenderem os mais novos, por mais que alguns fossem corajosos como aqueles que você salvou na floresta, preferimos não envolvê-los em coisas como essa até que atinjam a maioridade, mas no que diz respeito á quantidade posso dizer que corresponde á metade do nosso número, claro não contando com os jovens. (Líder)
Bem, dependendo de potenciais ameaças a quantidade pode ser um problema, com a baixa de homens envolver as mulheres poderia ser perigoso, afinal elas seriam mais adequadas para cuidarem das crianças e até mesmo á proliferarem sua espécie futuramente, mas ainda assim homens seriam bem mais valiosos em poder de defesa.
— Espere...você disse que estavam lidando com uma ameaça e tiveram que se mudar, então essa ameaça não foi neutralizada...ela ainda causará problemas? Quem são seus adversários? (Satouma)
— Ah sim...As formigas gigantes, da família das formigas das Rochas. (Líder)
— Saberiam quantas dessas "formigas" seriam? (Satouma)
— Me desculpe...Mas se tratam de uma espécie numerosa, sua Líder comanda seu enxame na linha de frente, mesmo assim seriam adversárias difíceis, com os números reduzidos seriam necessários dez de nós para nos equipararmos á pelo menos duas delas, apesar de conseguirmos lidar com algumas no passado é capaz desse número estar bem maior e por se tratarem de uma espécie rancorosa, seu enxame eventualmente nos encontrará. (Líder)
Formigas gigantes...De fato, assim como os monstros que vi, soam como inimigos que eu facilmente veria em algum jogo de RPG.
Mas ainda assim sua espécie perder em quantidade e baseado em sua estimativa de força...isso estaria na dificuldade mais difícil se isso realmente fosse um jogo.
Quando o encarei pude ter certeza em seu olhar, ele não estava exagerando.
— Tenho que perguntar, por mais que seja indelicado da minha parte, seus guerreiros anteriormente, mesmo sem a certeza que não poderiam ganhar eles foram de bom grado para esse conflito? (Satouma)
— Alguns deles tinham famílias para protegerem, outros se assustaram no momento, ainda mais com a perda do nosso guardião nomeado...como líder tive que motivá-los á continuar para que nosso bando continuasse á viver, foi uma escolha difícil mas seus sacrifícios não foram em vão, por isso como um dos sobreviventes quero compensá-los e dar um lugar seguro para os jovens que foram deixados. (Líder)
Realmente soou como um discurso tocante.
Acabei perguntando para ele á respeito do monstro nomeado do qual ele me falou, ele não era um orc qualquer ,ele era seu filho, assim como sua esposa ambos foram mortos nesse conflito.
Sabe, sendo uma gerente de negócios em minha empresa eu sou experiente nesse tipo de conversa então eu sabia até onde isso iria chegar.
Ele não iria abrigar um monstro do qual eles intitularam como "poderosa" sem nenhuma segunda intenção, depois de me contar sua história eu podia compreender claramente que ele tinha segundas intenções, no caso me usar de alguma forma.
Acabei fechando meus olhos por um momento e pensando nessa situação como um todo.
Ainda assim tive que ser sangue frio para tomar essa ação, já que no instante em que citou seu falecido filho e esposa uma lágrima saiu de seu rosto.
Será que eu devo ser condescendente á respeito dessa situação? Acabei de conhecê-lo hoje, ele poderia estar me usando para sobrepujar uma outra espécie inferior apenas com essa conversa convincente, então é hora de entrar com a minha cartada.
— Líder...Gostaria de saber uma coisa, caso eu ajudasse sua aldeia, o que eu ganharia em troca? Quer dizer dependendo da circunstância eu poderia estar me arriscando por menos. (Satouma)
Não que eu seja mesquinha afinal precisava ter certeza de suas intenções, dependendo do que ele estaria disposto á me oferecer eu poderia ter certeza delas.
Ainda mais se tratando de uma espécie com potencial numeroso ,mesmo em pequena quantidade baseado em suposições alheias eles não iriam conseguir lidar com elas.
Acredito que com os meus poderes poderia até fazer alguma coisa com certa dificuldade, mas ainda assim...precisava ter certeza de que não seria em vão.
— Nossa aldeia não possuí muitos recursos, mas a única coisa mais valiosa que posso lhe dar além da minha gratidão, seria a minha...não, a lealdade de todos os Orcs dessa aldeia. (Líder)
Bem...eu não esperava que isso fosse escalonar dessa maneira, apenas o seu apoio seria o suficiente mas confiar cegamente em mim desse jeito chega á ser um exagero.
Posso ver que ele não está para brincadeira, disposto á colocar seu orgulho em jogo em prol de uma chance para se defender, não é atoa que ele é o líder.
Desde que fiquei solitária por muitos dias dentro daquela caverna qualquer interação para mim seria uma novidade, mas ainda assim foi interessante ter uma conversa com os jovens orcs e seu líder.
Apesar das condições desse lugar e os padrões não serem adequados ainda assim é o lar deles, provavelmente se eu ainda fosse humana eu poderia ficar assustada com tamanha imundice mas agora que sou um monstro isso parece ser algo completamente irrelevante, quer dizer por enquanto...
O Líder dos Orcs me olhou por um momento, como se eu fosse sua última esperança, isso realmente me tocou. Talvez por ter me lembrado dos meus Kouhais que sempre dependiam de mim quando a situação estava ruim, mas isso está mais para o lado extremo da coisa.
— Eu vou aceitar sua proposta. (Satouma)
— Muito obrigado, você é realmente a nossa salvadora. (Líder)
— Por favor não exagere, estou longe de ser uma salvadora mas vou ajudá-los no que for preciso. (Satouma)
Bem, e assim acabei formando uma espécie de aliança com os orcs dessa aldeia.
Eu não sei ao certo o que vai acontecer mas por enquanto posso ser considerada sua guardiã.
Continua...