Acordo Beneficente (1)

Sabe mesmo passando por essa situação eu não me sinto incomodada, muito menos constrangida.

Acabei causando uma péssima primeira impressão e não era a primeira vez que passo por uma situação como essa.

Mais um toque nostálgico de meu velho mundo vem em minha mente.

Não que eu tenha sido presa, mas acabei sendo repreendida por agir de maneira imprudente por cair na idiotice alheia, uma coisa acabou levando á outra e quase fui demitida por isso, mas com o tempo aprendi á ser tolerante.

Assim como fiz agora há pouco.

Essa é uma situação adversa, afinal, mesmo sendo a vitima inicial reconheço que também tive que apelar para a violência.

Poderia ter o privilégio da razão, afinal de contas fomos nós quem fomos incomodados primeiro porém isso não passaria de um esforço inútil já que segundo o próprio guarda, são as regras do lugar.

Como resultado, acabamos sendo escoltados pela Cidade como prisioneiros, ou pelo menos temporariamente.

Presumo que Starko'gus fará algo á respeito, porém isso pode demorar algum tempo.

Iríamos até o posto de guarda para um tipo de interrogatório, procedimento padrão assim como em meu mundo, em caso de algum crime passaríamos por uma série de burocracia em um órgão legal até termos um resultado favorável.

Estranhamente Dait também não parecia incomodado, quando lhe perguntei o mesmo me respondeu que estava tudo bem, já que eu estava junto com ele nada de ruim iria lhe acontecer, ao menos isso é verdade já que dei minha palavra que iria protegê-lo.

As algemas ainda são um incômodo, mas não serão utilizadas por muito tempo, após tudo ser resolvido do lado de fora, havíamos entrado na Cidade porém fomos escoltados até a estação dos guardas.

[...]

Ao que tudo indica, ser atacada e revidar é motivo de prisão imediata, mesmo sendo a vitima aqui.

A ordem das coisas é muito simples, fui ameaçada, ignorei, fui ameaçada mais uma vez, tentei ignorar, fui atacada diretamente e revidei á altura.

Em meu mundo isso se chamaria defesa pessoal então na teoria eu seria inocente não é verdade?

Esperamos por algum tempo em nossa cela, devo dizer que está um tanto conservada.

Não havia ninguém por aqui, ou os prisioneiros tiveram um destino não tão amigável ou todos seguem ás regras adequadamente e não são presos, talvez a segunda opção seja a mais aceitável.

Naquele instante senti um certo alívio ao ver Starko'gus se aproximando de nossa cela.

— Por favor, me faça feliz. (Satouma)

— Bem, achei que minha presença fosse o suficiente para isso. Mas não se preocupe, tudo está seguindo como os conformes. (Starko'gus)

— E com conformes você quis dizer á nossa repreensão? Desviamos o olhar por alguns minutos da fila de entrada e uma confusão daquelas acontece? Como esperado você só trás dor de cabeça para nós Stark. (Dimbert)

O guarda então se juntou á conversa.

Mesmo provocando Starko'gus, seu tom de voz era um tanto amigável.

— Se esse foi o caso peço desculpas em nome de nós dois. (Satouma)

— Se poupe das desculpas, o caldo já foi derramado e os avisos já foram dados, mas sugiro que haja com cuidado da próxima vez, Stark não mencionou muita coisa ao seu respeito, ele achou melhor conversar com você pessoalmente, então espero que valha o nosso tempo. (Dimbert)

Ao menos pude aliviar o fardo já admitindo a culpa, o mesmo foi usado naquela situação em meu mundo.

 Depois de um tempo você percebe que discutir esse tipo de coisa não leva á nada, independente de estar certo ou errado.

Admitir a culpa diretamente acaba até mesmo fazendo com que ganhe alguns pontos em certos casos, como foi agora há pouco.

Mas voltando á seriedade expliquei para eles a situação toda.

Os relatos das testemunhas visuais segundo o tal Dimbert confirmam parcialmente o meu álibi.

— De fato, pode ter soado como uma ameaça, mesmo assim temos dúvidas de que tipo de monstro é você? (Dimbert)

— Bem...achei que estava na cara. (Satouma)

— Um draconato com suas habilidades beira mais á um demonoide, Stark tentou me convencer do contrário, mas não esse tipo de habilidade não é comum para sua espécie segundo nossos relatórios. (Dimbert)

— Sobre isso...(Satouma)

— Nessa parte eu infelizmente não pude argumentar ao seu favor, além do mais, nos conhecemos há poucos dias. (Starko'gus)

Por várias razões explicar minhas habilidades seria uma perda de tempo, sem falar que provavelmente não acreditariam na origem das mesmas.

Eles estão desconfiados de mim mas com um pouco de razão, alguém que causa confusões no primeiro dia e ainda por cima possuí poderes do qual sua espécie desconhece não é alguém para se confiar.

— Eu não sei dizer eu apenas, possuo tais habilidades, mas não sou um demonoide ou algo relacionado á essa raça. (Satouma)

— Isso não podemos negar, talvez você seja um achado raro em sua espécie. (Dimbert)

— Devo mostrar novamente minhas habilidades? (Satouma)

— Não será necessário, além do mais não há alguém aqui em que você possa demonstrar, Satouma não é? Por acaso alguém á nomeou? (Dimbert)

Isso faria algum sentido, afinal realmente foi o que aconteceu.

A questão é que é um pouco complicado revelar a identidade daquele quem me nomeou.

O verdadeiro culpado pelo desequilíbrio de toda uma floresta.

— Sobre isso, eu infelizmente não me recordo, não possuo muitas lembranças do meu passado mas posso dizer que cresci bem. (Satouma) 

— Isso não ajuda em muita coisa. (Dimbert)

— Eu lhe disse que ela era um enigma. (Starko'gus)

— Hey, o que você falou ao meu respeito para ele? (Satouma)

— Apenas o necessário, se eu falasse tudo por você eu teria que inventar algumas coisas, sem falar que podai ser uma oportunidade de saber mais ao seu respeito. (Starko'gus)

Eu não sei se você está aqui para me ajudar ou para me atrapalhar.

Mesmo assim mais perguntas relacionadas foram feitas e eu fui me esquivando e respondendo algumas.

Até mesmo Dait foi envolvido, mas ele também não sabe muito ao meu respeito então ele apenas agiu de maneira vaga dizendo que estava seguindo uma jornada comigo.

Demorou alguns minutos até que tudo tomasse um caminho para um argumento convincente.

[...]

Isso foi pior que uma reunião de negócios com nossos investidores.

Horas e horas tentando argumentar e convencê-los a investir mais em nossa empresa em determinados ativos por tais motivos, até que tudo terminasse em um aperto de mãos, ou nesse caso o fim de um enorme questionário.

Minha identidade, bem era algo provisório.

Uma draconato curiosa que saiu das montanhas rochosas do Leste para viajar o mundo e conhecer lugares novos, ao lado de um jovem orc perdido.

Starko'gus no entanto acabou nos encontrando por acaso, e sendo um anão benevolente ele nos guiaria por esse lugar por algum tempo, ao menos ele acabou entrando no meu joguinho.

— Você parecia mais interessado nisso do que eu. (Dimbert)

— Só queria ver até onde isso ia chegar, nunca participei de um interrogatório de segurança, foi interessante. (Starko'gus)

— Bem, que seja, ainda não estou convencido á respeito do objetivo deles, me responda honestamente, o que é que vocês dois estão--

Pah Pah! 

— Capitão! Capitão! (Soldado)

— Diga! Qual o motivo de tanto alarde! (Dimbert)

— Os mineradores retornaram das minas, eles foram atacados por Aranhas das Cavernas! Alguns foram feridos e outros estão envenenados! (Soldado)

— O quê?! Eles retornaram tão cedo por isso?! Todos estão aqui? (Dimbert) 

 — Quase todos, alguns com feridas rasas estão sendo tratados na zona de mineração, os mais severos foram tragos de imediato para á Cidade. (Soldado)

— Então porque está perdendo seu tempo comigo seu idiota! Fale com os herbolistas sobre isso solicitando todas as poções o mais rápido possível! (Dimbert) 

— Isso já foi feito, mas os estoques estão em falta! A maioria dos antídotos e poções de cura foram vendidas, nem mesmo o estoque de ervas naki purificadas podem ser consumidas para amenizar á dor. (Soldado) 

— Que droga! E os curandeiros! (Dimbert)

— Estão junto com os mineradores na expedição das minas, alguns também foram feridos e não estão em condição para usar sua magia, sem falar que foram desgastados enquanto purificavam os cristais para mineração. (Soldado) 

— Está brincando comigo! (Dimbert) 

Isso parece bem sério ,aliás bem alarmante.

Mesmo assim, eles estavam se referindo á uma certa erva com propriedades curativas.

— Com licença... Essa tal erva naki... Se referem á isso? 

Rapidamente conjurei uma daquelas ervas em minhas mãos.

— O que é que está fazendo com essa coisa? Está louca? Segurar uma erva naki corrompida, vai acabar se espalhando! (Dimbert) 

— Ah, me desculpe... (Satouma)

Então a corrosão é algo que se espalha, ao menos em mim ela não tem esse efeito.

Em alguns instantes purifiquei á erva em minha mão.

E agora parece que ganhei na loteria ou estou exibindo algum artigo de luxo já que todos os anões, incluindo Starko'gus olhavam surpresos para minha mão.

— Algum problema? (Satouma) 

— Uma erva Naki completamente purificada! Isso é extremamente raro! (Dimbert)

— Eh? Elas são tão valiosas assim? (Satouma) 

— Uma erva Naki purificada em síntese é o suficiente para fazer um lote inteiro de vinte poções, mesmo sendo impura, mas uma desse tipo é o suficiente para encher uma prateleira inteira de uma loja pocionista! (Starko'gus)

Eh?

E durante meu tempo naquela masmorra eu consumi uma grande quantidade dessas coisas?

Se for seguir esse pensamento, consumi ervas que poderiam suprir todo esse reino por metro quadrado em poções?!

— Huhuhu, quanto mais tempo passo com a Senhorita mais me surpreendo. (Starko'gus)

— Isso vai ser o suficiente para cuidar dos feridos? (Satouma)

— Mesmo tendo ás purificado ao ponto perfeito, consumi-las de maneira direta apenas amenizaria os sintomas, a dor iria embora, o veneno seria dissipado, mas a ferida ainda continuaria. (Starko'gus)

Agora entendi.

Quando ás consumia eu apenas tinha a sensação de redução de cansaço e alívio no meu corpo, elas precisam passar por algum processo que presumo que seja extremamente trabalhoso então eles não teriam tempo para fazer alguma coisa em relação aos feridos.

Isso pode ser uma brecha conveniente para mim.

— Capitão Dimbert...eu tenho certa aptidão á cura como o Senhor pode ver, estou disposta á ajudar os feridos contanto que nos conceda á liberdade. (Satouma) 

— O quê? (Dimbert)

— Nossa amiga apenas lhe oferece um acordo simples, eu mesmo posso confirmar que ela possuí tal habilidade com uma grande maestria, veja, você está tão ocupado com o trabalho que nem notou que seu velho amigo está andando sem tropeçar e enxergando melhor. (Starko'gus)

Isso é um tanto exagerado mas é a pura verdade.

O curei ao ponto de voltar á andar como antes e até mesmo curei a cegueira de seu olho esquerdo.

— Gah...tudo bem... Mas apenas porque a situação é séria, se aprontar alguma coisa a prenderei novamente. (Dimbert)

— Bem... (Satouma)

Trek!

— Então temos um acordo...caramba, essas algemas são um incômodo, Dait... (Satouma)

Quando ele esticou os seus braços rompi ás correntes com ás minhas mãos e retirei as braçadeiras dos pulsos enfim estamos livres, ao menos por enquanto. 

— Talvez ainda tenha muitas perguntas mas não tenho tempo para respondê-las, me leve até os feridos. (Satouma)