Acabamos conseguindo a nossa liberdade, de maneira parcial é claro.
Primeiro para que isso fosse feito eu precisaria tratar dos feridos.
Dimbert explicou para nós que um grupo de anões mineradores foram contratados para explorar uma nova área de mineração.
Como essa Cidade está no auge do progresso a demanda de recursos é alta então toda vez que uma mina chega á escassez eles são obrigados á explorar uma área de interesse maior.
No caso eles acabaram indo um pouco longe de mais.
Pelo relato de um de seus subordinados, uma boa parte dos mineradores foram severamente feridos, mas por um acaso de sorte não estão fadados á morte.
Foram atacados por aranhas da caverna, consequentemente foram envenenados por isso o que era a maior preocupação, mesmo não sendo um risco por ser algo que facilmente poderia ser tratado com essas mesmas ervas ou poções, no estado em que estão isso poderia significar a vida ou a morte.
Então não tínhamos tempo para conversa fiada e fomos direto aos feridos.
Para nosso azar eles estavam há alguns minutos do local em que fui aprisionada, tenho uma imagem mental de como eles devem estar, qualquer minuto que esperam será agoniante.
Todos estavam alocados em uma hospedaria de emergência, isso seria equivalente á um centro médico do meu mundo, tirando á parte é claro de ser um local do qual abriga apenas pessoas severamente feridas.
Mesmo sendo um momento crítico eu fiquei surpresa em saber que as estruturas locais não foram feitas especificamente para os anões.
As portas é claro eram um pouco baixas, mas o lado de dentro das construções eram extremamente espaçosos, isso sim é otimizar o espaço.
De bom grado entreguei apenas aquela erva purificada para o outro subordinado que veio á mando de Dimbert.
Ela seria usada para síntese das poções, eu não tenho ideia do procedimento, apenas uma informação vaga, isso iria demorar algum tempo, ainda mais se tratando de uma erva naki completamente purificada.
Deveria me gabar por minha capacidade mas esse não era o momento.
Ao entrar em um dos salões pude ver uma fileira de anões debilitados.
Os ferimentos eram relativos, alguns tão graves o quanto e outros superficiais, podia também ver algumas marcas roxas e avermelhadas em seus corpos, isso poderia ser o veneno das aranhas agindo?
Não importa, primeiro eu precisaria ter uma noção básica dos ferimentos de cada um para aplicar a cura.
Diferente do que acontece comigo, curar e purificar o meu próprio corpo é um processo natural, infelizmente eu ainda peco em fazer isso com outros seres vivos, pode soar inadequado mas são essas pequenas casualidades que me fazem ir ao limite do meu poder.
— São todos eles? (Satouma)
— Sim, os outros estão sendo tratados nos acampamentos ao redor da zona de mineração, mas não estão em estado grave. (Dimbert)
— Isso é uma boa notícia. (Satouma)
12...14...16...17 anões, caramba, foi uma operação bem grande.
Os ferimentos de todos foram cobertos por ataduras de maneira improvisada, os mais severos eram os mineradores, pude diferenciá-los por causa das roupas mais robustas, diferente dos curandeiros com equipamento mais leve, mas ainda assim se tratando de anões, todos possuem um certo físico forte...
Mas acabei me surpreendendo.
Dentre eles há um homem com orelhas pontudas se contorcendo de dor.
— Malark?! (Starko'gus)
— Hm? Stark? O que está fazendo aqui? (Malark)
— Eu é quem deveria te perguntar isso! O que faz entre os feridos? Não me diga que foi até as minas. (Starko'gus)
— Você o conhece? (Satouma)
— Sim, é só um elfo cabeça dura, deixe-me adivinhar, falta de inspiração outra vez? (Starko'gus)
— Eu precisava de uma mudança de ares, sabe que um construtor como eu precisa manter a criatividade em dia! Ouch! (Malark)
— Por favor, fique parado. (Satouma)
Ele parece querer demonstrar força, mas é um dos que foram feridos superficialmente porém acabou sendo afetado pelo veneno.
Quando o toquei utilizando minha magia de cura aquele brilho apareceu em minhas mãos.
Venenos não são consideradas magias elementais, aliás nem sequer são consideradas magias, soam mais como um tipo de enfermidade, mesmo sendo induzida por outro ser.
Mas não é tão diferente de tratar uma ferida, ao menos por eu ter uma certa [Resistência á toxidez] eu não preciso me dar ao trabalho de me autopurificar.
Demorou alguns segundos, mas as feridas do elfo foram curadas e o veneno foi neutralizado.
— Incrível! Todas as feridas, as dores, sumiram! (Malark)
— Agora acredita nela? (Starko'gus)
— Acreditar é tudo o que posso fazer agora. (Dimbert)
— Certo...ainda não acabamos, vamos tratar os mais severos agora. (Satouma)
[...]
Para poupar o trabalho, segurando as mãos, de dois em dois pude curá-los com perfeição.
Pude compreender um pouco á respeito desse veneno e de como funcionava o corpo dos anões.
Naturalmente eles possuem uma resiliência á venenos com potencial tóxico ou atordoante, mas assim como pessoas comuns eles pereceriam ,mas demoraria algum tempo até que fosse feito.
Fora que seus corpos também são bem robustos então para aranhas causarem algum ferimento significa que são seres extremamente fortes, ou eles foram pegos por uma emboscada, isso é algo que não saberei dizer.
Embora á cura tenha sido feita com maestria, a sensação letárgica era iminente, até mesmo eu passo por isso ás vezes então todos os que foram tratados, com exceção desse elfo chamado Malark ,no momento estão dormindo.
Presumo que isso também se deva pela jornada de trabalho que os mesmos tiveram, afinal mineração é um trabalho braçal que exige muito do corpo do indivíduo, então era inevitável.
— E pronto... (Satouma)
— Eles estão bem? (Dait)
— Eles vão dormir por um tempo, mas vão ficar bem, eu não sei muito sobre essas poções que serão feitas mas quando estiverem prontas sugiro dar uma para cada um deles. (Satouma)
— Pensamento sensato, talvez a mineração possa ter um certo atraso, mas ao menos todos foram salvos (Starko'gus)
Minha cura ainda está longe de ser perfeita, mas é o suficiente para livrá-los dessa dor e enfermidade.
— Você realmente os salvou! Muito obrigado! (Dimbert)
Ao relatar o ocorrido para seu outro subordinado, Capitão Dimbert entra na sala inclinando a cabeça em agradecimento.
— Sem problemas...Agora, sobre nosso acordo... (Satouma)
— Claro, já ia chegar lá...Vocês estão livres para ir, inclusive sou obrigado á pedir desculpas pelo confinamento, mesmo assim fez questão de nos ajudar. (Dimbert)
— Sem problemas, causamos confusão então a punição era inevitável, mas se não há mais ninguém para tratar então devemos tomar nosso caminho. (Satouma)
— Espere... (Dimbert)
Ele saiu da sala por um momento e voltava com uma pequena sacola de pano, ele ergue sua mão me entregando.
— Nogriw pode ser um país de oportunidades, mas sem dinheiro algum será difícil andar por aqui (Dimbert)
Uma sacola com moedas de bronze e prata me foi entregue.
Isso seria tipo uma recompensa pelo meu trabalho?
Pode soar como uma maneira de extorsão já que apenas me aproveitei da situação dos feridos esse tempo todo.
Mas infelizmente eu não possuo recurso algum.
— Infelizmente por conta da adversidade da minha situação eu aceitarei de bom grado. (Satouma)
— Imagine não interprete dessa maneira, infelizmente é tudo o que podemos oferecer, até mesmo o custo daquela erva foi coberto. (Dimbert)
— Huhuhu, o bom e honesto Dimb, sempre retribuindo aqueles que lhe ajudam. (Starko'gus)
— Cale a boca, só não gosto de ter assuntos pendentes com outras pessoas. (Dimbert)
Orgulhoso mas altruísta, cada anão realmente possuí uma característica peculiar.
Mas agora temos os recursos necessários para nos virarmos nesse país.
[...]
Antes de irmos, Dimbert havia perguntado se eu possuía mais algumas daquelas ervas, ele estava interessado em comprá-las.
Agora que tenho uma certa noção da raridade dessas ervas que possuo e não vou mentir tenho muitas acabei ficando com um certo receio em relação á essa pergunta.
Diria que vendi apenas dez amostras, seria o suficiente por enquanto, claro que tive que as purificar de imediato, eles tem muito medo da corrosão que elas emanavam.
No total consegui cinco moedas de ouro por cada, totalizando 50.
Embora possua um conhecimento básico sobre o sistema monetário desse mundo, não preciso ser tão sábia quanto Starko'gus para saber que ás de ouro valem mais em relação ás outras.
As negociações foram feitas com êxito.
Por curiosidade havia perguntado se elas seriam apenas para uso pessoal.
No entanto fui surpreendida, elas seriam encaminhadas para herbolistas que possuíam conexão com as forças armadas de Norgriw para que poções fossem feitas de imediato para recuperarem o estoque que estavam em falta.
Acabamos resolvendo três grandes problemas em um único dia.
Fomos inocentados, ajudamos algumas pessoas e suprimos a falta de um recurso vital indiretamente para esse país, hehe, acho que já passei da minha cota diária de boas ações.
Por precaução deixei uma das sacolas com Dait e a outra estava em posse de Starko'gus, dividir o dinheiro dessa maneira entre nós três será melhor caso sejamos assaltados ou algo parecido.
Ao todo por aquele trabalho mais as poções conseguimos um total de 60 moedas de ouro, as moedas de prata e bronze foram convertidas dando o equivalente á 10 moedas de ouro.
Uma conversão básica utilizando 1 moeda de ouro como referência, seriam necessárias 10 de prata ou 100 de cobre para se equipararem em valor, como temos 60, acabaria ficando bem pesado carregar 600 moedas de ouro ou 6000 de cobre.
Acabei separando umas dez e a guardei comigo, o [Vazio Dimensional] seria o equivalente á deixar o dinheiro guardado em meu cartão de crédito, mas não me renderia nada ficando aqui.
O restante foi dividido entre Dait e Starko'gus, ele por outro lado parecia inquieto.
— Algum problema? (Satouma)
— Só estou surpreso com o decorrer dos eventos, primeiro vocês se meteram em uma baita confusão e agora são tratados como benfeitores, não sei se isso é um prenúncio para boa sorte ou um azar momentâneo. (Starko'gus)
— Vamos dizer que é um pouco dos dois.
— No entanto, devo dizer que estou surpreso com o quão caridosa você é. (Satouma)
— Sendo honesta eu tinha noção de não ganhar nada em troca, provavelmente na pior das hipóteses eu seria repudiada, mas eram pessoas enfermas, não podíamos ficar de mãos atadas nessa situação. (Satouma)
Alguns cobrariam uma recompensa alta, ou pediriam grandes favores, poderia tranquilamente conseguir muito mais do que ganhei agora há pouco apenas para realizar tal tarefa.
Não que eu seja altruísta, mas se estiver ao meu alcance e não apresentar alguma ameaça á mim e aqueles que me são próximos faço questão de ajudar sem receber nada em troca.
— É uma lógica irrefutável, como pode ver pelo meu amigo Dimb, anões são extremamente orgulhosos, não gostam de depender da ajuda de qualquer um, fazemos tudo por nós mesmos pelo bem de nossa espécie, mas o que você fez ali não será esquecido facilmente por aqueles homens, muito menos por mim. (Starko'gus)
Ele me agradecia com uma saudação, os anões possuem um certo vínculo.
Por mais que não sejam irmãos de linhagem direta, eles possuem um tipo de irmandade indireta, parece que agora pude compreender aquele ditado dos anões.
— Mas apesar do altruísmo e boas ações, devo dizer que você também foi generosa em relação aos negócios.(Starko'gus)
— Acha que foi muito barato? (Starko'gus)
—Não vou entrar em detalhes, mas ervas como aquelas podem ser abundantes, porém sintetizadas daquela maneira poderiam facilmente custar cinco vezes o valor que você ofereceu. (Starko'gus)
— Sério! Então porque não me disse nada? (Satouma)
— Só queria ver um pouco das suas técnicas de negociação, embora não tenha noção dos valores, você agiu bem (Starko'gus)
E esse era aquele anão quem disse que iria me ajudar no que fosse preciso.
Mas ele tem razão, minhas habilidades de negociações com finalidades de transações ainda não estão enferrujadas, em meu mundo provavelmente isso seria o mesmo que vender uma ação supervalorizada por muito menos do seu valor estimado.
— Mas esse dinheiro é o suficiente para passarmos um tempo aqui? (Satouma)
— Seria o suficiente para comprar uma casa perto da área mais nobre, ou tomar uma garrafa das bebidas mais requintadas que esse país está disposto á oferecer. (Starko'gus)
Ele está exagerando, mas com essa afirmação confusa tenho certeza de que temos o suficiente para nos manter nos próximos dias.
Não sei quanto tempo nossa estadia pode durar, mas temos que nos planejar com cautela, dessa vez andando na linha sem burlar nenhuma lei!
— Hey! Stark! (Malark)
Ouço uma voz aguda nos chamando.
Era Malark o amigo elfo de Starko'gus.
Ele não estava dormindo como os outros mas foi recomendado que seguisse a ordem de descanso, mas ele parece radiante para estar correndo desse jeito.
— Olha só, vejo que está bem. (Starko'gus)
— Hmph, é claro que estou, alguém como eu não poderia morrer daquela maneira. (Malark)
— Temos que discordar, se não fosse pela minha amiga aqui com certeza você ainda estaria na pior. (Starko'gus)
— É por isso que vim para cá, mlady, poderia me informar o seu nome? (Malark)
— É Satouma. (Satouma)
No mesmo instante em que falei, ele segurou a minha mão e se ajoelhou em minha frente.
Precisa de tanto drama assim?!
— Obrigado por ter me ajudado Lady Satouma, posso não ser tão ético quanto um anão, mas tem a minha eterna gratidão, se não fosse por você devido á minha imprudência eu nem poderia estar mais aqui, estou em dívida com você e espero pagá-la algum dia. (Malark)
— Imagine, não há necessidade de-- (Satouma)
— Sobre isso meu amigo, acho que podemos fazer algo á respeito, afinal você é uma das pessoas que eu estava planejando ver. (Starko'gus)
E agora ele me salva de fazer uma besteira.
Então essa é uma das pessoas da qual ele iria me apresentar?
Não sei muito em relação aos elfos mas ele tem uma aparência bem jovial, suas roupas estão parcialmente rasgadas mas não estão revelando nada constrangedor.
— Com certeza, ficarei feliz em ajudar no que for necessário, eu me questionaria de um favor vindo direto de você, mas como estou em dívida com minha salvadora vou abrir uma exceção. (Malark)
— Ótimo, mas vamos achar um local adequado para conversarmos, temos negócios á tratar com você, no entanto, também vamos precisar de um pequeno favor. Precisamos falar com Nizalia.
— Sério? Vai querer mesmo conversar com ela? (Malark)
Mais um nome desconhecido foi anotado em minha mente.
— Dado a situação em que estamos presumo que ela esteja ocupada com os recentes pedidos de equipamentos, então vamos precisar do seu carisma. (Starko'gus)
— Tem medo de conversar com ela? (Malark)
— Pelo contrário, mas se vou ser vítima de um atentado vou querer ao meu lado uma testemunha conhecida. (Starko'gus)
— Por mim tudo bem, mas antes se me permitem a sugestão, acho que devemos ir na boutique da Tifi, ela vai saber como lidar com a Nizalia nessas horas, sem falar é claro que podemos aproveitar e comprar algumas roupas adequadas para vocês. (Malark)
Nem mesmo pude me tocar em relação á isso.
Minhas roupas estão um pouco danificadas, mas elas já eram um farrapo antes de chegar aqui.
Talvez podemos encontrar algo mais adequado para Dait e eu vestirmos, ao menos causaríamos uma boa impressão nos vestindo de maneira adequada.
— Não se preocupe, posso pagar, será a minha retribuição. (Malark)
— Ótimo, estava pensando em irmos para alguma taverna por perto, presumo que a bebida também será por sua conta. (Starko'gus)
— Nem pensar, não quero que você esvazie o estoque de cerveja de algum lugar em uma única tarde. (Malark)
É, as coisas á partir daqui podem ser um tanto conturbadas mas ao menos posso dizer e claro com convicção, de que minha estadia em Norgriw, de fato, está apenas começando...