Pulando as Formalidades

Eu estava imersa enquanto caminhava pela Cidade.

Apesar da bela arquitetura local, fiquei impressionada com o quão modernos eles são.

Claro em comparativo com os Orcs esse lugar está avançado em vários conceitos.

Diferente do que eu esperava, as ruas são pavimentadas, não sei ao certo o tipo de material mas se assimila ao concreto que utilizam nas ruas e estradas em meu mundo, claro não são totalmente regulares há algumas pedras e tijolos altos e baixos por todo o caminho.

Pelo menos pude notar isso nos trechos de acesso.

Apesar dos muros serem feitos apenas da formação natural da caverna a parte de cima tinha uma vista linda e favorável do céu, até o momento já estávamos no final da tarde, em poucas horas já seria noite.

Não sei quanto tempo se passou desde que ajudei os anões, mas a Cidade ainda permanece em agitação.

Starko'gus disse uma frase que beirava ao clichê "os negócios não param enquanto tiver o que vender" de fato pude notar isso.

Parece que há um sistema interno de troca de vendedores.

Durante o dia é comum ver barracas, tendas e carroças montadas vendendo dos mais variados produtos, mas durante á noite o que fica em mais evidência são os estabelecimentos fixos.

Lojas, tavernas, boutiques e outras coisas relacionadas, em cada esquina você veria um estabelecimento desse tipo.

Embora o maior foco da Cidade se deva aos negócios, esse tipo de visão só é comum porque estamos no centro.

Nas extremidades da Cidade, se encontram os postos de segurança, do qual os anões tomam conta, também há do lado de fora alguns postos de vigilância em pontos favoráveis, afinal eles não vão querer que alguns invasores causem encrenca.

Mais adiante após ás áreas de segurança se encontram os distritos residenciais, zonas das quais estão as casas comuns, são divididas entre áreas nobres e comuns, quanto mais perto da fortaleza de "vossa majestade" mais valioso é o local.

E tocando nesse tópico, ao Norte na extremidade da Cidade se encontra á fortaleza da Rainha dos anões.

Apesar de ser o seu lar é a fortificação da qual são resolvidas ás questões administrativas, problemas de segurança, relatórios internos e externos e assuntos jurídicos são resolvidos por ela e aqueles que lhe são próximos, para minha sorte o meu caso não foi tão longe ao ponto de comparecermos á uma audiência com a Rainha, sinto que por várias razões eu não vou interagir com alguém tão importante.

Ter Starko'gus como guia é uma benção, inclusive perguntei se poderia chamá-lo diretamente de Stark, ele disse que não haveria problema, afinal apenas aqueles que lhe são próximos o chamam dessa maneira, parece que subi um conceito em sua roda social.

Embora ele me apresentasse alguns lugares importantes, Malark complementava algumas coisas á respeito.

Era estranho, um anão e um elfo interagindo normalmente ,achei que haveria uma dualidade de conceitos, mas isso é apenas uma falácia.

Segundo Stark, ironicamente anões tem mais desavenças com humanos do que com outras espécies próximas, Malark complementa dizendo o mesmo, apesar de sua espécie repudiar a humanidade eles não são contra nem á favor, mas se for necessário se respeitariam.

No momento entramos em uma das tavernas da qual outras espécies eram permitidas.

Ela ficava bem perto da zona comercial da qual retornaríamos em breve.

Tivemos uma pequena discussão com Malark, afinal precisaríamos seguir com as apresentações e fazer ele tentar esquecer esse lance de dívida de vida, posso até aceitar um favor dele, mas não gostaria de pedir algo extremo.

Depois de me apresentar apropriadamente, mas como habitual poupando detalhes, dei um resumo da nossa situação até o momento.

Comentei brevemente sobre a união dos Orcs e das formigas e como conheci Stark, depois seguimos dizendo o nosso objetivo principal nessa Cidade.

Antes disso ouvimos um pouco á respeito de Malark.

Ele era um elfo pertencente á dinastia Elsari, um conglomerado fundado e composto apenas de elfos da floresta, diferente das dríades, seres oriundas e protetoras da própria floresta, os mesmos se diferenciam por serem abençoados pelos ventos da floresta.

Diferente de seus semelhantes ele seguiu um caminho diferente do que lhe foi predestinado, ele queria ser livre e viver por sua própria maneira.

Apesar dos elfos seguirem uma certa doutrina, eles são seres livres então ele não foi repudiado por isso.

Até o momento ele é um dos construtores e engenheiro mais aclamado de Norgriw...ou ao menos foi o que ele mencionou.

Embora quase ninguém o reconheça por seus feitos de maneira direta eu já posso imaginar um pouco ao seu respeito.

Mas Stark o apoia e mencionou um dos projetos coordenados por ele.

A ideia dos postos de vigilância na parte externa dos muros naturais e algumas construções na área nobre foram uma das suas realizações notáveis.

Apesar de ser um projeto que deveria ser rápido, como Stark disse ele era alguém extremamente exigente, mesmo estando decente ele prezava pela perfeição, por isso por tanta insistência ele foi cortado de seu próprio projeto após ser pago por isso, no momento ele está desempregado.

Como a conversa foi longa tivemos que pedir um acompanhamento.

Comemos uma refeição decente pela primeira vez, para acompanhar nosso pedido, três canecas da melhor cerveja disponível, mas para Dait, apenas uma bebida de frutas, não sei ao certo se monstros possuem um conceito de maioridade mas não permitiria alguém tão jovem experimentar os prazeres da bebida tão cedo.

Infelizmente para mim tive uma surpresa em relação á isso, o álcool não tem efeito sobre mim, o que era uma notícia horrível.

A melhor das sensações da bebida, cortada de imediato por conta das minhas capacidades de cura, isso só pode ser um castigo, no máximo só posso aproveitar seu frescor.

Diferente de Stark e Malark que estão bebendo com um certo prazer, pude confirmar que os anões possuem uma tolerância maior ao álcool do que os elfos, duas canecas cheias foram o limite para ele, enquanto Stark permanecia sóbrio depois de quatro canecas.

—Huhu! Já faz um tempo que não venho para Norgriw, mas eu jamais esqueceria o gosto incrível da nossa cerveja. (Stark)

— Sim, mas por favor não exagere, não quero que você se meta em confusão outra vez. (Malark)

— Relaxe, precisaria de muito mais canecas para me embriagar. (Stark)

— Não vou discutir, apesar de toda a nossa conversa parecer algo completamente induzido pelo álcool... Orcs e Formigas das Rochas unidos por causa de uma draconato...Isso sim é uma típica conversa de bêbado. (Malark)

Ele falava isso enquanto virava mais uma caneca.

Mas o que ele falou é verdade, isso realmente soaria como uma completa loucura em vários sentidos.

Mas do ponto de vista de alguém desse mundo, o fato de duas espécies completamente diferentes se unirem ainda é uma ideia surreal, pensava que apenas os anões tinham esse conceito em mente.

— Sabe, quando vi Stark naquele salão, mesmo em meu estado crítico, eu sabia que ele voltou com algo interessante para contar, mas nesse caso ele fez questão de demonstrar. (Malark)

— Dito isso não há motivo para duvidar da ideia da minha grande companheira aqui, eu não viria para cá atoa. (Stark)

 — Sério? Pensei que fosse por outra razão... (Malark)

— O que quer dizer com isso? (Stark)

— Nada, mas você já deve saber. (Malark)

Nesse tom de voz, posso presumir apenas uma única coisa, Stark tem alguém próximo, mais precisamente alguém intimamente próximo.

Meus kouhais sempre que falavam dessa maneira só podia significar algum tipo de provocação por conta desse mesmo motivo.

Mas o álcool está fazendo eles devanear em relação ao assunto principal.

— Bem...Malark, agora que sabe dos nossos objetivos, o que pensa á respeito? (Satouma)

— Acho que a palavra "loucura" já deve ter sido utilizada por esse velhote, mas deve concordar comigo Milady, essa ideia realmente é algo fora da nossa realidade. (Malark)

Loucura...fora da realidade...quantas vezes já ouvi isso...

Por mais que eu queira questionar isso é um fato e não posso argumentar contra isso...

Mesmo assim não posso aceitar de vez que isso é algo impensável.

— Hm...Você tem razão, isso realmente é algo fora da nossa realidade, talvez isso seja apenas o começo de algo novo, Stark me disse antes que iríamos lidar com alguém exigente, mas segundo você mesmo, está em busca de inspiração não é verdade? (Satouma)

Apesar de orcs serem inferiores, eles possuem uma alta capacidade na absorção de conhecimento e aprendizado.

Se não fosse por isso eles não teriam lidado com ás formigas com êxito.

— Dait, acha que pode aprender alguma coisa relacionada á construção de uma casa se for ensinado por alguém competente? (Satouma)

— Sim! Nós orcs podemos parecer brutos mas somos inteligentes, se formos coordenados podemos aprender o que for necessário para nossa sobrevivência. (Dait) 

Disso eu não posso duvidar.

As palavras de apoio de um jovem são cruciais quando se argumenta com um adulto.

— Pense comigo, se conseguir lidar com Orcs já é algo novo, junto com ás formigas vai mais além! Devo confessar que tenho algumas ideias, mas não tenho os métodos e como passar á diante, por isso preciso da ajuda de uma potencial mente brilhante. (Satouma)

Claro, eu também tenho que utilizar de elogios indiretos para convencê-lo.

Em reuniões de negócio, jamais fale diretamente suas intenções, isso faz com que você perca muitos pontos com seus colaboradores, demorei um tempo até desenvolver minha oratória.

— Interessante, isso pode ser interpretado como um tipo de desafio. (Stark)

— Desafio? (Malark)

— Como Senhorita Satouma disse, ela está em uma situação inusitada, ela possuí os recursos e monstros á sua disposição, mas não tem os métodos necessários para o fazer, seria essencial alguém com experiência ao seu lado para atingir o seu objetivo. (Stark)

Bem sacado, como sempre Stark complementa com as palavras certas.

Parando pra interpretar, isso realmente pode ser compreendido como um desafio.

Lidar com duas espécies ao mesmo tempo é algo trabalhoso, isso eu posso afirmar, ainda mais para ensinar um conceito tão novo e complexo.

— Heh, eu sei o que estão tentando fazer com essa conversa, sou um elfo, não é a primeira vez que alguém tenta me convencer á fazer alguma coisa, não precisam agir dessa maneira. (Malark)

— Mas e então o que acha? (Stark)

— Ainda não me convenceram do contrário, isso é uma completa loucura, no entanto me soa interessante, vamos supor que eu queira ajudá-los, terei total liberdade e poderei utilizar qualquer método que for necessário? (Malark)

— Nossa aldeia estará á sua disposição, contanto que seus métodos não machuque ninguém ou ponha a vida de algum monstro em risco podemos fazer qualquer coisa. (Satouma)

— Bem, então não há mais nada o que dizer, eu já iria colaborar mesmo se você me pedisse diretamente, afinal lhe devo minha vida, mas gostaria de ver até onde isso iria, como esperado, Stark só volta com novidades para Norgriw. (Malark)

— Temos o seu apoio? (Satouma)

— Com certeza. (Malark)

E então finalizamos nossa pequena reunião com um aperto de mãos.

Falei para Dait fazer o mesmo afinal ele é o representante pessoal dos orcs enquanto estiver comigo.

— Falo em nome dos orcs, contamos com o seu apoio, Senhor Malark. (Dait)

— Não precisa ser tão formal, pode me chamar de Malark, ficarei feliz em ajudá-los. (Malark) 

 E com isso finalizamos as negociações.

Claro que antes de encerrarmos a conversa falei em relação ao pagamento e como esperado isso não seria necessário, afinal isso faria parte do pagamento de sua dívida comigo.

— Mas devo dizer que se eu for com vocês tenho que levar algumas coisas, então posso ter uma bagagem...ou duas...ou talvez três para serem transportadas. (Malark)

— Não se preocupe, quando for a hora daremos um jeito. (Satouma) 

Por sorte Anthalia estará por perto, posso senti-la com meu [Elo Mental] não sei exatamente á sua localização mas está por perto junto com ás outras formigas.

— Agora pude entender o quão sério é esse seu plano Milady, realmente vamos precisar de mais ajuda se quiser que sua ideia vá adiante. (Malark)

— Por isso também precisamos convencer ás irmãs á colaborarem conosco de alguma forma, conheço outros que infelizmente não seriam facilmente convencidos mas elas são nossa melhor opção. (Stark)

— De fato, mas lidar com elas não será fácil, foi difícil para elas se estabelecerem em Norgriw, tirá-las por um tempo pode ser ainda mais complicado. (Malark)

— Você tem um ponto interessante. (Stark)

— Essas duas irmãs das quais vocês se referem, elas não são de Norgriw? (Satouma)

 — Antes fossem, falar com anões é lago bem mais fácil do que ter que lidar com Yonders. (Malark)

Yonders.

Parece que irei conhecer outra espécie em breve.

De certa foram convencer Malark á colaborar conosco foi apenas uma grande sorte ao acaso.

Mas agora eu não sei com o que eu vou lidar, será que tanta sorte assim novamente?