E o dia do julgamento havia chegado.
Fomos escoltadas como criminosas até o local que seria feito.
Não havia muitas pessoas, afinal á coisa toda seria feita de maneira privada.
Mas haviam muitos guardas com belas armaduras reluzentes e com lanças afiadas.
Isso poderia servir facilmente como uma ferramenta de intimidação, de fato funcionaria, mas não seria necessário.
Estávamos na parte mais baixa, mas logo acima de nós eu podia sentir uma presença impactante, uma aura extremamente avassaladora.
Todos daquela sala podiam sentir o mesmo, Dait que era o menos sensitivo se estremecia.
E as minhas suspeitas foram confirmadas, lentamente uma mulher aparece na parte superior andando com seus olhos fechados, ela parecia saber que estava imponente naquele momento.
Quando ela se sentou em seu trono ela nos encarou diretamente, eu não podia evitar de olhar para seus olhos, mesmo sendo um breve contato fiz questão de desviar o olhar, mas não por desprezo, talvez eu mesma estivesse um pouco intimidada.
Ela portava uma armadura reluzente e toda ornamentada, posso ver que não era apenas questão de decoração, um toque belo e delicado, mas robusto e rígido, isso mostra que ela era de fato uma rainha.
Grunhild Beryn, A Rainha dos Anões.
Ela realmente possuí traços de sua raça, mas com traços um pouco mais delicados e femininos.
Mas olhando de longe posso perceber que ela era um pouco acima da média se comparado com Stark.
Ela podia ser distinguida por sua pele clara e seus cabelos loiros e amarrados.
Mesmo com essa bela aparência eu tinha certeza de uma coisa.
Ela era uma mulher forte, talvez uma das mais fortes que já encontrei em minha vida.
Acho que se eu fosse humana e tivesse diante da presença dela eu teria corrido para o mais longe possível, nem mesmo seus cavaleiros me causam medo apesar das armaduras e lanças, se comparados à ela, são até que patéticos.
Se eu soubesse que existia uma pessoa dessas e levando em consideração o fato de que ela governa esse lugar, eu com certeza teria pensado duas vezes antes de causar na entrada de seu reino.
O homem ao seu lado se ajoelhou enquanto os outros o fizeram.
Stark havia colocado apenas a mão em seu peito então em respeito fiz o mesmo, não sabia como me portar diante dessa situação, me ajoelhar para uma governante da qual não me diz respeito não me parecia certo, obviamente acabei ganhando mais uma encarada dela.
— O julgamento começará agora! Peço humildemente o silêncio de todos diante de vossa majestade! (Promotor)
Enfim era a hora do julgamento.
Ainda assim eu achei um pouco injusto essa parte.
Somente quem poderia falar no momento eram os nobres de classe.
Deveríamos aguardar a nossa vez antes de elaborar nossa versão, isso deveria ser imparcial?
Em meu mundo ocorreria algo parecido, mas ambas ás partes iriam propor a ideia inicial e um debate legal iria começar seguindo diante do que foi exposto.
Mas acho que se eu me pronunciar antes da hora só exaltaria mais a minha culpa então é melhor eu me abster.
Stark também permanecia pensativo enquanto escutava ás acusações parece que não era a primeira vez que ele passava por esse tipo de coisa.
— Em suma, Neshim-Dono admitiu antes que estava passando por uma situação de estresse e acabou passando um pouco do limite, a defesa e ele mesmo assumem tal erro. (Advogado)
— Isso é verdade? (Promotor)
— Mesmo assim, a situação acabou culminando em uma onda de violência desnecessária por parte dessa draconato, que o atacou indevidamente causando danos físicos quase severos ao meu cliente. (Advogado)
Danos físicos? Se eu quisesse o machucar seriamente eu teria feito bem mais do que o jogado para longe!
Mas essa versão da história pode ser interpretada de várias maneiras.
Mas foi uma bela jogada...Os possíveis depoimentos de Nizalia e suas irmãs ou até mesmo o apoio de Malark se tornariam inutilizáveis ou distorcidos por conta disso.
Ele mencionou instantes atrás que poderia facilmente conseguir testemunhas visuais para confirmar o ocorrido, em meu mundo isso seria chamado de corrupção, ao que parece isso é um conceito familiar por aqui.
Estranhamente Stark ainda parecia tranquilo diante de tudo isso, Nizalia e suas irmãs permaneciam em silêncio sem exaltar alguma emoção, eu no entanto queria gritar o mais alto possível "MENTIRAS E MAIS MENTIRAS!" mas acho que isso só pioraria tudo.
Ainda assim mentiras não seriam permitidas, nos foi explicado antes de entrarmos que mentiras e calúnias seriam motivos de penalidade severa, logo subentendi o significado disso, por isso ajo de acordo com as leis.
Mesmo assim isso limita o acusado á agir contra o acusador...
— Já basta! A promotoria irá sentenciar á penalidade prévia. Neshim deverá pagar uma multa de 10 moedas de ouro pelos incômodos na taverna, além disso terá que compensar ás Yonders no mesmo valor e realizar um pedido de desculpas formal, não poderá se aproximar delas novamente, muito menos requisitar algum de seus serviços. (Promotor)
Uma ordem de restrição e um pagamento mixuruca, isso realmente é uma punição? Sem falar que esse pedido de desculpas seria algo completamente vazio de sua parte, mas agora era a nossa vez.
— Seguindo adiante ,a draconato conhecida como Satouma será exilada por tempo indeterminado de nosso reino, junto de seu companheiro orc, ás irmãs voltarão ás suas atividades mas irão cumprir dois anos de trabalho não remunerado, todos os custos serão bancados á serviço da coroa. Passaremos a palavra para a defesa das acusadas para Starko'-- (Promotor)
— Espere. (Grunhild)
Sua voz era um pouco grave e ressoou pelos corredores.
A rainha após escutar tudo abriu seus olhos novamente e olhou para Stark que havia feito o mesmo.
— Stark, já faz um tempo, você me parece bem. (Grunhild)
— Digo o mesmo para você, Beryn, ou deveria chamá-la de vossa majestade? (Stark)
— Por favor, eu sei que agir formalmente não é do seu feitio, mesmo assim por um breve momento achei que meus olhos estavam me pregando uma peça, mas vejo que sua perna e seu olho estão bem. (Grunhild)
— É...sobre isso minha cara convidada acabou me auxiliando. Gostaria de conversar sobre isso com você compartilhando uma boa xícara de chá, ao invés de fazê-la passar por essa situação. (Stark)
— Hmph, fico feliz em ouvir que está bem mas concordo com você, gostaria de ter essa conversa de maneira mais apropriada, mas você sabe das regras e de todo o procedimento, mesmo sendo sua convidada eu não posso ceder privilégios ou favores nem mesmo para um velho amigo. (Grunhild)
— Eu compreendo minha rainha. (Stark)
Espere...
Oh! Agora isso faz sentido!
Quando Malark disse que não queria que isso fosse tão pessoal...
Como eu iria sabe que ambos possuíam algum tipo de...bem conexão?
Isso me abre um mar de pensamentos, sem falar que gostaria de fazer algumas perguntas um tanto pessoais para Stark nesse momento.
Mas não era a hora.
Após uma conversa um tanto direta da parte deles ela passou brevemente a palavra para Stark.
Ele explicou toda a situação baseada nas informações que ele possuía, embora tenha admitido que não estava presente durante á situação acabou perdendo alguns pontos, mas parece que a rainha prestava atenção atentamente.
Ela parece saber que Stark não é um anão que mentiria para safar algum conhecido seu de uma situação como essa.
Mesmo assim ela também não seria do tipo que seria parcial apesar de ambos serem conhecidos, o que posso dizer, me parecem uma grande dupla.
— Baseado nos argumentos que me foram fornecidos, devo ressaltar também que não é a primeira vez que as três irmãs Yonders sofrem com esse tipo de situação, com todo respeito á promotoria, devem ter noção do quão difícil é para estrangeiros agirem de acordo com a lei em nosso humilde reino. (Stark)
— De fato, tivemos muitos relatos de testemunhas quanto aos maus tratos contra Yonders, no entanto nenhuma queixa da parte delas nos foi apresentado então nada poderia ser feito. (Promotor)
— Oh? Então vocês estavam cientes de tais ocorridos e mesmo assim não fizeram nada? Ao que tudo indica me parece que Norgriw uma terra de leis severas possuem algumas brechas. (Stark)
— Insolente! Ousa questionar nossas leis diante de vossa majestade! (Promotor)
Aquilo enfurecia o promotor, todos á nossa volta acharam uma grande audácia da parte de Stark, devo dizer que estou impressionada.
A rainha no entanto não levou aquilo como desacato e sorria brevemente.
— Tenho que admitir, sua ousadia é louvável Stark. (Grunhild)
Ela deu um suspiro e olhou em nossa direção.
— Baseado nos argumentos de ambos os lados eu tenho o meu veredito. (Grunhild)
Ela ouviu ambas ás versões, as cabíveis punições seriam dadas.
Não sei se ela se compadeceu com toda essa situação, mas acredito que não levará á nada.
Neshim é um nobre, provavelmente será repreendido por suas ações, como o mesmo em sua alegação falsa admitiu estar bêbado logo de cara, como foi anunciado ele pagaria uma multa e faria um pedido de desculpas, ainda assim não seria justo se comparado com ás punições que foram mencionadas para elas.
Irão trabalhar de maneira forçada por dois anos, apesar de tudo ser pago pela coroa soa como um tipo de escravidão, isso é revoltante.
— Aqui...Antes de você dar á conclusão...eu poderia dizer algumas coisas...? (Satouma)
— Por favor silêncio durante o julgamento somente vossa majestade tem o direito de intervir! (Promotor)
— Não...eu vou permitir. (Grunhild)
Então estávamos nos encarando novamente.
Com toda sua atenção voltada para mim podia sentir um calafrio em minha espinha.
Ela apoiava seu cotovelo em frente á bancada colocando seu queixo sobre seu punho.
— Satouma não é? (Grunhild)
— Majestade... (Satouma)
— Devo dizer que são poucas pessoas que causam confusão em Norgriw em um curto período de tempo. (Grunhild)
— Peço desculpas por isso, não queria causar incômodos. (Satouma)
— Mesmo assim aqui estamos nós. Suponho que você irá pedir para que a pena de suas conhecidas seja reduzida, mesmo eu não tendo dado a sentença. (Grunhild)
Ela é boa.
Talvez esse tipo de apelo já esteja sido escutado por ela muitas vezes então acho que não adiantaria colocar isso em palavras.
Gostaria de pedir, dizer e falar muitas coisas, mas á essa altura não importa muito, tudo o que posso fazer é ser honesta.
— Não há justificativa para o que eu fiz, poderia dizer muitas coisas, algumas verdades ou poderia inventar alguma coisa, no final das contas eu já sei o rumo que isso irá levar. (Satouma)
As leis de Norgriw são um tanto questionáveis, porém rígidas, para manter ás pessoas na linha é preciso ser dessa maneira.
Não concordo com muitas coisas mas não vou questionar os métodos impostos pela rainha mediante á posição em que estou.
— Mas não podia tolerar isso, anões, yonders, elfos, todos são meus semelhantes, humilhar alguém próximo á mim daquela maneira por um motivo tão estúpido era algo imperdoável. (Satouma)
Devo dizer que agi por imprudência e de maneira bruta, mas ele mereceu.
— Então você se arrepende após saber das possíveis punições? (Grunhild)
— Se me arrependo? Eu estaria mentindo se falasse que sim, não posso tolerar quando um semelhante é humilhado em minha frente, mesmo que isso envolva jogar alguém pela porta de uma taverna. (Satouma)
Isso foi o mínimo que eu poderia ter feito com ele, também não estava pensando em machucá-lo mesmo assim os nervos tomaram conta e acabei fazendo isso.
— Vejam ela admitiu! (Neshim)
Ele exclamava como se tivesse descoberto uma informação comprometedora.
Não tenho nada á esconder muito menos arrependimentos á mencionar.
— Com todo respeito, deveria observar melhor o seu reino, admitir tais frivolidades pode acabar abrindo portas das quais não podem ser facilmente fechadas. (Satouma)
— Insolente! Ousa insultar á rainha! (Promotor)
— Não, vou permitir, sempre estou aberta á críticas. (Grunhild)
Ela se levantava de sua cadeira.
Lentamente ela descia ás escadas, seus passos ecoavam por todo o salão, agora ela estava em frente de nós.
— Reconheço que o que Satouma fez foi algo imprudente, agir de maneira emocional não é uma atitude justificável, mesmo assim eu reconheço que essas Yonders tem sofrido alguns ataques ,tenho muito o que fazer pelo reino então eu deixo certas trivialidades passarem sob meu nariz, pode não ter nenhum valor mas peço minhas humildes desculpas, todo o sofrimento que passaram em sua estadia em Norgriw também não pode ser justificável. (Grunhild)
Ela colocou a mão em seu peito pedindo perdão por elas, Neshim acabou ficando um tanto sem jeito ao ver um gesto tão nobre de sua rainha para aquelas que foram tratadas por ele como "seres inferiores".
— Baseado nas alegações de Satouma e em suas declarações diretas tenho o meu veredito. Antes de dá-lo gostaria de lhe perguntar Stark. Teria interesse em voltar ao seu antigo posto? (Grunhild)
De repente ela oferece uma oportunidade para aquele quem estava me defendendo.
Não sei á respeito de seu antigo posto mas isso só confirma o fato de que ambos já trabalharam juntos.
Toda a tranquilidade de ambos lidando com ás ideias expostas podia ser confirmada com essa informação.
— Soa tentador majestade, mas falando de maneira direta porém respeitosa, acredito que já tenhamos conversado sobre isso. (Stark)
Todos se questionaram por um momento, afinal a Rainha de maneira direta estava chamando um dos seus súditos para trabalhar ao seu lado e ele de maneira indireta acabou a rejeitando.
— Eu não poderia voltar, tenho ás minhas razões, além do mais eu sou um tanto competitivo, acabei fazendo uma aposta, ate o momento estou no aguardo da sua conclusão. (Stark)
Ele me encarava depois de sua afirmação e ela fazia o mesmo, caramba, eu não quero causar algum mau entendido.
— Entendo. Espero que encontre o seu desfecho. (Grunhild)
Isso foi um tanto estranho, parecia que realmente ela desejasse seu retorno.
— Dito isso, anunciarei a sentença, que fique claro, Satouma e seus aliados estão proíbidos de permanecer em Norgriw! Sua deportação será imediata, desapareçam de minha vista. (Grunhild)
Com isso a sentença nos foi dada.
Eu seria deportada de seu reino por má conduta.
Estranhamente Stark não parecia incomodado com o veredito final estava satisfeito com o fechamento dessa situação.
As irmãs infelizmente levaram á pior seriam deportadas e acabaram perdendo seus respectivos negócios.
Se nosso acordo não fosse realizado na melhor das condições elas poderiam ter perdido tudo.
Mas com seu exílio, agora elas estão sob minha responsabilidade.