Davis olhou fixamente para as paredes azuis e estéreis do quarto do hospital, seus olhos afiados examinando cada canto como se quisesse gravar o ambiente em sua memória. O leve zumbido do monitor cardíaco e as conversas distantes ocasionais vindas do corredor eram os únicos sons quebrando o silêncio. Seu corpo doía, ele tentou mover as pernas, mas elas não respondiam. Ele não queria imaginar a verdade.
A porta rangeu ao abrir, chamando sua atenção. Um médico entrou, sua expressão profissional e ilegível, seguido de perto por uma enfermeira segurando uma prancheta. Com eficiência praticada, ele examinou seu corpo e os vários monitores conectados a ele antes de remover gentilmente a máscara de oxigênio; todo o tempo sem dizer uma palavra a Davis. Era como se ele fosse apenas mais uma tarefa a ser cumprida.
Ele ajustou o dispositivo de infusão intravenoso, anotando as leituras no monitor. Davis o observava com um olhar vazio, seus pensamentos turbilhonando dentro dele, abriu a boca para falar, mas sua voz estava rouca. A enfermeira atrás do médico rapidamente encheu um copo de água morna para ajudá-lo a umedecer a garganta.
"Você precisa descansar mais e não deve pensar demais nas coisas", o médico finalmente disse, seu tom desprovido de emoção. Depois de terminar seus ajustes, ele virou-se para sair, mas parou junto à porta. "Sua família foi contatada. Eles estarão aqui em breve."
"Há quanto tempo estou aqui, doutor?", ele perguntou enquanto o olhava.
"Você está aqui há quatro meses", ele declarou, seu tom calmo e um lampejo de pena cruzando seu rosto, mas então ele o mascarou. Não era seu papel dizer ou sentir algo por ele.
Davis não conseguiu suprimir o sorriso amargo que curvou seus lábios. "Internado no hospital por quatro meses, sem ninguém ao meu lado... Isso é verdadeiramente notável, vindo de uma família pela qual sacrifiquei tudo", ele disse, sua voz pingando sarcasmo.
O médico hesitou por um momento, aparentemente inseguro sobre como responder, antes de acenar brevemente com a cabeça e sair do quarto. A enfermeira o seguiu sem dizer uma palavra, deixando Davis sozinho mais uma vez.
Enquanto o silêncio retomava o quarto, o sorriso irônico de Davis desapareceu, substituído por uma expressão sombria. Ele recostou-se nos travesseiros, sua mente uma tempestade de emoções conflitantes enquanto constantemente tentava mover suas pernas, mas repetidamente sua esperança era destruída. Ele não podia mais se movimentar. Gradualmente, ele levantou o lençol que o cobria para ver se sua perna estava lá—sim, estava, mas não respondia.
Suas mãos tremiam, sua voz engasgou quando a verdade o atingiu "ele estava aleijado, sua perna não podia mais se mover". Uma risada amarga escapou de seus lábios. Não era surpresa por que ele foi abandonado.
Por anos, ele havia dedicado seu coração e alma à Família Allen. Cada noite sem dormir, cada risco calculado, cada conquista—tudo havia sido pela família. No entanto, aqui estava ele, abandonado em seu momento mais frágil.
Ele esteve errado todo esse tempo?
O pensamento o corroía. Sua vida havia girado em torno de dever, lealdade, responsabilidade e ambição. Mas agora, ele não podia deixar de questionar se seus sacrifícios haviam valido a pena. Acordado há uma hora, e nenhum membro da família está aqui.
Enquanto estava perdido em pensamentos, uma propaganda começou a ser transmitida na televisão, trazendo sua atenção de volta ao presente. Seu olhar na TV era investigativo enquanto uma manchete em negrito chamativa rolava pela tela "O noivado de Vera Louis com Aaron Allen: Um par perfeito feito no céu".
A tela mostrava clipes de Vera vestida em um lindo vestido branco que acentuava sua figura elegante, seu sorriso radiante cativante enquanto ela estava de braços dados com Aaron Allen, seu primo. As imagens eram intercaladas com filmagens de sua luxuosa cerimônia de noivado, o salão cheio de aplausos e admiração dos presentes que também são associados, parceiros de negócios e amigos. Palavras como "combinação poderosa", "casal poder" e "união perfeita" piscavam na tela.
Davis sentiu seu peito apertar, uma adaga invisível e afiada mergulhando em seu coração. Ele olhou fixamente para a tela, sem piscar, como se a visão sozinha pudesse de alguma forma reescrever a realidade se desenrolando diante dele.
"Isso... isso tem que ser uma piada", ele murmurou baixinho, sua voz mal audível.
Suas mãos agarraram a borda da cama do hospital, seus nós dos dedos ficaram brancos enquanto descrença e raiva corriam através dele. Vera... a mulher com quem eu deveria me casar... noiva de Aaron? O pensamento ecoava em sua mente, cada repetição mais amarga que a anterior. "Ela me abandonou por Aaron, por quê? Por quê? Por quê?"
A traição era como sal na ferida, e a dor em seu peito não era mais apenas de seus ferimentos físicos. Era a dor de um homem cujo mundo havia sido virado de cabeça para baixo, que foi abandonado pelo amor.
Enquanto Davis lutava para processar o que acabara de ver, o som de passos apressados se aproximou. A porta de seu quarto se abriu, revelando uma figura familiar— Ethan, seu assistente.
Ethan congelou na porta, seus olhos se arregalando de choque. Vendo Davis acordado, ele abriu um largo sorriso, sua descrença inicial rapidamente substituída por alegria, ele havia saído do hospital cedo naquela manhã para atender alguns assuntos urgentes relacionados a Davis.
"Sr. Allen!" Ethan exclamou, correndo para seu lado. "Você acordou! Eu—Eu não posso acreditar!"
Ele o examinou repetidamente. "Você está se sentindo desconfortável de alguma forma? Devo chamar o médico?" Ele perguntou ao vê-lo não responsivo. Ele fez menção de sair do quarto. "Pare", Davis disse, fazendo-o parar em seus passos.
Davis virou a cabeça lentamente, seu rosto desprovido de emoção. O forte contraste entre a euforia de Ethan e seu próprio tormento apenas aprofundou a dor em seu peito.
"Eu estava começando a pensar que você nunca acordaria", Ethan continuou, sua voz tremendo de excitação. "Você não sabe quantas noites sem dormir eu passei rezando por este momento. Eu—"
"O que está acontecendo?" Davis interrompeu, sua voz baixa mas firme. Seu olhar voltou para a televisão, onde a propaganda agora estava repetindo os destaques do noivado de Vera e Aaron.
Ethan seguiu sua linha de visão, seu rosto caindo ao ver a transmissão. Seus ombros caíram, e uma expressão de culpa cruzou suas feições.
"Senhor... eu vou lhe contar, mas primeiro você precisa descansar", Ethan disse, sua voz resignada.
"Minha família?", Davis perguntou amargamente, cortando-o novamente. Ethan evitou seu olhar enquanto caminhava até a beira da cama para ajustar os lençóis sobre sua perna.
Davis soltou uma risada vazia, uma que não tinha nenhum traço de humor. "Eles sempre têm um jeito de priorizar a si mesmos, não é?"
Ethan permaneceu em silêncio, inseguro sobre como responder.
Davis olhou para ele, sua expressão endurecendo. "Me conte tudo, Ethan. Sem mais mentiras. Sem mais meias verdades. Eu quero saber exatamente o que tem acontecido enquanto eu estive deitado aqui."
Ethan ficou ali, dividido entre lealdade e o peso da verdade. Seu peito pesava enquanto observava Davis, o antes orgulhoso e invencível herdeiro, agora reduzido a uma sombra de si mesmo. O peso da traição no ar era quase palpável, e Ethan podia ver as rachaduras se formando no homem que admirava—não pelo acidente, mas pela faca que sua própria família havia cravado em suas costas.
Ele cerrou os punhos ao lado do corpo, seu coração doendo. Mas ele sabia—sabia que adiar a verdade só aprofundaria a ferida. Uma dor curta e aguda era melhor do que prolongá-la.
Respirando fundo, Ethan se aproximou da cama. "Senhor", ele começou, sua voz carregada de emoção. "Você merece saber tudo, e eu não vou esconder isso de você, mas você deve priorizar sua saúde."
O olhar penetrante de Davis fixou-se nele, frio e implacável. "Então fale", ele exigiu, sua voz afiada apesar da fraqueza em seu corpo. "O que eles fizeram?"