Uma Nova Chance

No passado, durante o que chamamos de Idade Média, um cavaleiro morreu junto com seu rei ao tentar protegê-lo. Entretanto, de forma misteriosa, ele é transportado para um mundo desconhecido. Quando recobra a consciência, encontra-se no meio de uma cacofonia de imagens, sons e movimentos que jamais vira antes. Estava no centro da capital real.

Ele avista alguém que se parece com o rei ao qual jurara lealdade. Sem hesitar, segue-o pelas ruas da cidade, que lhe parecia ao mesmo tempo mágica e infernal. A figura misteriosa entra em um galpão e discute com outras pessoas. Logo, uma briga se desencadeia. Tiros são disparados e, no momento em que o jovem misterioso está prestes a encontrar seu fim, o cavaleiro grita:

— Artur!

Com uma barra de ferro, consegue desarmar o agressor, que deixa sua arma cair. O jovem a apanha e dispara contra o inimigo, matando-o no mesmo instante. Enquanto isso, o cavaleiro derrota habilmente os outros capangas, chamando a atenção do rapaz misterioso.

O cavaleiro corre rapidamente até o jovem e diz com alegria:

— Maravilha! Que bom que o senhor está vivo! Desde que cheguei a este lugar amaldiçoado, esta é a única coisa boa que me acontece.

Flashs de memórias passam por sua mente enquanto ele chora dramaticamente, relembrando as experiências desastrosas que viveu nesse único dia.

O jovem, com um olhar ríspido, responde friamente:

— Por que me chamou por esse nome?

O cavaleiro enxuga as lágrimas e, com um sorriso confuso, responde:

— Ora, porque é o seu nome, não é?! — então, continua em tom de brincadeira: — Ou será que o senhor já se esqueceu?

— Não esqueci...

Por um instante, o jovem se perde em seus próprios pensamentos e, então, pergunta:

— E você? Quem é?

O cavaleiro, com orgulho, responde:

— Eu sou seu fiel cavaleiro, Lancelot!

Depois, em um tom mais leve, acrescenta:

— Agora, senhor, pare com essa brincadeira de fingir que não me conhece, ou vai partir meu coração. Afinal, para que serve um cavaleiro se seu senhor nem sabe seu nome?

— Lancelot, é?… Acho que você é meio louco, mas isso não importa agora. Primeiro, precisamos sair daqui. Logo essa confusão vai atrair atenção indesejada.

Ele faz uma pausa e encara o cavaleiro antes de dizer:

— E mais uma coisa… Não me chame mais por esse nome. Agora, sou Alyxzandre.

Algum tempo depois, na casa de Alyxzandre, Lancelot é servido uma xícara de chá. Ele observa o ambiente com um semblante confuso e indagador, então pergunta:

— O senhor realmente não sabe quem eu sou?

Alyxzandre responde:

— Sinto muito, mas não sei…

Lancelot diz:

— Talvez o que me trouxe para este mundo tenha, de alguma forma, interferido em suas memórias?

— Não, não acho que seja o caso. Mas me diga… o que você quer dizer com "este mundo"?

— Ora, tudo isso! Máquinas de metal que se movem sozinhas, luzes piscantes por todos os lados, imagens e palavras que se materializam no ar… Sem contar essas roupas esquisitas que todos usam! Não havia nada disso de onde eu venho.

Alyxzandre, pensativo, coloca o punho sob o queixo, imitando a famosa escultura do passado, há muito tempo esquecida. De repente, eufórico, ele exclama:

— Já sei! Você…

Os olhos de Lancelot começam a brilhar de admiração. É claro que seu senhor descobriria a verdade por trás de tudo! Ele observa atentamente enquanto Alyxzandre continua:

— Veio…

Lancelot junta as mãos, como se estivesse em oração, enquanto encara o jovem, cuja imagem agora se assemelha a um anjo descido à Terra. Seu brilho aumenta, atingindo o ápice, quase cegando-o… até que ele ouve:

— … do hospício!

Nesse instante, o mundo de Lancelot desaba. O brilho de seus olhos desvanece, seu coração parece parar, e, catatônico, ele se rencolhe, desprovido de palavras e ações.

Alyxzandre, em um tom animado, ri e diz:

— Estou só brincando, Lancelot.

Então, estende a mão para o cavaleiro.

Lancelot encara o jovem e, ao passar o braço sobre o rosto — talvez para enxugar alguma lágrima —, agarra a mão de Alyxzandre, se levanta e suspira, aliviado:

— Meu senhor, desse jeito vou acabar tendo um troço!

Os dois se encaram por um breve momento, e logo uma crise de riso se desencadeia. Enquanto riem, ambos refletem sobre suas vidas. Para Lancelot, aquele era um reencontro com um velho amigo. Para Alyxzandre, era um momento de alegria genuína — algo que não sentia há muito tempo.

Depois de recobrarem a compostura, Alyxzandre ainda não compreendia o motivo de Lancelot agir de maneira tão peculiar. Então, decidiu que seria melhor explicar as coisas de um jeito que até uma criança entenderia.

Ele começou:

— Existem duas grandes potências militares no mundo: Columbia, o grande Império do Oeste, e Alexandria, o Reino do Leste. Nos últimos anos, Columbia vem invadindo vários países vizinhos. Devido à sua superioridade militar, encontra pouca resistência e já conquistou todo o continente Vespusiano.

Alyxzandre fez uma pausa antes de continuar:

— Até agora, Alexandria se manteve neutra na guerra, fornecendo apenas apoio logístico e de inteligência às forças de resistência. Mas isso já não é mais possível. O império continua sua expansão, agora no continente dos Mares, Atlânticia. Essa região é crucial, pois suas reservas de Novamatéria e seu conhecimento científico definirão o curso da guerra. A recente aliança entre Alexandria e Atlânticia colocou o reino, que já vinha se fortalecendo militarmente, em uma posição de xeque. Agora, é apenas uma questão de tempo até entrarmos em uma guerra total.

Impressionado com as habilidades de combate de Lancelot, Alyxzandre o convida para se juntar ao corpo de Cavaleiros Reais, do qual ele é capitão. Ele explica que Alexandria tem recebido muitos refugiados de Vespúsio e que o reino já iniciou um programa de recrutamento para integrá-los às forças regulares. Dessa forma, seria possível incluir Lancelot sem levantar suspeitas.

Com uma noção melhor da situação do mundo, Lancelot aceita prontamente a proposta. Alyxzandre, satisfeito, acrescenta:

— Então, descanse bem esta noite. Amanhã, irei levá-lo à Academia Militar dos Cavaleiros Reais para um teste de aptidão.