Kenje:
— E foi isso.
Ancião:
— Então você tá dizendo que dois guardas do rei chegaram aqui procurando por você... um deles parecia estar muito agitado… e isso não tem nada a ver com você?
Kenje:
— Exatamente.
Ancião:
— KENJE, VOCÊ SÓ PODE ESTAR ACHANDO QUE EU SOU IDIOTA!
Kenje:
— Não, não… mas é que...
Ancião:
— Kenje, você mesmo me disse que eu tinha que confiar em você. Querendo ou não, você já mora na aldeia há um ano. Mas por mais que eu queira acreditar… você não tá me dando motivos pra isso!
Kenje:
— Tá certo… você acreditando ou não, isso é verdade. Eu não posso fazer nada se você não acredita em mim.
Ancião:
— Tá bom. Dessa vez eu vou deixar passar. Mas só dessa vez. Caso isso aconteça de novo… eu vou ser obrigado a tomar medidas drásticas.
Kenje:
— Ok, ok… então, se você me dá licença, eu tenho que fazer uma coisa.
Ancião:
— Tá… tá bom. Vai lá.
Kenje sai da casa do ancião e começa a correr. Seus passos ecoam pelas trilhas de terra da aldeia enquanto o sol já começa a descer no horizonte. Ele corre por horas, até chegar diante de uma casa imponente, isolada no meio das montanhas. A antiga morada de alguém que ele preferia esquecer.
Kenje:
— Nunca que eu achei que eu iria entrar aí de novo…
Enquanto ele encara a construção com um olhar carregado de memórias, a porta da frente se abre. Zick Dragon, de braços cruzados, observa Kenje com um leve sorriso no rosto.
Zick:
— Bem-vindo, Kenje. Você quer entrar?
Kenje:
— Eu tenho alguma escolha?
Zick:
— Não.
Kenje:
— Então bora lá.
Os dois entram. A casa por dentro é silenciosa, fria e limpa como um laboratório. Eles pegam o elevador e descem até o sétimo andar inferior. O som metálico do elevador ecoa até se abrir diante de uma sala grande, com uma mesa longa e poltronas negras. No centro, o escritório de Zick Dragon.
Eles se sentam.
Zick:
— Então, Kenje... eu quero que você faça uma missão pra mim.
Kenje:
— Você vai bem direto ao ponto. Gostei.
(pausa)
Mas eu não trabalho mais com isso.
Zick:
— Você não tá entendendo. Eu não tô pedindo... tô mandando. Você não tem o direito de recusar.
Kenje:
— E por que exatamente você acha que eu faria isso pra você?
Zick:
— Simples. Porque eu sei de tudo que você passou com os reis... e mais outras coisas. Como os amigos que você abandonou... e da sua identidade como Cerberus.
Kenje fica em silêncio por alguns segundos. O nome que ele pensou que nunca mais ouviria ecoa pela sala.
Kenje:
— Entendi… Mas você não tinha uma política de não fazer mal a civis?
Zick:
— Sim, Kenje. Mas você não é mais civil faz tempo. Você já viu, ouviu e fez coisas demais pra ser considerado um.
Kenje:
— Tá… Mas o que é que eu vou ganhar se eu fizer essa missão?
Zick:
— Como eu sou bonzinho… eu vou fazer com que todos os reis esqueçam de você.
Kenje:
— Você não tem como fazer isso, tem?
Zick:
— Kenje… você esqueceu com quem tá falando? Eu sou a pessoa mais influente do país. Eu consigo.
Kenje:
(suspiro)
— Tá bom. Eu faço essa missão… mas é bom você não estar mentindo.
Zick:
— Você me conhece há bastante tempo. Eu nunca minto.
(pausa)
Aliás, tem uma pessoa que vai te acompanhar.
Kenje:
— Ah não, não, não, não… na última vez que eu fui em missão com um dos seus assassinos não foi tão interessante assim.
Zick:
— Relaxa. Esse cara vai só pra te observar... e garantir que você faça as coisas do jeito certo.
Kenje:
— Quando você diz "do jeito certo", você tá falando do seu jeito?
Zick:
— Exatamente. Então espera aqui. Daqui a pouco ele chega. Ele já sabe tudo sobre a missão. Qualquer dúvida, pergunta pra ele.
Kenje:
— Ok…
Kenje se encosta na cadeira, cruzando os braços, respirando fundo.