A noite estava calma na casa da família Souza Cruz. A mesa da cozinha estava posta com carinho, cheirando a queijo derretido e molho temperado na medida certa. Sérgio, seus olhos brilhando de satisfação, enchia o prato pela terceira vez com a lasanha de queijo que sua mãe preparara.
— Essa tá perfeita, mãe. Melhor do que qualquer restaurante de Raid — disse ele, com a boca meio cheia, arrancando uma risada dos pais.
— Ora, obrigada, querido. Você merece! — respondeu a mãe de Sérgio, sorrindo com orgulho. — Sua primeira raid... e ainda por cima uma vitória!
O pai de Sérgio, um homem de fala calma e olhos atentos, brindou com um copo de refrigerante:
— Ao nosso filho, o mais sortudo do mundo.
Sérgio sorriu e, após engolir a última garfada, se levantou com seriedade. Ele olhou para os pais com gratidão.
— Obrigado por terem acreditado em mim. Mãe... obrigado por ter me dito pra dar uma chance pra minha habilidade. Se não fosse por isso, talvez eu... nem estivesse aqui.
A mãe dele o olhou com ternura.
— E funcionou?
Sérgio assentiu, animado.
— E como! Eu consegui ganhar na aposta duas vezes.
O pai arregalou os olhos.
— Duas vezes?! Mas qual era mesmo a chance?
Sérgio cruzou os braços e respondeu como se fosse uma informação técnica:
— A primeira habilidade... tem 0.000001% de chance de sucesso. Ou seja, praticamente zero. A maioria das pessoas nunca apostaria com uma chance tão ridícula.
Ele fez uma pausa e sorriu, pensativo.
— Essa habilidade seria completamente inútil pra quase qualquer um. Mas nas minhas mãos... é como se ela tivesse sido feita pra mim. Só que eu ainda não sei se essa sorte vai durar pra sempre...
A mãe se levantou e começou a recolher os pratos, falando com carinho:
— Isso é algo que você vai descobrir com o tempo. Mas agora que terminou o ensino médio, e é oficialmente um feiticeiro, você pode sair amanhã pra treinar. Ficar mais forte... e aprender até onde sua sorte te leva.
Sérgio assentiu, confiante.
— Amanhã vai ser o primeiro dia do meu treinamento de verdade.
Depois de ajudar sua mãe a lavar a louça e guardar os utensílios, ele se despediu dos pais com um abraço apertado. Subiu para seu quarto, deitou na cama e, com um sorriso satisfeito, sussurrou:
— Se eu ganhei duas vezes... posso ganhar de novo.
E então adormeceu, com os olhos fechando ao som de uma brisa suave que soprava pela janela — como se até o vento estivesse torcendo por ele.
O sol ainda estava subindo no céu quando Sérgio chegou ao parque da cidade. O local estava quase vazio, exceto por alguns corredores e idosos fazendo alongamentos. Em silêncio, ele caminhou até uma área mais aberta, respirou fundo e se preparou para treinar.
Com um gesto da mão, a familiar interface azulada do sistema apareceu diante dele:
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Nome: Sérgio de Souza Cruz
Nível: 15
Idade: 18 anos
Classe: Nenhuma
Estatísticas:
• Força: 150
• Velocidade: 150
• Resistência: 150
• Mana: 150
• Habilidades: 150
• Magia: 150
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Sérgio olhou para os números por um instante e então começou a se aquecer. Enquanto fazia isso, pensava consigo mesmo:
"Muita gente acaba ficando estagnada nesses níveis mais baixos. E sabe por quê? Porque só ganham experiência ao derrotar monstros. Só participar da batalha não conta se não for você quem finaliza o inimigo. Mesmo que ajude bastante... o sistema é rígido quanto a isso."
Ele socava o ar com velocidade impressionante, seus movimentos criando pequenas rajadas de vento ao redor.
"No meu caso, tive sorte. Aqueles monstros que apareciam enquanto eu minerava cristais de mana foram minha porta de entrada pro combate real. Lutar sozinho me forçou a crescer. E, claro... minha habilidade ativada no momento certo fez toda a diferença."
Ele saltou para frente, girou no ar e caiu com um soco no chão, fazendo o solo tremer levemente. Depois, se levantou e olhou de novo para a interface.
"Nível 15... Se eu continuar assim, quando chegar no nível 20, talvez consiga me tornar um Rank D. Mas ainda falta um pouco."
Sérgio limpou o suor da testa com a manga da camiseta.
"Ainda não tenho uma classe... mas isso é normal. A maioria só define sua classe quando alcança o nível 50. Aí o sistema escolhe entre seis opções, baseado em como você lutou e cresceu."
Ele se afastou, respirou fundo e começou a concentrar sua mana nas mãos, tentando sentir o equilíbrio entre força física e energia mágica.
"As classes são: Mago, Guerreiro, Curandeiro, Assassino, Espadachim e Arqueiro. Cada uma com um foco específico. A maioria acredita que a mais poderosa é a classe Mago, por causa do controle de ataque e defesa mágica."
"Mas enquanto minha classe não for definida... minhas estatísticas continuam equilibradas. Todas em 150. Isso pode ser uma vantagem. Versatilidade total. Posso me adaptar a qualquer estilo de luta."
Ele abriu um sorriso.
— Ainda tem muita coisa pra aprender... mas eu cheguei até aqui. E vou continuar.
Sérgio voltou ao treino, determinado, seus socos ficando mais rápidos e precisos a cada minuto. O parque era tranquilo, mas o jovem feiticeiro sabia: esse seria apenas o começo de uma nova fase em sua jornada.
Depois de horas de treino intenso no parque, Sérgio parou e se sentou em um dos bancos de madeira sob a sombra de uma árvore. O vento suave balançava as folhas acima dele, trazendo uma leve sensação de paz. Ele puxou o celular, abriu um antigo PDF que havia baixado meses atrás e começou a reler informações sobre o sistema de classes.
"Pelo que eu li..." — pensou ele, com os olhos fixos na tela — "As chances de conseguir cada classe são bem desiguais."
Ele murmurou os números para si mesmo:
— 30% de chance pra ser Curandeiro… 25% pra ser Arqueiro… 20% pra Assassino… 15% pra Espadachim… 7% pra Guerreiro… e só 3% pra Mago.
Fechou os olhos por um momento, refletindo.
"Curandeiros são comuns. A maioria nem gosta de cair nessa classe porque exige muito suporte em vez de combate. Já mago... só 3%? Não é à toa que é considerada a classe mais poderosa. É rara demais."
Sérgio olhou para as próprias mãos, ainda um pouco trêmulas do treino. Ele apertou os punhos.
"Será que o sistema leva em consideração a afinidade ou é completamente aleatório? Ou talvez… ele observe como você luta, como evolui. Se for isso, então eu preciso mostrar que posso dominar todos os aspectos."
Ele abriu novamente a interface do sistema e ficou observando suas estatísticas equilibradas. Então se lembrou de outra coisa que havia lido, algo que parecia quase um sussurro perdido entre tantas explicações complexas.
"As habilidades das categorias 'Habilidade' e 'Magia' podem desbloquear novas formas com o tempo, conforme o feiticeiro sobe de nível…"
Sérgio se inclinou para trás, apoiando as costas no banco e olhando para o céu claro.
— Talvez… se eu chegar ao nível 20, algo mude. Talvez eu desbloqueie alguma habilidade única, algo só meu. Uma habilidade que realmente mostre que sorte também é uma força.
Com esse pensamento firme em sua mente, ele se levantou com determinação. O dia estava apenas começando, e ele já sabia o que precisava fazer.
— Mais uma Raid… mais uma chance de ficar mais forte.
Sérgio então seguiu para casa. Precisava se arrumar, preparar seus equipamentos, verificar a convocação da guilda e, acima de tudo, estar pronto. Porque mesmo sem classe, ele já começava a se destacar. E o mundo ainda nem sabia o potencial que se escondia por trás daquele jovem de 18 anos e sua sorte absurda.
Após se preparar, Sérgio caminhou até a sede da guilda da cidade para verificar a convocação de Raids do dia. O local estava movimentado como sempre — feiticeiros indo e vindo, conversas sobre monstros, recompensas e perigos. Ele se aproximou da recepção com calma.
— Olá. Vim verificar se há alguma Raid de Rank E disponível — disse Sérgio educadamente.
A atendente, uma jovem de cabelos presos e olhos atentos, digitou algo rapidamente no computador.
— Hmm... parece que há sim uma Raid de Rank E programada para hoje. Mas… — ela olhou para ele com uma expressão ligeiramente preocupada — você é o único disponível no momento. Todos os outros estão em missões ou em descanso.
Sérgio arqueou uma sobrancelha.
— Só eu?
— Sim. Por isso preciso perguntar… quer mesmo continuar? Ir sozinho pode ser perigoso. Mesmo sendo Rank E, há sempre riscos.
Sérgio ficou em silêncio por alguns segundos. Ele sabia que enfrentar uma Raid sozinho era arriscado. Mas também… essa poderia ser mais uma oportunidade de testar sua sorte e ver até onde ele podia ir.
Ele respirou fundo e abriu a interface do sistema discretamente. Nenhum outro feiticeiro conseguia ver, pois o sistema era pessoal, só o usuário podia acessá-lo.
Foi direto até a habilidade Aposta Amaldiçoada. Seu coração bateu mais rápido. Lembrou da primeira vez em que teve que apertar o botão "Ativar" com o dedo, e da segunda vez, quando conseguiu apenas pensando — o que era muito mais prático e eficiente.
— Certo… — pensou ele. — Vou deixar o destino decidir. Se eu conseguir um jackpot agora… eu continuo.
Então concentrou seus pensamentos. "Ativar Aposta Amaldiçoada."
O sistema reagiu imediatamente:
[Aposta Amaldiçoada ativada.]
Calculando resultado do lance...
Resultado: Aposta bem-sucedida. Jackpot adquirido!
Prêmio: Habilidade "Bingo de Mega Fortalecimento" ativada.
Duração: 7 minutos.
Sérgio sentiu uma onda de poder atravessar seu corpo — como se seus músculos, sua mente e sua energia mágica tivessem sido turbinados instantaneamente. Um brilho vermelho brilhou por um segundo nos seus olhos, sinal do poder ativado.
Ele sorriu confiante, cruzando os braços enquanto olhava para a atendente.
— Será que eu sou forte… ou será que sou apenas sortudo? — disse com um tom brincalhão. — Parece que… sou os dois.
A atendente arregalou os olhos, confusa mas encantada pela confiança de Sérgio. Ele assentiu com a cabeça, pronto para seguir.
— Me mostre o caminho da Raid. Hoje, a sorte está do meu lado.