02

Sérgio ainda tentava entender o que havia acontecido.

— Como eu ganhei naquela aposta impossível? — ele murmurava enquanto guardava os cristais de mana em sua mochila.

Com a picareta nas costas e a mente cheia de perguntas, ele começou a voltar para o ponto de encontro onde havia se separado do grupo. Mas assim que chegou… não havia ninguém ali.

O silêncio era estranho. Algo estava errado.

Sérgio olhou ao redor, os olhos atentos a qualquer movimento. Então, rapidamente, abriu o sistema para checar se sua habilidade "Bingo de Mega Fortalecimento" ainda estava ativa.

A interface apareceu diante dele:

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[Bingo Mega de Fortalecimento: ATIVO]

Tempo restante: 4 minutos e 32 segundos

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Ele respirou fundo. Ainda dava tempo.

— Se eu ainda tenho esse poder por mais quatro minutos… posso ajudar meus companheiros!

Sem hesitar, ele correu em direção à sala do chefe da Raid, seus passos rasgando o chão da floresta negra enquanto a força do Bingo pulsava em seu corpo.

Quando chegou, a visão diante de seus olhos o paralisou por um segundo.

No centro da sala, seus companheiros lutavam desesperadamente contra uma criatura gigantesca — um lobisomem colossal, maior que uma casa, com pele cinza-escarlate e olhos flamejantes. O chão estava repleto de rachaduras e sangue. Os feitiços lançados mal arranhavam a criatura.

Assim que viram Sérgio, alguns dos feiticeiros gritaram:

— SÉRGIO, CORRE! VOCÊ AINDA TEM CHANCE DE SAIR VIVO!

— ESQUECE A GENTE, SALVA SUA VIDA!

— NÃO VALE A PENA MORRER AQUI!

Sérgio ficou parado por um instante.

Ele viu nos olhos deles o desespero. Mas também viu algo mais: esperança. Eles estavam dispostos a morrer para protegê-lo, um mero novato, desconhecido, que mal conheciam.

— Eles não me deixaram para trás… agora é minha vez de retribuir.

Sérgio fechou os punhos. O poder do fortalecimento ainda fluía com intensidade.

— Se ninguém mais consegue lidar com isso… então eu mesmo vou derrotar esse chefe!

Ele avançou com os olhos firmes e o coração decidido.

A luta real estava apenas começando.

Sérgio correu como um raio.

Num instante, ele estava diante do imenso lobisomem chefe. E sem hesitar, desferiu um soco brutal na barriga da criatura, com tanta força que o monstro cambaleou e caiu de joelhos.

— Q-QUE?! — exclamou um dos feiticeiros.

— Isso… isso é o novato?! — o líder do grupo mal conseguia acreditar no que via. — Essa é a força do Sérgio?

Enquanto o chefe rugia em dor, Sérgio não parava. Ele desviava com agilidade absurda dos ataques e disparava socos como uma metralhadora viva, atingindo o rosto, o peito e os braços do lobisomem sem trégua.

Os feiticeiros que ainda estavam de pé olharam em choque.

— Ele… ele tá lutando como se fosse um Rank B… ou até A…

— Com certeza é do nosso grupo… ninguém teria vindo correndo aqui só pra ajudar desse jeito.

O lobisomem tentou contra-atacar, suas garras varrendo o ar com violência, mas Sérgio dançava entre os golpes, como se previsse cada movimento com precisão.

Então, ele deu uma rápida olhada na interface flutuante:

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[Tempo restante do Bingo de Mega Fortalecimento: 2 minutos e 27 segundos]

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— Preciso acabar com isso agora… se eu perder esse reforço, todos nós morremos aqui.

Num salto veloz, Sérgio se posicionou debaixo do chefe, canalizando toda sua força num único golpe.

— ORA SEU MONSTRO!

O soco acertou a barriga do lobisomem com tamanha potência que o corpo colossal da criatura foi lançado como um foguete, atingindo violentamente o teto da sala, rachando pedras e despencando escombros.

Porém, mesmo gravemente ferido, o chefe soltou um rugido devastador.

Uma onda sonora carregada de magia varreu a sala.

— UARGHH!! — os feiticeiros gritaram, seus corpos paralisados. Até Sérgio sentiu seus músculos travarem.

O lobisomem, ainda machucado, caiu do teto com brutalidade, mas logo se ergueu, cambaleante, e avançou lentamente em direção a Sérgio, os olhos ardendo de ódio e dor.

— Merda… não posso me mexer!

Com as presas prestes a perfurar seu ombro, o efeito do rugido acabou.

— AGORA! — gritou Sérgio, girando o corpo e agarrando a cauda do chefe.

Com um grito de força, ele puxou com tudo, e o peso gigantesco do lobisomem foi lançado como se fosse feito de papel, atingindo violentamente a parede da sala, rachando pedra e fazendo poeira explodir no ambiente.

Todos assistiam em silêncio, pasmos.

O novato estava vencendo sozinho.

Assim que o corpo do lobisomem chefe desabou no chão e a sala voltou ao silêncio, uma nova janela do sistema apareceu diante dos olhos de Sérgio.

O som de uma notificação ecoou na mente de Sérgio:

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[Tempo do Bingo de Mega Fortalecimento expirado. Habilidade desativada.]

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Assim que o poder desapareceu, Sérgio caiu de joelhos, ofegante, suando frio. Seu corpo parecia pesado, sua força havia sumido — como se ele estivesse nu diante da morte.

E pior… o chefe da Raid ainda estava vivo.

O lobisomem, mesmo machucado, se levantava entre os escombros, soltando um rugido de ódio.

Sérgio sentiu o medo tomar conta. Seus olhos se arregalaram. Suas pernas tremiam.

— Eu… vou morrer aqui?

O pensamento atravessou sua mente como uma lâmina fria.

— Eu… não vou conseguir salvar meus companheiros… eu vou deixá-los morrer…

Ele lembrou do rosto de seus pais.

— Meu pai… minha mãe… eles vão chorar… vão perder seu único filho… por quê? Por que justo agora?

Mas então, uma lembrança aqueceu seu peito.

— "Sérgio, meu amor… talvez ela só pareça inútil agora. Às vezes, as coisas mais poderosas precisam de tempo pra mostrar seu valor. Não desiste, tá? Dá uma chance pra essa habilidade. Talvez ela esteja esperando o momento certo pra brilhar."

As palavras suaves de sua mãe ressoaram como um sussurro divino.

Sérgio apertou os punhos. Seu corpo ainda doía, mas… ele não podia desistir agora.

— "Se eu consegui ganhar uma vez…" — ele disse, com um fio de voz — "…então eu posso ganhar de novo."

Seus olhos se encheram de determinação.

— "Tá na hora de fazer o meu lance amaldiçoado…"

Ele ergueu o braço direito, mesmo trêmulo.

— "Tá na hora do… JACKPOT!"

O sistema respondeu de imediato:

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[Aposta Amaldiçoada ativada…]

[Resultado: Jackpot! Aposta bem-sucedida.]

[Prêmio: Bingo de Mega Fortalecimento reativado por mais 7 minutos.]

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A energia voltou a fluir pelo corpo de Sérgio. Seus olhos brilharam em um tom vermelho intenso, e um sorriso confiante brotou em seus lábios.

— "Esse deve ser meu dia de sorte."

O lobisomem rugiu, investindo com fúria, mas desta vez… Sérgio não recuou.

Com um impulso tão veloz que criou uma explosão de vento, Sérgio avançou como uma bala viva.

Socou o peito. O ombro. O abdômen. O queixo. As pernas. As costelas.

Cada golpe quebrava ossos, fazia a carne do monstro ceder.

O chefe tentava revidar, mas Sérgio dançava entre os golpes, como se enxergasse o futuro.

Então, com um grito furioso, ele saltou para o alto, carregando toda a força de seu Bingo.

— "ESSA É MINHA VITÓRIAAAAAA!"

Sérgio desceu com um soco tão poderoso, tão brutal, que atingiu diretamente a cabeça do lobisomem, e o impacto foi tão monstruoso que a cabeça foi arrancada do corpo, voando pelos ares antes de bater na parede e explodir como um melão.

O corpo do chefe caiu sem vida, causando um tremor que percorreu toda a sala.

Silêncio.

E então, o sistema notificou:

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[Chefe da Raid derrotado.]

[Todos os participantes sobreviveram.]

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Os feiticeiros caíram de joelhos, aliviados, e olharam para Sérgio com um misto de choque e admiração.

Ele havia feito o impossível.

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[Status Atualizado]

Nome: Sérgio de Souza Cruz

Nível: 15

Idade: 18 anos

Classe: Nenhuma

Estatísticas:

• Força: 150

• Velocidade: 150

• Resistência: 150

• Mana: 150

• Habilidades: 150

• Magia: 150

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Sérgio leu os números sem reação, ainda recuperando o fôlego. Mesmo com a adrenalina baixando, seu corpo ainda queimava com o poder do Bingo de Mega Fortalecimento, que agora começava a desaparecer.

Os membros do grupo, cambaleando e ainda em choque, se aproximaram.

— Você... você conseguiu...! — disse o líder do grupo, um jovem de aparência simples, cabelo castanho desgrenhado e roupas rasgadas de tanto lutar. — Você derrotou o chefe da Raid.

Sérgio sorriu levemente, limpando o sangue do rosto com a manga.

— Terminamos a Raid, pessoal. Estamos vivos.

O líder caiu de joelhos e colocou uma mão no ombro de Sérgio.

— Obrigado. De verdade, Sérgio. Se você não tivesse aparecido… todos nós estaríamos mortos agora. Você salvou a gente.

Sérgio balançou a cabeça.

— Eu só fiz minha parte. Somos companheiros, certo? Companheiros não abandonam uns aos outros.

Os demais feiticeiros assentiram, emocionados. Em seguida, todos começaram a recolher os itens mágicos e materiais raros deixados para trás pela criatura, organizando tudo com cuidado.

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Ao retornarem ao portal de saída, venderam todos os itens obtidos. O valor total da venda foi impressionante:

R$150.000,00.

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O grupo se reuniu novamente na sede da guilda, e o líder entregou um envelope para Sérgio.

— Aqui. Cinquenta mil reais. Você salvou a vida de todo mundo. É justo que fique com a maior parte.

Sérgio arregalou os olhos e recusou de imediato.

— Não, não. Eu só fiz minha obrigação. Vocês também lutaram. Eu não quero mais que qualquer um de vocês.

Mas todos os outros membros do grupo concordaram com o líder.

— Sérgio… — disse uma arqueira de cabelo azul — você derrotou o chefe praticamente sozinho. E sem você, não haveria nem recompensa. É mais do que justo.

Com um pouco de relutância, Sérgio aceitou, segurando o envelope com respeito.

— Tá bom… mas vou guardar esse dinheiro como lembrança da minha primeira Raid em equipe.

O líder então olhou curioso para ele.

— Sérgio, posso perguntar uma coisa? Você é um Rank B? Talvez até um Rank A? Porque… você é forte pra caramba.

Sérgio riu.

— Na verdade… eu sou Rank E.

Todos ficaram em silêncio por um instante.

— Rank… E? — o líder arregalou os olhos. — Mas… aquilo… aquela força que você mostrou…

— Foi o suficiente pra um Rank E no limite do Rank D, talvez. Mas nem se compara à força de verdadeiros Ranks B ou A. Ainda tô longe disso.

O líder coçou a nuca, um pouco envergonhado.

— Desculpa. Eu só sou um feiticeiro há um mês… não sei direito como comparar níveis de poder.

Sérgio deu um tapinha amigável no ombro dele.

— Sem problemas. Um dia você vai entender. E quem sabe, a gente não encara uma Raid juntos de novo?

Todos sorriram.

Naquele dia, Sérgio não apenas ganhou dinheiro ou experiência. Ele ganhou respeito. Ele ganhou amigos.

Depois de se despedir de seus companheiros e guardar com cuidado o dinheiro recebido, Sérgio decidiu caminhar sozinho pela cidade até encontrar um banco de praça afastado, cercado por árvores e silêncio. Ele se sentou, sentindo a brisa da tarde no rosto e finalmente teve um momento de paz.

Foi então que ele se lembrou de algo: como exatamente ele venceu a aposta amaldiçoada? Ainda era um mistério para ele… mas agora era o momento perfeito para descobrir.

Sérgio respirou fundo e ativou a interface do sistema mentalmente.

— Status da habilidade... "Aposta Amaldiçoada".

Uma janela translúcida apareceu diante de seus olhos:

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[Habilidade: Aposta Amaldiçoada]

Tipo: Ativa / Exclusiva

Usuário: Sérgio de Souza Cruz

Descrição:

Permite ao usuário realizar uma aposta contra o destino. Ao apostar, uma roleta amaldiçoada girará para decidir o resultado. Os prêmios variam entre habilidades, buffs temporários, técnicas únicas ou reativações de poderes.

Limite de Uso:

→ Apostas podem ser feitas um número ilimitado de vezes.

→ Regra Principal: Se uma habilidade estiver ativa, o usuário não pode fazer novas apostas até que o tempo da habilidade expire.

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Sérgio arregalou os olhos e, em seguida, deu um sorriso tão largo que mal cabia no rosto. Ele até riu sozinho.

— Apostas ilimitadas...? Sério!? — disse ele em voz baixa, sem conter a empolgação.

A possibilidade de apostar infinitas vezes abria portas incríveis para ele. O único "problema" era a regra de tempo de espera entre as ativações. Mas isso era fácil de resolver.

— Se eu treinar minha concentração durante as batalhas... eu posso controlar o tempo, a ativação e até pensar com calma em qual habilidade apostar.

Sérgio fechou os punhos, determinado.

— Isso muda tudo.

Naquele momento, sentado naquele banco tranquilo, Sérgio entendeu que sua habilidade não era só poderosa… ela era perigosa demais nas mãos certas. E ele estava prestes a se tornar exatamente isso: a pessoa certa.