coração de pedra

Enquanto o templo despertava atrás deles, revelando um mapa mágico que pulsava como um coração recém-desperto, os ventos da mudança sopravam pelas colinas. A pedra os havia aceitado, sim, mas também havia escolhido o momento exato de os arrancar dali. Antes que pudessem reagir, luz e vento os envolveram, como um sussurro dos deuses — e, quando a névoa se dissipou, já não estavam mais no mesmo lugar.

O bosque em que buscaram abrigo parecia respirar junto com a tempestade que se aproximava. A cada passo, as árvores sussurravam como se reconhecessem a presença da pedra, curvando galhos antigos em reverência silenciosa. Erit caminhava à frente, espada embainhada, mas com os sentidos aguçados. Théo, ainda com os nervos à flor da pele, olhava para os lados a cada estalo de galho.

— Isso aqui tá quieto demais — murmurou.

Nyra ergueu a cabeça, as asas contraídas nas costas. Seus olhos brilhavam em meio à escuridão.

— Não é silêncio. É espera.

Erian sentiu a pedra pulsar sob seu manto, como se tivesse ouvido aquilo também. Seus pensamentos estavam em conflito. A Pedra de Sareth era mais do que um artefato — era um ser. E começava a se conectar a ele de um jeito íntimo demais.

— Estamos sendo seguidos — disse Erit de repente, parando bruscamente.

Todos se viraram. Das sombras entre as árvores, olhos surgiram. Não eram animais. Eram humanos. Ou algo que um dia já foi humano. Usavam mantos escuros, com símbolos antigos riscados com sangue seco. E carregavam estandartes partidos.

— Guardiões? — perguntou Théo, assustado.

— Não — disse Nyra, séria. — Profanadores. Servos dos que perderam o direito de tocar a pedra... e que agora querem roubá-la de quem foi escolhido.

O som metálico de lâminas sendo desembainhadas ecoou pelo bosque.

— Finalmente — murmurou Erit, abrindo um sorriso determinado.

E o combate começou.

Então leitores estão gostando da história?

A floresta era viva.

Não como as florestas normais, cheias de sons, folhas e vento. Esta respirava. Pulsava. As árvores tinham cascas que pareciam pele enrugada, e os galhos sussurravam em uma língua antiga que nenhum deles entendia.

Erit sentia o calor da pedra mesmo sem tocá-la.

Era como uma vibração leve sob a pele, como se a energia de Sareth tivesse se entranhado em seus ossos. A cada passo, o ambiente mudava sutilmente. As luzes que dançavam entre os galhos agora formavam símbolos, vozes distantes, memórias de um tempo que não era deles.

— Alguém mais tá... escutando isso? — murmurou Théo, parando no meio do caminho. — Tipo... como se alguém estivesse chamando a gente?

— A floresta está nos testando — disse Nyra. Ela andava à frente, leve como uma sombra. — As antigas magias de Eldalyn reconhecem viajantes com corações inquietos.

Erian apertou os olhos, atento.

— Isso é uma armadilha?

— É um reflexo — respondeu Nyra. — Do que a Pedra vê dentro de nós.

Subitamente, o caminho se dividiu.

Três trilhas. Cada uma iluminada por uma cor diferente — âmbar, safira, rubi.

Erit deu um passo à frente, instintivamente atraída pela trilha rubi. O ar ao redor dela ficou mais quente. O cheiro de cinzas e ferro preencheu seus pulmões. Ela viu labaredas, ouviu gritos… e se viu sozinha.

— Não! — Erian segurou seu braço antes que ela entrasse. — Elas estão nos separando.

— Talvez… seja esse o próximo teste — disse Nyra, os olhos girando lentamente, agora tingidos por um tom prateado raro. — A Pedra quer saber quem somos sem os outros.

Théo empalideceu.

— Separar a gente? Aqui dentro?

— Só por um tempo — Erit falou, firme. — A gente já passou por coisa pior.

Ela olhou para cada um deles. Erian. Nyra. Théo.

— A gente se encontra do outro lado.

Relutantes, cada um escolheu sua trilha. Erian seguiu a trilha âmbar. Théo, hesitante, entrou na de cor safira. Nyra desapareceu na escuridão da trilha prateada que surgiu só para ela, como se a floresta a tivesse reconhecido como algo único.

Erit, por fim, respirou fundo e cruzou a rubi.

A trilha fechou atrás dela.

O calor aumentou de forma brutal. Não era mais apenas calor — era um desafio. As pedras do caminho se tornaram brasas. Árvores em chamas surgiram ao longe. No centro, uma figura.

Ela mesma.

Ou uma versão dela, feita de fogo e raiva.

— O que você está disposta a queimar para proteger quem ama? — perguntou a cópia, com a voz distorcida pelas chamas. — Quanto de si você vai sacrificar antes de não restar mais nada?

Erit cerrou os punhos. As chamas a envolveram, mas não a consumiram.

Ela caminhou até sua versão flamejante, sentindo cada memória de dor e perda pressionar seu peito como uma faca quente.

— Tudo que eu sou... é por causa deles — disse. — Se for preciso me queimar por inteiro, que assim seja.

As chamas se apagaram.

O chão sob seus pés se transformou em pedra fria.

E ao longe, ouviu um trovão. Mas não era do céu. Era da Pedra.

Cada um deles, em suas trilhas, enfrentava o reflexo de si mesmo. O medo de Théo. O orgulho de Erian. Os segredos de Nyra. Todos postos à prova.

Quando as trilhas finalmente se uniram novamente, já era noite.

Eles se reencontraram no centro de um círculo de pedras antigas. As roupas sujas, as expressões tensas, mas os olhos… os olhos haviam mudado.

— Estamos diferentes — sussurrou Théo.

— Estamos prontos — disse Erit.

Erian ergueu a Pedra de Sareth mais uma vez. Ela brilhou forte, viva, como se reconhecesse o que cada um havia enfrentado. E nesse brilho, algo se abriu à frente deles — um portal escuro e espelhado, onde a floresta desaparecia.

— É aqui que começa de verdade — disse Nyra.

E juntos, cruzaram o véu da floresta encantada, guiados pelo coração de uma pedra que pulsava com mais do que magia.

Pulsava com destino.

Agora vamos para o próximo capitólio