Capítulo 01 - O fim de uma vida.

A rua estava mergulhada na escuridão, iluminada apenas por postes enfraquecidos e pelo brilho distante dos faróis.

O asfalto úmido refletia uma luz pálida, como se até mesmo a cidade compartilhasse do desalento daquela noite.

No meio da calçada caminhava um homem de olhar vazio, com um brilho fraco, quase apagado como uma vela prestes a se extinguir.

Seus passos eram lentos, arrastados, como se cada movimento fosse um fardo.

Seu nome era Zai Bernard.

Magro, de cabelos e olhos negros, sua aparência era comum, mediana, fácil de esquecer.

Mas o que realmente o definia naquele momento era a expressão de amargura cravada em seu rosto: o retrato de um homem quebrado, esvaziado de esperanças.

Seu mundo havia desmoronado diante de seus olhos, e nada restava além da frustração, do cansaço e de uma dor que palavras não conseguiam descrever.

O motivo? Seu maior projeto, a obra de uma vida inteira, havia sido roubado.

E não por um estranho qualquer, mas por aquele a quem chamava de melhor amigo.

Zai se recordava das noites em claro, alimentado apenas por café ralo e esperanças frágeis.

Lembrava das madrugadas gastas entre códigos e cálculos, sonhando com reconhecimento, estabilidade, uma vida melhor.

Trabalhou durante quinze anos na mesma empresa, subindo degrau por degrau com esforço e disciplina, até alcançar o cargo de coordenador.

Durante mais de uma década, dedicou-se ao desenvolvimento de um projeto inovador um sistema revolucionário, fruto de cada gota de suor derramada.

Mas tudo isso foi tomado sem piedade. Seu superior e suposto amigo apresentou o projeto como se fosse seu.

Zai não apenas foi deixado de lado, como também acusado de plágio e sumariamente demitido, sem um centavo de compensação.

Era como se todos aqueles anos de dedicação tivessem sido varridos da existência.

Sem dinheiro. Sem provas. Sem ninguém.

Zai sempre fora um órfão. Seus pais morreram quando ele tinha apenas três anos, e nenhum parente quis acolhê-lo. Criar uma criança era caro demais, e todos já tinham suas próprias preocupações.

Cresceu em um orfanato frio, onde enfrentou abusos constantes, tanto de cuidadores quanto de outras crianças. Apanhou, chorou, gritou. Mas sobreviveu. Porque, no fundo, sempre acreditou que a vida lhe daria uma chance.

Estudou com esforço em escolas públicas, usando livros emprestados e roupas doadas. Formou-se em uma universidade simples, batalhando para não afundar nos próprios limites. Seu sonho nunca foi riqueza nem fama. Ele queria apenas uma coisa: dignidade.

Mas a vida nunca foi justa com Zai Bernard.

As únicas pessoas que o procuravam eram prostitutas contratadas, rostos sem nome que aliviavam por algumas horas a sua solidão. Fora isso, havia apenas aquele amigo... aquele traidor.

Enquanto caminhava sem rumo, perdido em seus próprios pensamentos, Zai não percebeu que havia se aproximado de uma avenida movimentada. Seus pés o levaram para o meio da rua sem que sua mente registrasse.

Foi só quando os faróis o ofuscaram que ele retornou à realidade. Um caminhão vinha em alta velocidade.

O motorista buzinou, freou, gritou mas já era tarde.

O impacto foi brutal. Zai foi arremessado como um boneco, o corpo chocando-se contra o chão com violência. Seu peito ardia, os ossos doíam, e o mundo parecia se afastar aos poucos.

A dor era intensa. Mas mais do que isso, havia um peso na alma. Um cansaço profundo, como se viver tivesse sido uma batalha perdida desde o início.

O motorista, um homem de meia-idade, desceu correndo, em pânico.

— E-ei! Você está bem?! Porra... alguém chama uma ambulância! Rápido!

Zai o olhou com os olhos turvos. Por um instante, sentiu surpresa. Pela primeira vez em toda sua vida, alguém demonstrava preocupação genuína por ele.

Que ironia... o primeiro a se importar era justamente quem o atropelara.

Seu corpo parecia afundar em si mesmo, pesado, fraco. Cada respiração era mais rasa que a anterior. Seus lábios se moveram, soltando um último sopro de riso e amargura.

— Hahaha… que merda de vida…

E assim, Zai Bernard encerrou sua primeira vida.

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