Capítulo 02 - O Espelho do Despertar.

Zai Bernard, ao fechar os olhos, apenas desejava descansar e se livrar daquele mundo maldito.

Nunca imaginou que acabaria renascendo em outro.

Depois de um tempo inconsciente, seus olhos se abriram lentamente.

Sentiu-se exausto e atordoado, como se tivesse trabalhado o dia inteiro e dormido apenas alguns minutos.

Por um instante, pensou que talvez estivesse em um hospital.

No entanto, uma dor aguda latejou em sua cabeça, impedindo-o de pensar com clareza.

Levou alguns minutos até conseguir reunir forças. Com as mãos na cabeça, tentando afastar a confusão, Zai finalmente começou a se situar.

Observou o ambiente ao redor.

O quarto era absurdamente luxuoso, decorado com móveis elegantes e detalhes que jamais vira de perto, mas que reconheceu como dignos de uma mansão.

Cortinas de veludo pendiam das janelas, o carpete sob seus pés parecia mais macio que nuvens, e lustres de cristal pendiam do teto reluzente.

Tentou se levantar, mas caiu. Seu corpo parecia pesar mais que chumbo. Xingou, sentindo os músculos rígidos e doloridos.

— Droga... por que esse corpo está tão fraco?

Depois de alguns minutos no chão, conseguiu reunir alguma força e se levantou, ainda cambaleante.

Caminhou até o centro do cômodo.

Além de luxuoso, o quarto era espaçoso, e a cama em que acordou era pelo menos duas vezes maior que uma cama de casal comum.

Foi então que notou uma silhueta refletida no espelho no canto do quarto.

Era a imagem de um jovem pálido, de traços delicados e surpreendentemente belos.

Seus cabelos eram de um verde escuro, e os olhos, de um roxo profundo.

A figura era magra, sem músculos aparentes, com uma aparência quase infantil, mas com um charme cativante.

Zai se aproximou do espelho e, intrigado, tocou o próprio queixo. Fixou o olhar na imagem, tentando se convencer de que era apenas um sonho.

Beliscou as próprias bochechas, agora levemente coradas.

Ele pensou que talvez estivesse delirando. Ou talvez... aquele fosse o chamado céu? Estaria sendo recompensado por todo sofrimento que viveu?

Ao pensar nisso, deu um sorriso amargo.

— Esse jovem é tão bonito...

Olhou novamente para o espelho e então murmurou:

— Será que fiquei tão acabado depois do acidente que fizeram uma cirurgia plástica em mim?

Fez uma pausa.

— Não... mesmo que tivessem feito isso, eu não deveria parecer uma estrela de Hollywood. Deveria estar em frangalhos...

Voltou a encarar o espelho e, mais uma vez, olhou ao redor. Tentava entender o que estava acontecendo.

Após longos quinze minutos em silêncio, uma única possibilidade lhe ocorreu:

— Será que... eu renasci como aqueles protagonistas de livro?

Quanto mais pensava, mais essa ideia fazia sentido. Uma mistura de emoções o invadiu surpresa, tristeza, preocupação.

Sentia-se surpreso por viver algo tão extraordinário, triste por ter deixado sua antiga vida para trás de forma tão trágica, e preocupado com o que o aguardava.

Ao contrário do que outros poderiam sentir, Zai não estava exatamente feliz, mas sim cauteloso.

Tendo vivido sempre sozinho, nunca teve grandes laços. Agora, num corpo diferente, provavelmente havia uma família, uma vida social, pessoas que esperavam algo dele.

Ele não sabia o nome do novo corpo, tampouco suas relações. Precisava agir com extrema cautela.

— Preciso entender a situação primeiro... depois agir de acordo. Seria estranho simplesmente dizer que perdi a memória sem nenhum problema psicológico ou acidente...

Enquanto pensava nisso, foi então que uma voz suave e preocupada veio da porta ao lado:

— Jo-jovem mestre? Aconteceu alguma coisa?

Zai se sobressaltou. Estava tão imerso em pensamentos que esqueceu do mundo ao redor. Hesitou. Como aquele "Jovem Mestre" costumava responder?

A voz insistiu, agora com mais urgência:

— Jovem mestre? Está tudo bem...? Posso entrar?

Após um breve momento de silêncio, Zai decidiu responder:

— Não há necessidade, estou bem.

— M-mas eu ouvi um barulho... parecia um gemido de dor. Algo aconteceu? Há algo em que possa ajudar, jovem mestre?

— Não preciso de nada. Sobre o barulho, foi porque caí. Só preciso de espaço para descansar mais um pouco.

— H-ha! Entendo. Tome cuidado e descanse bem. Se precisar de algo, por favor, me avise imediatamente.

— Certo. Pode ir.

O silêncio voltou a tomar conta do ambiente.

Zai caminhou até a beirada da cama e se sentou. Suspirou... Ponderando se sua atuação havia soado convincente o suficiente.

A pessoa do outro lado da porta parecia genuinamente preocupada.

Talvez ele fosse alguém importante?

Tocou a própria testa, refletindo. "Se estou nesse corpo, deve haver um motivo. E se for como nos livros... então preciso descobrir logo se sou herói, vilão ou algo pior."

Enquanto pensava sobre seus próximos passos, um som metálico e frio ecoou em sua mente.

> [Ding. Fazendo leitura corporal, leitura espiritual e mental. Compatibilidade Alta... Pré-instalação concluída.]

> [Ding. Olá, anfitrião. Sou o Sistema do Vilão Supremo.]

Zai arregalou os olhos, surpreso.

— Hm...?

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