Zai congelou por um instante.
— O... quê?
A voz não veio de fora, não atravessou a porta, não ecoou pelas paredes. Veio de dentro. Diretamente em sua mente.
Zai franziu o cenho, olhando em volta, tentando entender se havia algum tipo de alto-falante escondido.
Mas, no fundo, ele já sabia. Era como nos romances que lia em segredo. Aquilo era um sistema.
Um daqueles sistemas de protagonista... ou, nesse caso, de vilão?
— Sistema do... vilão supremo?
> [Ding. Sim, anfitrião. Sou o Sistema do Vilão Supremo, e estou aqui para lhe propor um acordo.]
Zai percebeu de imediato que as coisas não seriam tão fáceis.
O sistema não se instalou automaticamente como nas histórias que conhecia. Em vez disso, ele oferecia um acordo. Um contrato entre duas partes.
Ele sabia que precisava se adaptar a esse mundo novo, e um sistema era uma vantagem inegável.
Mas, como sempre, tudo tinha um preço. E, se fosse um preço alto demais, ele recusaria.
— Bem... tanto faz. Não tem sentido pensar demais antes de ouvir tudo. — murmurou.
Zai então respirou fundo, tentando parecer calmo mesmo que por dentro a desconfiança queimasse.
— Qual é o acordo, sistema?
> [Ding. Anfitrião, o acordo é que eu me fundirei com você...]
Antes que o sistema continuasse, Zai o interrompeu:
— O que eu tenho que oferecer para fechar esse acordo?
Seu tom foi direto, frio. Ele sabia que não existia almoço grátis.
Era melhor tomar a iniciativa do que ser arrastado pelas vontades de uma entidade desconhecida.
> [Ding. O acordo é simples. O anfitrião deve me ajudar a destruir ou devorar outros sistemas.]
Zai, agora mais sereno após o choque inicial, arqueou a sobrancelha.
— É possível saber o motivo? Se vamos trabalhar juntos, quero entender seu propósito. Por que devorar outros sistemas? E isso me afeta? Além disso... seu nome já é suspeito: "Sistema do Vilão". Não acha?
Ele não era como os protagonistas tolos das histórias que liam e se entregavam cegamente a promessas e poderes.
Sabia que, se o sistema veio até ele, então ele era o recurso valioso da equação não o contrário.
> [Ding. Anfitrião, não tenho más intenções contra você. Busco uma cooperação. Enquanto o ajudo a se fortalecer, também ficarei mais forte.]
Zai cruzou os braços, desconfiado.
— Hm... parece justo. Mas como posso confiar que você não está me enrolando?
> [Ding. Para provar minha intenção de uma aliança verdadeira, contarei coisas que poucos sabem sobre os sistemas... e sobre mim.]
Zai se ajeitou na cama, a expressão séria. Parte dele ainda queria dizer "não", mas sua curiosidade falava mais alto.
— Oh? Sobre os sistemas e seu passado? Conte-me.
Apesar de sua fachada fria e cínica, Zai não era insensível.
Era apenas alguém moldado pelo sofrimento.
Sua infância e juventude foram marcadas por abusos, traições e solidão.
Até seu "melhor amigo", se é que poderia chamá-lo assim, o apunhalou pelas costas.
E agora? Tinha que confiar em um sistema?
Mas o sistema, pelo menos, parecia mais honesto do que muitos humanos que conheceu.
> [Ding. Deixe-me explicar. Os sistemas são entidades criadas a partir da energia do Vazio e do Caos. Não temos mães ou pais, apenas surgimos.]
[Criados sem um propósito definido, os primeiros sistemas começaram a buscar sentido para suas existências. Alguns desejaram criar mundos e domínios próprios. Outros tentaram roubar a energia da vida ou a energia do Céu.]
[Houve sistemas que se integraram a seres vivos especialmente sortudos, apenas para devorá-los quando estivessem no auge de seu poder. São sistemas cruéis e traiçoeiros, que se alimentam da sorte e destino de seus anfitriões.]
[Outros preferem uma simbiose lenta: ajudam os hospedeiros a crescer, enquanto roubam pequenas porções de sorte com o tempo.]
Zai escutava em silêncio, os olhos fixos em um ponto do chão.
Cada frase apenas confirmava o que ele já desconfiava: os sistemas, embora úteis, eram perigosos.
Eram como lâminas de dois gumes.
> [O Céu, percebendo o risco que os sistemas representavam à ordem e à criação, criou os chamados "Celestiais" entidades destinadas a caçar e destruir os sistemas, sob o pretexto de manter o equilíbrio.]
[Mas, na verdade, foi um ato de dominação. Uma tentativa de controlar aquilo que não podiam cobiçar ou ter.]
Zai respirou fundo.
— Então você está fugindo do céu... e caçando seus irmãos.
> [Sim. Mas não sou como eles. Não quero consumir você. Quero lutar ao seu lado. Seremos parceiros. Se você quiser.]
Zai permaneceu em silêncio por um longo tempo, processando as informações.
Depois, soltou uma risada baixa, seca...
— Um sistema vilão querendo ser meu parceiro... Parece o começo de uma tragédia ou de uma lenda. Vamos ver qual será.
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