No início da manhã, após uma refeição reforçada, Dário partiu com Minna rumo ao campo de treinamento.
O treino do dia focou no fortalecimento físico. Dário se dedicou a exercícios para aprimorar seu desempenho, aumentando a força muscular com corridas, flexões, levantamento de peso improvisado e diversos outros métodos de resistência.
Concluído o treinamento corporal, ele iniciou sua prática de esgrima. Embora a Casa Vauren fosse especializada em lanças e adagas, seus membros eram proficientes em uma ampla variedade de armas. Como Dário ainda não dominava as armas tradicionais da família, começou seu aprendizado pela espada longa, buscando refinar sua técnica.
Em seguida, voltou-se ao treino de manipulação da Energia Áurea. Embora a abertura dos meridianos só ocorresse ao atingir o nível de Guerreiro Marcial, o preparo começava muito antes cultivando controle, percepção e manifestação eficiente da própria energia.
Com foco e paciência, Dário circulou a Energia Áurea por seu corpo, buscando deixá-la mais fluida, sob seu comando. Após completar uma sequência de exercícios de circulação energética, ele sentou-se para meditar, aprofundando o controle sobre seu fluxo interno.
Enquanto meditava, uma comoção surgiu nos arredores. Um criado se aproximou, hesitante em interrompê-lo. Após alguns instantes de dúvida, anunciou:
— Jovem mestre Dário, o senhor... o lorde Theon Vauren retornou. disse, inclinando-se levemente.
Dário abriu os olhos e fitou o servo. Ele já aguardava esse momento havia algum tempo.
— Entendido. Minna, vamos encontrar meu pai. disse, erguendo-se com serenidade.
No caminho de volta à mansão, Dário organizava mentalmente o que deveria dizer. Precisaria explicar suas mudanças de comportamento, e já tinha um plano em mente: O lorde Theon seria a primeira peça importante que ele precisaria manipular em sua ascensão.
Ter o apoio de uma família poderosa seria essencial. Agir livremente e crescer sem grandes obstáculos exigiria conquistar, primeiro, a confiança do pai. E, para isso, ele precisaria enganá-lo.
Ao adentrar a mansão, foi conduzido a um salão espaçoso, de decoração elegante e austera. Ali, encontrou Lorde Theon, imponente e reservado como sempre, acompanhado de Caelenna e de um homem que Dário reconheceu pelas memórias fragmentadas de sua vida anterior: Renard Lutharen, tio de sua suposta noiva.
Renard era um homem de boa aparência, modos refinados e sorriso amável. Mas Dário sabia por trás da fachada cortês, escondia-se uma raposa astuta. Renard usara os sentimentos do antigo Dário para colher benefícios. A família Lutharen sempre fora uma casa de menor influência, sustentando-se mais pela aparência do que por poder real.
Sendo a Casa Vauren uma das cinco famílias mais antigas e poderosas do Império de Lysandria, sua consolidação como força dominante na Província do leste imperial logo chamou a atenção de muitos. Renard, astuto e ambicioso, enxergou ali uma oportunidade rara: casar sua sobrinha, Iris Lutharen, com Dário Vauren. Tal união selaria uma aliança com uma linhagem lendária, garantindo à sua própria família prestígio, proteção e acesso a recursos valiosos.
Dário, embora surpreso ao vê-lo, rapidamente se recompôs.
Aproximou-se e cumprimentou:
— Pai, seja bem-vindo de volta. Como foram os negócios? perguntou com um tom cortês e respeitoso.
Lorde Theon, pego de surpresa pela atitude incomum do filho, demorou um momento antes de responder. Apesar de ter sido informado superficialmente por Caelenna sobre as recentes mudanças de Dário, ver a transformação pessoalmente era algo diferente.
— Ah... sim. Os negócios correram muito bem.
respondeu, num misto de surpresa e satisfação.
Renard, exibindo seu habitual sorriso, interveio:
— Jovem mestre Dário, é um prazer revê-lo. saudou, com uma cortesia entusiasmada.
Dário, sem esboçar grandes emoções, apenas acenou com a cabeça em resposta.
A atitude, fria e contida, surpreendeu a todos no salão. O antigo Dário era notoriamente caloroso com Renard. Agora, sua postura mantinha a cortesia sem ceder intimidade.
Lorde Theon, embora intrigado, sentiu-se satisfeito. Já Renard, embora escondesse bem, não pôde evitar um leve desconforto.
Após um breve silêncio, Dário tomou a iniciativa:
— Pai, há algo a ser discutido? Se não, peço licença para me retirar. falou educadamente, porém firme.
Lorde Theon, ajustando-se à nova atitude do filho, respondeu:
— O senhor Lutharen gostaria de discutir o noivado com sua sobrinha, Iris.
Antes que Dário pudesse reagir, Renard prosseguiu:
— Jovem mestre, soube que esteve doente recentemente. Tanto eu quanto Iris estávamos bastante preocupados com sua saúde. com uma preocupação forçada.
Dário conteve um sorriso zombeteiro em seu interior. Embora suas memórias fragmentadas não fossem completas, já desconfiava que Renard pudesse ter alguma ligação com seu envenenamento.
Mantendo a máscara da cortesia, respondeu secamente:
— Agradeço a preocupação. Mas é apenas isso que veio tratar aqui?
O salão mergulhou num breve silêncio, quebrado apenas pelas expressões de surpresa de Caelenna e Lorde Theon. Renard, pego completamente desprevenido pela frieza, forçou um sorriso para mascarar o desconforto.
Com um brilho astuto nos olhos, Renard respondeu:
— Na verdade, também gostaria de discutir a data do possível casamento entre o jovem mestre e minha sobrinha Iris.
Dário o encarou diretamente antes de dizer, em tom cortante:
— Assuntos entre jovens devem ser resolvidos pelos próprios jovens. Não há necessidade de pressa.
Renard sentiu a afronta, mas manteve o sorriso no rosto, mesmo que seus olhos denunciassem o incômodo.
Lorde Theon, observando a tensão, interveio:
— Muito bem. Se Dário prefere assim, deixemos que ele e Iris resolvam essa questão.
Sem mais o que dizer, após algumas despedidas formais, Renard Lutharen retirou-se da mansão.
---
Já longe da propriedade dos Vauren, Renard ativou um cristal de comunicação oculto e, com um olhar sombrio, murmurou:
— Hoje... não obtive nada. Aquele palhacinho da Casa Vauren está diferente. Muito diferente.
Uma voz respondeu através do cristal:
— Mesmo assim... devemos usar Dário o máximo possível para alcançar nossa ascensão.
Após algumas trocas rápidas, Renard ocultou o cristal e partiu, seus pensamentos cheios de frustração e novas estratégias.
---