(Manhã seguinte – o sol mal apareceu no céu. Selena mal teve tempo de digerir o que leu. Ainda está em casa, quando ouve novamente passos na varanda.)
TOC. TOC.
Anderson (do lado de fora, voz mais baixa que no dia anterior):
Selena... sou eu de novo.
(Silêncio por alguns segundos. Ele continua, sem pressa, a voz firme e mais sincera que antes.)
Anderson:
Eu sei que você leu.
Eu só vim pra ouvir o que você tem a dizer. Nada mais.
(Ele espera. Um corvo crocita ao longe. O clima está tenso, mas Anderson parece calmo, diferente da última vez — mais contido. Mais paciente.)
Anderson:
Se quiser que eu vá embora… eu vou.
Mas se tiver uma pergunta, qualquer coisa…
Eu tô aqui.
(Selena viu Anderson através da janela e sentiu uma mistura de emoções: raiva, medo, confusão. Ela respirou fundo e abriu a porta, mas não o convidou a entrar. Ela ficou parada na porta, olhando para ele com uma expressão séria.)
"Você quer que eu diga o que está acontecendo?", perguntou Selena. "Você me dá um documento que diz que eu sou casada com você, sem que eu saiba. Você aparece aqui, na minha casa, e espera que eu simplesmente aceite tudo isso? Eu não sei o que você quer de mim, Anderson. Eu não sei o que você está procurando. Mas eu sei que eu não sou uma pessoa que você pode simplesmente manipular."
(Selena fez uma pausa, olhando para ele com uma expressão dura.)
"Você diz que você está aqui para ouvir o que eu tenho a dizer", continuou Selena. "Então, eu vou dizer. Eu quero o divórcio."
Anderson continua parado, olhando para Selena. O rosto sereno começa a perder o brilho. O sorriso desaparece completamente. E quando ele fala, sua voz é baixa, sem emoção.)
Anderson:
Divórcio?
Ele solta uma risada curta, seca — sem humor.
Anderson:
Você acha que isso aqui é… um casamento comum? Que pode ser desfeito com uma assinatura?
(Ele dá um passo à frente. Ainda fora da casa, mas bem mais perto. Os olhos dele agora são fixos, frios, como se analisassem cada expressão dela.)
Anderson:
Selena… eu te procurei por anos.
Você não é uma coincidência. Você é minha esposa antes mesmo de nascer.
Ele inclina levemente a cabeça. O tom é gentil demais… assustadoramente calmo.
Anderson:
Você não tem ideia de quanta coisa foi feita pra você continuar viva.
Quantas portas foram fechadas. Quantas pessoas… sumiram.
Só pra esse momento acontecer.
(Ele põe as mãos nos bolsos, como se estivesse à vontade. Mas há tensão no maxilar, nos olhos — ele está se controlando.)
Anderson:
Você pode me odiar.
Pode me gritar. Pode tentar correr.
Ele sorri, mas agora é um sorriso sem calor.
Anderson:
Mas você não vai sair disso.
Porque isso não é uma escolha.
"Você é louco?", perguntou Selena, sua voz tremendo de raiva. "Você acha que eu vou simplesmente aceitar isso? Que eu vou ser sua prisioneira?"
(Selena olhou para Anderson com um olhar de desafio.)
"Você está enganado", continuou ela. "Eu não sou sua esposa, eu não sou nada sua. Você pode ter feito coisas para me manter viva, mas eu não sou uma propriedade sua. Eu sou uma pessoa, com meus próprios pensamentos e sentimentos."
(Selena endireitou os ombros, mostrando sua determinação.)
"Eu não vou ser controlada por você ou por qualquer outra pessoa", declarou ela, sua voz firme e resoluta.
O olhar de Anderson fica duro. A máscara de civilidade se desfaz, mas ele continua calmo — assustadoramente calmo. Não há mais esforço em parecer gentil. Só sinceridade gelada.
Anderson (voz baixa, cortante):
Você ainda acha que isso é sobre posse. Sobre controle.
Ele dá mais um passo, agora bem perto da porta. Os olhos fixos nos dela, frios como gelo.
Anderson:
Eu não quero te prender, Selena.
Eu quero que você entenda.
Ele mexe nos dedos, como se se controlasse para não fazer algo que já passou pela mente.
Anderson:
Seus pais fizeram um acordo. Com a minha família. Comigo.
Eles prometeram você.
E depois fugiram. Mentiram. Te esconderam.
Ele se inclina um pouco. O tom abaixa, ficando mais íntimo — mas ainda gélido.
Anderson:
Eu esperei. Eu procurei.
E agora eu achei.
Pausa. Ele se endireita, os olhos ainda nela. O tom final vem firme, cortante, sem margem para dúvida.
Anderson:
Você pode espernear. Me odiar.
Mas o que é meu… ninguém tira.
Nem você.
Anderson avança sem hesitar. O sorriso voltou aos lábios dele, mas é um sorriso errado — não tem calor, só escárnio. Ele empurra a porta com o ombro e entra, segurando Selena com facilidade, como se estivesse recolhendo algo que deixou cair.
Anderson:
Ah, que drama. Parece até novela das seis.
Ele a arrasta com calma, como se não houvesse resistência alguma. A voz dele é leve, debochada, como se estivesse contando piada para si mesmo.
Anderson:
Você sabia que é muito mais difícil encontrar alguém quando ela mora no meio do nada?
E eu vim até aqui. Olha que fofo.
Ele a carrega até o carro como se fosse um gesto romântico, não um sequestro. Abre a porta de trás com uma teatralidade exagerada e a coloca dentro como se estivesse ajudando-a a entrar numa carruagem de princesa.
Anderson:
Cuidado com a cabeça…
Ou não.
Ele fecha a porta com força, sem olhar para trás. Vai até o volante, entra, coloca o cinto com toda a calma do mundo. Liga o carro.
Anderson:
Sabe… eu realmente queria que você gostasse de mim.
Mas agora… isso tá bem mais divertido.
Ele sorri para o retrovisor, os olhos fixos nela.
Anderson:
Lua de mel surpresa. Não precisa agradecer.
E o carro avança pela estrada de terra, sumindo entre as árvores, com a leveza absurda de quem acha que tudo está exatamente onde deveria estar.
"Você é um louco!", gritou Selena. "Você não pode fazer isso comigo! Eu não sou sua propriedade!"
(Ao vê Anderson sorrir novamente fez com que Selena se sentisse arrepiada.)
O carro corta a estrada asfaltada que liga o interior à cidade grande. O mato vai dando lugar a prédios, luzes e sons abafados de civilização. Anderson dirige em silêncio, sem olhar para trás. O sorriso sumiu. Agora, ele parece outra pessoa.
Horas se passam. O carro entra em um bairro fechado e luxuoso, com portões altos e seguranças discretos. Anderson apenas acena com a cabeça para a câmera, e os portões se abrem sozinhos.
Anderson (sem olhar para ela):
Não tenta nada.
A cidade é grande, mas ninguém aqui é burro.
Ele para o carro diante de uma mansão imensa, cercada por jardins impecáveis e janelas escuras demais. Abre a porta traseira como quem tira algo do porta-malas.
Anderson:
Desce.
Ele não oferece ajuda. Não olha. Os criados da casa observam em silêncio. Ninguém questiona. Todos já sabiam. Todos esperavam por ela.
Anderson (sem virar o rosto):
A família está esperando.
E sinceramente… já demorou demais.
Ele entra pela porta da frente da mansão Blackwood, sem se importar se ela o segue ou não. O som da madeira nobre sob os sapatos dele ecoa alto no hall silencioso.